Além Da Guerra escrita por Shin Damian


Capítulo 3
Capítulo 3




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.:Yahiko:.

Eu sabia como ele estava se sentindo. Tentar falar com Konan sobre isso só me fez ver que eu me preocupava seriamente com Nagato, mas só ele não via isso. Só estava me relacionando com a garota por desejo, afinal, nunca haviam mulheres tão atraentes no quartel e eu queria saber como era... de fato ser um homem, fazer o que os homens faziam... mas aquilo me deixava tão péssimo, que comecei a pensar se valia a pena acabar com o único laço verdadeiro que consegui.

Sentir que a cada dia o ruivo se afastava mais de mim, era doloroso. Se isso fosse acontecer aqui, seria mais fácil voltar para o exército. Dessa vez, há quase dois dias que não o vemos... e quando digo isso, é mais preocupante que parece.

Sumir por meia hora sem demonstrar sinal de vida e sem aviso prévio podia significar que a pessoa estava morta e eu não aguentaria perder o Nagato. A azulada caminhava de um lado a outro pela casa, ligava para o celular, pro rádio, mas nada acontecia, tudo o que se ouvia eram sons estranhos. Chiados.

— Yahiko, ele não atende, estou preocupada.

— Você? – Falei sarcástico.- Não ficou quando falei que ele estava mal por nós dois estarmos saindo...

— O que quer dizer? Que eu deveria ter aberto mão de conhecer você melhor por causa dele? Nagato não sente nada por ninguém.

— Engraçado... ele sentiu minha falta.- foi só falando isso que me dei conta de que estávamos novamente discutindo por isso.

Desde a primeira noite, quando não tinha experiência no que fazia, tive ciência que não era ela quem eu imaginava ali... só o medo de admitir isso impediu que falasse que quem eu queria que estivesse me amando era... o ruivo.

Levantei do sofá e peguei a chaves da moto. Troquei de roupa, vestindo a farda e peguei o fuzil que tanto lutei pra nunca usar. Saí e fui pra garagem, pegando a moto que ele me deu e fui na direção que senti que era pra ir.

O ar puro dessa região era gélido... por isso, o cheiro demora a se espalhar, mas eu reconhecia aquele. O eucalipto logo mudava... as árvores lindas se tornavam negras e o céu azul mudava pra cinza em uma nuvem de poeira.

O cheiro de medo tão próximo de onde estávamos... ao mesmo que ninguém percebia... porque talvez não tenham mais o que tenho... esperança. Nagato é a minha esperança. A explosão era abafada e o tremor não era perceptível. A ansiedade e o desespero começavam aí.

Acelerei a moto e liguei o celular, tentando saber onde o ruivo estava, no entanto, quando atendeu, tudo o que ouvi foram os sons dos tiros. Se isso me afligia? Fiquei maluco. Joguei aquela coisa longe e fui em direção ao cheiro de queimado.

A cidade mais próxima estava devastada... fica há cinquenta quilômetros do vilarejo que estávamos, mas daria para a notícia chegar. Em menos de vinte minutos estava lá... vendo os tanques dos dois exércitos travando uma batalha territorial.

A essa hora não me importa mais quem vence ou quem perde... tudo o que quero é encontrar o meu ruivo e ir embora dali. Parei a moto e tentei ver onde as coisas estavam localizadas, mas as granadas e os tiros de tanque me fizeram correr mais rápido possível pra algum lugar.

Talvez tenha sido bom. Pude encontrar o pessoal que trocava tiros e também pude ver onde quem eu procurava estava escondido. Entre os prédios destruídos, em um beco. Eles estavam tão absortos em se matarem, que ao menos perceberam minha presença ali.

Peguei o fuzil e mirei no homem que ia surpreender o que eu estava tentando proteger. Quando montou a mira, atirei. O silenciador enfim deu certo, mas não era com a minha arma que estava preocupado, mas sim com os aviões sobre nós, preparados pra soltar as bombas.

Na moto, fui até perto do ruivo, que ainda me olha com certa raiva, mas não poderia ficar ali. Subiu na garupa e foi atirando nos norte coreanos que ainda faziam arruaça. Senti uma fisgada na perna, mas segui em frente.

Segui por mais vinte quilômetros e parei em restaurante que está em perfeitas condições, porém fechado. Os destroços do prédio ao lado caíram ao seu redor e isso deve ter assustado demais os donos.

Antes que eu pudesse me levantar, senti uma dor enorme em minha perna, foi quando percebi que Nagato mexia ali com uma pinça. Arrancou uma bala enorme dali e estancou a ferida com as bandagens de dentro de sua mochila. Ele pretendia mesmo fugir.

— Ainda se preocupa comigo? – perguntou.

— Não iria atrás de você... nas duas vezes se não o fizesse... – sorri.

— Baka! Foi arriscado.- ajudou-me a descer e entregou-me a arma, carregando apenas a mochila com a dele.

— Nagato, me perdoe.- falei e paramos imediatamente.

— Não há o que perdoar. Foi simples... quem deveria pedir desculpas sou eu.

— Não, você não tem. Eu fui um idiota, eu... acabei me ligando a você de uma forma que nem mesmo entendi. O que eu podia fazer, não é? Mas eu queria saber como era fazer... o que os outros soldados sempre falaram que era ser um homem.

— Achou legal?

— Não era com quem eu queria. Mesmo com a guerra, isso ainda pode ser visto como estranho, mas eu quero você. Você é a pessoa mais importante na minha vida, Nagato, não duvide disso.- se era isso que ele queria ouvir, não sei, mas era um pouco do que eu queria dizer. Seus olhos ainda duvidavam da minha palavra, mas o que meu coração me mandou fazer, foi a prova final do que precisava.

