Acordei deitada no tapete. Havia chorado até pegar no sono. Geralmente fazia isso quando era mais nova e não tinha esperanças de que as coisas fosse ficar mais fáceis se eu ficasse acordada. 

- Por quê? - me perguntei levantando com dificuldade. Meus olhos estavam inchados e ardiam. 

Passei o olho pelo quarto. Completamente sujo. Uma bagunça artística e angustiante. 

Comecei a pensar sobre o que havia acontecido e no quanto havia sido idiota. Jeremy não merecia ficar sabendo das coisas daquele jeito, mesmo agora não tenho mais tempo para mudarmos as coisas, e eu sabia daquilo, mas estava pensando mais em aproveitar o tempo que tinha que acabei pensando que esconder dele seria o melhor. 

Sem ligar com minha aparência suja de tinta e meu rosto de quem havia chorado, saí do casarão correndo e fui a procura de Jeremy. 

Fiquei decepcionada ao voltar para a casa já de noite sem ter nem sinal dele. Não tinha mais lugar algum para procurá-lo e sabia que tudo o que ele menos queria era falar comigo naquele momento. 

Abri a porta do banheiro com tanta força que acabei cortando minha mão ao batê-la na quina da porta. 

- Merda! - gritei olhando o sangue.

Estava tudo fora dos eixos e eu tinha perdido o controle. 

*

- Oi Kath. - disse assim que abriu a porta de seu quarto. 

- Donna? Você está bem? - percebi sua preocupação. 

Assim que ouvi sua pergunta, não tentei segurar as lágrimas, apenas deixei que saíssem e me afogassem. 

Kath chegou perto de mim e me abraçou. 

- Meu Deus! O que foi? 

*

- Não sei o que te dizer... sinto muito por isso. 

Sentada na cama de Kath, observava-a andar de um lado para o outro nervosa. Sabia que estava triste por mim. 

- Eu fui uma besta.  

- Não, Donna! Eu te entendo perfeitamente. Você o ama. Apenas quer ficar do lado dele durante o tempo que vocês ainda tem. 

- É isso o que ele não entende! - me levantei. - Eu estou péssima. - caí no choro de novo. Eu soluçava como uma criancinha indefesa. 

- Por favor, não chore. Vai ficar tudo bem... - Kath sabia que não ficaria. 

- Hoje é trinta e um de dezembro, Kath! Trinta e um! Meia noite eu já não estarei mais aqui e o que eu tenho a fazer? Jeremy não quer me ver e agora é tarde pra consertar tudo! Nem que eu o ache vou ter a chance de fazer com que tudo fique certo. - eu quase gritava. 

Olhei para Kath. Ela tinha lágrimas nos rostos, mas limpou os olhos antes de começar a falar.

- Não sei como as coisas vão ser sem você. Jeremy não vai ficar bem, eu não vou ficar bem... vamos sentir sua falta, Donna. Isso é difícil. 

- É difícil pra mim também. É difícil até mesmo acreditar em tudo o que está acontecendo. - disse deitando na cama. 

Meu corte na mão ardia e minha cabeça estava prestes a explodir, mas nada era mais doloroso que a dor interna que eu sentia. 

*

Adormeci no quarto de Kath e acordei com ela me cutucando. 

- Acorde. Você ainda tem que procurar Jeremy. - percebi que Dave também estava no quarto. 

Me levantei depressa e tentei arrumar o cabelo. Olhei para os dois. 

- Não faço ideia de onde ele esteja... além disso, ele não quer me ver.

- Apenas não desista, está bem? 

Pensei um pouco. Ela estava certa. 

*

Passei em meu quarto e coloquei um vestido branco. Tentei pentear meu cabelo, mas nada que eu fizesse iria fazer com que eu me sentisse bonita naquele momento. 

- Tenho muito trabalho pela frente. - dei um sorriso triste para Kath. 

- Boa sorte. 

- Vou precisar. 

Virei as costas e saí do casarão. 

*

Andava pelas ruas antigas daquela cidade procurando entre as pessoas aquele rapaz que eu amava. Suspirei. Seria difícil achá-lo e seria mais difícil ainda ter uma conversa de despedida com ele. 

Passei em frente a loja e olhei as horas no relógio dos fundos. Meio dia. Ainda tinha doze horas e talvez isso fosse o suficiente, caso o contrário, tudo estaria perdido. 

Quando você está prestes a perder alguém, não pensa em mais nada a não ser no que pode fazer para impedir aquilo e o que eu fiz em seguida foi a coisa mais inconveniente. Ao ver um cavalo amarrado perto de uma casa, montei em cima e saí em disparada pela cidade. Precisava voltar no castelo e me certificar de que Jeremy realmente não estava lá. 

Agora era tudo ou nada. 

* 

- Jeremy! - gritei o mais alto que pude. - Por favor, diga que está aí. - entrei no castelo correndo e passei por todos os cômodos que haviam lá, inclusive o porão. Nem sinal dele. 

Ainda até os fundos e me encostei em uma árvore. Na minha frente, conseguia observar o lago e algumas garças voando por ali. O lugar era tão bonito e mágico... eu iria sentir falta dali. 

Deixei as lágrimas caírem de novo ao sentir o vento bater melancolicamente nos meus cabelos, fazendo com que balançassem. 

- Eu desejaria mais do que tudo não ter que partir. - fechei os olhos.