Avião de Papel

Nami observou pela janela da sala. O dia estava nublado e tudo parecia cinza. Dentro da sala, reinava uma bagunça. Alunos gritando, comendo, falando, fazendo troça. Estava entediada. O professor se atrasara. No meio de toda aquela balbúrdia, algo chamou sua atenção. Um avião de papel. Ele veio bailando no vento e pousou em sua carteira. Ela olhou para frente. A quatro carteiras de distância, um moreno de olhos cinza a fitava, como se esperasse algo. Os olhos da moça brilharam com curiosidade, voltando a se fixarem no aviãozinho e finalmente notando que ele estava escrito em uma das asas: "ada?". A ruiva olhou confusa para o rapaz, mas ele continuou observando-a calado. Abriu um sorriso de canto, com se dissesse para a jovem continuar. Nami entendeu então. Começou a desfazer o avião, até ele voltar a ser uma folha de papel reta. Bem, não tão reta. E, dessa vez, as letras fizeram sentido.

"Nami-ya, está entediada?"

Sorriu. Pegou a caneta e escreveu. Olhou novamente para Law. Voltou a fitar o papel, que transformou novamente em avião e o lançou para o moreno. Law pegou o aviãozinho assim que chegou perto e o abriu com cuidado, percebendo a frase bem debaixo da sua.

"Muito. E você, Law?"

Sorriu, escreveu a resposta e a lançou ao vento. Nami a pegou e leu:

"Estou me segurando para não dormir."

O avião dançou na brisa.

"Isso é raro vindo de você, já que é praticamente o melhor aluno da sala, perdendo apenas para a Robin."

"Eu também sou humano, Nami-ya."

"Não disse que não era, Law."

Bonney, uma menina de cabelo rosa como chiclete, chamou a ruiva e a fez notar que o professor já havia chegado. Dracule Mihawk não tolerava brincadeiras, bilhetinhos ou qualquer outra coisa que atrapalhasse a aula de Física e Nami preferia não correr o risco. As aulas passaram de um modo cruelmente lento. A garota apoiara a cabeça na mão direita, lutando bravamente contra o sono. Ainda bem que era a última aula. O sensei mal falou o "Até Segunda", que sempre vinha depois que o sinal batia, e ela já estava saindo da sala.

Nami andou pelo corredor em silêncio, até finalmente perceber que esquecera o estojo na sala. Ia refazer o caminho, porém não foi preciso. Trafalgar andou até a ruiva, entregou o estojo sem dizer nada e foi embora. A jovem abriu o objeto e encontrou um bilhetinho:

"Deixe sua janela aberta, Nami-ya. Nunca se sabe o que o vento pode trazer."

Sorriu. Aquilo seria interessante. Foi para casa com o sorriso no rosto, e Nojiko até perguntou o motivo, mas tudo que a menina de madeixas alaranjadas fez foi balançar a cabeça negativamente, mostrando que não era nada. Foi para seu quarto, abriu a janela, pegou uma roupa qualquer que viu na sua frente, que ironicamente era um vestido amarelo com "Love me, boy" escrito na barra, e foi para o banheiro. Acabado o relaxante banho, voltou para o quarto e, no batente da janela, estava um aviãozinho de papel. Nami o pegou e abriu.

"E aí? Algum assunto?"

A ruivinha olhou pela janela e viu Law, seu vizinho, sorrir para ela. O sorriso torto de sempre, mas, ei, ela não estava reclamando. Ele ficava sexy, na opinião dela. Nami sorriu, pegou uma caneta, escreveu e lançou o avião.

"Você não prefere usar o telefone?"

"Qual o problema de usar aviões de papel?"

"Nenhum, apenas soa um tanto romântico demais para você. E para mim também."

"É bom mudar de vez em quando."

"Virou filósofo ou vai seguir carreira de psicólogo?"

"Muito engraçado, Nami-ya."

"Law, posso te perguntar uma coisa?"

"Claro."

