Pode Me Chamar De Percy escrita por bersange


Capítulo 10
Nico: Penumbra


Notas iniciais do capítulo

/bersange/
capítulo narrado em primeira pessoa por nico.
estou um tanto receosa com a recepção desse capítulo, devo admitir. espero que gostem.
uma pequena mudança no, digamos, perfil do personagem, mas que eu acho que dá pra encaixar bem.



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Algumas pessoas nascem para brilhar, outras nascem para serem ofuscadas. Eu me encaixei no segundo grupo.

Eu assisti ao maldito teste para o time de basquete. Eu sabia que ficaria deprimido e que minhas inseguranças mais imediatas voltariam a atacar, mas muitos dos meus amigos estariam na quadra: tanto na torcida quanto brigando por um lugar na equipe. Entre estes, meus companheiros de quarto: Tyson, Grover e Percy.

Ver o pessoal do time jogando e, pior, jogando bem era algo que me deixava para baixo. Uma ponta de inveja, talvez. Não que eu quisesse que eles fossem ruins e eu fosse o melhor, longe disso. Eu só queria ser bom em algo, ter algum talento.

Dos que eu tinha algum laço afetivo, apenas dois não conseguiram entrar no time: os engraçados irmãos Stoll. Luke Castellán, inclusive, era o capitão do time, infelizmente.

Não que Luke não fosse meu amigo. Ele era. Mas era irritante como as coisas davam certo para ele: namorou garotas como Thalia, Drew e Silena - meninas que Nico nem tinha como tentar um chance. Era capitão do time e referência no colégio. Aluno querido entre os professores, com pai bem sucedido no ramo dos correios (enquanto o meu pai era dono de uma droga de funerária) e feliz ao lado de sua namorada, Annabeth. Logo dela...

Eram pensamentos egoístas e infantis, eu sabia, mas nem por isso menos verdadeiros. Mas é claro que, na maior parte do tempo, os bons sentimentos ficam a frente dos pensamentos ruins. Então, exceto em momentos críticos, eu queria o bem de todos os meus amigos atletas, até mesmo Luke Castellán e até mesmo o mais novo desse grupo, Perseu Jackson.

- Parabéns, Percy - eu disse, em meu dormitório, quando ele entrou. Estava apenas com uma bermuda, sem camisa e de cabelo molhado. Tyson já estava deitado, mas ainda não dormia. Grover ainda não tinha voltado ao quarto. Eu estava na mesa mexendo no meu computador, jogando um joguinho de RPG bobo sobre mitologias.

- Valeu, Nico - respondendo, fazendo sinal de 'papo firme' com a mão.

- Agora você é oficialmente um Minerva Owl, cara - disse Tyson.

- Minha mãe ficou toda contente, apesar de que não consegui contar a novidade para ela. Paul foi mais rápido - disse, rindo. - É a primeira vez que faço parte de um time.

- É mesmo? - perguntei, incrédulo.

- Sim. Eu, bem, não parei em muitos colégio, sabe? - murmurou, desconcertado e sem graça. Imediatamente, eu me arrependi do meu comentário.

- Eu, hã... O que achou do vestiário novo? - emendei, tentando disfarças a mancada.

- Mais limpo, com menos movimento - falou Percy, voltando a sorrir. - Agora vou poder demorar um pouco mais no banho, finalmente.

- Pode demorar, mas não pode ficar tocando punheta - disse Grover, que acabara de parar na porta, nos fazendo gargalhar.

- Pode deixar que não vou tocar - disse Percy, ainda sem fôlego.

- Esse é o maior problema da Academia Minerva: a falta de privacidade para tocar umazinha - continuou Grover. E com uma piscadela, concluiu: - Mas você acaba arrumando um jeito.

- Vamos parar de falar em masturbação por um instante? - eu reclamei, já com as bochechas rosadas.

- De acordo - disse Grover, forçando um tom solene a voz. - Percy, você já sabe como serão os treinos?

- Para falar a verdade, não.

- Certo - disse Grover, pegando um copo de suco no frigobar e se sentando ao lado de Percy na cama, que ainda não tinha colocado a camisa. - Vamos começar já na sexta-feira, depois da última aula. Todos os dias começa no mesmo horário, menos na quarta-feira, que começa mais cedo, já que é o horário para os clubes e práticas esportivas. Nesse começo a gente vai treinar no final de semana também.

- Parece cansativo.

- E é - respondeu Grover. - O primeiro jogo é no começo do mês que vem já e os jogos são nos finais de semana, sempre. Muitas vezes um jogo sábado e outro domingo, muito raro de ter jogo no meio de semana, só em colégios muito próximos.

- Omaha Beach - comentou Tyson.

- É, Omaha Beach - disse Grover, com certa raiva na voz. - Eles são nossos maiores rivais. Com o tempo você entende essas coisas de rivalidade.

- Claro - respondeu Percy, atento. Eu observava, entediado.

- Agora, o treinador Hedge dificilmente vai escalar você ou algum dos novatos de cara nos dois primeiros jogos, por questão de entrosamento. Ele é assim mesmo. Mas a partir da terceira rodada você deve entrar.

- Mal posso esperar! - falou, empolgado.

- E olha, acho que você tem chances de ser titular com o tempo - falou Grover, em tom sério.

- Será? - retrucou Percy, mais uma vez enrubescido.

- O time atual é Beckendorf, Tyson, Jason, Octaviam e Luke - explicou.

- Com Grover e o Frank sendo os reservas que mais entram - colocou Tyson.

