Além Da Guerra escrita por Shin Damian


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

É uma fic pequena, mas que dividi em 3 capítulos, espero que gostem.



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.: Yahiko :.

Hoje faz exatos 20 dias em que aquele inferno havia começado. A terceira guerra mundial havia estourado em ameaças, no entanto, as confirmações logo vieram à tona. A Coréia do Norte tinha um armamento muito poderoso e com certeza um exército muito bem treinado, tanto, que nem ao menos percebemos que a invasão já havia acontecido e eles estavam entre nós. Não sabíamos quem era de fato aliado ou inimigo.

O campo de refugiados já estava superlotado e a cada dia, mais e mais feridos chegavam, uns com vida, outros esperando ter o último suspiro em terras confiáveis. Sinceramente, nunca em minha vida pensei ser necessário o uso do treinamento de guerra aprendido no quartel, mas agora vejo que foi realmente bom ter prestado atenção.

Os agentes pacificadores, todos os dias tentavam uma aproximação e um acordo, no entanto, era como lutar contra inimigos invisíveis. Nesse exato momento, fiquei encarregado de cuidar para que o grupo atingido em Tóquio chegasse em segurança nos campos de Yokohama.

— Vamos! É por aqui! – Comentei com o soldado ao meu lado, que parecia um tanto perdido. – Isso! Vamos!

Preocupação? É claro que estava presente. Não apenas nessa região havia coreanos, mas também norte americanos semana passada. Nunca pensei que a situação vivida por meus avós poderia se repetir um dia... no entanto...

Tzuuuum! ( Onomatopeia tosca!)

... Estava acontecendo.

Ouvi o míssil cortar o céu como antes faziam os aviões. Em pouco tempo, havia uma nuvem vermelha alaranjada ao fundo, bem longe. A distração que isso causou, fora logo compensada pelo tanque que nos esperava e nos levaria para o primeiro acampamento.

.:.

A conversa dos sobreviventes era animadora. Os mais novos pareciam nutrir o desejo de recomeçar a vida em um lugar onde havia paz, no entanto, os mais idosos mantinha o olhar sofrido, além da dor de ferimentos físicos e psicológicos, a dor da perda de parentes e amigos, além da casa que tanto lutaram pra conseguir.

Tentei olhar para todos eles com um olhar diferente do de pena, no entanto, isso me corta o coração. Superei a perda dos meus pais há muitos anos, mas ainda sinto dor ao lembrar do sorriso deles. Perdi minha casa na guerra e perdi também a vontade própria. Agora vivo apenas para servir e ajudar.

Quando chegamos em Yokohama, já era noite. Cochilei pensando em tudo o que aconteceu, mas logo tive que fazer a contagem. Um dos garotos formava um caminho de sangue por onde passava e eu não havia percebido isso.

— Você... – Chamei, tocando seu ombro. – Não saia ainda, sente-se.

— Hai... – voltou ao lugar onde estava e continuei a contagem até o último sair, depois levei o garoto para a enfermaria.

Coloquei-lhe na maca e esperei que o médico chegasse para examiná-lo. Infelizmente, possui um ferimento grave e não poderia fazer esforço por quase quinze dias. Uma bala 12 milímetros era o motivo do sangue.

Pobre garoto! Deve sentir uma dor insuportável pelo tempo que aquilo está em seu corpo. Não entendo como não urrou de dor quando mexeram no buraco. De fato, muito interessante sua resistência... muito interessante mesmo.

Seu porte físico é de alguém que esteve muito doente, raquítico e pálido. Seus cabelos ruivos, muito puxado para o tom vermelho, diferente do meu ruivo alaranjado, mostram que sua descendência é única. Com certeza de Uzumaki, aquele tom de vermelho é único deles.

— Resistiu bem à dor, garoto.

— Hunm... – Fez ao baixar mais o rosto, fitando realmente o chão. – A verdade é que essa dor não me incomoda.

— Incrível. Já vi soldados urrarem e implorarem anestesia. Perfurou sua panturrilha e você nem ao mesmo mancou.

— Já disse... essa dor não me incomoda. – comentou baixinho. Escutei um barulho abafado e logo o fitei.

— Está com fome, não é? – fez que sim com a cabeça. Virei-me abaixei um pouco. – Suba. Levarei você até uma tenda e levarei algo para comer.

— Não. Posso e vou sozinho.- falou, levantando-se.

