Fanfic De Ones escrita por Nicolle Bittencourt, Tina Santos, Nina P Jackson Potter, Nai Castellan Jauregui, BiahMulinPotter, Zack Shadowarg, Black Umbrella, Liah Violet, Miss BaekYeollie


Capítulo 23
Contos do Olimpo


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei. Longo tempo sem postar Ones por aqui. Aqui é a Tina Santos, com uma parte do conto de Hades e Perséfone da minha fanfic ( original, não tem nada haver com PJO ), pois havia ficado 26 páginas e decidir cortar essa parte da história; e aqui está ela!!!! Sem mais delongas, padawans lhes apresento o Conto de Hades e Perséfone

( LEIAM AS NOTAS FINAIS )



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Contos do Olimpo

Hades e Perséfone

Segunda parte

~ Ω ~

A velha construção estava parte erguida e parte desmoronada. Há certo tempo um homem forte e embriagado voltava do festival cortando caminho entre os campos que separavam a residência da cidade, e avistou uma bela moça, filha do senhor que ali fazia residência. Ela voltava para dentro de casa aos sorrisos após ter deixado seu amante, e extremamente feliz pois o mesmo a pedira em matrimonio. O homem embriagado desejou aquela jovem, e naquela mesma noite em que o festival do Dionísio se desenrolava, o homem matou aquela família e tomou aquela jovem, e em sua loucura a matou. Após isso colocou fogo na residência.

O rapaz que estivera com a jovem moça, em busca de vingança, clamara ao deus que seu rei adorava, era um soldado e um dos poucos – se não o único – a adorar o deus do submundo e não o da guerra. Hades concedeu-lhe a vingança justa, dando ao homem que matara aquela família um julgamento no mundo mortal, não satisfeito o jovem soldado encoberto pelo o manto da escuridão matou o homem que matara sua amada e fora condenado a morte.

– Trágica história de amor e vingança.

Sussurrou Hades passeando pela casa. Quando chegou na parte demolida olhou para o sol que erguia-se alto no céu, uma fumaça negra erguia-se do templo na cidade. Daqui cinco dias seria o enterro do senhor daquelas terras e a nomeação de seu filho, imaginou que demoliriam seu templo ali para colocarem o de Ares. Pelo menos poderia estar presente para a última caminhado do morto, onde levariam o senhor por um passeio pela a cidade antes de coloca-lo em sua pira para ser queimado e seu espírito acender ao Olimpo. Era um evento bonito de se ver, mas eram poucas as vezes que Hades era invocado para tal coisa. Fora o ultimo desejo fervoroso do senhor daquelas terras, e Hades achou que seria melhor concedê-lo o pedido do que supervisionar os reparos nas prisões do Tártaro, algo que Hefesto poderia e gostava de fazer sozinho.

Nos pastos, distante da onde o deus se encontrava Perséfone corria atrás de algumas ninfas junto com três sátiros românticos. As ninfas eram rápidas, mas os sátiros corriam bem, Perséfone não estava atrás em velocidade, mas quando as ninfas passaram por um fissura na terra, os sátiros pararam e começaram a tremer. Perséfone continuou, ao reparar que os sátiros não corriam mais, estranhando parou.

– Ora, elas estão fugindo! Vamos!

Mas os sátiros se recusaram a continuar e fugiram balindo para longe. Perséfone olhou para as ninfas que riam divertidas, e foi quando notou a paisagem, ao redor da fissura na terra a grama estava negra o ambiente estava envolto em sombras, mesmo não havendo árvores ou nuvens para esconder a luz do sol, um vento gelado e horripilante subia da fissura, não mais larga que um braço e havia apenas uma fina abertura em sua extensão. Perséfone aproximou-se e estendeu seu braço na direção da fissura, mas logo o puxou para trás. Morte.

– Não se assuste, ele não gosta de abrir fissuras assim, mas não á outro modo de vir ao mundo mortal. – falou uma ninfa antes de voltar a correr com as outras.

– Hades... – sussurrou como um segredo.

O deus não apenas havia aberto uma fissura na terra, como deixara um rastro de plantas mortas e terra negra pelo o caminho. Perséfone pensou em avisar a mãe, mas balançando a mão jogou essa ideia ao esquecimento. Pensou em seguir o rastro e salvar as plantas, mas seria arriscado e sua mãe ficaria nervosa e brava com ela. Pensou em fingir que não havia visto e voltar para o campo, era a escolha mais sábia. E sendo assim, começou a caminhar para longe.

