Caio E Fernanda. escrita por Vanessa Carvalho


Capítulo 3
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

O primeiro encontro



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Naquele dia foi difícil para Caio deixar a mente descansar. Estava com Fernanda o tempo todo em sua cabeça. A lembrança de seus cabelos caindo delicadamente pela costa, de seu sorriso sincero ao falar com ele, da forma como o tratou (como uma pessoa normal) sem medo deixou uma impressão forte nele.

Já havia escutado falar dela, quando, certa vez escutou no noticiário um sequestro de uma advogada de um importante escritório da cidade. Na ocasião começou a rir imaginando as situações horríveis que ela estava passando nas mãos do traficante.

Mas agora, ao conhecê-la, uma raiva tomou conta dele imaginando as atrocidades que ele a fez passar. Agradeceu por saber que ele havia morrido em um tiroteio com a polícia.

Se lembrou do perfume que ela estava usando. Sempre escutara dizer que a memória olfativa é a mais forte, mas até aquele dia nunca acreditou. Logo seu corpo reagiu a esta lembrança. Suspirou. Sabia que dificilmente ela olharia para ele de outra forma que não fosse um cliente. Isso aumentou mais ainda a raiva que estava sentindo.

– Ei cara, eu vi a bonitona gostosa que veio falar com você ainda agora.

– Outra idiota que acha que pode mandar em mim.

– A turma está falando que ela te deixou mudo certa hora.

– Que... A “turma” tá querendo é levar umas boas porradas isso sim. O que você quer Caveirão?

– O celular, tenho que falar com meus laranjas para novas informações.

– Pega e me deixa em paz.

Depois que Caveirão se afastou, voltou os pensamentos para Fernanda. Impossível ficar indiferente a ela.

– Preciso ter aquela mulher na minha vida o quanto antes. – Falou com a respiração pesada. Notou que estava se tocando. – Mas que porra?

Parou. Já estava velho demais para ter essas reações adolescentes. Depois que recuperou o celular e ligou para uma antiga namorada. Em menos de meia hora ela estava deitada, nua, no quarto íntimo da prisão.

À medida que foi se envolvendo, foi se entregando ao desejo começou a imaginar que era Fernanda quem estava gemendo baixo. Aumentou a força e o ritmo sentindo o corpo da mulher ficar quente cada vez mais. Ela começou a acompanhar ritmo que ele estava impondo e logo alcançou o êxtase. Ele demorou um pouco ainda, mas gozou intensamente. Cansado, vestiu sua roupa e saiu do quarto. Em menos de meia hora terminou com a mulher que estava dormindo cansada na pequena cama.

Mas estava longe de ficar satisfeito. Estava precisando ter Fernanda em seus braços. E isso o estava deixando louco. Entrou no banheiro utilizado para higiene depois dos encontros íntimos e depois de algum tempo debaixo da água gelada, relaxou e voltou para a sua cela.

Pegou seu celular debaixo do travesseiro e deu uma ligação. Se afastou dos outros dois presos com quem dividia e começou a conversar. O poder que Caio possuía lá dentro era impressionante, mas claro, nem todos os policiais estavam comprados por ele. Apenas os do turno da noite.

O telefonema durou mais ou menos uns 20 minutos. Por mais respeito que o policial tinha por Caio, já estava arriscando demais. Chegou perto dele e ainda escutou os últimos instantes da conversa.

–... Vocês irão prestar contas diretamente comigo, entenderam? Não ousem falhar nisso.

– Caio, já está na hora de ir pra cela, desculpe.

– Tá, tá... Já estou indo. – Desligou o celular jogou para cima do guarda e entrou para dormir.

Adormeceu e sonhou com Fernanda.

–--------

Depois do encontro que teve com Caio, Fernanda não conseguiu se concentrar em mais nada. Estava com pensamentos eróticos envolvendo seu cliente, e isso era mais que errado, era proibido. E pra piorar, um cliente acusado de homicídio.

Resolveu ir ao shopping. Há tempos não assistia a um bom filme. Escolheu o de horário mais próximo e entrou na sala. Era um filme meio tenso demais, com reviravoltas e segredos. Sua mente desligou do filme nos primeiros dez minutos. Geralmente gostava desse tipo de filme, mas hoje ela estava mesmo querendo aqueles filmes de fácil aceitação sem se preocupar em pensar muito.

