O Escolhido escrita por woozifer


Capítulo 4
♕ 04


Notas iniciais do capítulo

Desculpe se houver erros.



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Baixei os olhos e fui em direção aonde o médico estava, ele conversava com uma paciente agora.

– Mais alguma coisa, doutor? – perguntei.

– Não Alteza, obrigado pela ajuda, foi de grande generosidade da senhorita vir aqui quando mais precisamos de ajuda – disse o médico sorrindo para mim.

– Por nada – sorri de volta e lhe estendi a caixinha – boa noite então, doutor.

– Boa noite princesa Isabella – disse ele fazendo uma reverencia, retribuí, ajeitei a coroa e fui em direção a saída da ala hospitalar, mas quando passava por um soldado enrolado num cobertor fino o ouvi bater os dentes com frio.

Me aproximei um pouco do mesmo, ele estava de olhos fechados e tremia, sim estava bastante frio e até eu tinha um tremor ou outro, mas ele praticamente estava tento uma convulsão ali.

– Soldado, o senhor está bem? – perguntei hesitante e vi os outros soldados em suas macas olharem para o homem a qual me referia.

– F-f-f-fr-frio – gaguejou batendo os dentes.

Aproximei-me ainda mais e toquei sua testa com a mão, ele estava com febre.

– Ai meu Deus, você está com febre – falei inspirando fundo, o homem se virou na maca e me olhou, seus olhos se arregalaram.

– P-p-p-pr-princesa I-i-is-abella? – ele gaguejou tentando fazer os tremores parar como se fosse vergonhoso estar doente.

– Tente dormir, soldado, vou chamar o médico – falei num tom doce, ele assentiu mas continuou me olhando enquanto eu corria para chamar o médico.

O médico me disse que iria ver o estado do soldado e foi para lá correndo, eu fui atrás, ele tirou algo do bolso do jaleco branco e colocou na boca do soldado, ele continuou tremendo e o médico me disse que em breve passaria, então se retirou, eu continuei lá, ao lado do homem, ele tremeu por mais uns minutos até que os tremores foram diminuindo, seus olhos ficavam pregados em mim, até que os tremores cessaram e o sono o venceu, mas antes de cair no sono ele ainda sorriu para mim e o sono por fim o venceu.

– É muita bondade de vossa alteza se preocupar com um mero soldado – comentou um soldado na maca a frente da do homem que agora dormia.

– Vocês são soldados, são homens bravos, merecem ser notados – falei caminhando em direção a saída da ala hospitalar e em direção a maca do soldado que havia falado – e além do mais, vocês são soldados, mas são de carne e osso – parei em frente ao homem que endireitou a postura, apontei um dedo e toquei no peito do soldado – e tem um coração aí dentro, por trás da farda e da cara de mal.

O soldado sorriu e assentiu.

– Boa noite soldado... Righs – falei lendo isso em sua farda, seu sorriso se ampliou.

– Boa noite, princesa Isabella.

Sorri e saí finalmente da ala hospitalar, depois de virar numa esquina do corredor comecei a andar mais rápido.

Aparência de calma é algo difícil de manter quando se sabe que pessoas morreram por você, para lhe defender, inocentes, e é tão complicado de mantê-la quando vai cuidar deles e saber que estão feridos por você, é algo pesado para levar consigo, mas tudo isso implica em ser princesa e suas responsabilidades e fardos mais difíceis do que escolher um sapato que combine com o vestido.

Assim que subi as escadas para o terceiro andar e entrei no meu quarto Rose me olhou alarmada, ela dormia no meu quarto por mera formalidade, meu pai pediu que ela dormisse lá e ela dormia, mas ainda tinha guardas na porta do meu quarto e na do de meus pais.

– Senhorita? – indagou ela.

– Volte a dormir Rose, estou bem – falei e me tranquei no banheiro.

Enquanto me despia meu vestido azul parecia pesar uma tonelada com o sofrimento dos que estavam no primeiro andar delirando de febre e de dor.

Ao invés de tomar banho apenas me troquei, calcei as pantufas e o roupão, tirei a coroa e a coloquei num canto qualquer do banheiro, desfiz a trança e voltei ao quarto, Rose havia voltado a dormir, mordi o lábio com força reprimindo a vontade de tocar piano para me livrar de tudo, então apenas tirei o roupão e a pantufa e me enfiei debaixo dos cobertores pesados, mas ainda assim demorei a dormir, pensei em Josh, em sua perna machucada, no soldado que estava com febre, me perguntei se ele teria febre novamente durante a noite, e o soldado que havia falado comigo, será que ele me odiava, ou que gostou de mim por isso sorriu para mim? Voltei meu pensamento a Josh e a sua vida como ele me descreveu, e adormeci, naquela noite eu sonhei com homens musculosos, de sunga, lutando na lama para tentar pegar a coroa de rei e acordei rindo loucamente, só notei isso quando comecei a chorar de rir com esse meu sonho de manhã, Rose me olhava confusa.

