Caio E Fernanda. escrita por Vanessa Carvalho


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Playlist:

1) Air suply - Here I am;
2) Rod Stewart - That's all;
3) The Calling - Wherever you will go;
4) Asia - Only time will tell
5) Biquini Cavadão - Quanto tempo demora um mês.



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Fernanda estava num estado de torpor dolorido. Não comia, não bebia, não dormia, Caio começou a se preocupar com sua namorada. Depois que eles chegaram ao hospital, ela partiu com fúria para cima de Inês que ele se assustou. A sempre delicada e gentil Fernanda sumiu e em seu lugar apareceu uma neurótica e agressiva mulher.

Inês, por mais que pedisse desculpas, não conseguia minimizar a raiva que Fernanda estava sentindo. Perguntou o que havia acontecido e onde. Por mais ou menos três vezes, Inês teve que contar todos os detalhes que se lembrava. O problema era que Inês não havia visto a hora que Cristina havia sido baleada. Talvez se ela tivesse chegado mais cedo no hospital, estivesse viva. E esse pensamento estava doendo mais em Inês que as acusações de Fernanda.

Nunca é fácil perder alguém que a gente ama, e quando se trata de uma amizade tão forte quando a de Cristina e Fernanda, tudo ficava pior. Ao mesmo tempo, Caio estava lutando contra seus fantasmas interiores para dar todo o apoio que Fernanda precisava. Ele era a única pessoa, depois de Jorge, que ela deixava chegar perto. Fernanda passou uns dois dias sem querer escutar o nome da Inês, mas assim que o choque passou e ela realmente chorou foi para o colo de Inês que ela correu.

O corpo de Cristina só foi liberado depois de três dias, pois Jorge estava querendo saber o laudo do legista. Pensavam que havia sido a bala que atingira a costa dela, mas não. Aquela bala passou longe, ficou alojada em um local do corpo sem ter atingido qualquer órgão vital, ao contrário do que Inês falara aos médicos. O problema era que as balas estavam impregnadas de uma substância venenosa extraída do escorpião negro. Cristina morreu envenenada devido a grande quantidade de veneno que havia nas balas. Morreu sufocada pelo acúmulo de líquidos no pulmão.

Depois do corpo liberado, Jorge foi cuidar dos preparativos para o velório. Ele estava devastado. Fazia tudo no automático, foi quando Fernanda precisou guardar sua dor no local mais profundo do seu coração e ajudar o amigo. Estavam juntos há mais de vinte anos, desde os tempos do colégio e Jorge não estava conseguindo lidar com a perda da mulher.

Durante esse tempo, Caio ajudou Fernanda em tudo que foi preciso, inclusive o pagamento da funerária, caixão, tudo isso. Sabia o que Fernanda estava passando, já havia passado por isso e queria que sua menina sofresse o menos possível. Doía vê-la naquele estado sem poder fazer nada de mais concreto. Ele não se afastou um só minuto. Não queria que ela dormisse sozinha. Quando ele não podia ficar, o que era raro, quem ficava com ela ou era Gustavo ou Inês.

Os chefes de Fernanda lhe deram folga por duas semanas. Chegou o dia do velório. Uma semana depois. Diante das circunstâncias da morte, o caixão teve que estar fechado o tempo todo.

Caio, Fernanda e Inês foram os primeiros a chegar. Jorginho quando viu a madrinha, saiu correndo e a abraçou forte. Seus bracinhos envolveram o pescoço de Fernanda forte. Ela ficou abraçada com ele.

- Dindinha, a mamãe ela agora tá lá no céu, não tá?

- Tá sim, meu filho. E agora ela está num lugar lindo, não é? – Fernanda falou fazendo força para não chorar novamente.

- A mamãe falou que quando a gente vai pra lá, a gente fica perto do papai do céu, é verdade?

- Sim, do papai do céu e de todos os anjinhos. Ela agora também é um anjinho pra cuidar de você.

- E ela não vai mais voltar?

- Não querido, ela... Não vai mais voltar – Falou voltando a chorar.

- Dindinha, não chora. Eu vou pedir pra mamãe lá no céu cuidar de você, tá?