– Talvez, ele queira companhia...? – Perséfone divagou parando e voltando-se para trás onde ainda podia perceber os rastros do deus – Eu deveria salvar as plantas...

– Sim, deveria! – falou uma ninfa com cabelos verdes cheios de flores, seus olhos grandes e da cor do musgo brilhavam divertidos para ela.

– Deveria. – a respondeu.

E a deusa deveria saber, que quando uma ninfa concorda com algo não é por você estar certa, mas sim porque está desejando uma bela confusão. Ninfas não eram conhecidas por sua bondade, mas sim por suas travessuras. E Perséfone sabia tão bem quanto qualquer deus ou mortal como aquelas criaturas cheias de raízes e brotos adoravam encrencas, principalmente quando envolviam os deuses. Não apreciavam as guerras travadas pelo os imortais, mas amava ver suas discussões.

Mesmo sabendo que não deveria ir, Perséfone começou a seguir as plantas mortas, dando vida a elas. Gostaria de ver Hades novamente, sua curiosidade era maior que sua precaução, sua mãe vivia a alertando sobre isso. Mas não podia simplesmente ignorar a presença do deus, não com tantas perguntas, que de um ponto de vista não eram tão importantes assim.

Sutileza não deveria ser a especialidade de Hades, pois o rastro que ele deixara era tão claro quanto as plantas mortas e a terra infértil poderiam ser. Não demorou muito para a deusa da primavera chegar ao terreno morto que circundava a construção de uma antiga casa que fora queimada. Ali, Perséfone sentia que a morte tocara e era uma das características dos deuses sentir esses fenômenos, principalmente quando suas funções fossem a de gerar vida, seja a plantas ou animais. Não lhes eram permitido interceder no destino dos mortais, principalmente evitar suas mortes, desafiando as parcas. Apenas um deus tinha esse direito.

Hades não esperava a inesperada visita divina. Normalmente os deuses o deixavam vagar em paz nas raríssimas vezes que subia a superfície, mas lá estava uma presença de um parente divino. Apenas três deuses invadiam seu espaço quando estava no mundo mortal; Zeus, Atena e Hermes. Os outros mantinham distância. Hades misturou-se as sombras, esperando seu convidado. Zeus e Atena não se assustavam ou ficavam surpresos, sempre o detectavam, Hermes sentia-se desconfortável quando o deus se envolvia nas sombras e desaparecia do nada. Mas ali, quem se surpreendeu foi o próprio rei do mundo dos mortos ao ver a figura feminina da pele de amêndoas brilhando ao sol, os cabelos negros soltos enfeitado com diversas flores e os olhos caramelo fitando o lugar com certo desconforto.

Mesmo surpreendido, Hades esperou. Ocultou sua presença e deixou que a deusa adentra-se mais o lugar. E a curiosidade da deusa não o traiu, a jovem imortal entrou mais, descalça. Vasculhou o lugar observando cada detalhe e procurando. Por ele? Hades deixou-se acreditar que sim, que mal fazia numa ilusão? Todo estrago possível. Mas o que estaria perdendo? Não muito, e os ganhos poderiam suprimir perdas e torna-las insignificantes.

Moveu-se pelas as sombras e saiu da densa sombra, num sopro de vento gélido que fez – Hades notou – a pele de Perséfone arrepiar-se. Com a leveza e o silencio do vento Hades parou a menos de um passo de distância da deusa, que estava de costas para ele. Um sorriso vitorioso brincou em seus lábios.

– Ora, bela Perséfone! Que prazeroso vê-la novamente.

Sentiu-se satisfeito ao ver a deusa ficar tensa e virar-se rapidamente dando três passos para longe dele, assustada. O deus admitia que gostava de causar medo nas pessoas e nos deuses. Sem ao menos esperar que Perséfone se recuperasse do susto, adiantou-se dois passos para perto dela tomou sua mão direita e curvou-se gracioso para roçar os lábios na mão delicada.

– O acaso novamente me sorriu! – Hades abriu um sorriso de canto, que a deusa não soube interpretar.

