A Aurora escrita por rkaoril


Capítulo 17
Eu versus meu ex-padrasto


Notas iniciais do capítulo

Eaí pessoal? Me pediram para postar mais cedo, então aqui está!

Aproveitem!

*formatação corrigida



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Capítulo 17 – Eu versus meu ex-padrasto

Após um longo tempo, eu finalmente fui capaz de ver – como se meus olhos tivesses se adaptado à completa falta de existência da luz. As formas foram ganhado contornos, então estava em uma versão em tons escuros do mundo inferior.

De um jeito estranho, ser capaz de enxergar era mais assustador do que estar cega. O mundo inferior era realmente bizarro, se você não gosta de encontros góticos à meia-noite no cemitério, mas Érebo lá... era simplesmente de mais.

Se você imagina o deus das trevas como um cara negro, ou um badboy dos anos oitenta com óculos de tartaruga e jaqueta de couro, está tremendamente enganado. Érebo era tão branco quanto um diamante, como se nunca tivesse pego um sol na vida – seu cabelo era branco gelo, como platina, sua pele era tão branca quanto. As únicas coisas que realmente faziam jus às trevas eram suas roupas – um traje grego parecido com o de Nyx, tão nítido quando esfumaçado – e seus olhos, íris e pupilas negras como piche.

Ele era magro, porém de um jeito forte e elegante – como Nico. Sim, Nico exalava poder sendo filho de Hades, mais compará-los era como comparar uma um pão doce com um bolo de casamento.

Sem perceber, eu estava em posição de luta com Retaliadora em forma de um elegante punhal, mas não parecia algo que eu realmente pudesse usar para me proteger em uma luta contra ele. Érebo ficou lá, grogue com o submundo e meio sonolento por algum momento, então seus olhos fixaram em mim – e lá estava eu, mandando minhas pernas pararem de tremer, seus olhos negros estavam imersos em caos, tristeza, sofrimento e ódio.
- Você é filha de Nyx. – ele disse em uma voz tão calma quanto odiosa. Eu respirei profundamente antes de conseguir responder sem fraquejar.
- Sim. – ele cruzou seus braços, sua roupa de trevas tremulando ao redor dele com seu ódio.
- Eu deixaria você ir. – ele disse, seus olhos tremulando em ódio como sua roupa – Mas matar você seria um ótimo jeito de mandar um recado para Nyx.

Eu então fiquei ereta, baixando Retaliadora e sussurrando seu nome para que ela se tornasse mais uma vez um florete. Assim que Retaliadora obedeceu, eu fixei meus olhos nos dele.
- Você não vai me matar. – eu disse, e ele levantou suas sobrancelhas branquíssimas.
- Esse olhar, esses olhos como o céu de noite – ele disse, seus olhos se estreitando – Isso é uma pena criança, com essa aparência e poder você poderia ter sido realmente feliz. – ele disse, apontando a palma de sua mão esquerda para mim – Mas tudo está acabado, lamento mas não sinto muito.

Então eu soube, exatamente e quando iria acontecer – em mim, naquela hora. No mesmo momento, eu me joguei o mais rápido que pude para a esquerda, o que salvou boa parte do meu corpo, mais deixou meu braços direito para trás – logo, o braço no qual eu tomara um raio mais cedo estava dormente, frio e sem vida. Eu arfei dando tapas nele mas o sangue estava demorando muito para voltar a circular.
- Não insista em tentar – ele disse – você só irá sofrer mais.

Érebo apontou a palma de sua mão para mim de novo, e eu soube que tinha que me jogar para trás. Enquanto eu caía de costas, vi que a escuridão se ondulava onde ele apontava, e então girava como um mini tornado enegrecido tirando toda a luz e calor que havia ali. Então, se ele me acertasse inteira eu morreria congelada.

