Mr. Brightside escrita por Ariel


Capítulo 1
Capítulo Único – Mr. Brightside


Notas iniciais do capítulo

Bom Espero que gostem, me digam o que acharam ta,nao se esqueçam!
E quando eu escrevi essa one, eu escutei duas musicas,que pra mim foram muito importantes para o desenvolvimento da one.... então se quiserem escuta-las enquanto vao lendo,fiquem a vontade. E as musicas são:

(Arctic Monkeys-Fluorescent Adolescent
http://www.youtube.com/watch?v=ma9I9VBKPiw )


(The Killers-Mr. Brightside
http://www.youtube.com/watch?v=gGdGFtwCNBE)

Bom e isso,boa leitura!



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Capítulo Único – Mr. Brightside





— HELENA STARTE, SE VOCE NÃO LEVANTAR AGORA DESSA CAMA EU VOU AI TE BUSCAR PELOS CABELOS.

Assustada com os gritos da vendedora de banana (vulgo: mãe) caio da cama, batendo a cabeça na quina da escrivaninha, levando comigo os cobertores onde estava enrolada. E assim começa mais um dia. Todos os dias eram as mesmas coisas, as mesmas quedas, a mesma bacia trincando.

Ô vidinha.

— AUUUU! Bom dia azar. — Como eu sempre fazia depois de cair, escorregar, bater a cabeça, queimar os dedos ou quebrar os dentes, dar bom dia ao meu fiel companheiro e amigo (vulgo: azar). Era tão comum fazer isso, que dar bom dia para o meu azar se tornou um hábito infeliz – hábitos nunca mudam.

Fiquei deitada mais um pouco no chão frio, tentando me recuperar de mais uma das dolorosas e malditas quedas matinais – uma coisa que também não mudava. Fiquei pensando em que tipo de bruxaria ou terreiro minha mãe se enfiou para que eu pudesse ter esse tipo de azar maligno, na verdade, eu sempre achei que na hora que eu nasci a primeira coisa que saiu foi o meu pé esquerdo. Nascer com o pé esquerdo deve ser pior do que acordar com o pé esquerdo né? Tudo bem, não faz tanta diferença, eu sempre acordo com o pé esquerdo mesmo!

— JÁ, JÁ VOU SUBIR HELENA. É MELHOR VOCÊ LEVANTAR LOGO. — Tirando-me dos meus devaneios sobre como eu consigo atrair coisas ruins e sobre como eu conseguia a proeza de tropeçar até nos meus próprios pés – isso realmente e um mistério, acho que isso deveria ser estudado – percebi que eu ainda estava no chão.

Percebi que nenhum tipo de anormalidade me engoliria, ou muito menos algo de bom acontece-se comigo jogada no chão – por exemplo, achar uma moeda ou até uma nota de 1 dólar grudada em um chiclete. Isso seria uma grande vitória, mas como o meu azar não ajuda, isso não iria acontecer nunca. Sem mais esperanças de achar uma lâmpada com um gênio ou ate mesmo uma varinha de condão, resolvi levantar do chão, antes que a feirante lá em baixo cumpra suas ameaças matinais – o amor materno não é lindo?

Resmungando mais que o normal – até xingamentos novos eu inventei –, tentei me erguer no meio dos três cobertores grossos que me prendiam, mas como as coisas nunca são fáceis – eu sou a própria encarnação do gato preto, acho que na fila do azar passei mais de 100 vezes, não é possível –, me enrolei toda em um dos cobertores e cai mais uma vez de cara no chão, fazendo um estrondo assustador. Acho que dessa vez eu não levanto.

— TÔ VENDO QUE VOCÊ JÁ ACORDOU HEL, VE SE NÃO QUEBRA O DENTE DE NOVO. — Agora você me pergunta: “como é que sua mãe sabe que você caiu?”. E eu respondo: “Rotina meu caro amigo, a infeliz rotina azarada”. Todos os dias sem exceção minha mãe gritava, me acordava assustada, eu caia duas ou mais vezes antes de conseguir tomar banho, e no banheiro eu ainda consigo a proeza de me machucar de algum jeito – eu sou a própria arma mortíferas com pernas.

— TÔ BEM MÃE. OBRIGADA POR ME PERGUNTAR, A SUA PREOCUPAÇAO ME COMOVE. — Tentei gritar, ainda com a cara grudada ao chão – literalmente beijei mais uma vez o chão do meu quarto –, porém não saiu bem como eu queria. O que ela deve ter escutado foi “RO EM MARE, ORIGADA OR GUNTTAR, A RUA OCUÇAO ME OVE”.