— Não faça isso. –Voltei a encará-lo e o peguei no colo. –Seus ferimentos estão recentes, vai acabar com os pontos, garoto.

— Faça o que quiser então. Eu posso ir sozinho.

Não adiantaria o que falasse, eu quero e vou leva-lo para que não se machuque mais. Caminhei pra fora da tenda médica e fui até o comandante do batalhão, Jiraya. O homem de quase dois metros e uma expressão séria, porém, é um sujeito agradável e brincalhão na maioria das vezes. Hoje está apreensivo. Fiz uma reverência e ele olhou para mim e o garoto.

— Mais um refugiado? As barracas estão todas ocupadas. – comentou meio preocupado. – As dos comandantes estão se enchendo também. O que fará?

— Sem problemas... se esse é o caso, levarei pra minha. Ainda há espaço por lá.

— Decisão sábia, capitão. – Fizemos reverência e levei o ruivo para lá. Levei-lhe comida e água, sentando bem próximo.

Está tremendo tanto e come com tanta vontade que me fez ver que estava mesmo passando fome. Aquele garoto tem um rosto sem expressão e o fato de eu não poder ver seus olhos, me irrita um tanto. Não sei o que sente, não sei o que quer dizer e nem sei se confia em mim.

— Meu nome é Yahiko. – comentei, mas não falou nada, apenas bebericou a água e voltou a comer. – Qual seu nome?

— Nagato. – respondeu seco.

— Por que cobre o rosto, Nagato?

— Porque não há motivo para que eu o mostre. – seu tom fora sério e triste. – Está tentando ser gentil, mas não precisa disso. Estamos em uma guerra, gentilezas geram golpes traiçoeiros.

— O que sabe sobre a guerra? – fiquei curioso.

— Sei que você nunca viu um parente seu morrer agonizando enquanto você foi covarde demais pra não conseguir protege-los. Por isso tem esse sorriso no rosto.

— Não me conhece.

— Nem você a mim. Seria melhor que não o fizesse.- acabou de comer e guardou o pão que era servido dentro de uma mochila surrada.

— Por que guarda isso? Tem muito aqui. – entreguei o meu. – Vamos, coma, está magro demais.

— Hunf! – rosnou e saiu da tenda.

Talvez eu esteja sendo rude demais tentando ser gentil. Tirei a louça suja dali e fui procura-lo. Não seria tão difícil acha-lo, isso nem ao menos demorou. As tendas e barracas estão montadas em alinhamento, encontrar um homem de cabelos vermelho fogo é bem simples em meio ao verde musgo de toda a parte.

Os oficiais mais graduados entrevistavam os refugiados e tiravam informações preciosas. A grande parte das pessoas aqui é idosa e criança, por conta do alistamento recente, quase nenhum adulto ou adolescente ficou em casa.

Ouvi os latidos felizes da cadela da corporação e logo percebi o motivo. Lá estava ele, sentado em um tronco, brincando com a mesma e um dos cãezinhos. Seu sorriso é tímido, mas está presente. Sorri também ao vê-lo fazer isso.

Aproximei-me e sentei-me ao seu lado, fazendo-o secar as lágrimas e soltar o filhotinho. Sorri ao pensar que seu ato era nervosismo. Limpei o farelo de pão de seu rosto e vi um leve rubor se formar.

— Desculpa por falar da sua aparência... realmente não te conheço, fui rude. Não sei sua situação.

— Tudo bem.

— Quero ser seu amigo. – admiti. – Achei você interessante. –virou o rosto pra mim, mas não falou nada. – Posso ver seu rosto?

— Iie. – voltou a fitar os cães. – Se quer ser meu amigo, respeite isso.

— Desculpa. Novamente fui rude. – toquei sua pele com as costas de minha mão e percebi o quanto está quente. Afastou-se um pouco e percebi que o ato que geralmente é carinhoso, foi quase um insulto. – O que foi?

— Isso é estranho. – Respirou fundo. – Desculpa.- voltou a se aproximar. – Não estou habituado a isso de outras pessoas.

— Está com febre, era isso que eu queria ver. – tirei o casaco e coloquei em suas costas. – Vamos pra tenda, você deve dormir.

...

Dormir? O garoto apagou como uma pedra. Fiquei ao seu lado enquanto ressonava. Parece que não dormia há dias, já que na região que eu o encontrei, as bombas ainda caíam como chuva.

