Sherlock Holmes e o Sumiço da Caixa Espanhola escrita por Carol Stark


Capítulo 5
Dúvidas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente linda! Dois capítulos seguidos saindo do forno... Ou melhor, de Londres, Baker Street!

Espero que se divirtam!
Aproveitem! ;D



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- Sr. Holmes, quem é esta mulher? – A Sra. Hudson perguntou assustada assim que Sherlock adentrou a casa, cansado, sujo e impaciente.

- Não me faça perguntas agora Sra. Hudson. – Holmes respondeu seco puxando Rita pelo pulso e que inclusive não estava nada satisfeita. Seu vestido preto ficou manchado de poeira e seu coque se desfizera deixando os longos cabelos soltos.

Watson estava logo atrás e parecia igualmente impaciente.

- Sra. Hudson, fique à vontade para se recolher, sim?- Watson falou educadamente para que a mulher se retirasse.

- Sim Sr John. – Ela pronunciou e saiu.

- Sente-se. – Ordenou Sherlock apenas agora soltando a espanhola que sem pensar duas vezes se acomodou numa poltrona perto da lareira. As pernas da mulher tremiam e seu coração ainda tamborilava apressado.

- Watson, vamos ouvir então o que esta mulher tem a nos dizer... – Sherlock estava completamente compenetrado e parecia agora triplamente atento. – Rita, quem é você exatamente?

A mulher estava de cabeça baixa. Pensava na situação em que se metera. Seus planos até então dando certo, e olha agora onde estava. Capturada. Na casa do detetive. Resolveu contar-lhe alguma coisa. Mas não tudo. Afinal, não sabia se podia confiar depois que o irmão foi até Holmes; não sabia se o detetive acreditava nela ou em Pablo. Ela não podia entregar seus planos.

- Mire, não quiero nada além de meu tesouro. Meu hermano Pablo que é um impostor!

- Interessante não é meu caro Watson... – Começou Holmes - Acredita que seu irmão veio até aqui e me falou a mesma coisa?! – Sherlock andava em frente a Rita,  de um lado para o outro  com as mãos para trás.

- Não creias nele! – Rita falou mais alto sem perceber curvando-se para frente na poltrona.

- E por que não deveria...? Você por acaso tem razões para que eu e meu amigo confiemos em você? Não é o que parece. – Holmes apoiou-se nos braços da poltrona e encarou Rita, sério. Ela virou o rosto para o lado evitando o olhar do detetive.

- Mi família é da Espanha e fomos siempre muy ricos. Nesta caixa contiene mucho ouro, Sherlock, y meu hermano robó esto de mí!

- Deduzo que o tesouro é da família, não?! – Holmes testava Rita em seus argumentos.

Watson estava sentado observando tudo.

- Sí... Mas... Mas Pablo não puede simplesmente roubá-lo! – Rita pareceu furiosa e ao mesmo tempo confusa – Él tiene inveja de mí que siempre fui la filha predileta...

Watson interviu já ameaçador com sua hipótese:

- Penso que estão juntos nos enganando por pura diversão; que esta caixa não existe, e aviso: isso só será pior para vocês. Ou, quem garante que a caixa não está com você, e então, colocando toda a atenção em seu irmão, poderá ter o caminho livre para viver com todo esse dinheiro, quem sabe fugir?!

Rita enrigeceu.

“Não puedem ter piensado nisso!” – Pensou ela.

Holmes esperou alguma resposta analisando-a.

- Como você sabe que ele quem pegou a caixa? Como tem tanta certeza? – Holmes perguntou vendo que ela não falaria a respeito dessa hipótese do Watson; agora estava parado de frente para a mulher.

- Si no fui yo, sólo puede ter sido él.

- Diga-me algo em que eu possa acreditar em você. – Holmes murmurou apenas para ela.

- Não sei! Não puedo Sherlock! – Rita se agitara alisando seus longos cabelos para o lado.

- Por que não pode?

Watson se ajeitou na cadeira parecendo mais interessado.

- Não tengo provas. – Rita respondeu a Holmes num tom baixo.