Com um pouco de dificuldade – acho que depois de duas quedas, seguidas eu não vou conseguir ficar em pé – consegui levantar, mas não sem antes escutar a linda melodia de todas as manhas, a terceira sinfonia dos ossos da minha bacia se quebrando.

Depois de conseguir me recuperar das grandes contusões sofridas por minha fatídica falta de sorte matinal – que se resumia em muitas dores corporais, muita falta de força muscular e um nariz totalmente torto e vermelho pelo o seu encontro com o chão – meu lindo e companheiro mau-humor vindo do inferno apareceu, como sempre, me presenteando com uma cara de dar medo – eu já não era bonita, imagina agora com essa minha fuça de cachorro – e uma estranha sensação que o dia seria uma merda – ah mais isso já não era novidade, ô tristeza.

Sem nenhuma motivação aparente que me fizesse sair daquele quarto lindo e escuro para mais um dia ensolarado de merda, joguei-me mais uma vez na minha linda e macia cama, que estava me chamando como um cachorro olhando a máquina de assar frango do mercado – ah, isso deu ate fome – e tentei esquecer que hoje era segunda-feira. A semana mal havia começado, mas meu corpo pálido e sem vida já tinha mais de dez manchinhas roxas – isso não é uma surpresa já que eu não conseguia ficar um dia sem minhas fiéis marcas roxas e vermelhas –, mas isso nem era o pior da minha vida sem glamour nenhum.

O pior de tudo não e só acordar cedo ou cair trezentas vezes em uma hora – mesmo que isso foda com todos os ossos do meu corpo –, o pior é saber que eu teria que ir para o presídio escolar e, pra fechar com chave-de-ouro, a minha desgraça e eu teríamos que ir de metro – não que eu não esteja acostumada a entrar naquele cubículo móvel com um monte de gente feia e estranha.

— Acho que não vou pra escola hoje não. — Falei isso pra mim mesma depois de lembrar como o metro pode estar um inferno ambulante. Cheio de gente feia, patricinhas, pobres e velhos tarados.

— Nem pense nisso mocinha. Pode levantar sua bunda seca da cama. — Com o susto que minha mãe me deu cai rolando da cama, fazendo, mais uma vez, um barulho escroto quando meus ossos fracos tocaram o chão.

— MÃE. — Falei, choramingando, enquanto tentava levantar meu corpo cansado e dolorido do chão duro. Minha mãe ria da minha cara de dor.

— Desculpa Hel, eu não queria te assustar... de novo. — Minha mãe continuava a rir, enquanto eu tentava fazer os ossos do meu quadril voltarem para o lugar.

Isso que é acordar com o pé esquerdo.

(...)

Depois de tomar um banho demorado – que por milagre de deus não teve nenhuma queda. Ponto para mim! – e aguentar um café da manha regado de risadas altas e totalmente desnecessárias com minha querida e amada mãe, fui andando até a estação do inferno móvel. Como sempre estaria mais cheio que fila de comida grátis – eu seria a primeira da fila, diga-se de passagem – ou até mesmo a fila do Starbucks da esquina – que eu também estaria lá, a primeira, não duvide disso. Mas fazer o que né?! Já que sua mãe pão duro não te dá um carro por que dizendo ela “Você já e uma ameaça de pé imagina com um carro”. Isso é tão ofensivo quanto me chamar de “Helena, a arma que anda” ou “Azarada” (mas o ultimo eu já me acostumei).

Agora por culpa dela, eu tenho que andar quase uma quadra toda e entrar num quadrado com rodas cheio de gente desconhecida, estranhas e sem cultura. Isso não é justo, não mesmo. Ai você me pergunta “O que você fez pra merecer isso Helena?”. Eu respondo: EU NÃO SEI PORRA!

Não me lembro de ter roubado doce de crianças. Quer dizer, talvez eu tenha roubado, mas foi só uma balinha, eu juro, não grudei chiclete no cabelo de ninguém – TÁ BOM, foi só na Carol, teve também a Dani lambisgoia, a Fernanda um neurônio. Tá, admito, culpada. Eu nunca botei meu pé na frente de ninguém, ah esqueci, mas isso eu fiz mesmo.

Ah, tá bom admito, eu sou culpada, mas isso não quer dizer que eu mereça isso tudo que me acontece. PORQUE EU NÃO MEREÇO, NÃO MESMO.

Como eu havia previsto, suspeitado até, o metro estava cheio, já na estação – mais lotado do que boteco de esquina –, e isso não era nada bom pra minha sanidade mental – que já não e muita – agora adivinha por quê?

Bom, o fato é que, quando você entra num transporte publico, pode se encontrar todos os tipos de pessoas possíveis – e isso não é nada bom, não mesmo, principalmente se você for uma pessoa igual a mim, estou falando do azar excessivo, o mau-humor do cão e falta de paciência descomunal, e vou dizer isso não é nada bom.

