O Castelo Dos Meninos escrita por Lady Padackles


Capítulo 11
Capítulo 11




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Dean não saía de seus pensamentos. Aquele olhar, aquele sorriso e a vontade desesperada de envolvê-lo nos braços... Quem sabe ele não era correspondido? Todos na escola diziam que o louro era gay, apesar do próprio Sam ter suas dúvidas. O fato de Dean ter talentos artísticos, como ele próprio lhe dissera tempos atrás, não era indicativo de sua sexualidade. O moreno entretanto estava decidido, iria declarar seu amor. Haviam novamente marcado de ir a praia no dia seguinte, e Sam teria oportunidade de sobra para isso.

Durante o dia todo Sam sonhou acordado, ensaiando suas palavras. Em meio a um cenário perfeito, dois garotos sozinhos na praia, sem ninguém para julgá-los. Sam sussurraria nos ouvidos de Dean palavras de amor, que fariam o louro corar. Então colaria seus lábios com os dele, e seus corpos se uniriam em um fervoroso abraço.

Castiel, Oliver e Clark notaram o quanto Sam estava disperso durante as aulas, e estranharam o fato do menino novamente querer se isolar logo cedo em seu quarto. O que estaria acontecendo com ele? Sam não se importava com o que pensassem. Na hora marcada correu ao ponto de encontro, e novamente chegou antes de Dean.

Quando avistou o louro se aproximando, o coração de Sam bateu acelerado. Planejava se declarar quando chegassem a praia. Durante a descida, o moreno permaneceu estranhamente calado. Dean, ao contrário, parecia até mais animado que de costume, comentando sobre todas as aulas do dia.

Com os pés finalmente alcançando a areia, Dean foi logo anunciando que iria pintar um pouco, pois pretendia terminar logo sua última tela.

– Dean... - Sam chamou com a voz trêmula.

– O que? - perguntou o louro.

– Eu tenho uma coisa para te dizer... - Sam suava frio.

Dean olhou para ele esperando as palavras, que custaram a sair.

O moreno olhou para baixo, suspirou, e prosseguiu.

– Você vai nadar comigo mais tarde?

O louro riu. Sam não precisava ser tão solene para convidá-lo para nadar. Dean respondeu que sim, e o moreno então se sentou perto dele. Não tivera coragem de se declarar... Quem sabe quando estivessem na água...

Mais tarde, ao lado de Dean pulando ondas, Sam não pôde evitar a tensão. Tentou tomar coragem e dizer o que tanto havia planejado, porém não conseguiu dizer nada. O tempo passou depressa e logo a hora de voltar para a escola chegou.

Frustrado, Sam despediu-se de Dean. Tentava se consolar pensando que haveriam muitas outras oportunidades para se declarar. De fato, houveram. Nos dias que se seguiram, os dois meninos encontraram-se quase diariamente após as aulas para ir juntos a praia. A coragem que Sam precisava para falar de seus sentimentos, entretanto, nunca veio. No fundo ele tinha um enorme medo de ser rejeitado, e então perderia até a amizade de Dean, que a tanto custo havia conquistado.

Sam sentia que sua relação com Dean era mágica e misteriosa, quase proibida. Ninguém sabia de seus encontros. Os próprios amigos de Sam nem desconfiavam, e pareciam engolir todas as desculpas esfarrapadas que este inventava para que o deixassem sozinho. Os três amigos acreditavam que Sam era viciado em novelas de televisão e tinha uma mania de arrumação neurótica que o obrigava a cuidar de seu quarto durante horas a fio.

Na praia, a princípio, Dean e Sam gastavam tempo nadando, ou então Sam sentava observando Dean pintar. Depois, com a chegada do outono, o mar tornou-se revolto e a água, fria. Dean finalmente terminou seu autorretrato, e aposentou os pincéis. Mesmo assim continuavam a se encontrar diariamente. Nos dias chuvosos ou muito frios, passaram a se reunir no quarto de Dean. Tornavam-se cada vez mais íntimos. Ora falavam de assuntos levianos e corriqueiros, tal como o sotaque do professor de química; ora conversavam sobre assuntos profundos e filosóficos, como os propósitos da vida e da morte.

