Jesse abriu os olhos lentamente e a primeira coisa que encontrou foram os olhos de Quinn, lhe fitando de forma preocupada. Ele fechou rapidamente ao sentir a claridade ao seu redor e gemeu de dor.

- Eu bebi ontem? – Jesse pediu ainda de olhos fechados.

- Não...  – Quinn respondeu baixo.

- A minha cabeça dói. – Ele abriu os olhos lentamente. – Eu tive um sonho muito esquisito...

- Teve? – Quinn parecia desconcertada.

- Sim. – Jesse se sentou. – Eu tinha chegado na sua casa e Rachel estava descendo as escadas, pedindo como se regulava o chuveiro.

- Ela estava...? – Quinn desviou o olhar para sua cômoda. – Sonho estranho, né?

- Quinn você ta estranha.

- Não, não... Claro que não. – A loira disse rapidamente. Jesse a encarou e deu de ombros.

- Que horas são?

- Já passa das oito da manhã. – Quinn.

- Ah é... Eu me esqueço que estamos em férias. – Ele passou a mão em seus cabelos. Um som estranho veio da cozinha. – Ei, seus pais voltaram?

- Não...

- Tem alguém aqui?

- Não. – Quinn olhou para o lado.

- Quinn... – Jesse arqueou a sobrancelha. – Lucy Quinn Fabray, não me diga que é o Finn que está lá em baixo.

- Eu... O que? Não! Claro que não. – Quinn coçou sua nuca. – Eu não sei como explicar isso, mas... Bem, seu sonho não foi um sonho.  – Jesse a encarou e começou a gargalhar.

- Sim Quinn, claro que foi realidade. Rachel Berry está aqui e tomou banho no seu banheiro.

- Na verdade foi no do quarto de hospedes, não no meu banheiro.

- Não tem graça Quinn. – Ele a encarou sério. – Quinn para é sério.

- Eu não fiz nada!

- Dizer que Rachel Berry está na sua casa é algo sério.

- É?

- Sim! – Os dois ficaram em silencio. Num movimento rápido Jesse jogou suas cobertas longe e se levantou. Ele esta sem camisa.

- O que você vai fazer? – Quinn pediu.

- Ver quem está na cozinha. – Jesse disse indo em direção à porta, Quinn o seguiu.

- Por que você não fica na cama? Está frio.

- Não estou com frio Quinn. – Ele disse, enquanto dava passos firmes em direção à escada.

- Jesse...

- Quinn suas brincadeiras sempre foram sem graça. – Jesse disse, enquanto os dois desciam as escadas. – E além do mais, qual é a probabilidade de Rachel Berry vir para sua casa.

- Grande? – Jesse se voltou para Quinn.

- Claro que não... Ela não viria para uma cidade minúscula como essa. – O garoto girou nos calcanhares e travou na porta da cozinha. Quinn já se colocou atrás do garoto.

- Não faça movimentos bruscos. – Rachel fitava os dois. Ela estava tomando seu café da manhã. 

- Rachel Berry... Na sua casa. – Jesse olhava fixamente para a morena.

- Não desmaie... Você não faz ideia do quanto foi difícil te levar para o quarto.  – Quinn disse preocupada.  Rachel ameaçou levantar da cadeira. Quinn balançou freneticamente a cabeça, enquanto gesticulava para não fazer isso. A atriz ignorou Quinn e foi até Jesse.

- Olá! – Ela disse simpaticamente para Jesse. – Como está se sentindo? Fiquei preocupada com você ontem.

- É ela mesmo! – Jesse disse se voltando para Quinn, com os olhos marejados.

- E lá vamos nós. – Quinn sussurrou para si. Durante a noite ela ficou cuidando Jesse, enquanto Rachel se desculpava milhares de vezes.

- Venham, o café está na mesa. – Rachel disse voltando a se sentar. Jesse olhou para Quinn, que continuava se mostrar indiferente com a situação toda em sua volta.

- Rachel Berry me convidou para tomar café com ela. – Jesse disse.

- É Rachel Berry te convidou... – E os dois se juntaram a Rachel no café. 

 O trio ficou em silencio. Rachel comia tranquilamente, Jesse a observava de forma afetada para a morena e Quinn continuava no seu desanimo matinal, e dava a entender que seu café parecia muito mais interessante que todo o resto.

- Ok, eu preciso pedir... Por que veio para Bennington? – Jesse quebrou o silencio.

- Oh... Bem, eu estava me sentindo controlada demais. – Rachel disse.

- Ela quis fugir. Antes do inicio das gravações do filme dela, uma coisa muito profissional da parte dela.  – Rachel olhou feio para Quinn.

- Isso é sério? – Jesse pediu.

- Não exatamente.