O sopro gélido do vento a deixou despreparada para enfrentar o que se seguiu: a voz rouca e macia de Hades atrás de si e o beijo seguido do sorriso que mostrou uma pequena parte dos dentes brancos do deus. Hades deslizou as pontas dos dedos pela sua mão até deixa-la. A deusa ainda sentia a caricia dos lábios.

– Meu senhor. – Perséfone falou numa voz fraca e abalada curvando-se rapidamente para o deus.

Ouviu uma risadinha, e corou. Sentiu-se patética.

– Desculpe-me, devo tê-la a assustado...?

A voz do deus pairou no ar divertida e suave. Perséfone aproveitou para respirar e levantar os olhos para o rosto do deus.

– S-sim.

– Lamento. – a sombra do sorriso apareceu brincando com uma falha em seu rosto do lado direito – Um hábito difícil de largar.

Hades passou sua mão esquerda pelos longos cabelos negros e lisos, os ajeitando. Esperou pela a próxima reação da deusa, ansioso. Perséfone afastou-se um passo dele e abriu um sorriso nervoso, para logo em seguida passar rapidamente a língua pelos lábios numa tonalidade entre o vermelho morango e o rosa de uma flor. Hades ergueu uma sobrancelha continuou a fitando, com os olhos negros presos nela. Mas a deusa o olhou de volta, perdida; e Hades adoraria ajuda-la a se achar.

– Posso ser ousado e afirmar, que veio me ver? – Hades disse passando por ela e indo até o outro cômodo com apenas um enorme buraco aberto no teto.

Perséfone sentiu seu rosto arder e mordeu os lábios. Não deveria ter ido até ali. Mas ela queria estar ali. Afinal estava...

– Curiosa...

Hades parou ao ouvir a voz baixa e tímida da deusa. Ficou de lado a observando se virar e respirar fundo, voltando a abrir a boca.

– Estava curiosa.

– Sobre? – questionou o deus, com a face impassível.

– Você.

A sombra do sorriso estava lá novamente, revelando a falha intrigante que chamava a atenção da deusa. Hades maneou a cabeça e voltou seu olhar para ela e ele parecia fascinado com algo. Seria ela? Perséfone não se importou de se preocupar em dar uma reposta aquela pergunta, apenas gostou do brilho que surgiu nos dois poços profundos que a fitavam. Hades voltou para perto dela em grandes passadas, a sombra do sorriso já havia ido e agora lábios fechados e relaxados completava o rosto sereno e os olhos atentos.

– Interessante minha querida... – Hades falou numa voz profunda e instigante – Me diga suas duvidas.

Perséfone ficou meio confusa e piscou tentando se lembrar das diversas que havia selecionado. No entanto parecia extremamente difícil pensar com Hades tão perto, porém soltou algo num tom sussurrante.

– Você não é gentil.

– Não sou.

A resposta imediata e convicta, a fez dar um passo para trás quebrando seja lá o que Hades estivesse fazendo com ela.

~ Ω ~

Ela não se lembrava bem das perguntas que havia feito e nem das respostas dada por Hades. Mas lembrava-se de cada detalhe dele, e isso a levava a lembrar de algumas perguntas. Como quando perguntou se no submundo havia flores, no que Hades respondeu colocando sua mão embaixo da luz do sol que adentrava o local por um buraco no teto.

– Não há flores. Pois, não existe sol.

Naquele momento sentiu-se triste e notou que Hades parecia fascinado pela a luz do sol que tocava sua pele. A pele alva quase reluzia ao sol, e Perséfone quase desejou toca-la para saber se havia alguma imperfeição. A conversa prosseguiu, volta e meia a sombra do sorriso do deus brincava em seus lábios, e Perséfone não sabia o que havia despertado isso. Hades havia sido cortês em responder todas as suas perguntas, por mais idiotas que poderiam parecer, mas em nenhum momento o senhor do submundo desdenhou dela ou se esquivou de alguma pergunta; como se quisesse que ela soubesse de tudo. Teria que lembrar-se de perguntar isso a ele, quando se encontrassem no outro dia.

A noite havia chegado, se atrasara um pouco para encontrar com sua mãe, mas a mesma não pareceu notar a presença do deus ali, e nenhuma ninfa fora contar-lhe que ela estivera com Hades. Trançando seu cabelo, observou as estrelas que apareciam no céu, e a carruagem de Ártemis puxando a lua. Talvez Hades estivesse observando as estrelas também. O submundo não parecia um lugar agradável, não havia a luz do sol e da lua, não havia as cores da grama e das flores. Era tudo escuridão?