- Não consigo... – Falou Fernanda entregando Jorginho para o pai que havia se aproximado.

- Vem amor, senta aqui, vou pegar um copo de água pra você. – Caio falou levando Fernanda para longe de todos.

Caio colocou Fernanda em um sofá próximo e foi buscar água. Ele mesmo estava devastado com tudo aquilo. Não havia convivido muito tempo com Cristina, mas o pouco com que conviveu aprendeu a ter apreço por ela. Primeiro, porque era a melhor amiga da mulher que ele amava, depois, porque o jeito dela lembrava muito a sua irmã. Foi como ele tivesse perdido sua irmã pela segunda vez. Secretamente jurou que iria encontrar quem havia feito isso de uma forma ou de outra.

Ele ficou o tempo todo ao lado de Fernanda até o momento em que chegou um padre. Fernanda levantou e o abraçou forte. João havia estudado com elas até o ensino médio, depois, quando se formaram, ele entrou para o seminário. Ordenou-se padre havia alguns anos. Sua paróquia era pequena, mas alegre, unida e amorosa. Abraçou a amiga afetuosamente lhe dando um beijo na testa.

- Caio, este é João, um amigo querido meu e de Cristina. Estudamos juntos quase a vida inteira.

- Boa noite, padre! – Caio falou apertando sua mão.

- Boa noite, meu jovem. – João estava ainda tentando aceitar a morte de uma amiga querida. – Como você está Fernanda?

- Estou melhor João, mas ainda...

- É difícil, eu sei.

João se aproximou de Jorge. Também o conhecia. Havia celebrado o casamento deles. Ele se lembrava de Cristina como uma mulher alegre, forte e decidida. E também batizado Jorginho. Jorginho beijou a mão de João ainda sentado no colo do pai. Para qualquer pessoa que chegasse perto, ele falava que a mãe estava no céu e que iria cuidar de todos que estavam tristes. Isso aumentava ainda mais a dor de Fernanda.

João se aproximou do caixão. Rezou silenciosamente um Pai Nosso e uma Ave Maria. Antes de começar seu trabalho, o homem João estava lá prestando a última homenagem para uma amiga querida. Depois, enxugou suas lágrimas, colocou sua batina, respirou fundo e se voltou para as pessoas que estavam na sala.

- Queridos amigos, meus filhos, estamos reunidos aqui para homenagear uma mulher forte, alegre, esposa e mãe dedicada que teve sua vida ceifada de maneira repentinamente cedo. Por mais que saibamos que nossa carne não é eterna, nunca é fácil para ninguém ter que dizer o último adeus. A dor se torna maior quando é alguém que amamos...

Quanto mais João falava, mais Fernanda se encolhia nos braços de Caio. Ele a abraçava forte, querendo tirar toda aquela dor que ela estava sentindo, mas o que ele apenas podia fazer era estar presente.

-... Cristina era uma pessoa que sempre sorria, nunca estava de mau humor, ou nunca tratava ninguém rispidamente. Desde cedo gostava de escrever. Sempre tirou 10 em redação. Ganhou todos os concursos no colégio e não foi com surpresa que escolhera o jornalismo como profissão. Sempre curiosa, sempre procurava falar a verdade e foi essa verdade que a levou cedo demais...

Jorge abraçava o filho forte chorando baixinho. Jorginho afagava o rosto do pai, enxugando suas lágrimas falando que a mãe sempre estaria por perto. Que ele sentia a presença dela sorrindo perto deles dois.

-... Não, meus filhos, nunca é fácil dizer adeus, mas mesmo na dor podemos encontrar acalanto nos braços do Pai. E rezar para que nossa irmã tenha encontrado o caminho da luz e que agora está no paraíso cuidando daqueles que ela possuía amor. Cristina pode não estar mais fisicamente conosco, mas suas lembranças, seu sorriso, sua alegria sempre permanecerão vivas enquanto sua lembrança estiver em nossos corações. Agora, vamos rezar a oração que nosso Senhor nos ensinou: “Pai Nosso que estais no céu...”.