Me levantei o mais rápido que pude, e guardei Retaliadora – naquela situação, ela não ajudaria com nada – e desviei tanto quanto pude das próximas rajadas de escuridão. Não era tão fácil quanto do gigante, por que mesmo irritado, Érebo era um frio calculista. Então aconteceu – o meu ombro esquerdo pareceu formigar invés de estar dormente, e as veias em relevo do raio pareciam estar pulsando a 200 km/h. Érebo não cessou, continuou atacando e atacando, a escuridão por pouco não me engolindo, por pouco não me matando.

Eu estava cansada, minha cabeça estava sonolenta como antes por ter usado tanto a névoa e os ventos de Retaliadora contra o gigante, eu tinha tomado um raio, atravessado um rio e caminhado quilômetros antes de encontrar a casa da noite. Cada vez respirar se tornava mais pesado, cada vez eu mergulhava mais em um profundo abismo de desespero – cada vez ficava mais claro: eu não iria sobreviver a isso, Érebo se juntaria à Gaia e os gigantes e todos iriamos morrer.
- Você vê, criança – ele disse – não há esperança.

Eu estava pronta para concordar com ele e desistir, então eu me lembrei. De alguma forma, eu neguei a memória disso por anos, não sendo capaz de lembrar mais de alguns poucos detalhes e negando o fato para qualquer um que perguntasse. Mas lá estava, a cena tão clara quanto a pele de Érebo.

A floresta úmida do fim do inverno, como a de hoje quando eu ainda estava com Nico. Havia um lago, ele era verde musgo, e as raízes das árvores ao redor apareciam dentro das águas. E lá estava o meu pai, seu cabelo ruivo brilhante, a camisa sem mangas do ACDC e as tatuagens sem nenhum significado, as sardas em suas bochechas. Ele sorriu para mim, me abraçando para que eu não ficasse com frio naquele pôr-do-sol e apontando para as constelações que já apareciam no céu. Então as raízes do lago mais próximas enlouqueceram, agarraram os pés do meu pai e o puxavam cada vez mais. Ao contrario do que eu esperava, ele não se agarrou em mim para não ser puxado – ele me largou imediatamente e começou a gritar para que eu fugisse. Eu não intendi por que ele dizia aquilo, e me aproximei estendendo a mão para ele puxar. Papai se agarrou com as pontas dos dedos na terra, mas ela estava úmida e lamacenta e não o ajudou. Ele continuava a gritar para que eu fugisse, que pelo amor de deus não o ajudasse. Eu não me movi, completamente imobilizada pelo que estava acontecendo, então de repente ele se acalmou, quando a água já estava em seu pescoço.
- Eeve – ele me disse, seus olhos transparentes cheios de tristeza – nunca, jamais, perca a esperança.

Eu solucei, lágrimas nos meus olhos, descendo pelas minhas bochechas. Érebo parecia entediado, como se eu estivesse chorando pela minha vida. Como eu pude pensar em desistir, como se meu pai tinha me dito claramente para não o fazer? Pense Eevelyn – eu mentalizei – como você pode derrota-lo? Então eu me lembrei de quando eu encontrei o meu pai, ou melhor, o seu fantasma naquela taverna com Afrodite. Ele havia me jogado aquele quadradinho prata e dito para que eu usasse quando estivesse desesperada.

Tão rápida quando possível, deslizei as mãos para o bolço interno do meu casaco – que com as mangas cortas pela espada do gigante parecia mais um colete – e olhei atentamente para ele, pressionando com cuidado o único botão.

Então ele fez um barulho de engrenagens, emitiu uma pouca luz quase imperceptível na escuridão e tomou forma – foi ficando oval, adquirindo detalhes: uma camada áspera, um pino na ponta de cima e uma espécie de visor parecido com o de uma calculadora. Uma granada.
- O que... – disse Érebo, mais era tarde de mais. Eu arranquei o pino com os dentes, e o visor brilhou com números vermelhos – 10 segundos.

Eu desatei a correr na direção de Érebo, que não era nem um pouco bobo – ele lançou rajadas de escuridão, uma após a outra. Embriagada pelo sono, cansaço e adrenalina de estar segurando uma granada, eu consegui desviar perfeitamente de todas – ziguezagueando na direção dele, tropeçando ocasionalmente em uma joia no chão mais me recuperando tão rápido quanto possível.

