Diário De Uma Filha De Hades escrita por Yuki Fernandes


Capítulo 20
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Uhul, mais um capítulo pra vocês!



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– Nath! Nath! Cadê você? Nath!

Minha visão estava turva e minha cabeça doía. Não me lembrava bem do que tinha acontecido e nem sabia onde estava. Lembrava de trechos e borrões, mas nada muito claro. Tentei me levantar, foi uma tentativa frustrada, pois não lembrava que tinha sido ferida próximo a costela. Gemi de dor e voltei a cair de lado. A ferida tinha voltado a sangrar, incapacitando minha mente de raciocinar.

– Ei, não entregue os pontos agora. Você precisa se levantar dai.

Minha cabeça se virou em direção a voz. Um garoto de cabelos negros trajando uma jaqueta militar, coturnos e uma calça camuflada sorria pra mim. Sua cicatriz no lado direito do rosto dava-lhe um ar de bad boy, mais do que ele já teria se não a tivesse.

– Diego... - falei. Minha voz soava muito fraca.

– Levante irmãzinha, estão procurando por você. Não entregue os pontos agora.

Ele ergueu a mão esquerda para mim e desapareceu. Aquilo era uma alucinação? Meus deuses, eu deveria ter perdido muito sangue...

Pressionei o ferimento com uma careta de dor e me arrastei até a foice que estava caída em um canto um pouco distante de mim. A segurei e dobrei seu cabo, fazendo a corrente ficar pendurada em minhas mãos. Uma das coisas boas desse presente era o fato de que Athos podia ser atraído por aquilo. Ergui um pouco acima de minha cabeça e esperei até poder ouvir os latidos. Athos surgiu com James, Fer e Isa atrás de si.

– Bom garoto... - falei antes de voltar a desmaiar.

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– Ela está bem? Pelo amor dos deuses, me diga que ela está bem.

– Fer, fique calmo...

– Calmo?! James, ela estava praticamente morta quando a encontramos!

– Fernando se acalma! Caramba, até parece que ela já não poderia ter saído de situações piores!

– Isa está certa. Temos que esperar.

– Vocês podem parar com isso? - falei enquanto abria os olhos.

Eu já tinha estado naquele lugar muitas vezes. Era a enfermaria do acampamento. Fer, James, Isa e até mesmo a Gabriela estavam ali, me observando com preocupação. Percebi que Fer fazia força pra não me abraçar. Isa chegou perto de mim e começou a me examinar minuciosamente. Como não encontrou nada voltou a se afastar antes de perguntar.

– O que aconteceu com você? - ela perguntou.

Comecei a lembrar das cenas daquela noite. Christopher, o jeito como me provocara e por fim me nocauteara. Comecei a contar tudo para eles, sem deixar nenhum detalhe de lado - tirando o de eu ter alucinado com Diego. Quando acabei Fer e Isa pareciam que iam socar a primeira coisa que vissem, enquanto Gabriela e James pareciam calmos.

– Mas que merda, eu vou matar esse desgraçado! - Fer começou.

– Não se eu o pegar primeiro! - Isa interveio.

– Ah, só porque ele matou seu namorado. Acontece que ele era meu irmão! E ele quase matou minha namorada também!

Isa tinha um olhar assassino direcionado para Fer. O garoto não se dobrou, pelo contrário, a desafiou. Revirei os olhos e trinquei os dentes com o esforço que fiz para sair do leito onde eu estava. Eles pararam de falar na hora e ficaram me olhando como se eu fosse algum tipo de animal raro.

– O que foi? - perguntei. - Não estão discutindo? Não quero interromper vocês. - comecei a sair da enfermaria com passos calculados.

Fer veio atrás de mim, pedindo para que eu parasse e voltasse. O interrompi com um gesto de mão e continuei andando. Eu odeio quando tentam me dobrar e odeio principalmente essas discussões idiotas que todos sabiam que não ia levar ninguém a lugar algum. Quando cheguei ao chalé 13 deitei em minha cama e fiquei fitando o teto. Claudio estava sentado na cama que pertencia a Diego, mas decidi ignora-lo. Ele não disse uma única palavra e estava concentrado em um tipo de livro antigo. Sua mochila também estava aberta e uma caixa preta estava lá dentro.

