A Aurora escrita por rkaoril


Capítulo 6
Vovó rouba minhas fritas


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um capítulo!



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Se você estiver indo em uma missão solitária contra a própria terra e os monstros que nela habitam, e não tiver a mínima ideia do que estiver enfrentando e for um covarde, não deixe uma filha de Atena falar sobre monstros com você.

Agora, se você for vida loca e estiver pronto pra morrer, eu digo: vai fundo.

Annabeth ficou horas tagarelando sobre todo o tipo de monstros, histórias, heróis e monstros gregos. Ela me perguntou algumas coisas sobre mim, como se eu tinha algum transtorno mental – eu falei à ela sobre Hipersonia, TDAH e dislexia, ela disse que exceto por Hipersonia, os meus transtornos eram comuns, mas que a Hipersonia devia ser por eu ser filha da deusa da noite – se eu tinha alguma habilidade especial – que eu fiquei triste por dizer não, ela não parecia muito convencida – e se eu tive algum sonho estranho ultimamente. Fique apreensiva a falar sobre meu sonho com Gaia, mais ela ouviu em silêncio até o fim da história.
– Essa mistura de mitologias... – ela começou, e então suspirou – recém saímos da grega para romana e estamos indo para céltica? – acenei desconfortável.
– Minha família é escocesa, meu pai me falava sobre essas histórias...
– Ok – disse ela – suponho que seja a mesma explicação para as outras mitologias similares. – levantei as sobrancelhas para ela.
– Que seria?
– Os deuses sempre tiveram sua sede principal – explicou ela – a potência oriental, como Grécia e depois Roma. – assenti – Mas isso não quis dizer que eles não estiveram cuidando de outros lugares no mundo, existem raios, mares, nasceres e pores do sol em todos os lugares. Existe sabedoria e guerra, existem famílias. Os deuses estão presentes em todo o mundo, porém, a potência ocidental é sua principal sede.
– Isso explica muito, por isso que os outros não tinham versões exatas? Como Thor e Hella? – ela assentiu.
– São versões muito diferentes, Zeus seria mais Odin, mais o deus dos raios é Thor. Assim como Hades seria mais Loki, mais a deusa do submundo é Hella. Os outros povos não tinham uma presença tão forte dos deuses, por isso que por vezes é extremamente parecida, como muito diferente. – bati palmas para ela.
– Annabeth, você devia ser uma professora. – ela quase riu da minha alegação.
– Arquiteta Eeve, vamos você precisa de uma última noite de sono. – minha cara de ponto de interrogação veio à tona.
– Última? – ela assentiu.
– Última. – com esses bons presságios, ela e levou até o Chalé 11.

Na minha última noite no chalé de Hermes, a última coisa que eu fiz foi dormir. Após uns quinze anos de toda a galera do chalé – boa parte chorando – se despedir e dizer coisas como “os deuses são cruéis!” e “você não deveria ir sozinha!” (deu pra sacar que a notícia se espalhou) eu finalmente consegui chegar à minha beliche. Lá, Travis e Connor se revezaram entre me abraçar me dar – ou gritar no caso – dicas sobre monstros e onde/como conseguir mantimentos caso me faltasse – o que seria muito útil mais tarde eles comunicaram que negociaram com os sátiros caixas de pizza e coca-cola, uma vez que o jantar havia sido antes da captura à bandeira e muitos estavam com fomo depois da batalha. Nisso me ocorreu de fazer algumas perguntas à eles.
– Como vocês voltaram pela trilha enquanto eu distraía o loiro? – pergunte para Connor.
– Nós inicialmente nos perdemos. – disse Connor, oque provocou muitas risadinhas dos outros companheiros de cabine – Mais depois de um tempo perdidos o pessoal de Atena nos encontrou com algumas lanternas. – disse ele piscando – Você está legal com a missão? – assenti para ele mordiscando minha pizza portuguesa.
– Mais ou menos. Me preocupa o que acontece se eu voltar. – eu disse.
– Ei! Não se preocupe! Nós vamos construir um chalé 24 pra você. – ele disse com uma piscadela. A ideia me fez rir, seria legal colocar o povo de Hermes com a mão na massa.