Sem pensar duas vezes, aproveitei a chance que tive. Vendo-o com a cabeça erguida, roubei-lhe um beijo. Não um selinho, mas um beijo de verdade. Sua boca é pequena, difícil de se explorar, no entanto, é viciante e a batalha de nossas línguas, é a única que ainda faço questão de travar.

— Baka...- sussurrou com as bochechas vermelhas. Tentei pegar mais um beijo, mas evitou que isso acontecesse.- Vamos... pode ser perigoso ficar aqui fora.

— Verdade.

Querer mudar o assunto na parte boa... tudo bem, precisamos mesmo nos abrigar. Mesmo que as bombas estejam um pouco longe, ainda é possível que alguma caia por aqui. Entramos no restaurante e fomos pra adega, que é no subterrâneo.

Ele pegou uma garrafa de vinagre e quebrou, passando o líquido sobre meu ferimento. Aquilo deu uma dor insuportável, mas ele parecia tão calmo. Fitei-lhe e recebi um olhar tranquilo e um inacreditável sorriso, que me deixou corado.

— Nagato, se sairmos dessa guerra vivos... não quero me separar de você.- mexi em seus cabelos enquanto refaz o curativo.

— E a Konan?

— Se eu a quisesse, teria feito a proposta pra ela, não acha? – fez que sim com a cabeça e sentou ao meu lado. – Quero te beijar de novo.

Seu olhar era como se consentisse, mas queria ouvir sua resposta. Estávamos em um lugar estranhamente limpo, cheio de garrafas de vinho e prateleiras apenas. Os tremores de cima nem nos afetava ali... porque é concreto que as paredes são feitas.

Surpreendendo-me, sentou-se entre minhas pernas, de frente pra mim. Enlacei sua cintura e ele meu pescoço. Se nossa vida fosse acabar, pelo menos que acabasse com nós dois juntos. Tentei fazer aquilo ser o sentimento mais bonito de sua existência e era.

Podemos estar errados... podemos estar esquecendo do que acontece lá fora, podemos estar nos deligando do mundo, mas estamos nos ligando um ao outro e isso é o que mais nos interessava. No fim das contas... o garoto que nunca sentia dor, aquele que não sorria, que tinha medo de falar, mostrou-me seu lado sensível. Mostrou-me que sabe amar.

..:..

Povs Off

..:..

Talvez mesmo aquele fosse o momento mais mágico na vida de Nagato, aquele também, podia ser o único momento em que teve com quem o amava em seus braços de uma maneira que nunca imaginou ser possível, mas uma coisa era certa. Foi a única, primeira e última vez que, em vida, o garoto de olhos misteriosos pôde dizer que amou alguém.

Naquele dia, no fim da tarde, uma bomba caiu exatamente onde os dois estavam, explodindo em um raio de trinta quilômetros, formando uma nuvem vermelha alaranjada que pôde ser vista por quase toda a região.

Após um acordo de paz assinado depois de dez anos de guerra, as batalhas enfim terminaram, fazendo com que as terras do Japão e Coréia do Norte voltassem a ter paz, mesmo que após uma destruição incomparável.

Konan conseguira sobreviver aos ataques e anos depois acionou uma busca por seus antigos companheiros de equipe.

Os corpos de Yahiko e Nagato foram encontrados de mãos dadas naquele mesmo local, anos depois... mas uma coisa era certa, quando morreram, naquele dia, a última expressão que tiveram um do outro, foi um sorriso e o sentimento, era que ainda, de alguma maneira, permaneceriam juntos... dessa vez, pela eternidade.

~The end~

Lembre-se de mim...

Onde nós ficaremos

Quando todas as luzes se apagarem

Em todas as ruas da cidade

Onde você estava quando

Todos os ambares caíram?

Eu ainda me lembro de lá

Coberto em cinzas, coberto em vidro

Coberto em todos meus amigos

Eu ainda penso nas bombas que eles construíram

Se existe um lugar que eu possa estar

Então eu seria mais uma memória

Posso ser a única esperança pra você?

Pois você é a única esperança pra mim

E se acharmos um lugar ao qual pertencemos

Nós faremos isso sozinhos

Enfrentar toda a dor e melhorar

Pois você é a única esperança pra mim

E só você

Como você estaria

Muito como depois do desastre que vimos

O que aprendemos

Sobre todas as pessoas queimando na chama purificadora

Eu digo que está okay

Eu sei que você pode notar

E embora você possa me ver sorrir

Eu ainda penso nas armas que eles vendem

Se existe um lugar que eu possa estar

Então eu seria mais uma memória

Posso ser a única esperança pra você?

Pois a única esperança pra mim é você

E se acharmos um lugar ao qual pertencemos

Nós faremos isso sozinhos

Enfrentar toda a dor e melhorar

Pois você é a única esperança pra mim

E só você

A única esperança pra mim

É você, a única esperança pra mim

É você a única esperança

Se existe um lugar que eu possa estar

Então eu seria mais uma memória

Posso ser a única esperança pra você?

Pois a única esperança pra mim é você

E se acharmos um lugar ao qual pertencemos

Nós faremos isso sozinhos

Enfrentar toda a dor e melhorar

Pois você é a única esperança pra mim

E só você

A única esperança para mim é você... e só você

Apenas...

Lembre-se de mim...


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Notas finais do capítulo

Música: The only hope for me is you - My Chemical Romance

Espero que tenham gostado *-*
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