Com a noite, ele poderia vagar mais livre, não que detestasse o sol, mas depois de tantos séculos na escuridão era meio desconfortável. Mas a luz provinda da lua e das estrelas eram muito bem vindas. Sentiu a brisa acariciar seu rosto, cabelo e vestes; apreciou isso do mesmo modo que apreciara a visita de Perséfone. A escuridão era sempre tão temida, que havia se esquecido de algo que uma pessoa havia lhe dito a muito tempo.

“Na escuridão pode-se encontrar luz, como na luz pode-se encontrar escuridão. Um não existe sem o outro. Como vida e morte.”

Uma frase cheia de significados.

Sorriu para a noite.

Ouviu o piar de uma coruja ao longe, e sentou-se na relva, como Perséfone fizera quando lhe contara sobre o Elísio. Não era desagradável sentir e acariciar a grama, porém ela murchava ao seu toque; fez uma careta, pois gostara quando a grama ficara mais verde ao redor de Perséfone. Assim como ela gerava vida ele gerava morte, poderia existir um meio termo? Seria errado ele estar sendo tão gentil para fazê-la apaixonar-se por ele? Seria certo priva-la de tudo o que lhe dava vida, por sentir-se só? No fim, a decisão caberia a ela. Poderia ser visto como cruel e perverso, mas respeitava o livre arbítrio que os seres tinha, mesmo que ele mesmo não o tenha tido.

Seu pai havia deixado marcas profundas demais. Não só nele, mas em todos seus irmãos que sem qualquer pena foram engolidos e forçados a se desenvolver no interior do pai. Com uma careta, admitiu para si que aquilo fora nojento. Não gostava de descrever, pensar ou falar sobre sua infância até porque não se lembrava de ter tido alguma. No fim, seus atos poderiam ser justificados, afinal quem poderia culpar um deus-homem de querer algo mais? De querer uma existência eterna ao lado de alguém, de ter uma família? Talvez os deuses invejassem sim, os mortais. Ou talvez Hades apenas invejasse a vida dos irmãos que tinham o que ele não possuía.

Definitivamente estava sentindo-se muito só.

E sim, estava fazendo que no fim a escolha de Perséfone fosse ficar com ele e renunciar a tudo. E não sentia-se nem um pouco culpado por isso.

Enquanto a noite seguia, Hades esperou pacientemente para que Ártemis se fosse e Apolo aparecesse, para que pudesse ver Perséfone novamente.

~ Ω ~

Como Hades não podia sair de dentro da casa durante o dia, eles andavam pela a enorme residência com Perséfone contando quando caçou com Ártemis pela primeira vez, não fora uma experiência agradável porém fora educativa e cheia de sabedoria. A deusa da caça respeitava a vida animal e era belo vê-la velando as criaturas; depois claro de tirar suas peles e assa-las.

– Não foi bonito ver uma criatura tão meiga e teimosa ser aberta daquela forma...! – Perséfone completou estremecendo apenas ao lembrar da cena.

– Não lamente, a criatura lutou até o fim, tenho certeza que ficou contente por ter sido comida por duas deusas.

O tom de Hades sugeria divertimento. Perséfone riu e o olhou, a timidez que demonstrara no baile no Olimpo e no outro dia havia ido embora. Hades gostou da adaptação rápida a sua companhia.

– Não acho.

– Os mortais fazem isso o tempo inteiro, - argumentou Hades com o olhar no alto e gesticulando com uma mão, enquanto a outra mantinha em suas costas – e é o ciclo da vida animal. Nascem, vivem, são caçados e comidos. Fim.

Perséfone debateu, dizendo que eles não deveriam aceitar só por isso ser um ciclo viciante, alegou que eles tinham sentimentos. Hades aproveitou para sorrir da fervorosa argumentação que a deusa da primavera fazia, quando enfim ela parou e o encarou, ele já estava composto. E quando voltou a falar, o ambiente escureceu e esfriou, a deusa notou.

– Sou o deus dos mortos, deveria debater com Tânatos sobre os sentimentos dos falecidos animais. Os mortos não sentem, não pensam a não ser claro, que eu queira.

– E o senhor sente?