Fazia alguns minutos que eu estava na estação e já estava extremamente estressada – quer dizer eu estava quase batendo a minha cabeça na pilastra do lado até que me celebro saísse pelos ouvidos –, só por ouvir a voz da mulher nas caixas de som dizendo de 10 em 10 minutos esta frase – que estava pior que CD ralado.

“Não ultrapasse a linha amarela e blá blá blá.”

Aquilo estava me deixando fula – claro que também aquela rodinha de meninas escrotas que conversavam animadamente por causa de um batom também estava contribuindo. Agora me diz, QUEM FICA FELIZ POR CAUSA DE UM BATOM? Pelo menos eu não! – e atrasada pra escola. Apesar que isso não me deixe fula, não mesmo.

(...)

Já se passava quase meia hora e nada, quer dizer, necas do metro. Isso realmente estava me fazendo ficar tremendamente irritada, já que eu já sabia de cor a frase da mulher que dizia as coisas pelo autofalante – já podia roubar o emprego dela fácil – e sabia todas as cores existentes de batom – vocês sabiam que tem um batom de maça, com gosto de maça? Não? Eu sei agora!

E o pior é que, nem System Of Down no ultimo volume consegue fazer com que os gritinhos e as palminhas felizes das garotas sem cérebro parassem – ô vidinha mais ou menos, hein!

A estação não parecia mais um boteco e sim um baile funk – não que eu já tenha ido a um, porque eu nunca fui tá –, as pessoas já se debatiam de tão lotado que estava. Já sentia a mera vontade de voltar para debaixo dos meus lindos cobertores. E o pior é que quanto mais lotava, mais eu ficava perto do grupinho de meninas que ficavam me encarando de cima embaixo e rindo – é meu azar atacando de novo, porque, meu Deus, não existe mais futilidades pra essas malucas falarem, por quê? –, aquilo me dava a ligeira sensação que eu estava com uma alfafa no dente ou ter um bigodinho de Toddy, porque, pra alguém que é ignorada desde sempre, ser notada tem que ter algo realmente engraçado nela – que não é o meu caso, ou é?

E a cada risinho que o grupinho dava mais vontade eu tinha de bater a cabeça de alguém na pilastra da estação – e com certeza não era a minha cabeça – agora sinceramente o que elas tinham na cabeça?

— Elas estão, com certeza, com inveja da sua blusa do Nirvana. — Será que alguém aqui nesse inferno lia pensamentos ou eu já estava tendo alucinações com uma voz extremamente sexy e rouca? Olhei para o meu lado e vi um menino – quer dizer um deus grego – de olhos claros profundos e cabelos bagunçados meio marrons ou será acobreados? Enfim!

O menino que dava um sorriso torto de tirar o fôlego usava uma calça preta meio apertada, um blusa gola V branca, com uma jaqueta de couro preta que dava um ar de bad boy e, para finalizar, um coturno preto. Se eu soubesse que minha sorte ia mudar eu tinha me arrumado melhor, mas isso com certeza só podia ser uma alucinação por falta de Doritos.

Continuei a secar descaradamente o menino pálido com um senso de moda muito melhor que meu – droga até ele se veste melhor que eu, me senti um mendigo com minha blusa smile do nirvana rasgada, meu tênis Nike cano médio de couro e minha calça de couro falso, e olha que essa era minha melhor roupa.

— Errrr... meu nome é Thiago. — O cara do... quer dizer, Thiago levantou sua grande mão, que tinha longos dedos, em minha direção e depois completou:

— E o seu? — Tentei mandar um comando para meu corpo, tentando fazer com que ele me obedecesse – borá corpo idiota me obedece, vamos e só levantar a merda da mão e apertar a dele, anda merda – me xinguei mentalmente, quando não consegui levantar a mão e tocar naquela outra mão estendida.

— Cê sabia que, quando eu era pequena, eu soquei um menino quando ele me beijou. — Falei a primeira coisa que lembrei, já que meu próprio nome eu não lembrava mesmo. Mas espera, que merda eu falei? Droga, é essa hora que um buraco enorme aparece e me engole né?

Thiago abaixou o braço meio envergonhado e depois deu uma gargalhada gostosa – igual a ele – e disse:

— Sorte a sua que você deu o soco, porque eu já levei um por causa de um beijo. — Calma ai, ele é a minha alma gêmea? Eu acabei de encontrar o amor da minha vida extremamente azarada? Ai meu deus acho que minha sorte mudou – droga eu deveria ter botado meu coturno da sorte, talvez assim, meu dia melhorasse e acabava com um beijo molhado e totalmente sexy – mais acho muito difícil, coisas assim acontecerem!