– O que foi senhorita?

– Eu sonhei com... Deixa pra lá Rose – falei entre risos e então parei de rir repentinamente e me deitei de novo.

– De toda forma, senhorita, já é hora de acordar – disse Rose e notei que ela já estava vestida, rose puxou as cortinas pesadas do meu quarto e eu voltei a me sentar, era sexta feira, provavelmente seria hoje minha festa de aniversário e...

O presente do meu pai!

Me levantei e comecei a procurá-lo pelo quarto jogando tudo para o alto enquanto Rose tentava juntar tudo denovo e arrumar.

– Vou ter que chamar as outras criadas, com licença senhorita – disse Rose e saiu do quarto correndo.

Revirei os olhos e voltei a fuçar meu quarto tentando lembrar onde tinha deixado a caixinha que meu pai me entregara no dia passado.

Até que encontrei a caixinha na gaveta do criado-mudo.

A abri e encontrei lá dentro um colar de corrente fina de ouro com um pingente na forma de uma nota musical.

– Ah pai – falei sozinha sorrindo comigo mesma e tirei a corrente da caixinha e coloquei em mim mesma, então as criadas entraram no quarto.

– Meu senhor! – exclamou uma delas, mas não identifiquei quem foi.

Meu quarto estava de cabeça pra baixo, tinha partituras, relatórios e travesseiros jogados para todos os cantos, minhas cobertas estavam sobre o piano, minhas jóias estavam todas espalhadas e tinha até uma presa ao ventilador de teto, a caixa de jóias devia estar em algum lugar que eu não conseguia ver no momento.

– O que aconteceu aqui? – perguntou May.

– Eu estava procurando uma coisa – falei dando de ombros.

– Estamos atrasadas para arrumar a senhorita! – disse Cristine e me levou para o meu banheiro.

Ela e Filipa começaram a me ajudar a me despir – como se eu não soubesse tirar uma camisola- enquanto Wanda enchia a banheira e as outras duas criadas começavam a arrumar o meu quarto.

Me senti mal por deixar a bagunça para trás para que elas limpassem, mas não tinha muito o que eu podia fazer ou que elas me deixariam fazer, então apenas fiz o que elas mandaram: tomei banho e deixei que fizessem minhas unhas e cabelos, então vesti um vestido rosa claro e quando já estava arrumando a coroa na cabeça para sair do quarto Wanda “lembrou” de me avisar algo:

– Senhorita, quase me esqueci, a rainha América pediu que eu lhe avisasse que a senhorita irá conhecer seus príncipes hoje, na verdade agora, no café da manhã.

– Wanda – falei num tom doce e sorri meiga para ela, a criada deu um sorriso enorme – aniversário é uma data que você pode esquecer, natal é uma data que você pode esquecer, Hallowen é uma data que você pode esquecer, não me falar que dez caras vão estar me esperando na sala de jantar em cinco minutos, não é algo que se “esqueça”! – Essa ultima parte eu falei meio que... Hum, histérica.

– Desculpe, senhorita – ela se encolheu e eu inspirei fundo.

Eu não estava zangada com ela, só estava nervosa por ter que conhecer logo dez príncipes que eu nem sei o nome direito, e que... Ah sim! Vou ter que me casar com um deles, que ótimo.

– Tudo bem – falei sorrindo um pouquinho, ela estava ruborizada- com licença, meninas.

Saí do quarto e desci as escadas tentando me acalmar, após Wanda me dizer que eu conheceria os homens da Seleção hoje, minhas mãos começaram a suar e eu tentava secá-las na saia do vestido enquanto ia para a sala de jantar.

Minha idéia era entrar silenciosamente, não fazer contado visual com ninguém, ficar calada, comer, sair, me trancar no quarto o resto do dia.

Meu cronograma não foi seguido pelo primeiro passo: Entrar silenciosamente.

Eu estava meio trêmula quando empurrei a porta da sala de jantar, e ela rangeu e arrastou no chão quando eu a empurrei.

Nunca deu esse problema, tinha que começar hoje não é?

Meus olhos estavam voltados ao chão e quando entrei na sala de jantar ergui o olhar e acabei olhando nos olhos dos “candidatos” presentes.

Passo dois: Não funcionou.

Todos me olhavam, alguns me olhavam até com certa devoção, eu tinha que falar algo.

– Bom dia – falei e minha voz saiu o mais alto que o esperado e saiu extremamente fina, parecia que eu tinha engolido aquele apito dos brinquedos de borracha que fazem barulho quando apertam ele e tal.

