– Vocês... – o homem nos olhava de olhos arregalados – Meu Deus princesa Isabella!

– Anthony, escute... – pediu Josh e entrelaçou seus dedos com os meus e me puxou até o velho homem.

– Escutar o quê Josh? A princesa está com homens morando no quarto ao lado, homens que querem tomá-la como esposa, e você não é um desses homens, o que está havendo Josh? – dizia o velho confuso e irritado.

– Anthony, por favor, escute – pedi calmamente, ele inspirou fundo e assentiu.

– Tudo bem, vou ouvir o que vocês tem a falar... Mas não aqui, está frio, entrem – disse ele e nos levou até a porta do estábulo e entramos lá.

No fim do estábulo tinha um lampião sobre um banquinho de madeira e mais alguns banquinhos em volta daquele, sobre um dos banquinhos estava um prato de comida pela metade.

– Sentem-se – pediu ele e nos indicou os banquinho no fundo do estábulo, fomos até lá e nos sentamos, eu e Josh lado a lado, de mãos ainda dadas – Falem.

– Anthony, por favor, não nos denuncie ao rei, eu seria morto se você fizesse isso, e Isabella... Nem sabemos o que poderia acontecer com ela caso o rei soubesse disso.

– É errado o que vocês fizeram, jovens – disse ele severo.

– Nós sabemos, eu sei que não estou na Seleção e não posso cortejar e muito menos beijar a Isabella, mas eu gosto dela Anthony, e ela parece gostar de mim, por favor não diga nada ao rei. Prometemos que não vamos mais nos ver se você não falar nada a ele.

Anthony balançou a cabeça pensativo, olhei apreensiva para Josh, ele me olhava do mesmo jeito.

– Vocês se gostam não é? – disse Anthony após um tempo, nós dois assentimos – Porque não dizem isso ao rei então?

– Não sabemos qual seria a reação do meu pai se eu dissesse para ele que estou apaixonada por um guarda, ele poderia simplesmente mandar que machucassem ele, não quero que o machuquem – falei aflita só de pensar na possibilidade de Josh ser machucado.

– Mas se vocês se gostam, um dia vão ter que assumir isso pra todo mundo...

– E vamos, um dia – disse Josh e eu assenti.

– Não sei não... E os rapazes da Seleção, princesa?

– O que tem eles? – perguntei.

– Você tem que ter encontros com eles, não é?

– Hã... Sim.

– E o Josh?

– Não posso simplesmente cancelar a Seleção dessa forma, senhor, se eu pudesse faria isso – falei cansada.

– Tudo bem, não vou dizer nada a ninguém – disse ele após pensar mais algum tempo.

– Obrigada – suspirei aliviada.

– E vocês podem se encontrar aqui no estábulo quando quiserem, mas não deixem os guardas verem vocês – disse ele e eu e Josh nos entreolhamos confusos.

O velho quer nos dar um lugar para nos encontrarmos, é isso mesmo?

– Tudo bem... – dissemos meio confusos.

– E mais, não quero saber de safadezas no meu estábulo, se eu souber que vocês quebraram mais alguma regra – ele estava se referindo a regra da pureza, e quando percebi aquilo fiquei orada- eu digo absolutamente tudo ao rei, entendidos?

– Sim – dissemos em coro.

– Ótimo, não passem de beijos – disse ele e se levantou, eu e Josh fizemos o mesmo – ,mas agora está tarde, vão pra cama os dois.

– Certo, obrigada – falei sorrindo, o velho sorriu de volta.

Voltamos lentamente por onde tínhamos entrado e quando passei pela bainha de Branquinha acariciei sua cara.

– Oi branquinha – falei e a égua relinchou.

– Branquinha? – perguntou Josh.

– É, ela é minha – falei dando de ombros e ele sorriu.

– Vamos embora Isa, tchau branquinha – ele falou para a égua, eu ri.

Então saímos do estábulo, primeiro eu e quando eu já estava quase alcançando o palácio me virei e vi ele sair, sorri e voltei para a ala hospitalar. Meu pai ainda estava dormindo, mas havia uma pessoa lá, bem acordada, e a minha espera. Harry.

– Hazzinha – provoquei quando me aproximei.

– Há há, engraçadona – disse ele brincalhão e beijou meu rosto quando me aproximei.

– O que foi? Está doente?

– Não, na verdade vim a sua procura.

– E descobriu que eu estava aqui como? – falei preguiçosa e me sentei na maca que tinha dividido com Louis algumas horas atrás.