— Sorte a minha que eu dei o soco, meu nome é Helena. — Falei, quando meu corpo idiota obedeceu meus comandos – finalmente alguma coisa conseguiu ir como o planejado, ou talvez não. O Deus grego ficou pálido – mais pálido do que ele era, se isso fosse possível – e disse nervoso:

— Que estranho, a menina que me deu o soco também se chamava Helena. — E agora que eu caiu no chão dura ou falo “Nossa, existem muitas Helenas no mundo que socam a cara de meninos bonitos só por causa de uma troca de saliva”, mas nem uma das coisas aconteceu, já que, enquanto eu ficava pensando mil maneiras de me fazer acreditar que existem muitos psicopatas como eu que saem socando os outros, o metro finalmente chega.

— Tchau Helena, foi bom te conhecer. — O menino extremamente lindo, que eu ainda não tinha conseguido responder, entrou no metro, me deixando só.

Entrei no metro depois de alguns segundos, quando meu corpo idiota resolveu se mexer – droga, odeio quando as coisas não acontecem do jeito que eu quero, tá na verdade nunca acontecem mesmo. Já disse como eu odeio minha vida?

O metro já estava lotado e sem nenhuma cadeira vaga, então o que havia me restado era ficar em pé mesmo. Com certeza, vai ser divertido tentar segurar minha mochila pesada e me equilibrar, mas como eu sempre digo “As coisas sempre pioram!” e pioraram mesmo já que eu estava nada mais e nada menos ao lado do grupinho do batom de maça e de frente pra cadeira aonde o Thiago estava – e isso vai ser legal, ô se vai!

A caixa de fósforo que anda começou a se mover – junto com a minha mochila que quase caiu e me levou junto com seu encontro com o chão –, mas o interessante não foi eu ter quase metido a minha boca no chão mais uma vez e sim uma mão forte segurar meu braço antes que isso acontecesse.

— Er... Obrigada. — Thiago deu um sorriso, soltou o meu braço e disse:

— De nada, quer que eu segure sua bolsa Helena? — Sua voz rouca dizendo o meu nome me causou arrepios, que logo foram percebidos por Thiago, que deu um largo sorriso e sem esperar minha resposta pegou minha mochila do meu ombro e botou em seu colo.

— Pronto acho que agora você não cai ou, pelo menos, tenta né? — Dei um sorriso tímido, que foi logo devolvido com um sorriso torto e uma piscadela que me deixaram com as pernas bambas – do mesmo jeito que eu fiquei quando o menino que me deu meu primeiro beijo me beijou, tá não que um selinho seja um beijo, mas me fez ficar com pernas bambas ah isso fez. Tentei demonstrar que eu não ligava muito para o olhar sexy que ele me mandava, fiquei olhando para outras coisas enquanto o metro se movimentava rápido.

Tentei prestar atenção nos prédios e arvores que passavam rápidos – ou era o metrô que passava rápido? Aff, tanto faz, já que eu não consegui ficar nem cinco segundos olhando pra janela a fora, já que um tal menino lindo estava na minha frente me encarando – tentei ao máximo não olhar pra ele, mas não deu, já que meus olhos foram diretamente atraídos por suas orbitas verdes.

Ficamos nos fitando por alguns minutos até que eu consigo quebrar o contato e volto a olhar pra fora. Não sei por que, mas quando estava olhando pra Thiago vi algo familiar, algo que vi num garotinho com cabelos acobreados e olhos claros...

PERA AI!

Olhei mais uma vez para o menino que agora estava com seus olhos fechados e com a cabeça encostada no encosto da cadeira descascada do metrô e percebi que ele só havia crescido e ficado mais homem – e que homem –, mas ainda continuava tendo seu ar tímido e diferente, eu não conseguia acreditar que ele estava lá, na minha frente.

E ver aquele menino ali tão perto de mim – tão perto e tão longe, eu nunca quis ser tanto uma cadeira de metrô, só pra poder apertar aquele belo bumbum, cara tô enlouquecendo – me fez lembrar como nos conhecemos.

“Se eu bem me lembro, foi no fundamental. Na 6ª série, ou antes, sei lá – não lembro nem do que eu comi ontem, imagina lembrar do meu fundamental, trágico isso – bem aquele tempo era só festa – só de lembrar que eu era tão feliz quando a professora que carinhosamente eu chamava de bagaço da laranja (tava mais pra bagaço de limão, mas enfim, eu não era tão sarcástica como agora) falava que a aula daquele dia seria livre e que era pra gente ir comer areia no parquinho (alguns comiam), dá até uma saudade da areia mijada do parquinho. Festa, não daquelas que você embriaga seus coleguinhas da sala com cola, mas sim aquelas de jujubas, salgadinhos e qualquer coisa com o teor de açúcar elevado que depois de ingerido te dar uma dor de barriga dos infernos ­– mas isso não vem ao caso agora.