5 segundos. 4 segundos. 3. 2.

- Por Nyx! – eu gritei, então eu me arremessei com tudo na direção de Érebo que ainda estava longe de mais, um salto que também teria sido impossível se eu não tivesse usado os poderes de vento de Retaliadora. Érebo estava irritado, era um frio calculista mas de algum modo, não desviou quando eu joguei a granada, que não teria chegado sem ajuda de Retaliadora. Ela estava quase encostando no nariz dele quando explodiu.

A granada era de luz. Uma luz tão intensa e prateada que clareou todo o blackout do mundo inferior. Uma luz tão forte, um ruído de explosão também que me deixou temporariamente surda, cega e sem quaisquer sentidos.

Quando eu abri meus olhos, estava na beira do rio Aqueronte. A terra debaixo de mim estava tão maltratada pela granada e pela espada de Gratão que eu soube que se não fosse cuidadosa abriria uma cratera para o Tártaro. Me levantei devagar, e olhei para o rio.

Mergulhado até o pescoço, como estava o meu pai, Érebo me lançava um olhar fulminante. Seu rosto estava todo chamuscado, em algumas partes pretas, outras tão tostadas quanto meu ombro mais cedo. Seus olhos estava vermelhos, e seu corpo paralisado.
- Eu vou te matar – ele disse, com uma voz tão carregada de ódio que eu estremeci – eu vou te fazer em pedacinhos! Você vai sofrer tanto que ira desejar não ter nascido, criança da noite! Então vou fazer o mesmo com a sua mãe!

Então eu coloquei a mão no topo de sua cabeça, sentindo seus ralos cabelos brancos debaixo da minha palma.
- Durma, Érebo. – eu disse, e empurrei para baixo. Ele praguejou um pouco antes de finalmente descer, e então eu suspirei e pensei no meu pai. Lembrei do sentimento de quando ele morreu, e lá estavam as trevas ao meu redor de novo – Façam ele dormir. – eu ordenei à elas – Usem o meu poder, o poder de Nyx. Façam com que ele não desperte.

As trevas ondularam ao meu redor, e então entraram pelo meu braço, descendo pela minha corrente sanguínea até a palma da minha mão. Então o rio ficou escuro num raio de cinco metros, e Érebo parou de protestar e desceu ainda mais para o fundo, mais para o fundo até desaparecer.

Quando finalmente me levantei, não havia uma parte minha que não estivesse dolorida. Minha cabeça havia perdido a adrenalina, e o sono predominava. O solo completamente fragmentado sob meus pés e a inclinação do chão para o abismo do tártaro não ajudaram, e quando eu tropecei e caí de bruços no chão, o sussurro que veio do tártaro mais cedo estava mais forte do que nunca, e eu rolei até a borda do abismo.

No último momento, consegui me segurar na borda com a mão direita – eu era destra, mas mais cedo eu havia levado um raio naquele ombro e Érebo a tinha congelado também. Eu estava tão fraca, tão sonolenta que os sussurros do tártaro entraram com mais facilidade na minha mente, um horror que vinha quebrando, violando minha mente. Por um momento, tive um vislumbre do tártaro por dentro – lá embaixo. Um mar feito de sangue, uma estrada feita de ossos podres, o ar cinza e malcheiroso. E monstros, milhares e milhares de monstros, sombras, trevas e horrores que eu nunca tinha imaginado nem nos piores pesadelos. E magia, a escura magia do tártaro que dava os horrores e espíritos malignos do mundo. Então eu estava mentalmente incapaz, horrorizada de mais para que eu pudesse sequer pensar em estender a outra mão e me puxar. Então a terra sob meus dedos começou a se diluir, quebrando-se como poeira, e por um infeliz momento eu tive certeza que iria cair e nunca mais voltar.

Então uma pálida mão pegou meu pulso logo que eu larguei a borda e me tirou da escuridão.


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Notas finais do capítulo

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