Saiu depois de meia hora que o filme começou e resolveu passar em uma livraria. Entrou na loja e ficou olhando a mesa dos mais vendidos. Entre vários títulos comprou um que há muito estava querendo, mas sempre deixava para depois. Um dessas trilogias feitas para mulheres mais velhas de uma autora muito famosa. Era sobre três bruxas vivendo numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos. Aproveitou e comprou os três volumes para que ela pudesse ler toda a história de uma vez sem ter que esperar para comprar os outros.

– Não acredito que você está sozinha, Fernanda.

– Olá Pedro. – Ela falou sem nem se dar o trabalho de olhar para trás. De tanto conversar com ele apenas por telefone, reconheceria a voz dele no meio de milhões de vozes diferentes.

– O que você está fazendo sozinha aqui?

– Não vê, comprando livros...

– Isso eu vi, mas...

– Olha, foi até bom te encontrar por aqui, mas eu agora tenho que ir.

– Não espera... Eu... Eu estava pensando...

– Que bom!

– Eu sei que eu mereço esse tratamento, mas quero me desculpar...

– Pelo que? Pelos bolos, pelas faltas, por eu ter que dormir sozinha, pelo quê?

– Eu sei que não tenho agido bem com você, mas é que...

– A sua filha está doente, sua mulher caiu da escada, seu filho quebrou a unha...

– Isso não é justo.

– Fale baixo que estamos num local público.

– Você queria o que?

– Tempo pra mim, atenção pra mim, e está mais que claro que você não pode me conceder isso, Pedro.

– EU TENHO FAMÍLIA...

– E eu nunca pedi pra você abandoná-la, eu apenas quero que você me deixe em paz.

– Algum problema aqui moça?

– Espero que não, certo? – Fernanda falou se virando para Pedro.

– Não, não temos não. Eu vou ligar pra você mais tarde.

– Por favor... Não se dê a esse trabalho.

– A senhorita está bem mesmo? – O segurança da loja perguntou depois que Pedro se afastou.

– Estou sim, ele apenas falou alto demais. Desculpe por isso. – Ela respondeu com um sorriso. O segurança, mesmo sendo profissional, sentiu uma forte amizade por ela.

– Desponha – Ele falou se afastando.

Ela foi para a fila do caixa e pagou os livros. Para a sua surpresa, eles estavam em promoção. No som da loja, estava tocando uma música gostosa de escutar, de um cantor que vinha ganhando cada vez mais fãs depois de um clipe que fez com um famoso ator de cinema. Fernanda, que conhecia bem a música ficou cantarolando a música enquanto andava pela loja. Surpreendeu-se quando a imagem que se formou em sua mente foi de Caio. Eles dois dançando ao som da música. Sorriu ao pensar nisso.

Balançou a cabeça como se quisesse reorganizar os pensamentos e saiu mais que depressa da loja. Pagou o ticket do estacionamento e foi para a sua casa. Ao chegar, tomou um banho demorado, deixando a água correr por todo seu corpo. Passou o dia fora, e mesmo que soubesse que a sala em que estivera estava limpa, ela nunca gostava da sensação que ficava em seu corpo. Desde que quase fora estuprada quando visitava um cliente, ficara com temor desses lugares.

Saiu enrolada em uma toalha e sem mudar de roupa percorreu toda a extensão do corredor entrando na cozinha. Pegou alguma coisa para comer e colocou no micro-ondas para esquentar. Sentou-se em um banco e ficou lendo o primeiro volume. Logo se perdeu na leitura. Só parou quando escutou seu celular tocando. Olhou para o visor e viu que era Pedro. Suspirou. Ele não sabia receber não como resposta. Logo em seguida veio a mensagem.

“Estou aqui em baixo. Desça para irmos para o apartamento que lhe dei.”

Leu, riu e apagou a mensagem. Não voltaria a sair com ele. Não voltaria a transar com ele. Ela havia se cansado de ser apenas uma escolha quando ele estivesse sozinho. Por sorte não estava apaixonada. Terminou o jantar, pegou seu livro, desligou tudo e foi para o quarto. Vestiu uma camisola confortável, desligou a luz e adormeceu.

Do carro, Pedro olhou quando ela desligou a luz da sala e em seguida do quarto. Começou a ficar com raiva por Fernanda o estar ignorando-o.