Ele percebeu que eu o observava, fechando a mochila em seguida. Aquele garoto... Ele me lembrava alguém, mas não conseguia assimilar nenhum rosto ao dele. Acho que talvez eu o estivesse comparando com um dos garotos que conheci na 4ª série.

– Não gosta dele?

Ai droga. Droga, droga, droga, aqui não! Diego estava sentado aos pés de minha cama usando a mesma roupa da noite anterior. Ele analisava Claudio com os olhos escuros atentos.

– Ele tem cara de ser gente boa...

Aquilo era piada? Além de alucinação ele achava esse garoto legal? Claudio Soter legal? Beleza, então eu era a rainha da Inglaterra!

– Sabe, você poderia parar de fingir que não estou aqui.

– Cale a boca. - falei.

– O que?

Merda! Claudio me encarava com uma expressão de dúvida estampada no rosto.

– Hã, nada. Eu só... - olhei para onde Diego estava alguns segundos antes. Ele tinha sumido novamente. - Estava pensando um pouco alto...

Depois de alguns minutos a filha de Afrodite, Thays, entrou no chalé segurando alguma coisa. Me espantei ao notar que era minha corrente e me perguntei como a tinha deixado cair. Meus deuses, se eu tivesse perdido aquilo...

– Acho que isso é seu não é? - ela perguntou sorrindo, sentando-se no chão próximo a mim.

– É sim... Obrigado... - falei pegando a corrente de seus dedos.

Claudio saiu do chalé me deixando a sós com a filha de Afrodite. Ela era o que eu podia chamar de "meio inocente", mas alguém que também não poderia ser subestimada de cara. Eu vi o que ela podia fazer com um chicote se precisasse se salvar de alguma coisa, algo que a maioria das filhas de Afrodite não faria.

– Mas e você, como aprendeu a usar essa foice? - ela perguntou.

– Meu irmão me ajudou. - falei. - Ele meio que sabia manejar qualquer arma que dessem a ele. Quem sabe ele não tinha a bênção de Ares?

– Uhum... Ele parecia ser legal pelo que vocês falam dele.

– Ele era sim...

Conversamos por muito tempo quando ela me deixou sozinha novamente. Já era noite e eu estava um tanto sonolenta e tonta, pois ainda não tinha me recuperado bem da pancada na cabeça. Vi que Athos chegou com um escudo de bronze na boca. Esse cachorro ia acabar com o estoque do acampamento qualquer dia desses. Sorri com a ideia e adormeci em questão de 2 minutos. Os pesadelos tinham até parado durante o tempo que me afastei, mas hoje eles pareciam ter saído de suas férias e voltado com tudo.

– Eles não podem ficar juntos, é perigoso pros dois. Entenda isso Anna.

– Hades, por favor, não o leve. Como Nathalie vai ficar?

– Ela é muito pequena, não vai se lembrar disso. Juro, vou cuidar dele. Um dia eles se encontrarão novamente.

Desci os degraus da escada de um por um para não tropeçar nas pantufas de cachorrinho. Eu tinha voltado a ter dois anos de idade? Aquilo era algum tipo de memória? Empurrei a porta e esfreguei os olhos para afastar o sono.

– Mamãe? - perguntei, minha voz era infantil e sonolenta.

Minha mãe, Anna, se virou para mim e em seguida para meu pai. Ela caminhou até mim e me levantou em seus braços, me balançando para que eu voltasse a dormir.

– Está bem... - minha mãe disse com dificuldade. - Leve-o...

Hades assentiu e começou a sair da casa. Escutei um pequeno choro de bebê que foi sumindo gradativamente quando meu pai passou pela porta. Mas que bebê era aquele e por que minha mãe estava tão abalada?


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Notas finais do capítulo

Vocês sabem, eu sempre tenho surpresinhas em todos os caps e esse final vai levar a entender muita coisa. Não percam os próximos caps e não deixem de comentar!