Sam soube o quanto havia sido doloroso o processo de adoecimento da mãe e do irmão de Dean. A mãe adoecera quando o louro tinha apenas 10 anos de idade. Apesar de se tratar com os melhores médicos, não resistiu, vindo a falecer após dois dolorosos anos. Dean tinha então 12 anos, e seu irmão, 14. Poucos meses depois, Josh, o irmão, começou a apresentar os mesmos sintomas da mãe. Precisou fazer o mesmo tratamento debilitante, que também não foi capaz de salvar-lhe a vida. O menino morreu ao completar 17 anos de idade. Dean, em seguida, foi enviado para o colégio interno, e desde então não mais vira o pai.

Sam sentia raiva do homem por abandonar o filho. Sentia-se especialmente revoltado quando Dean falava do pai com a serenidade e passividade habituais. O menino não demonstrava nenhum tipo de revolta, como se a atitude do homem fosse natural. E foi por causa dele que veio a primeira briga entre os dois, quando estavam na praia.

– Não se sente ressentido por seu pai não vir te ver, Dean?

– Não.

– Não sente raiva?

– Não, Sam... Eu respeito a decisão dele.

– Decisão covarde...

Dean pereceu se irritar com o comentário. Sua respiração tornou-se pesada e suas faces coraram. Depois de um instante em silêncio disse.

– Você não sabe como foi difícil para ele, Sam... É fácil julgar os outros. Eu não quero mais ver meu pai sofrendo. Não quero que ele esteja por perto para me ver morrer também.

– Te ver morrer?

– O médico disse que essa doença é hereditária... E não tem cura. É possível que alguma hora eu também venha a desenvolvê-la. Então o melhor para o meu pai é não se apegar demais a mim.

Sam sentiu seu corpo congelar por dentro e sua garganta secar.

– Pare de falar bobagem, Dean! Não acredito que você e seu pai vivam esperando o dia em que você vá adoecer e morrer...

Dean apenas olhou para o chão, possivelmente envergonhado.

– Isso é uma covardia tremenda! Eu me recuso a acreditar que seu pai não quer a sua companhia agora com medo de perdê-la no futuro!

– Cala a boca, Sam! Me deixa em paz – E dizendo isso Dean se enfiou na gruta, emburrado. Sentou-se com os braços cruzados e evitou olhar para o moreno.

– Vai ficar aí emburradinho igual uma criança? Logo você, que sempre foi tão metido a maduro? Você é tão infantil quanto qualquer outro garoto da escola, apesar de toda essa sua pose...

As palavras saíram pela boca de um Sam realmente zangado. Parte dessa irritação vinha do fato de que estava assustado. A notícia de que Dean pudesse vir a adoecer com uma condição rara e incurável fora um golpe duro e repentino para ele. O menino não podia acreditar que esse fosse o cruel destino do seu amor. Isso não podia passar de uma especulação macabra. Por que então Dean e seu pai viviam como se aquele fosse um destino irrefutável, e respondiam a isso covardemente?

Dean colocou no rosto a habitual expressão de indiferença que tanto irritava Sam.

– Pouco me importa o que você pensa, Sam...

O moreno sentiu uma enorme vontade de pular em cima do amigo e enche-lo se sopapos, mas se conteve. Acabou sentando-se na gruta com o louro, ambos olhando em direção contrária e sem trocar mais nenhuma palavra. Sam sentiu uma lágrima salgada descendo por seu rosto, mas manteve-se silencioso para que Dean não percebesse que estava chorando.

Muito tempo se passou sem que os meninos fizessem qualquer movimento. Então Dean se levantou, andou atá a praia e anunciou alarmado.