Estar com Hades a fazia quebrar as regras da mãe, que a cercava desde que nascera e ela gostava disso. Da liberdade de estar com alguém sem que sua mãe estivesse junto dela, controlando o que ela falaria e o que faria. Hades lhe dava o espaço que ela queria para se soltar das amarras que sua mãe impusera com o medo que ela própria sentia, mesmo que a presença do deus fosse sombria e até intimidadora.

– Já vira um baile dos mortos? – Hades perguntou olhando para fora onde outrora um jardim florescerá belo.

– Não sabia que havia um! – o interesse logo voltou a aparecer e Perséfone deixou o silencio para trás.

– Realmente nunca houve. – Hades falou pensativo – Apenas me ocorreu a ideia.

Perséfone o observou naquele silencio olhando para algo além do horizonte. Os cabelos longos negros, o rosto desprovido de barba com o queixo quadrado relaxado, a pele branca e a toga de cetim negro cobrindo sua cintura e uma faixa negra subindo da sua cintura do lado direito ao ombro esquerdo. Não trajava armadura ou qualquer arma.

– Porque conta-me essas coisas?

– Como querida? – a voz macia e distante fez algo mover-se dentro da deusa que cerrou o punho, nervosa.

– Sobre seu lar, e as suas tarefas.

– Pois perguntou-me.

A resposta simples a deixou cabisbaixa, esperava que Hades falasse outra coisa, embora não soubesse o quê exatamente. Mas outra duvida surgiu.

– Então, responderia a pergunta de todos que lhe questionasse como o questiono? – sorrindo Perséfone rodopiou por reflexo.

Hades a observou por um tempo, ponderando a resposta. Prolongando a ansiedade de Perséfone. A deusa era quase curiosa como Atena nas primeiras semanas que sairá da cabeça do pai. Porém, Perséfone não fazia as perguntas certas, mas sim perguntas que lhe chamavam atenção, que eram apenas para fazê-lo falar com ela.

– Não. Deve estar a par que não me relaciono bem com os outros deuses.

– Sim. Mas com Atena é diferente.

– Sim.

Perséfone demorou a voltar a falar, desviou os olhos do deus e mordiscou o lábio inferior. Hades observou fascinado, deixando sua mente vagar por pensamentos nada próprios e gentis.

– Então, responde minhas perguntas... Por qual motivo mesmo?

– Porque está tão interessada em saber? – Hades a provocou, chegando um passo mais perto da deusa que corou e abriu a boca uma, duas, três vezes antes que algo saísse.

– Eu fiquei...

– Curiosa. – Hades completou – Sabe o quanto isso é fascinante?

Os olhos negros e profundos de Hades pareciam conter um magnetismo que não permitia que os marrons dourados de Perséfone desviasse deles nem por um segundo e a voz macia, meio rouca e baixa era provocativa. Perséfone não fazia ideia do que o deus falava, mas antes que pudesse questiona-lo sobre isso Hades mudou de assunto.

– Poderá me encontrar aqui quando a lua estiver alta no céu?

Fora um convite inesperado, Hades notara que a jovem deusa não esperava. Os olhos uma mistura da terra puxado para o amarelo queimado do trigo se arregalaram e os lábios se entreabriram em surpresa, e ela arfou como se ele houvesse roubado-lhe o ar precioso antes de os fechar e dar-lhes as costas. Perséfone estava de fato considerando dizer-lhe que sim, mas sabia que não poderia a não ser que enganasse a mãe – o que era uma tarefa deveras difícil. Sentia a presença de Hades esperando por uma resposta, não deveria deixa-lo sem uma, mesmo que uma incerta, por isso virou-se para o deus que a encarava e lhe respondeu: - Não posso prometer.

Fora o suficiente para Hades, pois notara a chama nos belos olhos de Perséfone quando dissera sua resposta antes de deixa-lo. Ela viria, sentia isso e se agarrou a esse sentimento. Afinal ela viria de uma forma ou de outra.

Ela definitivamente estava fazendo uma loucura, saindo de casa com a lua alta no seu e correndo pela a floresta tomando o caminhos dos campos, sentindo a brisa noturna e a luz da lua e das estrelas a acompanhando durante o caminho. Com a vegetação encoberta pela o manto da noite, ganhavam cores novas e Perséfone as guardava na memória. Sua toga florida estava erguida por suas mãos enquanto corria despreocupada e alegre noite adentro. Chegando ao terreno da casa destruída o achou mais abandonado do que era pelo o dia. E não sentira a presença de Hades na propriedade.