- Bem, depende - refletiu Grover. - No começo do ano passado eu fui titular, Jake Mason e Leo Valdez também. Mas a base é essa, entende? Acho que você pode jogar no lugar do Octaviam ou do Jason, principalmente.

- É muito cedo pra saber essas coisas, Grover - respondeu Percy, humilde. Eu sorri.

- Outra coisa: depois do treino das quartas tem reunião geral com o time no ginásio principal - avisou Tyson. - É tipo uma conversa de vestiário, só que maior. É muito importante.

- E no sábado a gente vai para o Quiosque Mulambo.

- Que raio de lugar esse? - perguntou Percy.

- É um pé-sujo em Williamsburg, lá eles vendem bebida para menores e é meio que o ponto de encontro do pessoal - respondi.

- É mais que um pé-sujo! - protestou Grover. - É um ponto de encontro passado de gerações por gerações na Academia Minerva.

- Como quiser - comentei, seco. Desliguei o computador. - Vou me deitar, galera, boa noite. Parabéns pela vaga, Percy. Para vocês também, Tyson e Grover.

- Boa noite - disseram os três, uníssonos. Eu encarei Percy por mais uma vez: ele ainda estava sem camisa. Ele era magro e razoavelmente forte. Não era um daqueles caras bombados, mas estava em excelente forma para um cara de dezesseis anos.

Não demorou muito para os três desligarem a luz e se deitarem também. Mas o pensamento de Percy Jackson sem camisa me perseguia e eu temia estar me apaixonando novamente.

Eu me lembro de quando descobri que era gay. Foi por causa de Luke. Alto, bonito e com jeito de galã, era difícil dormir no mesmo quarto que ele. Tão perto, tão longe.

Mas, claro, ele nunca deu bola para mim. Não por culpa dele, por ter me esnobado ou algo assim. É que ele gosta de meninas, simples assim. É um incompatibilidade de gostos, digamos assim. Quando se é gay, acontece muito. Eu já estava acostumado com isso.

Mas confesso que precisa de muito auto-controle para manter minha verdadeira natureza escondida. Não por não me aceitar - eu já consegui passar dessa fase. Simplesmente não me revelava para todo mundo porque não era da conta de ninguém. Mas a questão é que era difícil ficar tranquilo com a visão de Luke Castellán de quinze anos mas corpo de vinte de cueca.

O alívio veio quando soube que Luke foi removido do nosso dormitório. Com a separação, o sentimento naturalmente iria se extinguir. Mas não poderia crer que no lugar dele viria outro alguém tão bonito como Percy Jackson. Com seu jeito charmosamente despreocupado, que não se preocupa em ser perfeito... Era difícil resistir, admito.

Além disso, eu já tinha percebido que o  mesmo, hã, probleminha de Luke aconteceria com Percy: ele era heterossexual. Eu percebi como ele olhava para as garotas bonitas, com a atração tão natural da idade. Eu o via em seus olhos, seja com Annabeth ou Silena seja com a ruivinha que mal tem amigos. Não que ele forçasse a barra ou flertasse escancaradamente, mas eu simplesmente conseguia ver. E, na verdade, percebi que ele estava particularmente interessado em duas meninas em especial, mas não creio que nem ele mesmo tenha notado isso. Esta, aliás, era um característica interessante nele: não sabendo o quanto é belo e nem entendo muito bem os próprios sentimentos, Percy acabava parecendo perdido e até ingênuo.

Respirei na cama, triste. Ouvi Tyson roncando na cama abaixo. Percy estava virado para a parede e Grover já estava inconsciente. Lembrei-me do que este falou sobre o prazer íntimo, que sempre se dava um jeito e sorri.

Percy era hétero, mas não significava que em minhas fantasias fosse assim. Ali, e apenas ali, podia tudo.


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Notas finais do capítulo

/bersange/
alguns toques sobre o capítulo:
obviamente que a academia minerva deve ser um colégio caro, então tentei colocar os pais dos alunos como empresários ricos em ramos que tem algo em relação ao deus olímpico/pai original da saga de rick riordan. hermes: serviço de correio, hades: funerária, etc.
percy ainda não pensou na riqueza dos colegas, mas posso adiantar que ele não é pobre. a mãe dele é vendedora e o padastro é professor, certo, mas o pai deixou uma herança polpuda. ainda assim, ele ganhou uma bolsa para estudar no minerva, graças ao paul.
quem piscou ou pulou uma linha perdeu uma linha potencialmente importante sobre um personagem.
e agora, o principal assunto: nico di angelo. o que acharam dos rumos do personagem? é um tema que eu gosto, por motivos óbvios. eu escolhi o nico para ser o personagem que siga essa linha pq ele não tem relacionamentos românticos em nenhum momento da saga (exceto por um linha em a marca de atena, que annabeth diz que achava que ele tinha uma queda por ela), então ele é meio que bom pra isso. também acho que o nico enfrentou coisas difíceis no livro ainda muito cedo e que o transformou em um cara muito maduro. no caso, a morte da irmã dele. é bem normal que quando se descobre a própria sexualidade tão cedo - e a aceitando - a pessoa amadurece cedo.
eu pensei em algo entre as caçadores - thalia e zoë - que possui forte conotação homoerótica (sorry quem não notou), até mesmo na mitologia original. desisti pq acho que esse tema deveria ser melhor aproveitado em outra fic, talvez uma one-shot. além disso, sendo companheiro de quarto de percy, acho que o tema tem exposição suficiente sem ser muito exagerado, clichê ou raso, graças a personalidade naturalmente retraída do garoto.
é isso, espero que gostem.