– Quem essa vagabunda pensa que é me tratando dessa forma? Ela não sabe quem eu sou não? O que eu posso fazer? Essa puta não perde por esperar.

Saiu apressado da frente do apartamento de Fernanda cantando pneu. Ultrapassou sinais fechado imaginando uma forma de fazer Fernanda pagar pelo que estava fazendo a ele. Mas, ao contrário do que ele deveria fazer, dobrou à esquerda três quarteirões depois indo para um bairro mais afastado da cidade.

Parou o carro um pouco distante de um prédio cinza, com janelas de madeira, algumas caindo aos pedaços e subiu para o terceiro andar. De longe podia sentir o cheiro adocicado característico da maconha. Mas ele, naquele momento queria algo mais forte. Bateu forte no apartamento 32. Um homem negro, forte e alto atendeu a porta.

– O que você quer?

– Ela está?

– Patrícia, o Pedro está aqui. Ela está no quarto.

Pedro se dirigiu ao quarto. Entrou e encontrou uma garotinha linda deitada preparada pra dormir. Ela, ao avistá-lo correu para abraça-lo. Patrícia é fruto de uma aventura dele antes de conhecer Fernanda. A mãe morrera no parto e agora ela vive com o tio. Mesmo Pedro sendo presente na vida da menina, era o tio que ela chamava de pai e Pedro não via problema nisso.

Depois de mais ou menos uma hora, Pedro saiu do apartamento e se dirigiu ao quarto andar. O cheiro estava mais forte e nem precisou bater. A porta abriu e uma mulher branca abriu a porta. Era ela quem fornecia a droga a Pedro. Era ela quem também servia de alívio para Pedro agora que Fernanda já não saía com ele. Mas nem de longe ela lembrava Fernanda.

À medida que ele se excitava, a imagem de Fernanda se formava mais claramente em sua cabeça. Começou a lembrar da última conversa que teve com ela e começou a se tornar mais intenso. A mulher, que antes gemia excitava começou a ficar ofegante. Pedro começou a apertar seu pescoço e ela começou a lutar enquanto ele ainda estava dentro dela. Com sufoco ela se livrou dos braços dele.

– Mas que porra que você está fazendo? – Gritou ainda ofegante.

– Eu... Eu... Volta que eu ainda não gozei.

– E vai ficar sem gozar. Fora da minha casa. E leva essa merda de dinheiro com você.

Pedro saiu do apartamento com ódio, mas não por ter sido expulso por uma prostituta, mas de Fernanda. Há dias ele não conseguia gozar direito só pensando nela. E com paciência começou a pensar num jeito de fazê-la pagar por tudo que ele estava passando. Ligou o carro e se dirigiu para casa.

Em casa, Fernanda desligada do jeito que era não notou que, o tempo todo, estava sendo seguida, não de perto. Dois homens grandes e fortes estavam sempre ao seu redor analisando cada passo que ela dava. Eram seguranças a mando de Caio. De alguma forma, ele sentiu que Fernanda precisaria deles. E eles só não entraram em ação porque o segurança da loja foi mais rápido. Eles ficaram a noite toda vigiando o apartamento de Fernanda.

Da cadeia, Caio que estava a par de tudo, ficou furioso e logo pediu uma pesquisa detalhada do homem que havia gritado com sua menina. Ela era a sua menina, ela só não havia sido informada disso. Pesquisa em mãos, ele passou a noite lendo aqueles documentos. Sorriu ao ver que ele não era santo e, caso ele se tornasse um problema na vida de Fernanda, ele estaria acabado.


A princípio, Caio levado pelo ciúme, pensou na possibilidade de dar um chá de sumiço nele, mas depois de ler as mais de cem páginas que lhe entregaram, achou melhor não. Pedro presava demais a sua situação, o seu status. Seria um castigo maior pra ele, ser desmoralizado publicamente que mandar mata-lo. Isso resolveria maior parte de seus problemas. Deixaria de matar e ainda acabaria com seu maior rival.

Primeiro teria que sair daquele lugar. E o meio mais eficaz era pelas mãos de Fernanda. Então, era só esperar. Ele nunca soubera esperar na vida, mas agora, era sua estratégia. Apenas torcia para que, na segunda, pudesse ver Fernanda novamente.


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