Após oque pareceu uma grande briga pelos últimos pedaços de pizza e latinhas de coca-cola, Travis, Connor e Alice botaram todo mundo pra cama, inclusive eu. Quando finalmente tive algum silêncio, percebi o quanto estava nervosa – fazia um tempo que eu não saía do acampamento e tal ideia parecia tão inacreditável quanto assustadora, principalmente sozinha.

Após o que pareceram horas de me revirar como um peixe na cama, eu finalmente peguei no sono. No meu sonho, eu estava no que parecia uma grande ilha feita de gelo, e na minha frente havia uma espécie de acampamento de guerra muito velho. Flutuei para dentro, vendo tendas aos pedaços, esqueletos no chão e muitas armas feitas de ouro pra todo o lado, jogadas e congeladas. Não sei se era o frio do lugar, mais mesmo sendo uma espécie de espírito no meu sonho aquele lugar me dava arrepios. No fim do acampamento, eu vi um homem acorrentado. Seu rosto estava curvado para baixo, ele tinha calças pretas, mais o peito parecia nu. Ele tinha grandes asas negras com uns 7 metros de envergadura, e quando olhou na minha direção percebi que era a criatura mais linda que eu já tinha posto os olhos.

Seu olhar, no entanto, era quase entediado. Ele sagrava dourado, o que depois percebi que era o icor, sangue dos deuses. Ele olhou para mim por uns dois segundos, e então bufou.
– Você veio me atormentar? – ele disse – Acho que está atrasada, irmãzinha, Alcioneu já fez isso por você.
– Não foi essa minha intenção. – eu disse irritada – e por que me chamou de irmãzinha? – ele deu uma risada rápida.
– Você é filha de Nyx não é? Isso te faz minha irmã. –ele zombou. Aí eu me toquei.
– Ahhhh, você é Tanatos. – eu disse genialmente, ele revirou os olhos.
– E agora eu suponho que terei que te mandar uma mensagem pela mãe, não é? – eu dei à ele minha cara de ponto de interrogação.
– Uh, não tenho ideia. – ele revirou os olhos de novo.
– Mensagem de Nyx: eu, a morte, estou preso. Os monstros não morrerão. Cuidado na missão. Ponto. – levantei as sobrancelhas.
– Mais... como?! Eu matei uma fênix, eu acho...
– Tola – ele disse – você tem o ovo da fênix não tem? – assenti – Fênix não morrem, elas viram ovos nas cinzas e então renascem.
– Oh. – eu disse.
– Mais de qualquer forma, se você matou uma significa que sua força compensou esse seu miolo mole – ele disse – ou assim espero. Você precisará de muito mais que mera força para derrotar Érebo. – nesse momento tudo ficou borrado, soltei um grasno de susto quando tudo começou a desaparecer.
– Espere! – eu falei, ele riu de novo.
– Cuide-se, garota tola. – ele disse com um sorriso, e então tudo desapareceu.

Acordei fitando as barras que seguram a cama de cima. Boa parte do chalé ainda estava dormindo, e quando olhei para o lado quase morri do coração quando vi a mão segurando meu ombro. No fim, era Annabeth, que veio pessoalmente me ajudar com a mochila.