"Tem alguma coisa para fazer hoje à tarde?"

"Posso saber o motivo da pergunta?"

"Tem ou não?"

"Depende. O que você quer fazer?"

"Aluguei um filme. Quer assistir comigo?"

"É comédia romântica como daquela vez?"

"Esqueça-se disso! E não, não é. E aí?"

"Romance água com açúcar? Filme infantil?"

"Eu não sou a Vivi, Law. Tampouco o Luffy. E o que tem de infantil em Jumanji?"

"Jumanji? Não tinha nada melhor?"

"Ah, quer saber? Eu vou chamar outro, tipo o Luffy ou o Ace... Ou talvez o Sanji-kun. O Zoro iria dormir e o Usopp não ia calar a boca, assim como o Franky... É, eu vou chamar o Sanji-kun mesmo. Só preciso achar o número do celular dele."

"Chego aí em cinco minutos."

Esse era o conteúdo da última viagem do avião de papel. Nami sorriu. Sempre funcionava. Law tinha um ciúme mortal dela e do Sanji, que a ruiva fazia questão de chamar de "Sanji-kun" só para irritar o moreno, e fazia o possível para não deixar o loiro chegar perto da garota de cabelo laranja. A campainha tocou. Que rápido. Nojiko atendeu e chamou a irmã. A ruivinha foi correndo para encontrar o amigo, que estava vestido com o moletom amarelo, calça pintada e o boné na cabeça. Ela o cumprimentou com um abraço, recebido de bom grado, e um beijo na bochecha. A irmã mais velha, não querendo ser vela por uma noite, saiu de casa alegando ter um encontro com Sabo, seu namorado. Nami puxou Traffy pela mão até a sala, o fez sentar no sofá, colocou o DVD e pegou Chopper, uma rena de pelúcia que o próprio Trafalgar havia lhe dado de presente, quando foram a uma barraca de tiro ao alvo do Festival da Primavera, o abraçando firme. O filme começou e Law tirou algo do bolso. Um avião de papel. Ela o olhou curiosa, pegou o objeto da mão dele, o abriu e leu.

"Odeio quando você usa ciúmes como arma. Ainda mais se é o loiro quem está no meio. Nami, você não acha que devia para com isso?"

Law ofereceu um toco de lápis para Nami, demonstrando que desejava ler a resposta, em vez de ouvi-la. Ela escreveu sobre a perna..

"Por quê? Eu gosto de te ver com ciúmes. Parece até um namorado ciumento."

O papel voltou para o dono, assim como o lápis.

"Namorado ciumento? Não seria má ideia."

"O que você está dizendo, Law?"

Law escreveu, refez o avião e o jogou no meio da sala. Nami olhou interrogativa ora para ele, ora para o papel. Ele simplesmente deu de ombros, puxou a mulher para si, enlaçou a cintura fina e voltou sua atenção para o filme. A ruiva encostou a cabeça no peito dele e tentou prestar atenção na TV, mas sua curiosidade fermentava. O que o moreno havia escrito?

O filme foi rodando, rodando, e perto do fim, Nami se deixou embalar pelo calor que emanava do homem, pelos sons que vinham da televisão, o cheiro de cosméticos e baunilha dele e o braço amigo envolvendo delicadamente seu corpo. Law fechou os olhos e dormiu um pouco depois, desligando os aparelhos.

Eles só acordaram umas duas horas depois, e a primeira coisa que a ruiva fez foi pegar o aviãozinho de papel e abrir.

"Eu seria seu namorado de muito bom grado."

Sorriu, pegou o toco de lápis e escrevinhou.

"Eu ia dizer para você melhorar esse seu pedido de namoro na próxima, mas prefiro ser a única a ganhar um pedido seu."

Law sorriu para Nami, se levantou e a puxou para um beijo. Não precisavam dizer nem escrever mais nada. Sabiam tudo o que queriam saber. Bendito seja o aviãozinho de papel que a ruiva guardou dentro de uma caixinha até o fim.