Adentrou a propriedade cautelosa. Foi quando lufadas de ar percorreram o campo e casais feitos de fumaça apareceram e desapareceram. Quando aconteceu pela a segunda vez, alguns permaneceram e outros simplesmente sumiram. O órgão que bombeia sangue para as veias humanas poderia muito bem estar entalado na garganta da deusa. Mas casais iam surgindo e outros desapareciam, numa valsa fantasmagórica. Observando-os, enquanto se acalmava ao notar que não lhe fariam mal, percebeu que dançavam e as palavras de Hades sobre um baile dos mortos voltou a sua mente, fazendo-a sorrir minimamente ainda com o gosto do medo na boca.

Sussurrou: - Hades.

O deus não demorou muito a aparecer, de surpresa saindo de alguma sombra como se fosse parte dela. Isso deixava Perséfone nervosa durante o tempo que não se viam, pois toda vez que olhava ou passava por uma sombra sentia que o deus a observava.

– Sente-se feliz em aparecer assim...!

– É satisfatório. Gosto de entradas que cause impacto. – ele sorriu.

– Ou uma morte instantânea. – a deusa riu. – Esses são... – apontou ao redor.

– Os espíritos de Asfódelos. – Hades olhou longamente ao redor deles, uma melodia de fundo era ouvida, como se o vento tocasse liras. – Os trouxe para um passeio.

Perséfone sorriu, encantada. Hades voltou seu olhar para ela, mas a mesma não escondeu o sorriso; estendeu-lhe a mão direita a qual Perséfone prontamente segurou. E se colocaram a rodopiar entre os espíritos. O toque quente de Hades provocava formigamentos pela a pele da deusa que segurava suspiros.

– O que quis dizer mais cedo, quando disse-me que eu não sabia o quanto era fascinante...?

– Sua curiosidade é fascinante. – respondeu-lhe imediatamente, a conduzindo na dança.

– Por quê? – o questionou.

– Pois, aos meus olhos parecem tentativas de fazer-me falar.

– Não gosta de falar?

Hades negou, e a olhou com o mesmo brilho de mais cedo. Estava fascinado pela a deusa e não negava isso. E tinha mais três dias na superfície para completar seu desejo. (talvez não precisasse de mais dias)

– Perguntou-me mais cedo o porquê de eu respondê-la.

– Pergunto-me agora o porque de gostar de falar comigo. – Perséfone brincou, e agradou-se ao ver que a brincadeira era aceita pelo o deus.

– Está correta, eu gosto de falar contigo. – novamente aqueles olhos ônix a prenderam naquele magnetismo inquebrável – Tenho um interesse muito grande em ti.

Perséfone ficara tensa, pois entenderá o que o deus falara e o que ocultara em suas palavras. Hades notara a tensão no corpo da deusa, mas não se incomodara em tirá-la dali. Havia coisas a serem ditas naquela noite.

– Que tipo de interesse, meu senhor?...

– Acalme-se, não sou meus irmãos ou como os outros deuses. – Hades notou o medo na voz dela e tratou de se esclarecer, detestava quando o comparavam aos irmãos que não sabiam se controlar.

– Definitivamente não é. – Perséfone sentia uma pontada do desespero crescendo em seu peito – Seja claro em me esclarecer esse interesse.

Hades ficara surpreso com a mudança no tom de voz dela. Os belos olhos poderiam estar tremendo, mas a voz era firme e clara – parecida com o tom que seu irmão Zeus usava diante a ameaças. Hades concordou com um aceno e desviou os olhos dos de Perséfone. A jovem deusa agradeceu silenciosamente, mas logo notou as colunas transparentes que surgiam e iam ao redor da propriedade.

– Serei o mais claro que conseguir, após isso quero uma resposta. – Hades não parara a dança, os dedos roçando a cintura da deusa e a mão segurando a dela delicadamente.

Ele não a estava segurando. Era claro que ele não estava preocupado se ela fugisse. Se quisesse.

– Estou querendo algo, almejando seria a palavra certa. – Hades parou, procurando as palavras certas, Perséfone o fitava novamente – E és linda, e tem esse brilho no olhar. Posso dizer que me conquistara quando simplesmente não sentira medo, repulsa e aversão a minha presença. Fora, curioso.