– Tenho minhas fonte, Bella.

– Perguntou pros guardas ou pros criados? – falei revirando os olhos e ele riu.

Harry estava novamente descontraído, o que era bom, porque em todos os nossos outros encontros ele estava todo travado, como era quando tinha que ser o Principe da Inglaterra, e não o Harry Tompson, um cara comum, fofo e de covinhas.

– Pras criadas, os guardas não me deixam passar do terceiro degrau da escada – falou dando de ombros e eu ri.

– Então, estou aqui, o que é urgente?

– Preciso saber de algo, bastante sério – falou ele deixando o tom calmo de lado.

– Hum, o que?

– Você, eu, Louis – disse ele.

– O que tem haver nós três? – falei confusa.

– Preciso saber o que você sente por ele, e o que sente por mim – disse Harry tentando me olhar nos olhos.

Qual é mermão, quer que eu te diga uma coisa dessas e ainda quer fazer contato visual? Não pode isso amigo. Não. Pode.

Me remexi desconfortável.

– E porque precisa saber disso? – resmunguei fitando meus pés que se balançavam nervosamente alguns centímetros acima do chão.

– Louis é meu melhor amigo, sei que ele sente algo por você, e acho que estou começando a me apaixonar por você Isabella, preciso saber o que você sente por ele e por mim, não quero perder minha amizade com ele.

Gemi em protesto somente de pensar em ter que admitir sentimentos em voz alta.

– Harry, acha mesmo que esse é o lugar para falarmos disso?

– Preciso saber disso o quanto antes, Bella, não posso esperar – disse ele aflito.

Soltei um suspiro pesado e pulei da cama.

– Harry eu... Converso com você amanhã ok? – falei e saí apressada da ala hospitalar.

Vou checar as regras e ver se um príncipe pode fazer isso comigo, porque sério, não é legal isso de tentar me fazer dizer o que eu sinto em voz alta, e também não é legal ele vir me dizer que está se apaixonando por mim após eu ter beijado o melhor amigo dele e tudo o mais...

Pensei que já tinha me livrado de Harry, mas quando cheguei a escada uma mão segurou com força meu braço e me fez parar no meio da escada que levava ao segundo andar. Era Harry, ele estava aflito, agoniado, dava pra ver que ele precisava de respostas e que estava impaciente para me esperar até o outro dia.

– Não me tortura mais – pediu ele me olhando nos olhos.

– Harry...

– Por favor Bella, eu preciso de respostas, preciso Bella, preciso saber se estou lutando pela causa certa... – seus olhos buscavam algo nos meus, algo que eu não podia te dizer, algo que ele queria encontrar e que eu não sabia se existia.

Mas que droga Harry, até me fazer filosofar, você está fazendo. Pare com isso, sem contato visual, umbigo a dois metros de distancia do meu, e não me toque, sai, não me toca, como você espera que eu tenha pensamentos coerentes enquanto você está me olhando tão desesperado e me segurando desse jeito menino? Isso é influenciar minhas palavras, e isso não é legal porque...

– Não posso Harry, simplesmente não posso te dizer isso – fiz careta- sou uma porcaria para demonstrar sentimentos, não consigo fazer isso, e pensar que minhas palavras podem influenciar sua amizade com Louis... Cara, eu não consigo – falei irritada comigo mesmo.

– Você... Não sente nada por mim não é? – ele me olhou decepcionado e afrouxou o aperto no meu braço.

Não, estou fisicamente atraída por você, isso deve contar como sentimento.

– Não é isso, eu sinto algo por você, só não posso dizer em voz alta – porque eu nem sei o que eu sinto, mas ok.

– Você não me quer.

– Eu não disse isso.

– Então olha nos meus olhos! – disse ele frustrado e eu ergui os olhos para seu rosto – Agora me diz que sente algo por mim, Isabella.

Suspirei pesarosa.

Tenho certeza, Harry, de quê tortura não está incluído nas coisas que você tem permissão para fazer comigo em encontros.

– Tudo bem... Possivelmente eu esteja apaixonada por você, Harry Tompson, agora pare com essa tortura, é demais pra minha cabeça – falei irritada e o olhando nos olhos.

– Agora diz que me ama – disse ele brincalhão, revirei os olhos e o empurrei.

– Parou, já te dei moral suficiente por uma eternidade, vá dormir Haz.

– Haz? O que é isso? Um apelido do apelido?