O caso era que, nessa época a escolinha abriu novas vagas para alunos novos e foi ai que Thiago entrou na escola, quer dizer, estreou na passarela. Porque, se eu bem me lembro, aqueles cabelos acobreados e seus olhos claros fizeram as menininhas – nada santas – do colégio se debaterem com o fogo embaixo das saias – nada comportadas, até na infância algumas meninas já mostravam as putas que seriam no futuro. Mas, devo admitir que até eu estava encabulada – quer dizer, com fogo debaixo da saia, mas nunca irei admitir isso. Nunca! – com aquele menininho que me parecia assustado e alheio com tanta atenção da ala feminina (mini piriguetes).

Quanto tempo passava, mas ele me parecia tímido e diferente – não parecia os meninos remelentos e comedores de cola da escola. Ele era calado demais, bonito demais, inteligente demais e me encarando demais. E o pior era que aquilo me deixava chateada demais – não ele ser todo demais, mas sim ele ficar me encarando. Eu não estava chateada, eu estava possessa, louca pra arrancar os olhos dele e por na minha estante só pelo fato dele estar me encarando – ele estava parecendo eu encarando um pacote de jujubas.

Naquela época eu não era popular (na verdade até hoje eu não sou), eu não era a mais educada e sociável, muito menus compreensiva (tá, isso dai eu nunca fui mesmo). Quem seria compreensiva e educada quando aqueles pentelhos fedidos a cola tentavam levantar sua saia? Pelo menos eu não!

Eu era um tipo de antissocial que todo mundo tinha medo de olhar – na verdade, até hoje eu sou assim, mas antes eu batia e pegava dinheiro do lanche dos outros, qual é eu tinha que conseguir fazer amigos de algum jeito né? – porém, isso não se aplicava no menino todo bonitinho que tirava suspiros das menininhas e isso não me deixava nada feliz.

O que mais me surpreendeu, foi que, num dia de aula livre, ele veio falar comigo e disse:

“Helena eu gosto de você, quer ser minha namorada?”

Tipo ai você pensa que eu dei palminhas e pulei no colo do menino que provavelmente tinha 11 anos e que era o mais cobiçado da escola. Mas é claro que não. Fiquei estática, não sabia o que dizer, na verdade eu havia visto essas coisas só nos filmes esquisitos que minha mãe teimava em assistir nos sábados, e o pior era que no meio do filme sempre dava errado e isso fez piorar meu estado de choque.

Er... Não consegui terminar de falar, já que seus lábios tamparam o meu com um selinho demorado. Na hora eu consegui ver estrelas, quer dizer, eu quase meti a fuça no chão de tanto que minhas pernas ficaram bambas, mas ainda bem que ele estava me segurando. Enquanto ele estava lá, de olhos fechados aproveitando o momento, eu estava assustada com os olhos abertos – maiores que de um esquilo chapado – e sem nenhuma reação, quando ele se afastou e sorriu meu inconsciente deu o único comando que ele saberia dar ao meu corpo a essa hora. Se arrependimento matasse, eu estaria morta e enterrada a muito tempo. Soquei o nariz do menino com força, em seguida, sai correndo para o banheiro.

Depois de dois dias do deplorável episódio do começo da minha vida romântica, fiquei sabendo que Thiago tinha quebrado o nariz e feito sua mãe pedir transferência e até então nunca mais vi ele.

Até hoje.”

Tirando-me dos meus devaneios o metro para bruscamente, fazendo a uma das meninas que estava do meu lado tropeçar e cair em cima de mim que logo me desequilibrei também e cai pra frente.

Oh droga!

Um dos seus braços forte e quente estava em torno do meu pescoço enquanto meu corpo estava totalmente em seu colo. Agora eu me pergunto, qual é a possibilidade de que isso aconteça? Nenhuma, mas mesmo não tendo, aconteceu e eu não conseguia acreditar que eu estava nos braços do mesmo menino que eu soquei por me fazer sentir um condomínio de borboletas na barriga. Ele me encarava intensamente, enquanto eu tentava regular minha respiração descompassada.

Senti seu hálito mentolado mais perto de meu rosto, sua respiração já estava começando a ficar no mesmo ritmo da minha. Respira Helena, dessa vez não esmurre o garoto. Tentei passar uma mensagem ao meu inconsciente tentando acamar o meu corpo – quem disse que eu quero me acalmar? Eu quero esses lábios carnudos juntos aos meus.