Graças aos deuses, a mochila não era nem daquele tipo mochileiro – que cabe meio mundo e mais um pouco – e nem muito pequena. Annabeth me ajudou a escolher algumas coisas do meu baú. Enquanto ela abria e revirava as coisas, me lembrei de Travis que disse na noite passada que eu poderia ficar ali até que meu chalé ficasse habitável, e sabendo que o tal nem existia ainda era reconfortante saber que minhas coisas teriam um lugar pra ficar. Annabeth me disse que seria irresponsável levaras fotos do papai, que eu provavelmente perderia ou estragaria, ela disse que tudo bem levar o meu colar do clã e o ovo de fênix, ela até me elogiou por ter derrotado uma e me disse sobre os poderes curativos do bicho. Junto com Annabeth, escolhi alguns pares de meias, uma camisa de reserva e outras roupas, ela me disse que seria uma boa ideia levar a jaqueta de couro que Alice tinha traficado para mim, segundo ela, aquele tipo de roupa iria a calhar no fim do inverno.

Enquanto eu calçava minhas botas de combate, ela me deu um rápido tour do que tinha colocado na mochila: itens de emergência como ambrósia e néctar – que segundo ela eram comidas curativas, mais eu não podia exagerar ou iria literalmente explodir – assim como uma saca do tamanho de uma bola de beisebol com dracmas de ouro, outra com dinheiro mortal de aproximadamente 5 dólares, algumas barrinhas de proteína e um cantil que segundo ela parecia pequeno, mais estava enfeitiçado para conter dois litros de água. Quando eu coloquei Retaliadora na cintura, ela disse que Argos, o chefe de segurança do acampamento iria me dar uma carona, e no caminho até os portões me deu uma série de dicas.
– Você vai para o Mundo Inferior, em LA. Ele é debaixo dos estúdios MAC, e é guardado por Caronte, o barqueiro que leva as almas até o submundo e atravessa o Estige. Não importa o que aconteça, não encoste na água do rio Estige. – assenti – Vai ser muito difícil chegar até LA, mais Argos vai te levar até a rodoviária, e lá você vai pegar um ônibus com destino até lá. É muito provável que você não chegue ao destino com o ônibus, então você pode precisar de ajuda extra. Tem esse grupo de caçadoras de Ártemis, você já deve ter ouvido falar certo? – fiz que sim com a cabeça – A capitã delas, Thalia, é uma velha amiga minha, elas provavelmente vão te ajudar se você explicar a missão. Também tem esse cara, o Nico, ele é filho de Hades mais é um aliado. – ela disse como se não tivesse certeza de que palavra usar – Se você encontrar ele e convencê-lo, ele pode facilitar as coisas à respeito de entrar no mundo inferior.
– Como ele se parece? – ela pensou um pouco.
– Ele é um pouco maior que você, tem uma cabelo preto bagunçado e usa sempre uma jaqueta de aviador. E sua espada é preta. – levantei a sobrancelha para ela, mais assenti novamente. Estávamos passando o portão, eu dei um tchausinho para o dragão que guardava o lugar e junto dela fui até a van.
– Você avisa o pessoal do chalé onze que eu fui cedo? – ela assentiu.
– Você, sobreviva garota. – ela pela primeira vez sorriu na minha presença, e eu não tive certeza se foi por que queria sorrir, ou por que achou que eu não ia voltar.

Quando entrei na van do acampamento, quase morri do coração pela segunda vez naquela manhã: o tal de Argos, o chefe de segurança do acampamento era um cara que eu não podia descrever pela altura, roupa, pele ou cor do cabelo. Basicamente, ele era coberto de olhos dos pés a cabeça. Ele estreitou os vinte pares de olhos para mim quando eu quase morri na presença dele, e gesticulou para os bancos de trás da van.

Me aconcheguei facilmente lá e, antes que ele pudesse ligar o carro, adormeci. Graças à deus não tive qualquer pesadelo ou sonho enigmático com outro deus, foi um sonho leve sem sonhos, e eu me senti aquecida no banco de trás. Infelizmente, acordei quase tendo outro enfarte quando Argos veio me sacudir para dizer que havíamos chegado, eu esperei que ele dissesse algo como “adeus” mais ele simplesmente fechou a porta e foi, então presumi que ele tinha olhos na língua também.