– Exatamente, agora me deixe ir brincar de virar um tomate no meu quarto pelo resto da noite e vá triunfante pra cama, ou jogue na cara dos outros meninos o que eu lhe disse – falei brava e subi as escadas batendo o pé, Harry ria e quando eu me encaminhava para a escada do terceiro andar ele me segurou de novo e roubou-me um selinho, então deu um sorriso com covinhas e saiu correndo para o seu quarto.

Covarde, nem vai ficar aqui pra eu te xingar né? Vadio de covinhas.

♔ O Escolhido ♕

– Pai... – falei cantando enquanto o ajudava com seu café da manhã.

– Lá vem – resmungou ele brincalhão e se ajeitou na maca – fale, querida.

– Na sua Seleção... Você beijou alguma outra mulher fora a minha mãe? – ele se engasgou com a xícara de café que estava bebendo, depois de tossir um pouco ele se recompôs.

– O que? Porque quer saber disso? Alguém tentou te beijar? Você deu um chute nas partes baixas dele?

– Pai! – ralhei corando e ele inspirou fundo e se acalmou.

– Tudo bem... Sim, eu beijei outras meninas na minha Seleção, fora a sua mãe e tal – resmungou mal humorado e voltou a beber café.

– E quando escolheu a minha mãe, você se sentiu mal por ter beijado as outras?

– Sim, muito mal, não faça isso, só beije um cara quando for noivar com ele e... Não... Quer dizer, não me senti mal, tudo fez parte da experiência da Seleção – disse ele suspirando.

– Hum, e minha mãe sabe que você beijou elas?

– Sabe, as meninas não eram de guardar segredo na minha Seleção – disse ele dando de ombros e eu ri.

– E o que ela fez quando descobriu isso?

– Hum... A primeira vez que soube disso ela não me disse nada, mas uma vez quando ela me pegou beijando uma selecionada ela ficou furiosa...

– Então a lição que o senhor tem a me dar é...?

– Quando disser a um selecionado que ele é o participante mais forte da competição, não vá algum tempo depois se pegar nas sombras com outro participante – disse minha mãe se aproximando e eu ri.

– O senhor fez isso? O senhor era um verdadeiro canalha, pai.

– Ah, muito obrigado – disse ele bufando.

Eu e minha mãe rimos.

– Toc, toc... Com licença família real – disse uma voz conhecida a minhas costas, me virei encontrando Louis ali – posso roubar a Bells de vocês rapidinho?

– Claro – disse minha mãe sorridente, Louis sorriu de volta e eu fui até ele que me puxou num canto fora do campo de visão dos meus pais e me abraçou, beijei seu rosto e ele continuou abraçado a mim.

Lembrei-me imediatamente da “lição” de minha mãe.

Então o plano é não dizer a ninguém que eles tem grandes chances comigo, assim, se algum deles me ver beijando outro participante não ficarão tão irritados, uhul!

– Bom dia – disse ele e eu ri.

– Bom dia... Mas já tomamos o café da manhã, você não estava lá. O que aconteceu?

– Acordei tarde – disse ele fazendo careta, revirei os olhos e sorri.

– Isso pode ser algum distúrbio Russeu... Cuidado – brinquei e ele riu.

– Acho que é, hein, pode cuidar de mim mais tarde, doutora Schreave?

– Vou ver se tenho horário – murmurei ajeitando sua gravata, Louis riu de novo e então suspirou.

– Você vai ter que voltar pros seus pais agora?

– Sim, você pediu para me roubar rapidinho, da próxima vez diga que é um seqüestro relâmpago e que só me devolve quando quiser – falei e Louis gargalhou, então me soltou.

– Vou falar isso da próxima vez – garantiu ele e eu ri.

– Vai ter uma próxima vez Russeu?

– É claro, sou uma ladrão Bells, vou te raptar sempre – prometeu ele e beijou meu rosto demoradamente, então veio com o rosto em direção ao meu e eu pensei que fosse me beijar, mas ele suspirou e se afastou relutante.

Segurei um bico e me afastei dele.

– Vou ver se o pessoal da cozinha consegue arrumar algo pra eu comer – disse ele se afastando de costas.

– Se você for tomar milkshake, deixe pra mim – falei me afastando de costas também, Louis assentiu sorridente e deu meia volta.

Eu ri e dei meia volta também, apenas para parar a centímetros de um Harry que havia saído do nada – ou melhor, que tinha acabado de sair de trás de um pilar.