Seus lábios carnudos e vermelhos estavam cada vez mais pertos do meu quando...

— AAAAAH QUEBREI MINHA UNHA. — Choramingou alguém que não tinha amor a sua medíocre vida – agora eu que queria quebrar as unhas dela uma por uma, sem dó nem piedade.

— MERDA, QUE SE FODA A MERDA DA SUA UNHA. — Gritei, possessa com a menina infeliz que havia estragado meu momento feliz.

O melhor momento da minha vida – ou o de mais sorte, acho que isso só acontece uma vez no ano – foi estragado por causa de uma merda de uma unha? Isso realmente é deprimente – acho que e agora que eu vou comer chocolate até minha barriga estourar e eu explodir, exagerei, mas o momento merece isso. Ô vidinha injusta. Thiago já estava se afastando de mim e também já tinha me libertado de suas mãos – merda quando eu começo a me dar bem, as coisas voltam ao normal, odeio meu azar.

Enquanto eu ainda estava esparramada no colo de Thiago, continuei amaldiçoando todas as unhas da face da terra, as unhas postiças também estão incluídas.

— Acho que você já pode sair do meu colo. — Thiago disse um pouco receoso e, talvez, até nervoso – eu acho que e agora que eu saio correndo para colinas. Morrendo de vergonha levantei do seu colo – foi muito difícil deixar aquele lugar quentinho e aconchegante –, mas o que mais me deixou nervosa não foi eu ter que sair do colo de Thiago ou a menina maldita da unha quebrada foder com meu momento tirando a barriga da miséria, o que mais me deixou fula foi...

— PORQUE ESSA BAGAÇA TA PARADA? — Um velhinho gritou, parecendo meio afoito no meio da multidão, mas o legal não foi ele ter feito a pergunta que eu queria ter feito primeiro, o legal foi ele ter metido a bengala em todo mundo que estava na frente dele – esse velhinho tá realizando os meus sonhos.

O velhinho, que ainda batia sem dó sua bengala na cabeça dos outros, começou a fazer com que as pessoas do metrô ficassem gritando concordando com ele – se sentindo o próprio Hitler –, enquanto eu ainda tentava me recuperar da minha falta de ar – acho que eu não lembrei de avisar que eu sou claustrofóbica? Não, erro meu então!

— Ela tá tendo um treco aqui, gente. — Uma das meninas que estava no grupinho do batom gritou pras pessoas que tentavam tacar sapatos e bolsas na janela resistente do metro que, logo que escutaram minha fatídica falta de ar, vieram correndo ao meu redor.

— Você esta bem Helena? — Thiago levantou de sua cadeira e me sentou lá, enquanto algum desocupado me abanava – me senti uma carne assando na churrasqueira, até me abanando já estão. Minha respiração ficou cada vez pior quando vi aqueles lindos olhos claros me encarando, preocupado – oh Deus, é hoje que eu vou para o seu lado jogar Nintendo – e piorou ainda mais quando um menino espinhento do mundo do além veio do nada e soltou o grave de dizer:

— ELA PRECISA DE UMA RESPIRAÇAO BOCA A BOCA. — Até então eu achei a ideia boa, sabe o Thiago fazendo uma respiração boca a boca em mim seria maravilhoso, mas o problema foi que, quando eu achei que eu ia me dar bem, veio o espinhento maldito com outra ideia de jumento:

— EU FAÇO, EU ESTUDO MEDICINA E SEI FAZER ISSO. — Eu acho que é nessa hora que eu fico louca e saiu correndo. Porra, o que custa eu me dar bem pelo menos uma vez na minha vida? Porque essas coisas só acontecem comigo?

Tentei dizer que não e parecer bem, mas não adiantou em nada já que o menino já tinha fechado os olhos e feito um beiço ridículo – meu Deus, eu juro que se você me tirar dessa eu prometo ser mais educada –, para minha total alegria uma voz grossa fala no alto falante do metro:

Senhores passageiros ouve um problema técnico com os equipamentos de freio, por esse motivo não a como o metro seguir com seu destino, aguardem nos seus assentos ou...

Depois que o cara com voz de filme pornô falou assentos eu não consegui ver mais nada – o que quer dizer e que as coisas não vão ficar boas –, as coisas ficariam pretas depois disso.

— ME DA ESSA BENGALA AI FILHO DE HITLER. — Gritei para o velho que tinha um cara de assustado, mas como eu tinha certeza que ele não queria ser morto por mim, ele me deu a bengala.

— SAI DA FRENTE OU EU BATO EM VOCÊS COM ISSO AQUI TAMBÉM. – Continuei gritando, enquanto eu ia pra janela mais próxima que ficava no lado que Thiago estava.