A rodoviária estava como quando eu me lembrava ao ter me mudado de Washingtom para Long Island, estava suja, cheia de gente e tinha ônibus. Com a mochila nas costas me direcionei para a bancada, comprando uma passagem para o ônibus que ia até Los Angeles, e por mais estranho que pareça, o embarque foi bastante calmo, tanto que quando me sentei na última fileira do ônibus e recostei a cabeça na janela com minha mochila muito bem presa em meus braços, eu simplesmente apaguei.

Você poderia muito bem me dizer “nossa como você é descuidada!” mas ter hipersonia não é nada mole. Acordei o que pareceram ser horas depois, sendo que Annabeth tinha me acordado as seis da matina – quando eu finalmente consigo dormir sempre tenho que acordar cedo, a vida é injusta – eu havia dormido inacreditáveis cinco horas e acordado na Pensilvânia. O ônibus tinha parado em um posto de gasolina para abastecer, e o motorista estava avisando os passageiros, dizendo que se alguém quisesse sair e dar uma olhada na loja de consignação, poderia muito bem fazer isso.

Eu não estava lá com muita vontade de sair até ver a multidão de pessoas no ônibus, e estando no canto do fundo do mesmo eu não tinha lá muito ar. Junto com um punhado de gente, desci do ônibus e parei um pouco para ver onde me encontrava. Aparentemente, estávamos em uma cidade grande, o ônibus já havia atravessado a boa parte do estado enquanto eu roncava. Ouvindo o cochichar de umas velhinhas, descobri que me encontrava na Filadélfia. Agarrando a mochila comigo, decidi que era uma boa hora para aquelas barrinhas de granula que Annabeth havia carinhosamente posto na minha mochila, me sentando na calçada e olhando os carros passarem. Foi mais ou menos na terceira barrinha que eu percebi o murmúrio.

Eu não olhei para trás, sabendo que se o fizesse oque quer que estivesse ali iria saber que eu sabia. O que eu sabia? Eu não sabia. Eu só tive certeza de que algum monstro – ou monstros, estava ouvindo muitos murmúrios – tinha se infiltrado no ônibus sem que eu percebesse, o que não era uma novidade – já que eu sou a delicadeza e o cuidado em pessoa. Sem que nada tivesse acontecido, levantei-me e peguei as embalagens das barras de granula e coloquei no lixo, eu esperava me esgueirar silenciosamente para dentro do ônibus quando uma mão me puxou para trás.

Decidi não demonstrar medo, mais quando olhei para o que havia me pegado me surpreendi com um par de patricinhas rindo para mim.

Uma tinha um cabelo loiro que estava todo sujo e emaranhado (pior que o meu, que era preto e só podia se ver a sujeira em casos extremos) onde se podia ver a raiz castanha. Ela tinha olhos castanhos que até seriam bonitos se não estivesse desfigurados numa expressão tão cruel, e sua cara era toda cheia de espinhas. A segunda era um pouco mais baixa que a primeira, tinha cabelos castanhos tão sujos e emaranhados quanto a outra e sua cara estava desfigurada na mesma expressão cruel.
– Olá garotinha, o que você faz sozinha andando de ônibus? – disse a que me pegou pelo braço.
– Você pode se meter em encrenca andando por aí desprotegida. – disse a segunda. Quando disse isso ambas caíram em gargalhadas, mas a loira não me soltou.
– Isso não é da sua conta sua lambisgoia – eu disse, o que não foi muito inteligente percebo agora. De qualquer jeito, elas pararam de rir e a loira apertou tão forte meu braço que eu soube que deixaria marcas.
– Não te ensinaram – disse a loira enquanto ela me arrastava para trás da loja de conveniência – que não é assim que se trata os mais velhos?

