Santana não sabia quanto tempo havia ficado contemplando os belos olhos defronte  sua face. Ela é mais perfeita de perto, pensou Santana que sorria abobadamente. A menina loira, que sorria abobadamente também, ainda segurava o horário e abaixou lentamente os olhos para ver o que estava segurando e logo percebeu porque estava tão perto da aluna nova.

- Desculpe. Isso é seu? - a menina loira perguntou, corando e voltando dois passos para trás.

-É sim, obrigada. Me salvaste, muito obrigada! – disse Santana sorrindo e pegou o horário das mãos macias da menina. Quando fez isso, sua mão tocou a dela e corou levemente, mas não passou despercebida pela menina em sua frente.

-Brittany. Brittany Grant. – disse Brittany estendendo a mão.

-Santana. Santana Kutterin. – disse Santana apertando a mão de Brittany.

Um arrepio correu pelo seu braço, ante-braço, pela nuca e passou pelo corpo inteiro e isso a fez perceber que já devia ter largado as mãos macias de Brittany.

-Você precisa de ajuda, Santana? - perguntou Brittany.

-Na verdade sim, você poderia me dizer onde fica o estúdio da aula de mímica e se devo trocar de roupa? - perguntou Santana.

-Claro, sobre a roupa, deve vestir o macacão preto e qualquer sapato. E sobre a sala, eu estava indo para o mesmo estúdio. Vou pegar minha maleta, preciso trocar de roupa também. O vestiário fica do lado do estúdio de mímica, estamos com sorte. – disse Brittany sorrindo, que sem se importar, (com o impacto que esse gesto faria para ambas) pegou na mão de Santana e puxou-a para fora da sala.

O vestiário ficava no andar de cima, o último andar. Era arejado e amplo. No seu fim, havia dois banheiros. Mas, o que realmente ocupava seus espaços eram as cabines para trocar de roupa.

Santana, entrou numa cabine qualquer e Brittany ficara à sua direita. Num silêncio, que para Santana, parecia ser inquebrável.

Depois de chegarem no estúdio onze, a professora não havia chegado e pelo número de alunas, algumas não haviam chegado. Brittany caminhou até o pequeno armário, onde se encontravam algumas maletas e colocou a dela na parte de cima e olhou para Santana.

-Me dê isso aqui. – disse Brittany pegando a maleta de Santana e depositando ao lado da sua.- Mas, então Santana. Estás gostando do seu primeiro dia?- Brittany ia dizendo enquanto andava até o banco de madeira que ficava abaixo do para-peito da janela.

-No momento, não podia estar melhor. – respondeu Santana, que se sentou ao lado de Brittany e olhava seus olhos, estava perdida na coloração azul novamente. – Mas ainda não tive Ballet, e esse é um dos motivos pelo qual estou aqui.

-Você gosta de Ballet?- perguntou Brittany entusiasmada.

-Sim, alguns dias atrás, até fui ver uma peça. – disse Santana – E você gosta de Ballet?

-Nossa, a peça deve ter sido ótima. E sim, é minha aula preferida. – disse Brittany dando um sorriso tímido.

As duas começaram a conversar como se fossem velhas amigas. Entraram numa bolha, que as fazia se sentir leve e demasiado felizes. Conversaram até a professora entrar na classe, e como Santana fora colocada na segunda fileira e Brittany ficava na última fileira, do lado oposto, não conversaram até serem liberadas para a próxima aula.

Finalmente, pensou Santana. A aula para qual as duas seguiram era Ballet e pararam para trocar seus macacões por collants e saias e seus sapatos de sapateado por sapatilhas cor-de-rosa.

Samantha Smith era uma mulher nova. Estava na sala antes de todas as alunas começarem a entrar. Ela trajava vestes rosa e seu cabelo loiro preso num coque.

Samantha tinha trinta e poucos anos. Parecia ser uma alma de confraternização e união. Sorria deixando suas covinhas à mostra. Era pálida e possuía olhos verdes.

-Olá senhorita Grant, essa deve ser a senhorita Kutterin. A aluna nova...- disse Samantha.

-Olá senhorita Smith. E sim, essa é Santana. – disse Brittany.

-Prazer, sejas bem-vinda à minha aula. Meu nome é Samantha Smith, mas poderás me chamar de senhorita Smith. – disse Samantha.