— O que você vai fazer Helena? — Thiago um pouco assustado com meu surto psicótico – acho que eu não fiz minha melhor cara nesse momento fatídico da minha miserável vida, todavia foi ele que quase foi beijada por um louco cheio de herpes – ainda segurando a bengala digo com a voz um pouco mais calma:

— Eu vou sair daqui, antes que aquele aprendiz de médico venha querer me fazer uma respiração boca a boca de novo. — Thiago olhou pra mim mais uma vez, e depois abriu um sorriso encantador e disse:

— Tô contido mini-psicopata. — Fazia tanto tempo que ninguém me chamava assim, acho que a ultima vez foi na escola quando um menino tentou levantar minha saia pra ver se eu tinha um pintinho – eu sei é deprimente você ser confundida com um menino na infância –, mas antes dele conseguir fazer isso eu... PERA AI ELE DISSE MINI-PSICOPATA?

— Você lembra! — Falei ainda um pouco chocada por ele me reconhecer – na verdade, até minha mãe não me reconheceu quando eu pintei meu cabelo de loiro branco e depois o deixei comprido –, enquanto ele balançava a cabeça e sorria.

— É claro que lembro como vou esquecer a menina que quebrou meu nariz? — Dei um sorrisinho frouxo enquanto ele ainda sorria – poxa achei que ele tinha sentido a mesma coisa que eu. Droga só eu que senti o condomínio de borboletas? Cadê o buraco pra me engolir?

— Er... Claro, se você não se importar de deixar as lembranças pra depois e tentar me ajudar a sair daqui logo. — Thiago murchou o sorriso e concordou com a cabeça, enquanto eu levantava a bengala mais uma vez e começava a bater ela com força contra o vidro da janela.

— QUEBRA MERDA, QUEBRA. — Enquanto eu batia repetidamente no vidro com a força de uma barata desnutrida, Thiago procurava algo para tacar no vidro.

— Achou alguma coisa Thiago? — Perguntei enquanto batia mais uma vez a bengala no vidro.

— Não, tô procurando Helena. — Meus braços já estavam doendo pelos movimentos repetitivos e nada do Thiago e algo que nos ajuda-se a sair daquele hospício.

Em um momento de falta de lucidez, tentei chutar o vidro com toda a minha força – força que eu não tenho muito. E adivinha o que aconteceu? O vidro nem rachou, na verdade, o que quase rachou foi a minha cara de vergonha por eu ter tido uma ideia chula dessa e ainda ter plateia.

— TÁ TENTANDO DAR UMA DE RAMBO. — Alguém no meio da multidão afoita gritou – eu tentando salvar esse povo e eles me sacaneando, por isso que eu não gosto de ser boazinha de mais. Com raiva gritei:

— CALA BOCA , E VE SE FAZ ALGO MAIS ÚLTIL DO QUE FAZER PIADINHA IDIOTA. — Com muitos coros de “Vixe, vixe” e até um “Toma”, votei a bater no vidro, até que Thiago volta com um grande extintor de incêndio na mão e diz:

— Sai da frente Helena. — Sai da frente da janela que havia sofrido várias agressões por minha parte e dei espaço para que Thiago joga-se o extintor na janela.

— E lá vai, saiam todos da frente. — Thiago fez um movimento de vai e vem com o extintor e depois jogou ele com toda força no vidro, que de cara, se espatifou todo – e essa hora que eu pulo que nem uma galinha, né? Acho que não. Todos ficaram comemorando e gritado, enquanto eu tentava sair logo daquele hospício.

Joguei minha mochila pela janela e quando estava pronta pra sair de lá alguém fala:

— Olha tinha uma saída de emergência. — Não sei por que eu ainda tento entender porque essas coisas só acontecem comigo – eu quase me matei pra quebrar um vidro com UMA BENGALA enquanto tinha uma trava de saída de emergência – eu devo ter sido muito filha da égua na minha vida passada, não é possível.

— E PORQUE VOCE NÃO FALOU ISSO ANTES? — Alguém no meio da multidão avançou gritando pra perto da menina-sem-cérebro que havia dito aquilo – isso bate a cabeça dela no chão, até que os neurônios dela voltem ao lugar ou talvez desgrace tudo de vez. A menina que estava toda recolhida no canto da parede disse:

— Eu não queria atrapalhar. — É nessas horas que eu sinto uma vontade escrota de matar – ia pra cadeia feliz –, na verdade, ainda sinto isso, estava já até planejando ir lá eu mesma, e bater a cabeça dela no chão até minha súbita vontade de matar ir embora, quando uma mão forte e quente segura minha cintura e diz:

— Vamos embora daqui logo, acho que vai começar uma carnificina já, já. — Thiago deu um risinho baixo e depois apontou para o velhinho pronto pra dar bengalada na cabeça da menina que se abaixava, assustada.