- Hum. – Holmes murmurou aproximando-se novamente da espanhola – E o que isto quer dizer, hein? Acho que não estou entendendo.

- Quiero voltar para meu hotel. – Ela falou apenas voltando ao seu jeito mais equilibrado.

- Você não está me ajudando Rita. Saiba que seu irmão fala o mesmo que você. Suas palavras não valem de nada a seu favor.

- Da mesma maneira que incrimina seu irmão, ele incrimina você. Não tem medo disso? – Watson se dirigiu friamente à mulher.

- E se você estiver com a caixa, por que não já fugiu? – Holmes perguntava em seu jeito prático de sempre estudando cada minúscula reação da mulher. – Seu irmão veio me procurar. Ele quer meu serviço contra você. Isso você já deve saber. – Sherlock pegou tranquilamente seu cachimbo e o acendeu dando uma profunda tragada e sentou-se em seguida na poltrona de frente para Rita cruzando as pernas.

- Con o tesouro em mãos, não fugiria de imediato. Primeiro conquistaria la confiança de quien me é conveniente y procuraría alguien próximo para incriminar. Después sí, viajaria tranquila tendo la certeza de que ninguém viria atrás de mí. – Rita falou calculista olhando expressivamente para o detetive.

Houve novamente uma troca de olhares entre os dois; contato este que já ficava natural; que sempre queria dizer alguma coisa: um misto de informação impronunciável e desejo (...).

Holmes quebrou o momentâneo silêncio sentindo-se incomodado.

- Seu irmão...?

Rita levantou-se decidida.

Watson também levantara esperando alguma reação do amigo que nada fez, apenas deixou-a ir sem antes dizer num discreto sussurro:

- Me faça acreditar em você.

A mulher o olhou novamente agora parecendo preocupada e assim seguiu para a porta.

Assim que Rita saiu de sua sala, Sherlock subiu às pressas as escadas e chegando a seu quarto, vestiu uma roupa limpa, porém com alguns rasgos e um longo casaco preto. Vestiu luvas, que não era muito de seu costume, e tornou grisalho seu cabelo, com um eficiente pó que desenvolvera a base de algas; Colocou um chapéu côco de lado, sobrancelhas falsas e bastante espessas igualmente grisalhas por cima da sua, óculos diferenciados e saiu apressado descendo as escadas.

- Holmes...? Mas o que--

- Vou descobrir alguma coisa! – e correndo para a porta, foi-se. Estava decidido em seguir aquela tão misteriosa mulher a fim de entender algo mais. O mínimo que fosse. Uma faísca apenas em meio a todo esse fogaréu que só aumentava.

 Rita pegou um coche e rumou de volta para o hotel. Holmes a seguiu cauteloso sem a perder de vista e chegando em frente ao hotel, pôde ver a mulher caminhando pelo prédio.  Precisava entrar.

Holmes pigarreou para o grande porteiro ajeitando seu chapéu côco.

- Tenho um recado do irmão da Srta. – Sherlock pronunciou disfarçando também a voz.

O homem o olhou de cima a baixo e arqueando uma sobrancelha, disse:

- Deixe o recado comigo. Entregarei a Srta. Rita.

- São ordens do Pablo. Apenas pessoalmente. – Sherlock sussurrou fingindo segredo.

O porteiro encarou aquela figura velha e desajeitada em sua frente e pensando ser apenas um idoso inofensivo falou:

- Certo, então. Não se demore.

Holmes entrou agora pensando em como chegar até ela.

Caminhou pela entrada e viu o corredor para os quartos. O hotel estava como de costume vazio. Holmes percebeu que servia apenas para Rita e para o pessoal que trabalha para a mesma. Olhou para o rapaz na recepção e em seguida para o porteiro que acabara de falar, e este fez sinal para que o rapaz deixasse aquele velho senhor entrar.

“Passe livre!” – Pensou Holmes dobrando o corredor a direita.