-Santana. Santana Kutterin. – disse Santana.

-Não tardaremos a começar a aula. Sentem-se. – disse Samantha indicando o banco de madeira abaixo do para-peito da janela.

- Mas, me conte. Você estuda aonde?- perguntou Santana.

-Aqui. – disse Brittany, num tom que misturava alegria e desapontamento.

-Aqui? Quero dizer, apenas aqui? - perguntou Santana.

-Sim, eu estudei até alguns anos atrás. Eu não dava conta de estar aqui e continuar na escola, porque eu acabava por vir apenas para cá e não ia para a escola. Meu pai disse que eu poderia ficar apenas na academia, já que não estava dando importância para a escola. E disse que no futuro, eu iria ser chamada de imbecil  e incompetente, já que só quero dançar. – disse Brittany com o fôlego acelerado e olhos marejados.

Santana a olhou e deu um sorriso preocupado. Não sabia se deveria dar um abraço nela ou passar a mão em suas costas.  Optou pelo o que seu corpo queria, um contato mais forte. Então, deu-lhe um abraço.

-Não fica assim, Britt. Tenho certeza de que ele está errado. Você aparenta ser inteligente.- disse Santana.

-Sério?- perguntou Brittany sorrindo.

-Com certeza. – disse Santana.

-Senhoritas, Grant e Kutterin. Podem participar da aula, se quiserem. – disse Samantha sorrindo.

-Estamos indo, senhorita Smith. – disse Brittany puxando Santana.

A aula de Ballet virou a preferida de Santana por quatro motivos. O primeiro era pela professora, a senhorita Smith era uma esplendida profissional. O segundo era pela dança, era melhor do que Santana esperava, era tão pura e tão magnífica. O terceiro era pelo ambiente, a sala de Ballet era muito ampla e clara. O quarto, e último, era que a senhorita Smith acreditava que as alunas transmitiam união e força quando postas num único ângulo. Essa teoria, fez Santana ficar ao lado de Brittany no círculo de alunas.

Na hora da saída, Santana e Brittany foram conversando, como fizeram o dia inteiro. Até, na última troca de roupa, conversaram no vestiário.

-Nós poderíamos ir até minha casa, num outro dia. Eu estudo em casa, então tenho alguns livros para você tirar dúvidas e vai ser bom ter alguém da academia lá em casa. – disse Santana sorrindo.

-Eu adoraria. Ainda mais depois do que contaste sobre sua tia. Eu realmente adoraria! – disse Brittany sorrindo.

Joanne esperava Santana um pouco mais afastada da entrada e quando viu a filha foi direto em sua direção.

-Santana. Já estais pronta?- perguntou Joanne abotoando a capa de viagem de Santana.

-Sim, mamãe essa é Brittany Grant. – disse Santana indicando a menina loira ao seu lado.

-Olá Brittany, como vai? - perguntou Joanne sorrindo.

-Muito bem, senhora Kutterin. – disse Brittany.

Brittany desviu sua cabeça por alguns segundos e viu um homem alto, loiro parado perto de onde estavam paradas.

-Meu pai está aqui. – disse Brittany. – Até logo, Santana. E senhora Kutterin, foi um prazer.

-Até. – disse Santana como um sussurro. Ela estava indo embora de novo e apenas a ideia de que a veria no dia seguinte, deixou Santana mais calma.

-Fico feliz que tenhas feito uma amiga no seu primeiro dia. – disse Joanne, quando fechou a porta do carro.

Santana nada falou. Ficou pensando no choque que ocorreu quando tocou na mão macia de Brittany ou quando a abraçou na sala de Ballet. Pensou que poderia fazer aquilo todos os dias que a surpresa de sua pele em contato com a dela seria a mesma.

Quando chegou, Felícia estava terminando o jantar, George estava na sala-de-estar juntamente com Rachel e Elizabeth ouvindo as notícias no rádio de madeira maciça, um mais antigo que funcionava muito bem e Catarina estava na biblioteca. Após o banho e o jantar, Santana fora deitar e descansar. Milhares de imagens de Brittany invadiam a sua mente, e não lhe escaparam nem no seu sonho. No qual elas estavam em pé num palco de mão dadas sendo aplaudidas por várias pessoas. Santana não sabia porque Brittany havia mexido tanto com ela, só sabia que tinha feito uma grande amiga no seu primeiro dia na academia.