Estava chegando à frente da escola quando avistei o carro de meus pais. Verifiquei o celular por um momento e só então percebi que minha mãe havia me mandado uma mensagem avisando que iria me buscar. Estranhei o fato, mas não tive outra escolha a não ser ir. Despedi-me de Rosalya e de Alexy, os meus únicos amigos presentes no momento. Pedi para que Rosa se despedisse do resto em meu nome, já que meus pais pareciam estar apressados.

- Eles só iriam me liberar amanhã... – Comecei a falar, já sentada no banco detrás do carro. - Por que vocês decidiram me buscar agora?

- Saudades, satisfeita? – Disse minha mãe, virando-se para me ver e sorrindo em seguida. – Ainda não me acostumei com o fato de não poder te ver todos os dias.

- Já faz dois anos que ela estuda no colégio interno, Loren. – Interveio meu pai.

- Continuo não estando acostumada.

O caminho de volta a minha casa foi repleto de conversas. Não mencionei em momento algum o que tinha ocorrido há poucos tempos atrás, não seria louca a este ponto. Meus pais eram muito rígidos, se soubesse que ao invés de estudar eu ando passeando com meu amigo e o mesmo me beijou, provavelmente mudaria de escola (e não me surpreenderia se mudasse também de cidade).

Ao entrar em casa, foi como se uma saudade preenchesse meu corpo inteiro. Corri para o meu quarto e joguei-me em minha cama, abraçando os bichinhos de pelúcia que ali estavam. Lembro-me de tê-los colocado naquele mesmo lugar antes de sair de casa, uma semana antes de as aulas começarem. Sentei em minha cama, agora totalmente bagunçada, e analisei as coisas ao meu redor. Apesar de gostar da Sweet Amoris, eu sentia certa saudade do meu quarto, de meus pais, enfim... Tudo fazia falta. Fui para a grande janela de meu quarto e sentei na espécie de banco que ali havia. Olhei para fora e minha mente foi imediatamente para o beijo de Armin. Com toda certeza do mundo eu não saberia como agir assim que o visse novamente, mesmo depois de quase um mês.

- Filha, vamos viajar amanhã de manhã. – Minha mãe interrompeu meus pensamentos, parando na porta de meu quarto. – Se você quiser arrumar sua mala agora, mais tarde poderemos sair para jantar.

Assenti e minha mãe deixou o cômodo. Peguei a mala azul no canto de meu quarto e a deixei em cima da cama, já aberta. Abri o armário e analisei as roupas que ali estavam. Só então me lembrei de que a maioria de minhas roupas havia ficado na escola. Corri para a sala, onde estavam meus pais e quase gritei:

- Minhas roupas ficaram na escola!

Meus pais me olharam com certo espanto, mas logo sorriram, achando graça de minha situação.

- Calma Shiemi! Faz tempos que você usa as mesmas roupas, então eu e Richard decidimos comprar novas peças para renovar seu guarda-roupa nessas férias. Assim que você voltar às aulas, você faz uma limpa no seu armário. – Respondeu calmamente minha mãe.

Pensei por um momento e acabei ignorando tal ideia. Não posso dizer que ela é ruim, porém não gosto de comprar coisas sem necessidade. Eu gostava de minhas roupas, não precisava de peças novas. Voltei ao meu quarto e terminei de fazer minha mala, colocando o mínimo de roupas possíveis, já que tinha certeza de que voltaria com outra bolsa cheia de roupas novas.

*****

 - Shiemi, acorda! Precisamos viajar.

Apesar de meu pai estar à frente de minha cama, era como se a voz dele estivesse muito longe. Naquele momento eu desejava poder dormir até o final das férias.

- Que horas são? – Resmunguei, esfregando os meus olhos, que pareciam querer manter-se fechados.

- 6h00min. Vou terminar de arrumar as coisas, não se atrase. – Disse por fim e deixou o quarto.

Levantei com muito custo, coloquei uma roupa qualquer que peguei nas gavetas da cômoda e caminhei ainda cambaleante para a cozinha. Tomei um pouco de café para despertar e peguei uma fruta para comer durante a viagem. Antes que pudesse raciocinar direito, já estava dentro do carro, com meu pai dando a partida em direção à praia de Trymont.

Depois de um longo caminho, chegamos a nossa casa de praia. Era perto de 12h00min, então apenas deixamos as coisas dentro da grande casa amarela e fomos para um restaurante ali perto.

- Não sei se devemos ir à praia hoje... Melhor deixamos os mergulhos para amanhã. – Minha mãe disse enquanto comia seu peixe grelhado.

- Por quê? O dia está tão... – Algo chamou minha atenção do lado de fora do restaurante. Estávamos sentados perto da vitrine do estabelecimento, então pude ver claramente quando uma menina de longos cabelos loiros e ondulados discutia com seus pais. Uma cena normal, se esta menina já não tivesse seus 15 anos e fosse a Ambre.

- Filha? Está tudo bem? – Meu pai perguntou, notando minha surpresa ao ver algo fora do vidro. – O que você está olhando?

- É que eu acabei de ver... Uma bolsa magnífica ali. Será que eu poderia comprá-la? – Inventei uma desculpa qualquer. Minha mãe hesitou por um momento, mas acabou me dando dinheiro e eu sai do restaurante rapidamente.

Tomando cuidado para não ser vista, me aproximei calmamente de onde Ambre estava, já que a tinha perdido de vista. Ao chegar perto de uma banca de revistas, pude ver a moça e seus pais indo em direção à praia, aparentemente sem sinais de Nathaniel estar junto. Soltei um suspiro e voltei ao restaurante.

- Não comprou a bolsa? – Perguntou minha mãe e só então me lembrei da desculpa que usei para sair do restaurante.

- Não... Uma moça acabou chegando um pouco antes e a levou. – Fiz uma falsa expressão frustrada e voltei a comer.

“Tantos lugares para se passear, e a família de Nathaniel tem que vir justo para cá. Por que o pedido que eu fiz ao assoprar o dente-de-leão não poderia simplesmente virar realidade?” pensei enquanto saía do restaurante, temendo que minhas férias não fossem tão agradáveis quanto desejava.