- Foi o que ela me disse. – Quinn.

- Quinn! – Rachel respirou fundo. – Eu não pude explicar direito ontem. Certo alguém estava ocupada demais em querer me por para fora.

- Não se esqueça que você é minha inquilina.

- Quinn! – Jesse a cortou.  – Continue Rachel.

- Bem... Eu queria que chegasse a esse ponto, mas... Meu empresário me privava de tudo. Eu não podia sair, tinha tweetar e postar coisas sobre como a vida no set era divertida e pior, eu tinha que manter um relacionamento com Brody.

- Mas... Mas, vocês pareciam um casal tão feliz. – Jesse disse levemente decepcionado.

- Bem... Meu trabalho é atuar, então... – Rachel sorriu. – Mas ele é a pessoa mais ardilosa que eu já conheci na vida.

- Quem usa a palavra ‘ardiloso’ para descrever alguém? – Quinn se fez presente na conversa.

- Ignore-a Rach... Eu posso te chamar de Rach, certo?

- Claro Jesse. – Ele sorriu.

- Ok... A vida é feliz e bonita, mas você não acha que metade do país está atrás de você nesse exato momento? – Quinn pediu.

- Não... Eu sou só uma atriz da Broadway, isso não te dá tanto reconhecimento assim. – Rachel deu de ombros.

- Mas... Você estava preste a gravar um filme e você tem seu empresário que é um desgraçado e tem mais o outro cara lá... Eles vão fazer um drama do caramba.

- Quinn tem razão... – Jesse disse pensativo.

- Eles não vão mandar um mundo atrás de mim.

- Não? – Quinn pediu.

- Não... Eles não vão sentir a minha falta até eu voltar. – Rachel deu de ombros.  – Talvez Kurt sinta minha falta, mas eles não.

- Quem é Kurt? – Quinn pediu.

- Kurt Hummel é o melhor amigo dela, um estilista maravilhoso preciso dizer.  – Jesse disse.

- Ta... Enfim, o que você pretende fazer nessas semanas?

- Descansar principalmente. – Rachel tomou um gole de café. – Conhecer um pouco a cidade, pelo pouco que vi parece ser linda. – Rachel sorriu.

- Eu posso te levar para conhecer alguns lugares, se quiser. – Jesse sorriu.

- Oh, eu adoraria. – Rachel disse animadamente. – Foi até estranho dormir sem ouvir sirenes e helicópteros à noite. – A morena riu.

- Você conseguiu dormir? – Quinn pediu.

- Sim, por quê?

- Sei lá, pensei que você fosse se revirar a noite toda, sentindo a culpa por estar fazendo toda essa loucura.

- Bem... No começo, quando eu sai de NY foi, mas depois quando eu cheguei aqui eu já havia me acostumado com a ideia , eu estou considerando isso como minhas férias de verão.

- Quinn, podemos levar ela para acampar! – Jesse disse animadamente.

- Não vou acampar por um bom tempo.  – Quinn disse friamente.

- Oh... É mesmo. – Jesse disse se sentindo culpado por ter tocado no assunto.

- O que aconteceu? – Rachel pediu confusa.

- Foi num acampamento que...

- Jesse cala a boca! – Quinn se levantou de sua cadeira e se retirou da cozinha. Rachel e Jesse se entreolharam.

- Ela não gosta de tocar nesse assunto... – Jesse disse um pouco desconcertado.

- Mas o que aconteceu?

- Bem... Ela namorava com uma garota chamada Brittany e era a base de tudo para Quinn. – Jesse olhou para a sala para se certificar que Quinn não estava ali. – E num determinado dia, nós saímos acampar. Eu, ela, Brittany e Santana, que era outra amiga nossa. E Quinn descobriu que Brittany e Santana tinham um caso. Elas discutiram uma noite toda, e acabaram se separando.

- É por isso que ela é toda...

- Depressiva? – Jesse pediu.

- Eu iria dizer cabisbaixa, mas também serve.

- Sim, talvez se você tivesse vindo um mês atrás seria recebida um pouco melhor. 

- Ela fez algum tipo de terapia ou qualquer coisa assim?

- Fazia, mas ela nunca falava nada... Ela ficava mais de uma hora encarando a doutora.

- E os pais dela fizeram alguma coisa a respeito?

- Quinn não deixava. – Jesse bebeu seu café. – Tudo o que eles conseguiram fazer foi trocar os horários de Quinn. Quando tentavam falar com ela, Quinn simplesmente se trancava no quarto e ficava ouvindo as musicas mais depressivas do mundo. Quando eu tentava falar com ela, tudo que ela respondia era ‘sim, não, talvez’... Foi um mês horrível. Eu comecei a dormir com mais frequência aqui porque eu achava que Quinn iria se matar ou fazer alguma loucura.  – Rachel o escutava atentamente.