– Essa briga idiota nos fez perder a hora... Está escurecendo...

Sam levantou-se assustado e constatou com seus próprios olhos que a claridade do dia já estava indo embora.

– Vamos embora! - disse Sam se apressando para voltar a escola.

– Não seja tonto, Sam... Se sairmos daqui agora ficaremos no meio do caminho... Não vamos ter tempo de chegar no topo com claridade...

E dizendo isso, Dean simplesmente se deitou dentro da gruta. Sam ficou assustado. Não queria passar a noite ali naquele lugar escuro e frio, principalmente estando brigado com Dean. Sem opção, entretanto, deitou-se ali também.

Ficou acordado por muito tempo. Sua barriga roncava de fome, e o vento frio que chegava com a partida do sol começava a incomodá-lo. Sam enroscou-se como pôde abraçando seu próprio corpo, tentando se aquecer. Não conseguia parar de pensar em outra coisa senão no “maldito” Dean. Como ele tinha coragem de mencionar casualmente que estava se preparando para morrer, como se aquilo não tivesse nenhuma importância para Sam? O louro não gostava dele, não podia gostar... Sentiu-se o mais miserável dos mortais: um pobre rapaz regelado, faminto, gay e ainda por cima mal amado. Chorou mais um pouco em silêncio até pegar no sono.

Acordou algum tempo depois sentindo-se mais aquecido, com algo cobrindo seu corpo. Era o casaco de Dean. O moreno olhou a sua volta e viu na penumbra o amigo sentado há alguns passos de distância. Dean notou que Sam acordara e se aproximou.

– Me desculpa, Sam – disse ele.

– Não precisa se desculpar – respondeu. Estava magoado e enraivecido, porém Dean, na verdade, não tinha culpa de ser covarde e insensível, tinha? - Obrigado pelo casaco, mas fique com ele você. Também deve estar com frio...

– Não, eu estou bem... Prefiro que você fique com ele. Tente dormir de novo... – respondeu o louro, com uma voz suave.

Ahhh, Dean era tão doce... Sam pensou que talvez estivesses sendo um pouco duro com ele. O menino não resistiu, e perguntou:

– Não quer vir se deitar aqui perto de mim? A gente pode dividir o casaco...

Dean, sem dizer nada, se aproximou e deitou-se ao lado do amigo. Sam estendeu o casaco sobre ambos. Estava muito frio... Mais do que natural que os dois amigos precisassem se aproximar mais para se esquentar. Quando Sam encostou em Dean, e viu como ele estava gelado, esqueceu-se de todo o pudor que ainda lhe restava. Abraçou o louro e esfregou suas mãos sobre ele para aquecê-lo. Dean aconchegou-se nos braços de Sam e provavelmente escutou seu coração batendo mais depressa.

Ficaram se abraçando, se esfregando e acariciando por um bom tempo. E então, em meio à escuridão que não lhe deixava enxergar, Sam apalpou o rosto de Dean e aproximou seus lábios dos dele. Foi um beijo delicado, doce, apaixonado e sem pressa. O moreno sentiu a respiração do louro acelerar, enquanto este afagava seus cabelos de leve. Uma onda de calor subiu pelo corpo de Sam, enquanto seu coração tentava escapar pela boca. Depois do beijo, mais um abraço. Seria essa a hora certa de dizer que o amava? Não, Sam não queria assustá-lo, e muito menos queria estragar aquele momento.

Passaram o resto da noite se aconchegando um no outro, e volta e meia se beijavam. Quando o dia começou a clarear, e puderam se enxergar novamente, Sam ficou sem graça. Aparentemente, Dean também sentiu-se envergonhado, pois afastou-se do moreno lenta e silenciosamente.

– É melhor subirmos antes que o pessoal acorde – disse Dean, cortando o silêncio.

Ambos se levantaram e evitando trocar olhares, subiram o despenhadeiro lado a lado.




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