A loira sibilou para mim, sua face perdendo toda a cor e assumindo um tom tão branco que parecia não haver sangue em suas veias. Seus cabelos assumiram um tom branco como gelo, que parecia seco e sem vida. Seus olhos se transfiguraram em vermelho-sangue, suas pernas eram ridículas: uma era de burro, a outra tinha a mesma forma porém era feita de bronze. Foram as pernas que me lembraram que monstro ela devia ser, uma empousa se eu estivesse certa.

Naquele momento praguejei mentalmente ter dormido na aula de Estudo dos Monstros.

A loira sibilou novamente, sorrindo com seus dentes (presas?) afiados e gesticulando nervosamente para mim. Quando fez menção de me atacar, me livrei de seu aperto do mesmo modo no qual me livrara do tal de Jason, girando tão bruscamente que quebraria seu braço se ela continuasse me segurando. Dei um passo para trás, puxando Retaliadora comigo e mantendo-a entre eu e os monstros. Notei que a segunda já havia mudado de forma, assumindo a mesma postura horripilante/deprimente da outra. Eu nunca havia topado com empousas antes, mais aquelas pareciam um tanto esculhambadas.
– Semideusa – disse a segunda, sua voz era como um sibilo de cobra com fome – entregue-se, não há como vencer.
– Eu não teria tanta certeza. – eu disse, me afastando no mesmo ritmo que elas tentavam se aproximar.
– Estamos em maior número – disse a primeira, nesse momento eu sorri, e parei de me distanciar.

A primeira estava na frente, então atacou primeiro. Ela avançou com suas garras enquanto me desviei girando para a esquerda, e então girei por trás dela e ataquei com Retaliadora. Por mais incrível que pareça, ela não parecia capaz de se defender, chorando enquanto eu atravessava a espada por seu quadril. A segunda avançou, dei um passo para trás deixando ela se espatifar na parede de trás da loja de conveniência, e finquei Retaliadora em suas costas. Antes que eu pudesse pensar em como eu era demais, me lembrei do sonho com Tánatos, e olhei pra o que deveria ser pó dourado se diluindo no ar.

Mais não estava se diluindo, estava se juntando e dando forma àquelas empousas. Dei um grasnado apavorado enquanto o pó se juntava e construía novamente as duas lambisgoias e decidi que era hora de voltar à estrada.

Corri em direção do motorista, que discutia com o sistema de abastecimento.
– Senhor! – eu chamei, o velho deu um pulo e olhou pra mim – Podemos partir agora? – eu disse.
– Não – ele rosnou – essa droga não quer abastecer! – eu arregalei os olhos para a máquina.
– Não podemos abastecer noutro posto? – ele deu um soco no abastecedor.
– Não garota! Esse ônibus está vazio! - quando disse isso ouvi outros sibilos vindo da loja de conveniência e decidi que se não quisesse virar picadinho de semideusa deveria correr.

Não me preocupei em me despedir do motorista, simplesmente atravessei a rua quase sendo atropelada, me perdendo no labirinto de prédios que era a Filadélfia.

Adentrando a selva de prédios e mesmo tentando me lembrar o máximo de detalhes sobre a Filadélfia que eu poderia pensar, eu não tinha a menor ideia de onde estava indo.

O fato de não ter tomado café da manha, meu almoço ser meia dúzia de barras de granola e ter morto aquele par de empousas umas quinze vezes no mesmo dia não estava me deixando de bom humor, e o sol sobre mim fazia com que cada passo parecesse pesar uma tonelada.

Caminhando numa rua estranhamente desértica – e implorando em vão para qualquer deus da proteção solar por um óculos de sol – me apressei em um beco sem fim me escondendo nas confortáveis sombras entre um par de prédios, me inclinando atrás de algumas latas de lixo. As empousas pareciam tão enfraquecidas que não sentiram meu cheiro como os outros monstros, simplesmente parando para respirar na frente do beco.
– Isso está uma droga! – disse a primeira – Quando a maldita Gaia vai cumprir com o trato?!
– Fecha essa matraca – disse a segunda – sua estúpida, o trato era pegar a filha de Nyx e dar pra ela! Sem a pirralha não tem trato!
– Ugh - gemeu a primeira – não estamos em condições – disse acariciando a barriga – desde que o Sr. Titã se foi, não temos comida nem poderes sobre a névoa... – resmungou.
– Nós ficamos mal acostumadas – disse a primeira – mais não vale resmungar aqui! – disse empurrando a outra – Se eu tiver que tomar sangue de rato por que você deu bobeira juro que te mato de novo! – e empurrando a outra saiu do beco.