- Essa garota ao menos a tratava bem? Antes do término, eu quero dizer.

- Brittany? Sim, elas eram o casal perfeito. Sabe o que é ter boa parte das garotas da escola suspirando quando ouviam alguma história das duas? Mas quando acabou, tudo o que Brittany disse foi que ela precisava seguir o coração dela e deixou Quinn assim.

- Você parece se preocupar com ela... – Rachel disse.

- Ela é minha melhor amiga, minha irmã menor se duvidar. – Jesse sorriu. – Ela sempre esteve do meu lado, até mesmo quando ela estava mal.

- Poderíamos tentar trazê-la de volta... Eu digo, a Quinn antes do termino.

- Oh, acredite eu já tentei várias vezes... Ela não aceita isso.

- Bem... Agora você tem Rachel Berry como ajudante e duvido que a gente não consiga. – Rachel sorriu e Jesse acabou retribuindo.

- Certo... Eu ainda não acredito que é você mesmo na minha frente.

- Eu sei querido, você desmaiou na minha frente ontem. – Os dois riram. 

 Quinn apareceu na porta da cozinha com seu computador em mãos e tinha o semblante sério.

- A estrela dos espetáculos ‘Spring Awakening’ e ‘Rent’, Rachel Berry, foi dada desaparecida na noite passada quando seu namorado foi em seu apartamento e o encontrou vazio. – Rachel encarou Quinn. – Brody Weston, seu namorado e seu par romântico no filme Sweetness afirma que havia visto ela pela ultima vez á tarde, durante o ensaio para o filme. - Quinn fechou o computador e se sentou em frente aos dois.

- Onde isso foi postado? – Jesse pediu.

- Num site de fofoca qualquer... – Quinn deu de ombros. – O que você tinha dito sobre eles não sentirem sua falta?

- Como eles souberam? Brody não poderia pensar em causar qualquer polemica. – Rachel disse preocupada.

- Eu não sei, mas, eles estão atrás de você. – Quinn deu de ombros.

- Nunca passaria na cabeça deles que eu estaria aqui. – Rachel disse fitando o chão. – E até onde eu me lembre, eu não deixei tão claro que iria fugir.

- Bem... Eles estão atrás de você, só sei disso.  – Os três ficaram em silencio. O celular de Jesse tocou.

- É meu pai, tenho que ir. – Jesse disse se levantando.

- Eu vou pegar suas coisas. – Quinn também se levantou e saiu.

- Ei Rachel, não se preocupe... Enquanto mantermos segredo você poderá descansar aqui. – Jesse disse sorrindo.

- Você acha?

- Você está em Bennington, é ultimo lugar na terra que iriam te procurar. – Jesse sorriu.  Quinn voltou com a camisa de Jesse e jogou para o garoto, que a vestiu rapidamente.  – Eu vou indo.

- O que você tem para fazer hoje? – Quinn pediu.

- Pescaria com meu pai. – Jesse revirou os olhos.

- Ethan sempre tem essa coisa de criar atividades pai e filho. – Quinn sorriu e Jesse assentiu. Rachel se levantou e abraçou Jesse.

- Nos vemos mais tarde? – Rachel pediu.

- O que você mais vai ver é Jesse nesta casa... – Quinn disse, fazendo Jesse rir. – Vem St. James eu te levo até a porta. – Jesse a seguiu.

- Não seja maldosa com ela. – Jesse disse assim que os dois chegaram à varanda.

- Tentarei... – Quinn disse.

- Sério Quinn. – Jesse disse sério.

- Ai... O que você não pede rindo que eu não faço chorando.  – Eles sorriram. 

- Fica bem. – Jesse a abraçou. – E vá ao mercado, você só tem macarrão instantâneo nessa casa.

- Ta bom St. James.  – Quinn revirou os olhos.

- Te amo Q-Bear.

- Também te amo cachinhos dourados. – Quinn sorriu e Jesse foi para seu carro. A loira fechou a porta e encontrou Rachel a encarando, com um leve sorrisinho. – O que?

- Nada... – Rachel deu de ombros. – Vocês realmente parecem irmãos. – Quinn sorriu fracamente.

- É nós somos. – Quinn desviou o olhar para a televisão. – Me... Me desculpe pelo meu surto, eu não gosto de pensar nessas coisas.

- Tudo bem, você tem esse direito. – Rachel se sentou num dos sofás.

- Você já sabe o que fazer sobre a imprensa?

- Como eu já disse, eu estou de férias e não vou me preocupar com isso. – Rachel sorriu.

- E o que acontece se descobrirem onde você está?  - Quinn se sentou no outro sofá.

