- Tem certeza que era Paty? - Jer me perguntou. 

- Absoluta. - queria ir atrás dela, mas não sabia por onde ir. 

 - Talvez seja um sinal, ou algo do tipo... 

- Espero que sim. 

*

Chegamos na cabana tarde. Iríamos dormir lá naquela noite. Passei a noite toda pensando o que o aparecimento de Paty significava e acabei percebendo que só passava de uma coincidência ou talvez era o mais fácil de acreditar.

A água quente caía pelo meu corpo e a cada segundo eu lembrava que só faltavam cinco dias para o ano novo e quando os foguetes estourassem eu já não estaria mais lá. 

- Quando vou ter coragem de contar para Jeremy? - resmunguei sozinha. 

Tinha medo de que ele ficasse bravo quando soubesse da verdade, mas não tinha saída. 

Desliguei o chuveiro e me dirigi para a sala onde Jeremy olhava para a janela. Fiquei alguns minutos apenas observando-o. Ele era alto, suas costas eram largas e seus cabelos eram incríveis. Fiquei me perguntando como eu não me apaixonaria por ele. Era legal, amigo, engraçado, inteligente, educado e completamente atraente. Era tudo o que eu não havia encontrado em outra pessoa e eu não me imaginava amando outra pessoa. 

- Não te vi aí... - disse virando de frente pra mim. - Venha aqui. A noite está bonita. 

Sorri. 

- Não sei se é a noite ou se tudo agora parece bonito. Talvez a felicidade nos deixa achando as coisas melhores. - disse.

- Você está feliz? 

- Nunca estive mais feliz. 

- Bruice fez um bom trabalho. - riu. 

- Sim, ele fez. 

Abracei-o sabendo que seria uma das últimas vezes que sentiria seu cheiro refrescante e seu calor. 

- Eu te amo, Jeremy. Nunca se esqueça disso. 

Algo na minha voz fez Jeremy me olhar. 

- Você está bem? 

- Se você está aqui, sim, estou. 

*

- Que dia é hoje? 

Jeremy me olhou com sono. Havia acabado de acordar. 

- Vinte e nove de dezembro. - Jeremy me respondeu. 

Levei a mão na cabeça pensando como os dias estavam passando rápido. Não era novidade dizer que havia pensado a mesmo coisa desde o Natal. 

- Vamos para meu quarto? - perguntei. - Lá tem uma tela e pretendo pintar hoje. Quero pintar algo pra você. 

- Claro. - Jeremy disse andando em direção a porta da cabana. 

*

Entramos no casarão. Jason já não aparecia muito por lá e quando aparecia, ignorava minha presença. Eu ficava feliz por aquilo. 

Abri a porta do meu quarto e entrei. Jeremy estava com as mãos na minha cintura e eu sentia que ele não me deixaria pintar tão cedo. 

- Espere. - disse enquanto ele beijava meu pescoço. - É sério, quero pintar algo. - eu ria. 

- Não, agora não, por favor. - me jogou na cama. 

Sua mão percorria meu corpo e logo ele segurava minha coxa com força. Sua boca tocava cada canto do meu pescoço e eu me sentia arrepiar. 

Tirei sua camisa e fui envolvida em uma beijo que fazia meu coração disparar tanto que até me sentia tonta. Passamos a tarde todas naquela pequena cama que mal cabia nós dois, mas quando dois corpos se torna um, qualquer espaço é suficiente. 

*

Acordei primeiro que Jeremy e fui tentar pintar, mas estava com um bloqueio que não me deixava expressar o que estava sentindo. Pensei em tomar café, mas todo o que eu tinha havia acabado, então coloquei uma roupa, deixei um bilhete avisando onde ia e saí. 

Quando voltei, me surpreendi com Jeremy sentado na cama com a cabeça baixa.

- Quando você pretendia me contar? - me mostrou a página de diário. 

Me perguntei como ele havia achado-a na gaveta, mas isso não importava no momento. 

- Jeremy... eu... - tentei falar. 

- Esse tempo todo eu fiquei me perguntando sobre quanto tempo você ficaria aqui e você tinha a resposta o tempo todo! E nunca me disse o que sabia. 

- Eu não queria que você se preocupasse com um final, Jer. - tentei argumentar, mas ele mal me ouvia. 

- Você me enganou! Me fez pensar que acabaria ficando... podíamos ter procurado um jeito de mudar isso, mas não! Você não conseguiu pensar em nós dois! 

- Foi o que eu mais pensei. Tudo o que eu faço é pensando em você. 

- Donna! Por favor, não diga nada. - disse saindo pela porta. 

Peguei o vidro de perfume que estava na mesinha e taquei-o na porta. 

- O que eu fui fazer? - gritei. 

Como tinha sido tão tola em demorar tanto a contar pra ele o que havia acontecido? Agora era tarde demais. Eu tinha pouco mais que dois dias para mudar tudo, mas sabia que nada mudaria. Jeremy iria me odiar pra sempre.

Enfiei o maior pincel que eu tinha em um pote de tinta preta. O sacudia fazendo com que a tinta se espalhasse pela tela. Minha fúria por ter sido idiota me fazia querer destruir todo aquele quarto, mas eu tinha que me controlar.

- Tentei salvar nossos últimos dias juntos e agora temos só mais dois e eu arruinei tudo! - gritei espalhando a tinta.

Deixei meu corpo cair pelo tapete e percebi que até as paredes do meu quarto estavam sujas pela tinta suja. 

Coloquei a mão na cabeça e fechei os olhos. As lágrimas saiam com tal intensidade que eu poderia me afogar nelas. Era incrível como eu sempre conseguia acabar com tudo!