Terceiro passo: completo fracasso.

Os dez homens se levantaram e fizeram uma reverencia em sincronia, devolvi o gesto e fui para o meu lugar.

Me sentei após beijar o rosto dos meus pais.

– Muito bem, vamos comer – disse meu pai num tom de voz alto e firme como quem diz para os rapazes “vocês não podem falar grosso, eu posso, eu sou o rei, a filha linda que vocês querem é minha, otários”... Ok, talvez eu tenha imaginado que caberia toda essa frase no tom de voz do meu pai, ou talvez realmente coubesse.

Comi um pouquinho do meu prato e depois fiquei cutucando a comida sem muita vontade de voltar a comer, e não era algo legal sentir o olhar de todos em mim, sério, uma coisa é você falar em público para milhares de pessoas, você pode fixar um ponto no horizonte e fingir que elas não te olham, mas eu não podia sei lá, olhar para o teto e começar a cantarolar e fingir que ninguém prestava atenção em mim, porque prestavam, eu podia sentir que sim.

Vou ter que acabar com isso logo, quanto menos sobrarem mais fácil a minha vida, mas e se... E se eu dispensar um cara que talvez seja bastante legal só porque eu não vou ir com a cara dele de primeira? Sou tão idiota que nem pra perguntar pro meu pai como ele fez isso, eu perguntei.

Quando vi que a maioria dos rapazes já tinha terminado de comer, assim como meus pais, me levantei com a melhor postura que pude ser.

– Rapazes, com licença – falei e sorri de um “modo geral” – mãe, pai, com licença, vou me retirar.

– Isabella, me espere no Salão das Mulheres, por favor – pediu minha mãe sem erguer muito o tom de voz.

– Claro – falei forçando um sorriso e saí da sala de jantar, assim que saí inspirei fundo a brisa morna de Angeles e tentei acalmar meus nervos.

São só rapazes, Isabella, só rapazes.

Caminhei lentamente em direção ao Salão das Mulheres e assim que entrei os criados ali presente fizeram uma reverencia, apenas sorri um pouquinho para eles e me sentei no enorme banco redondo do meio do salão.

O “Salão das Mulheres” era um enorme salão onde só era permitida a entrada de mulheres, quando eu e minha mãe iríamos nos arrumar para algo mais elaborado que um jantar ou café da manhã, algo que precisaria de mais habilidade do que nossas criadas tinham, nós íamos para lá, ou quando queríamos fugir do meu pai e dos assessores carrancudos dele, nós fugíamos para o salão das mulheres, só era permitida a entrada de um homem naquele cômodo com a permissão de minha mãe, nem soldados eram aceitos lá dentro, e minha mãe me disse que na Seleção dela o primeiro lugar que ela conheceu verdadeiramente foi o Salão das mulheres, e acho que se eu fosse um homem e trinta e cinco súditas viessem para cá tentar me conquistar, elas provavelmente ficariam aqui por horas tentando ficar bonitas “me” conquistar, tenho uma dó eterna do meu pai, ter que esperar que elas saíssem daqui para conversar com elas, eu mesma moraria aqui se pudesse, e se aqui tivesse um piano, é claro, mas não tem, só tem cabeleireiros, manicures, pedicures e estilistas.

Uma pena que não tenha um piano.

– Majestade – disse Anne, uma das criadas de minha mãe, me fazendo uma reverencia, deu um sorriso enorme, eu gostava de Anne, ela brincava comigo quando eu era criança e minha mãe estava em reuniões, ela sempre foi uma espécie de babá para mim, ela, e Mary sempre cuidaram de mim, e Marlee também, Marlee fez parte da Seleção dela, era a melhor amiga de minha mãe, e depois que minha mãe se tornou rainha tentou dizer a Marlee que ela podia sair do palácio e viver onde quisesse com seu marido, mas ela preferiu ficar e virou uma das cinco criadas da minha mãe.

– Anne! – falei e desisti de tentar parecer a princesa de Illéa e abracei Anne.

– Majestade, isso não é adequado – reclamou Anne, mas ainda assim me abraçou.

– To nem aí – falei dando de ombros e a soltei, Anne riu.

– Parabéns atrasado, querida – disse ela baixo suficiente para que apenas eu ouvisse e deixou as formalidades de lado por enquanto, eu ri baixinho – veio ver seu vestido para hoje a noite?

– Hum, na verdade não sei, minha mãe pediu que eu viesse para cá quando fugi do café da manhã – falei e Anne sorriu.

– Desculpe a curiosidade, mas porque vossa alteza fez isso?

– Homens demais num só lugar, Anne – falei e ela soltou uma risadinha.

– Mesmo assim, vamos ver seu vestido, majestade – disse ela piscando para mim e eu sorri empolgada.


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Notas finais do capítulo

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