- Eu perco o contrato e volto para os teatros. – Rachel deu de ombros.

- E não é isso que você quer?

- É... Mas, - Rachel suspirou pesadamente. – Eu acho que ainda não sei bem o que eu quero. Eu não pensei direito quando assinei aquele contrato, eu só fiquei eufórica demais e queria fazer tudo de uma vez só e no final, eu me tornei uma marionete.

- Bela metáfora. – Quinn riu pelo nariz e Rachel sorriu.

- Eu era a rainha das metáforas na escola.

- Eu sou a rainha da depressão na escola. – Quinn deu de ombros.

- Que coisa precoce pra você.

- Como assim? – Quinn a fitou confusa.

- Você tem dezoito anos e teve seu coração partido... Isso não te torna a rainha da depressão, você só está triste porque perdeu algo que amava muito, isso passa... Pode parecer que não, mas passa. – Quinn olhava para suas mãos.

- Jesse te contou sobre ela, não é mesmo? – Rachel assentiu. – Éramos o casal mais harmônico do colégio, enquanto todo mundo brigava e pensava em sair se pegando por ai, eu e ela pensávamos em que lugar acampar no final de semana ou pensávamos em como organizar um jantar entre nossos amigos... Até que eu descobri que só éramos tão harmônicas porque o que ela não tinha de imediato comigo, ela tinha com Santana. – A loira respirou fundo.

- Talvez eu não tenha tanta experiência de vida assim, mas com o tempo eu descobri que tudo passa um dia... Pode demorar um pouco, mas passa. – Quinn tentou formular uma resposta sobre isso, mas antes que conseguisse pensar em algo, ouviu a campainha tocar.

 A loira foi até a porta. Quando abriu a porta encontrou Finn, o garoto sorriu quando a viu.

- Oi Finn. – Quinn tentou parecer simpática.

- Ei... Eu, eu, trouxe seu livro. Você tinha esquecido no pátio, depois que a gente se... Se beijou. – O garoto estava corado.

- Obrigada... E sobre ontem, eu...

- Não se preocupe, eu sei que você fez aquilo por causa dela. – Finn sorriu e entregou o livro para Quinn. – Eu vou indo, nos vemos por ai. – Ele deu as costas e seguiu.

- Finn. – O garoto se virou.

- Sim?

- Obrigada por ontem... Eu realmente não teria me sentido tão bem se eu chegasse... Você sabe, ter falado com elas.

- Sou seu amigo, claro que eu iria te ajudar. – O garoto sorriu para ela e continuou seu trajeto. Quinn voltou para dentro e Rachel a fitava.

- Ele gosta de você. – Ela disse assim que Quinn voltou a se sentar.

- Sim, ele gosta. – Quinn colocou o livro na mesinha de centro.

- Sem querer parecer intrometida, mas, o que aconteceu ontem?

- Nos beijamos...

- Oh... Você gosta dele? – Rachel pediu.

- Não.

- Não sentiu nada quando beijou ele? – Rachel pediu, parecendo um pouco mais interessada no assunto.

- Não, eu não gosto dele desse modo. Ele é meu amigo e só.

- Ok, suponhamos que alguém te beije... O que exatamente você teria que sentir para saber que você gosta dessa pessoa?

- Por que estamos conversando sobre isso? – Quinn pediu claramente desconfortável com o assunto.

- Estou tentando quebrar o gelo.  - Rachel disse dando de ombros. – Vamos, me conte.

- Sei lá... – Quinn parou alguns instantes para pensar. – Eu acho que eu simplesmente sei... Não é como se eu fosse escutar os sinos da igreja, como muitas garotas falam, eu só sinto. – Quinn deu de ombros - Mas é algo como calmaria antes do caos. Algo que começa pequeno e se torna grande demais e você esquece que existe outras coisas acontecendo ao seu redor, só existe você e a pessoa, só.

- Isso foi bonito.  – Rachel disse.

- Foi o que eu senti quando eu dei meu primeiro beijo.

- Com Brittany?

- É. – Quinn sorriu fracamente e voltou a baixar a cabeça. – E para você?

- Eu acho que eu sou da massa de garotas que ouve os sinos. – Elas se entreolharam e acabaram rindo. – Eu sou do time dos clichês, sabe, borboletas no estomago e eletricidade no corpo, coisas assim. – Elas ficaram um momento em silencio.

- Quando na minha vida eu pensei que iria conversar sobre sentimentos com Rachel Berry? – Quinn riu.

- Não é tão surreal quanto parece... Não é?

- Está sendo a coisa mais surreal da minha vida, se quer minha opinião. – Quinn riu.

- Nah... Logo estaremos cantando Abba pela casa.