Ele parece ser uma boa pessoa. Nagato é ruivo, de pele muito branca, o que me deixou curioso pra saber a cor de seus olhos. Azuis, verdes, castanhos, heterocromáticos... não sei, quero ver seu olhar.

Apesar da curiosidade, respeitei seu desejo de que não o fizesse, no entanto... dia após dia minha ânsia de saber mais aumentava... tanto em saber como é de fato seu rosto, quanto pra ver como é seu sorriso sincero.

Tentei me aproximar tantas vezes, que realmente já estava achando chato... eu mesmo me achando um chato, mas agora, parece que tudo deu resultado. Depois de uma semana naquele lugar, chegou a hora de mudar para outro campo.

Alguns refugiados já haviam deixado o batalhão, mas outros decidiram ficar para ajudar e se alistarem. Fazer a contagem é um trabalho maçante e deveras chato. Preferia estar ajudando outros batalhões a trazer pessoas, mas não posso e em breve, muito em breve, estarei de volta ao quartel.

Vi o garoto não mais tão magro, porém ainda igualmente ruivo vir em minha direção com a mochila. A franja ainda tapa seu rosto... e eu ainda não consegui ver seus olhos, agora ele vai embora e nada poderei fazer.

— Hunm... então é isso, já vai...

— É o que pretendo. – respondeu no mesmo tom seco de quando nos conhecemos. Pensei que já tinha parado com isso, mas pelo visto não. Havia alguns dias que me tratou bem, ainda não sorria com meus esforços de fazê-lo rir, mas já me sinto... muito apegado a ele.

— Pensei que consegui te fazer sentir algo... além do nada que sente. – o peso em meu peito queria dizer outra coisa. Queria pedir para que não fosse embora, mas a vida é assim... eu o considero um amigo... amigos deixam o outo decidir o que querem ou não fazer.

— Pensei que tinha te feito entender... que o nada que eu sinto, não é algo que você conheça. Ou que entenda. – tentou sorrir.

— Não force um sorriso. – meu tom agora saiu estranhamente pesado. – Vá... está perdendo tempo comigo.

— Hunm... – parou bem a minha frente, soltando o ar como se fosse uma birra, mas logo em seguida fora embora.

Fiquei acompanhando-o até sua sombra desaparecer no horizonte. Queria que tudo aquilo fosse junto dele, tudo o que estou sentindo, tudo o que eu queria que ele sentisse e o que sua presença, em tão pouco tempo, representou pra mim.

Seus mistérios, seu jeito silencioso e seu sorriso raro. Nagato, por que você foi embora? Por que você saiu e nem ao menos disse meu nome? Por que tive que te deixar ir? Por que estou pensando em você? Por que meu coração dói?

Perguntas e mais perguntas. Talvez isso melhore com o passar do dia... pensamento tolo, apenas piorou. Quando o meio dia chegou e vi todos comendo, lembrei de seu jeito esfomeado e da maneira que estocou tanto pão.

Os generais falavam sobre situações especiais e das novas missões que teríamos, mas não me interessava em nada. Retirei-me dali e fui caminhando para minha tenda, até ser impedido por meu superior, Jiraya.

— Algo errado?- perguntei.

— Pode me tratar como um amigo, Yahiko. Estamos sem fardas. É dia de descanso e mesmo assim, você decidiu trabalhar.

— Talvez eu só queira me distrair.

— Hunf... entendo. Onde está seu amigo? – Nem respondi, porque sei que ele sabe a resposta.- Yahiko, você só está assim porque ele foi embora, ou é apenas impressão minha?

— Não, não é... não queria que ele fosse embora.

— Ele é seu primeiro amigo depois que veio parar no exército, não é?

— Hunm... eu queria que ele fosse meu amigo.

— Por que não vai atrás dele então?

— Porque amigos... deixam um ao outro seguir sua vida. Eu quero servir ao exército ele... não sei nem que cor são seus olhos, o que dirá o que quer...

— Ele confiou em você, Yahiko... talvez só esteja esperando você convencê-lo a ficar.

Não era possível que aquilo fosse verdade. Nagato parecia uma barreira e tudo que eu via nele era isso, uma enorme barreira que impedia que seus sentimentos passassem. Se sou emotivo? Claro que sou. Se sou carinhoso e carente? Sim e muito. Se estou triste com a ausência dele? É claro.