Hades largou a mão de Perséfone para passar a acariciar sua bochecha e queixo, e o toque reverente do deus fez a deusa prender a respiração.

– Confesso que estou sendo sincero e gentil para fazer te amar-me. Pois seria fascinante experimentar isso. Então me responda se está funcionando.

A ordem fora dita com um franzi das sobrancelhas e o aperto da parte dele em sua cintura, a deusa arfou atrás de ar e notou tardiamente que haviam parado de dançar com os mortos. Colunas negras se solidificaram ao redor deles, dando forma ao salão de obsidiana porém a deusa não notou esse detalhe pois, estava focada demais em Hades, presa a ele.

O roçar do polegar em sua bochecha e do indicador em seu queixo só fazia os arrepios aumentarem de intensidade e sua pele esquentar. O calor do corpo do deus parecia estar se fundindo ao dela enquanto ele a segurava pela a cintura, a espera de uma resposta. E os pensamentos da deusa começaram a desaparecer um por um quando o polegar de Hades passou por seus lábios. Fechou os olhos para apreciar o toque dele.

Hades sabia que a estava encurralando, mas necessitava saber se estava sendo correspondido, se sua causa seria alcançada e se sim, então ele lutaria com todas as armas. Decidiu-se por deixar a deusa sem sua interferência afrouxando o braço na cintura de Perséfone e se afastando um pouco da deusa, que não demorou a perceber o súbito comportamento. Esperou uns minutos para seus pensamentos desanuviarem da névoa que Hades colocava em si.

De fato Perséfone não poderia negar que o deus a envolvia de uma maneira totalmente nova, a levando a descobrir coisas que acontecia consigo e a sensações providas por algum sentimento que crescia forte em si. Já vira o desejo de um deus, a raiva, a loucura. Muitas vezes despertada por algo tão fútil. Hades era diferente em certos aspectos, duvidava que outro deus se importasse com sua permissão para tomá-la. E ela sentia aquela vontade inexplicável de estar com o deus, de dar-lhe o que ele precisava, não o deixar mais sozinho.

– Mais do que imagina... – sussurrou num fôlego o puxando levemente para perto de si, necessitando do toque dele.

E Perséfone viu pela a primeira vez a fileira de dentes brancos. E Hades não precisou pedir a permissão da deusa para tomar os lábios carnudos, iniciando de uma forma lenta o beijo que roubara o ar e chão da deusa que se agarrou á ele como se fosse ser jogada no abismo. E Perséfone não ligava de cair no abismo, pois era onde Hades estava.

~ Ω ~

“Se eu lhe pedisse para estar comigo pela a eternidade?”

Zeus ficara surpreso com a visita do irmão ao Olimpo, Hades dificilmente saia de seu reino sem ser oficialmente chamado. Como era rara essas ocasiões, Zeus ficara mais que satisfeito de ver o irmão. Não poderiam dizer que eram próximos, mas Hades sempre tinha conselhos sábios em momentos obscuros e por mais que tivessem tido divergências ainda eram irmãos.

– Para que veio meu irmão? – pergunto o senhor do Olimpo, enquanto dava um tapa animado nos ombros do irmão e andavam pelo o jardim do Palácio.

Hades olhou para a mão de Zeus em seu ombro e franziu de leve as sobrancelhas negras, tinham a mesma altura. O assunto que viera tratar com Zeus poderia ir por dois caminhos: guerra ou aceitação. Mas Hades tinha uma crescente suspeita que poderia ser o dois caminhos e estava mais que disposta a percorrê-los. Tratou de ser claro ao falar com o irmão, o temperamento explosivo de Zeus era conhecido e muito temido.

– Pedir-lhe algo. – declarou o senhor do submundo na tranquilidade e serenidade que estava sentindo.

– Pois peça!

Para o rei dos deuses era incomum ouvir isso de Hades, por isso tratou de respondê-lo de imediato sem antes ouvir o pedido. Hades o encarou sério e decidido.

– Quero unir-me a Perséfone!

Poderia ser um pedido simples, e Zeus estava disposto a atendê-lo pelo o irmão, mas havia complicações.

– Tem minha benção. – disse Zeus limpando a garganta e prosseguindo – Mas receio que Deméter não permitirá essa união. Mas não precisa da benção dela.

– Sua filha precisa.