Quando João terminou sua oração não havia uma única pessoa naquela sala que não estivesse chorando ou emocionada. Os amigos de Cristina do jornal davam seu último adeus à amiga e pouco a pouco iam indo embora. Até que sobrou apenas a família e amigos mais próximos. O enterro estava marcado para a parte da tarde, o que ocorreu debaixo de uma chuva fina e constante, do jeito que Cristina gostava.

Depois, aos poucos todos foram embora até sobrar apenas Jorge com o filho, Fernanda, Caio, João e Inês. Eles se despediram um do outro; João ainda rezou mais uma Ave Maria para Fernanda e foi embora não menos emocionado.

Foi quando Jorge falou pela primeira vez depois de muito tempo. E o fez com uma calma assustadora.

- Fernanda, eu quero lhe pedir um favor. – Ele falou depois de abraçá-la.

- Qualquer coisa.

- Encontre esse desgraçado. Encontre-o e mate-o. – Ele falou olhando para Caio.

- Pode deixar Pedro, eu vou encontrá-lo. – Caio falou dando um abraço afetuoso em seu mais novo amigo.

 Após se despedirem, Caio levou Inês para casa. Estava visivelmente preocupado com ela, mas tinha que cuidar de Fernanda. Deixou – a aos cuidados do marido e partiu.

Fernanda mal falou o trajeto todo, olhando para a paisagem que, aos poucos, deixava de ser verde e se tornava a cor cinza característica da cidade. Chorava baixo.

- Amor, eu sei que não é uma boa hora, mas preciso conversar com você.

- O que foi? – Ela perguntou distraída.

- É que eu tenho uma coisa para lhe mostrar. Sei que você não está no clima, mas é muito importante.

- O que é? – Fernanda agora estava olhando para ele. O tempo todo segurava a sua mão.

- Eu sei que o apartamento que você mora foi presente dos seus pais, mas você sabe que lá não é muito seguro.

- É... Eu sei – Ela falou suspirando.

- Então, eu tomei a liberdade de...

- De...

- Bem, de comprar um apartamento pra você! – Caio falou gentilmente sem sorrir, mas carinhoso. – Por favor, sei que você não está no clima, mas me acalmaria sensivelmente se você pensasse com carinho em se mudar para lá.

- Um apartamento? – Fernanda perguntou um pouco mais alegre. – Você comprou um apartamento... Pra mim?

- Bom eu pretendia falar isso com você de forma mais calma, mas me sentiria muito mais seguro se você se mudasse pra lá.

- Eu agradeço amor, de verdade, e se você se sente mais seguro, vou me mudar sim, mas, agora, a única coisa que eu quero é descansar, o dia foi cheio e cansativo, já passa das oito da noite e eu preciso me deitar.

- Claro, claro, por favor, hoje gostaria que você fosse dormir lá em casa. A segurança lá é bem maior.

- Como você quiser.

Fernanda havia gostado do presente, claro! Não é sempre que se recebe um apartamento de presente, mas naquele momento, nada a alegrava, a não ser a presença de Caio. Foi com sincera alegria que aceitou o convite de ir dormir na casa dele. Sempre que ia lá, sentia-se bem e não podia deixar de concordar, lá era muito mais seguro.

Até aquele momento não pensou em mais nada que não fosse Cristina, agora, com as coisas mais calmas, sabia que Caio tinha razão. Cristina morreu porque estava investigando um traficante barra pesada que havia jurado vingança no momento em que foi preso. Ela não podia se dar ao luxo de sair por ai como se nada tivesse acontecido.

Eles passaram no apartamento dela primeiro. Ela fez uma pequena mala colocando algumas roupas que iria precisar produtos de higiene pessoal e depois de mais ou menos uma hora partiram para a casa de Caio. Assim que chegaram, os seguranças reforçaram a vigia do portão da frente, da casa propriamente dita e dos fundos da propriedade.

Maria preparou um chá quente de camomila pra Fernanda com duas gotas de calmante. A mistura logo fez efeito e ela adormeceu no colo de Caio. Delicadamente, ele a colocou em sua cama a cobriu e deitou ao seu lado. Naquele dia ela sonhou com Cristina. Ela estava sorrindo em paz.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo para vocês... Aproveitem.

Beijos!

^.^



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