Talvez porque seu mistério seja maior que meu amor pela paz e pelo desejo que essa guerra acabe. Talvez seu mistério seja suficiente pra que eu possa procurar sobre ele. Procurar... procurar o que? Seu passado?

Queria que o dia passasse, mas não passou. Ficar na tenda era chato sabendo que não teria ninguém lá pra compartilhar meus livros. Antes mesmo que eu pudesse ter a esperança de entrar em minha tenda... aquilo tudo começou de novo.

Aqueles sons de estalo... o som de desespero... a revolta entre os demais... havia começado tudo de novo... e eu estava no meio disso. Vi um dos cadetes mais novos ser lançado longe, enquanto minha única reação, fora ficar parado, olhando aquilo tudo.

Os passos corridos, as granadas voando, as armas e um oficial do outro lado, que tinha uma feição conhecida. Vi um objeto pequeno ser lançado em minha direção, mas por azar, ou sorte caiu sobre a tenda e pousou delicadamente no chão.

— Sai daí! – senti alguém puxar minha camisa e me forçar a correr. Correr tão rápido, que tropecei em minhas próprias pernas, tão rápido que nos jogamos atrás da fundação perto da tenda.

O vermelho alaranjado levantava poeira, trazia o calor e a pele dos companheiros. Aquele cheiro de queimado... borracha queimada, corpos queimados, terra queimada... ficarão guardados em minha mente. Meus oficiais... continuaram lutando... e eu, escondido.

Tentei levantar dali, mas havia um peso em meu corpo que me fazia ficar. Alguém me puxava para que acordasse, mas o inferno continuava a acontecer, prender as lágrimas era uma missão difícil, porque tenho medo.

— Não posso chorar... não posso...

— Não deve. – ouvi aquela voz de novo. Não quis olhar pra trás. – Voltei pra tentar te visar, mas já era tarde. – aquelas mãos frias em meu rosto, fazendo-me fita-lo. – Acorda, Yahiko, o mundo não é seguro. Pessoas morrem o tempo inteiro, essa guerra... nunca vai acabar.

— Nagato...- abracei-lhe forte, puxando-o pra baixo. Percebi que segura um fuzil e uma mochila, motivo? Não sei. Também nem sei onde conseguiu aquilo. Não me retribuiu como era esperado, mas atirou na pessoa que se aproximava. Olhei pra trás e vi a bandeira norte coreana presa em seu uniforme.

— É por isso que não queria criar laços com você.- levantou-se. – Vem comigo, Yahiko... aqui você vai acabar morto.

— Minha obrigação é ficar e lutar como um homem... mesmo que isso signifique morrer em batalha.

— Prefere ser um herói morto a vir comigo? É por isso que não gosto de pessoas...- disse em um tom raivoso, um que me fez ver parte da dor que o incomodava. E foi aí... e foi exatamente aí que percebi, que Nagato tem mesmo um histórico triste que tenta esconder.

Levantei bem rápido e dessa vez, não deixei que fosse embora sozinho. Mesmo que não falasse nada, a trilha que as lágrimas formaram em sua pele era nítida. Nítida demais pra quem não se importa com a dor.

— Pra onde vamos?

— Apenas vamos... vai ver quando chegarmos.- passamos por um buraco na grade que cercava o campo e logo vi uma motocicleta. Aquilo era tecnologia do exército. Como possui um desses? – Eu piloto, você atira.- entregou-me a arma.

— Atirar?

— Não quer que eu faça as duas coisas, ou quer?

— Não, desculpa, idiotice minha.

— Tsc!- fez em rosnado. Não entendi muito bem o motivo de fazer isso, mas voltou pra me buscar e isso foi arriscado.

Subimos naquele veículo e fui de costas, segurando o fuzil. A velocidade que vai, deixou-me assustado, principalmente por eu não saber se ele tinha ou não uma noção exata do que fazia. Com tantas voltas e tantos solavancos, não admirava em nada que no final disso tudo um de nós estivesse novamente com os ferimentos abertos.

Parou apenas quando chegou na cidade e graças a um milagre, não precisei usar essa arma com mais ninguém. Descemos em frente a um prédio onde a cobertura fora completamente destruída. As paredes pareciam pichadas e a aparência era abandonada. Pelo menos por fora era o que parecia.

— Que lugar é esse? – perguntei idiotamente, ao saber que talvez ali que passaríamos a noite.

— Esse é o meu campo de refugiados.


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