Era largo com um lustroso piso marrom e portas da mesma cor com detalhes dourados.  Holmes foi seguindo o mais silencioso que pôde pelo corredor encontrando vez ou outra, empregados da limpeza ou da cozinha até que avistou o que procurava.

Ao lado do banheiro, havia uma área de serviço bastante desorganizada e estreita e sem demora entrou fechando a porta do apertado lugar. Acendeu a luz e olhou ao redor. Muitos materiais de limpeza e vassouras compunham a área, mas não era isso que o detetive procurava. Ficou agitado e saiu afastando algumas coisas aqui e outras ali. Foi quando finalmente encontrou uma pequena escrivaninha em meio a panos velhos de limpar o chão. Abriu sua gaveta e tirou de dentro as vestes para limpeza. Uniformes. Sorriu de lado e tirando seu longo casaco, vestiu-se puxando alguns materiais e saindo dali de volta para o corredor, agora procurando o quarto de Rita.

Avistou uma porta vinho com os mesmos detalhes em dourado e então antes de bater, resolveu analisá-la. Esta estava mais desgastada que as demais, inclusive a maçaneta. Holmes olhou-a mais de perto e viu pequenas digitais de o que seria uma pequena mão. A de Rita.

Bateu e ninguém respondeu. Bateu novamente e disfarçando a voz, falou:

- Vim recolher o lixo!

“Por que não pensei em algo melhor?!” – Holmes recriminava-se em seus pensamentos.

- Ah, entre Will. – Ela respondeu no que Homes percebeu, com a voz embargada.

“Will? Bem, não posso pôr tudo a perder...” – Sherlock pensou respirando fundo e adentrando no quarto de cabeça baixa seguindo direto para o banheiro. Olhou de relance o ambiente e viu o quanto era enorme e na lateral, uma bela cama ocupava também um grande espaço e lá estava Rita deitada. Chorando entre os travesseiros.

“Por que ela chora?” – Pensava Sherlock. Parecia preocupar-se com aquela mulher. Mas não sabia explicar o porquê da preocupação. Ela o encantava com seu jeito firme e astuto e mesmo sabendo que ela poderia ser realmente uma grande impostora, sentia-se de alguma forma atraído pela espanhola. Porém, de forma alguma admitiria tal simpatia.

Resolveu então, perguntar-lhe algo se aproveitando do fato de ela tê-lo confundido com o tal Will.

- Sente-se bem Srta? – Sherlock perguntou do banheiro com seu disfarce na voz. Falava com a voz rouca e trêmula.

- Oh, siempre gentil Will. Não.

- Não...? – Sherlock tentava ardentemente manter a conversa.

- Não me siento bien... Descúlpeme por decir isto para você. Já tão vivido... Deves estar cansado de problemas...

- Não se incomode Srta! Diga-me o que lhe aflige. – Holmes mostrava-se curioso e ainda mais gentil, e agora já não sabia se era pelo disfarce ou se era ele próprio sendo agradável.

- Tu já deves saber sobre o ouro de mi família, sí? Na verdade, não se fala de más nada en esta ciudad... – Rita começou cabisbaixa.

Holmes recolhendo todo lixo, respondeu:

- Ah, claro, claro.

- Estoy siendo acusada do roubo. – Rita enxugou uma lágrima – Mi hermano me acusa! Mas no fui yo! Estoy siendo sincera contigo viejo Will. – Rita agora se sentou na cama alisando chorosa, os longos cabelos.

Holmes sentiu uma pontada de ânsia. Seu cérebro trabalhava rapidamente.

- Mas a Srta não deve se preocupar... Se não é a culpada, não deve ter medo. – Deu uma pausa – Por que não prova que não foi a Srta...? – Sherlock falava pausado e mantinha-se no banheiro do quarto por segurança de seu disfarce.

- Não possuo! Não tengo como provar esto! La única coisa que tengo é mi palavra, mas não acreditan em mí.

- Não acreditam Srta?

- Já falei la verdad para... – Ela parou.

- Pode confiar em mim Srta. Já me conhece o bastante. – Arriscou o detetive.