— Vamos que eu ainda tenho que ir pra escola. — Dei um sorriso sincero pra Thiago e depois pedi ajuda para passar pela janela recém-quebrada.

(...)

— LIVRE! FINALMENTE LIVRE. — Gritei em plenos pulmões quando estávamos já do lado de fora da estação.

Depois de tentar quebrar um vidro com uma bengala, andar pelos trilhos em um túnel escuro e quase tropeçar varias vezes com os próprios pés nesse mesmo túnel, ver o sol e a claridade era uma dádiva.

— Quase sinto vontade de beijar o asfalto. — Disse isso enquanto pulava que nem uma galinha do lado de Thiago que ria da minha cara de felicidade – mas claro depois de tudo que eu passei, eu mereço dar uma de imbecil.

— Vê se não vai socar o asfalto depois, tá Helena? — Thiago disse rindo, enquanto eu parava de pular, envergonhada – e parece que isso vai estar sempre no meu currículo “Socar um menino por causa de um beijo”, isso realmente é muito trágico. Muito ofendida comecei a andar mais rápido e olhar pra frente, deixando Thiago lá atrás gritando:

“Volta Helena, eu só estava brincando.”

Nem quis escutar mais nada, sai em disparada, sem nem me preocupar de olhar pra nada ao meu redor – pow, eu posso ser tudo, mas eu tenho sentimentos –, e como meu azar não tira férias tropecei nos meus próprios pés e fui caindo – dessa vez acho que quebro outro dente – fechei os olhos para não ver o impacto quando...

— Acho que não foi dessa vez que você beijou o chão, Helena. — Aquela voz rouca cantarolando meu nome em meu ouvido me deu arrepios que logo foram percebidos pelo idiota do Thiago – de novo, porra, oh horinha ruim pra ficar arrepiada. Tentando não cair na tentação, não ficar mole feito gelatina nos braços da tentação de olhos claros, falei:

— Obrigada, agora dá pra me soltar? — Falei sem pensar e, sem pensar, também Thiago me soltou de seu abraço e, como eu sou a pessoa mais inteligente desse mundo que não percebeu que o único motivo de não estar com a cara no chão era os braços que a seguravam, logo fui acolhida com o abraço do chão (se meter as costas no chão for abraço, então me sinto acolhida).

— AU. — Falei quando meu corpo magro e já muito fraco caiu com tudo no chão, realmente hoje não era meu dia de sorte, na verdade nem um dia é mais e daí né as coisas ainda podem piorar.

— Desculpa Helena. Você pediu pra eu te soltar e eu soltei, desculpa mesmo. — Enquanto eu estava ainda deitada no chão sentindo todos os meus ossos trincarem, Thiago agachava na minha frente e passava as mãos no cabelo nervoso.

Em um momento de total falta de lucidez – isso tá acontecendo muito hoje – eu levantei meu braço e coloquei um dos meus dedos de salsicha de frango nos lábios de Thiago e disse:

— Tudo bem, não fala nada. — Depois disso fechei meus olhos e morri – não morri, bem que eu queria, mas eu só tentei descansar um pouco já que essa seria a terceira queda do dia.

Antes que eu conseguisse raciocinar direito, senti um dos braços de Thiago levantando minha cabeça e depois coloca-la em suas pernas, uma de suas mãos passearem por meu rosto, deixando uma trilha de calor por onde passavam.

— Eu quero te beijar Helena. Por favor, não me bata de novo, ok? — Ainda de olhos fechados, consegui sentir um leve carinho em meus lábios, abri meus olhos e encontrei aqueles mesmos olhos claros me fitando ansioso.

— Ok. — Fechei os olhos mais uma vez, esperando o hálito mentolado e os lábios carnudos de Thiago que com certeza acordaria a infestações de borboletas que havia em meu corpo.

Seus lábios macios e quentes se movimentavam com precisão e doçura, não foi o selinho da primeira vez, mas traziam as mesmas sensações que aquele. Não havia plateia ou algo de especial naquela cena, só havia dois loucos se beijando impetuosamente.

Uma loira esquisita deitada no chão e um menino que mais parecia um modelo sentado com a cabeça da menina em seu colo. Dá até um filme ou quem sabe só um capítulo de uma historia. Todavia, vamos ser otimistas quem sabe a sorte não sorri pra mim mais uma vez, talvez nem todo dia é um dia de azar.

FIM


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Notas finais do capítulo

Bom e ai gostaram?
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Digam o que acharam e tals!
Se muitas pessoas pedirem eu posso fazer um bônus, que acham da ideia ? me digam ta!
E isso,beijos e valeu