Os laços sanguíneos dos deuses eram algo complicado, e não recebiam qualquer atenção. Zeus suspirou, Hades tinha um comportamento diferente. Zeus simplesmente a tomaria e pronto. Iria lidar com as consequências quando e se surgissem.

– Irmão, Deméter jamais permitirá!

– Convence-a.

– Certo, se é o que deseja. – Zeus ignorou a ordem do irmão, era difícil ver Hades e por mais que o tenha traído e o desafiado no passado estava disposto a tentar restabelecer os laços que uma vez tiveram.

Perséfone sabia que não seria nada fácil convencer a mãe de deixa-la ir com Hades, mas seria persistente e estava contando com Zeus para convencê-la. Não via Hades desde que dançaram num baile fantasma e o deus a beijara. Volta e meia Perséfone passava os dedos de leve nos lábios, recordando a sensação de sentir os de Hades sobre eles. Isso a distraiu da cesta de feno que fazia e não notou a aproximação da mãe, que a pegou pelo braço num aberto doloroso e a puxou para cima.

Deméter não era de se enfurecer fácil, mas as feições da deusa da colheita estavam contorcidas pela a fúria que sentia e que soltara em palavras para a filha.

– Como ousa! Não permitirei! Nunca! – puxando e cravando as unhas na pele bronzeada da jovem deusa berrava fazendo o chão estremecer – Unir-se á um deus desprezível como Hades?Nunca! Não irá para o submundo! Não sobreviveria!

– Mãe espere! – chamou em vão, os olhos da deusa estavam brilhando com a fúria.

– Me desobedecerá! – com a outra mão pegara o outro braço de Perséfone o apertando com a mesma intensidade que apertava o outro – Não ligo para as ordens de Zeus! Não irá e ponto!

~ Ω ~

– Qual a dificuldade?

A voz de Hades estava gélida como o ar que estava no salão que escurecerá com a fúria do deus. A resistência de Deméter de permitir que Perséfone se casasse com Hades estava dando dores de cabeça a Zeus e Hades vindo ao Olimpo cobrar-lhe não estava ajudando.

– Não posso fazer muito se é o que Deméter quer para filha.

– Deméter está louca! Loucura que você provocara nela! – Hades acusou e isso despertou a fúria do outro.

– Não acuse-me Hades! Tenho o suportado mais que minha paciência permite!

– Não negou, irmão!

Zeus não precisava, sabia o que tinha feito. Hades não mentira, não era uma de suas características. Passando as mãos pelos cabelos negros cacheados o deus dos deuses suspirou.

– Eu só pedi uma única coisa a você. Eu a quero Zeus!

E Zeus reconheceu a loucura da paixão nos olhos do irmão, mas nada disse sobre isso. Deméter estava machucando sua filha e passando dos limites, tinha que dar um basta nisso.

– Não posso passar pela vontade dela.

Hades se retirou dando longas passadas para a porta do salão dos tronos, enfurecido com Zeus e sua tentativa de ser sensato. Na saída encontrara Atena recostada sobre uma coluna a sua espera. Hades parou para acalmar-se e conter sua fúria.

– Qual conselho dar-me?

– Se fizer o que fará, não importa o motivo será visto da forma errada. Será julgado e possivelmente odiado.

– Nunca dignei-me a ligar para como me viam.

– Sei que não. – um sorriso mínimo apareceu na face de Atena e um olhar que Hades tomou por admiração brilhou nos olhos tempestades, para logo sumir com o sorriso – Apenas não seja dominado pelo o medo. Ele faz pessoas boas cometerem coisas horríveis, que a farão se lamentar.

O deus se questionou se Atena tivesse descoberto algo sobre a mãe, ou se já sabia de toda a história. Era difícil prever certas coisas quando se tratava de Atena. Ele admirou a deusa caminhar para a sala onde deixará um Zeus furioso e com sede de sangue, mas não se preocupou, pois Zeus amava Atena de todo o coração. A deusa da sabedoria parou seu trajeto e virou-se para o deus plantado ao lado da coluna que á pouco estivera.

– E somos deuses meu tio.

~ Contos do Olimpo ~


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Notas finais do capítulo

A primeira parte do Conto pode ser encontrada aqui: https://fanfiction.com.br/historia/614278/ContosdoOlimpo/

Espero que gostem e que deixem comentários, pois são importantes para que eu posso melhorar.

Que a Força esteja com vcs!



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