- Para un homem... Mas él... Él duvida de mí. Yo tento decirle tudo, mas não sé si puedo confiar en él. Não sé si este homem me investiga por causa de Pablo... – Rita falava novamente com a voz embargada.

Sherlock enrijeceu. Ela não poderia descobri-lo ali. E afinal, ele não estava investigando-a para Pablo.

-... Si está do lado de mi hermano... – Continuava Rita com a expressão atordoada - Tengo certeza de que Pablo tiene acesso al cofre, diferente de mí! Cómo puede, yo ter roubado la caixa si não tengo a chave do cofre?! – Continuava ela em meio as suas angústias levantando-se para algum lugar no quarto.

“Ela não teria motivos para estar mentindo agora... Então é esta a verdade? Ela não é a responsável pelo sumiço... Não tem a chave do cofre!” – Sherlock pensava ainda mais agitado e quando percebeu que ela havia se levantado sentiu-se em pânico. E pensando rápido, passou imediatamente um pano sujo em seu rosto deixando-o manchado.

- Preciso ir agora Srta. Terminei meu serviço aqui. Bom, apenas tente novamente; conte isso à esse homem de que me falou. – Sherlock disse investindo na ideia de Rita ainda ir procurá-lo.

- Não desistiré Will. Este homem é un buen homem... Un pouco ranzinza, mas sin dúvida, muy inteligente. – Rita ao falar isto, esboçou um fraco sorriso no rosto.

- Ranzinza Srta? – Sherlock não podia deixar de perguntar.

 “Ora, eu? Ranzinza? Que ousadia!” – Pensava o detetive inconformado.

- Sí! Sí. Muy ranzinza viejo Will. – Ela respondeu entre sorrisos enquanto caminhava para uma cômoda e assim pôs-se a escolher uma das rosas que gostava de usar em seu cabelo. – Él é un pouco sério y siempre tiene respuestas para tudo! Este seu jeito me irrita... Mas não piense él que yo soy diferente! Não fico para trás. – Rita falava tudo isso em um tom descontraído, divertido enquanto remexia suas rosas.

Holmes neste momento colocou a cabeça para fora do banheiro a fim de ver o que ela fazia. E encontrou-a de costas para ele em pé de frente para a cômoda e para o espelho que ficava logo acima do móvel.

“Que bela mulher.” – Admitiu em pensamentos o detetive admirando-a. Mas como se alguém o tivesse beliscado, ele saiu de seus devaneios.

 “Foco!” – Gritou para si mesmo ao mesmo tempo em que Rita viu apenas sua cabeça para fora do banheiro pelo reflexo no espelho e com um leve e sincero sorriso caminhou até onde estava aquele velho e bom amigo.

Sherlock pôde avistá-la chegando próximo a porta que separava o banheiro e logo virou o rosto.

- Se me dá licença Srta. – Falou de cabeça baixa virando as costas e seguindo rápido de ré com o chapéu tapando parte do rosto pronto para sair do aposento.

Mas Rita o pegou de surpresa abraçando-o demoradamente.

- Gracias por me ouvir, viejo Will. Siempre agradable...

Sherlock permaneceu imóvel no abraço. Mas por fim não resistiu, e cedeu ao ato repentino da mulher. Sentiu seu aroma ameno e envolvente e novamente ficou estranho, confuso quanto ao que sentia. Ele não podia acreditar e muito menos admitir que estivesse gostando daquela mulher. Não, cedo demais (...). Ele que a julgara criminosa e agora descobrira sua inocência; ele que a observava e via agora seu lado sensível, sem truques ou jogos.  Pôde sentir seu corpo quente de encontro ao dela e num sobressalto largou-a seguindo para o corredor. Pegou de volta seu longo casaco deixando o uniforme e cruzou a porta do hotel caminhando imponente e pensativo pelas ruas da antiga Londres.

Rita, no entanto, não entendeu aquele repentino sobressalto do velho Will e numa confusão entre alívio e dúvida ficou em seu quarto pensando no que acabara de acontecer.


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Notas finais do capítulo

Preciso de reviews, ok?!
**)



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