Sentei-me no chão, finalmente relaxando, e analisei meu estado atual.

Primeiro, eu estava perdida e sem um meio de chegar até o Mundo Inferior. Segundo, Gaia (AKA o inimigo) estava oferecendo recompensas por minha cabeça. E terceiro, eu estava mortalmente cansada e com fome.

Minha situação não estava muito boa – percebi.

Me esgueirei para fora do beco, andando casualmente na direção oposta a que as empousas foram. Com aquelas pernas tortas fazendo um clack! em cada passo, apostei que levariam um tempo até me notarem.

Caminhei indefinidamente pela cidade, até que meu estômago roncou tão alto que os gatos de rua miaram para mim. Eu tinha acabado com meu estoque de comida, e virar cinzas com a ambrósia não parecia uma opção sábia. Felizmente, do outro lado da rua avistei o que parecia ser um restaurante e bufê, e Annabeth havia prometido uns cinquenta dólares na minha bolça. Cortando a passagem do ônibus, ainda me restava um bocado de dinheiro. Quando senti o cheiro de Gravy* e carne assada mal combinei com a atendente por prato ao invés de peso, e disparei para a mesa do bufê.

Um punhado de arroz bem balanceado com tomate, brócolis – sou uma aberração, adoro isso – e batata assada, junto com um bom vazio mal passado e molho Gravy com batatas fritas. Um copão de coca-cola veio muito bem a calhar, e eu estava me empanturrando quanto a motoqueira sentou-se na minha mesa.

Levantei meus olhos para ela, não estava muito afim de brigar pelo meu prato, mas quando vi a minha querida-não-tão-querida vovozinha vestida com uma jaqueta vermelha, jeans rasgados e uma expressão de desdém com cabelos negros curtos cacheados, quase morri do coração pela quarta vez naquela manhã.
– O que diab... – eu comecei, quando ela pegou uma batata frita e mergulhou no molho Gravy.
– Olá nanica – disse ela, engolindo a batata frita – mamãe me mandou pra te ajudar. – minha original cara de ponto de interrogação veio a calhar novamente. Assim como Tanatos, minha avó (que aparentemente era filha de Nyx) revirou os olhos – Oh, você deve estar em confusão pela minha aparência. Eu sou Nêmesis, deusa da vingança e tudo mais. – ela disse pegando um garfo e espetando minhas batatas fritas, dei um tapa em sua mão para que não roubasse minha comida, ela pareceu magoada com isso enquanto suspirou e ajeitou sua postura.
– Uh, oi. – eu disse. Ela levantou uma sobrancelha, era terrivelmente estranho ver minha avó daquele jeito, mais só de olhar pra ela dava vontade de soca-la (ela parecia que iria gritar “Eevelyn! Lava os pratos! Ajeite a postura! Isso é jeito de comer suas fritas?!” a qualquer momento).
– Ok querida – ela disse amargamente – eu não tenho muito tempo, e eu realmente não sei porque a mãe está apostando tão alto em você. Ela já me pagou pelo contrato, e se eu fosse você aproveitaria essa carne enquanto pode.
– Porq... – eu já ia dizendo, mais ela tocou minha testa. Eu pisquei, e quando abri o olho o restaurante tinha desaparecido.


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Notas finais do capítulo

*Molho Greavy - É um molho escocês feito de legumes e carne.

Leiam a minha história atual - http://fanfiction.com.br/historia/434398/A_Feiticeira/