Don't Let Go escrita por luud-chan


Capítulo 1
Capítulo Único: Não deixe que vá.


Notas iniciais do capítulo

Mais uma oneshot GruVia para vocês! Eu tinha começado a escrevê-la faz um tempo, mas só agora consegui terminá-la.

Deu um trabalhinho hein, rs. Espero que gostem!

Dedicada a Izabela Karina, minha planta linda! ♥

Boa leitura!



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Don’t let go



Meu coração estava batendo fortemente contra minhas costelas e eu podia sentir aquele gosto amargo da angústia subindo pela minha garganta fazendo-a se apertar dolorosamente. Estaria mentindo se simplesmente dissesse que nunca me senti assim. Porém dessa vez, era muito pior.

Eu o encarei novamente de forma receosa e tive vontade de desviar o olhar, mas não o fiz. Sabia que não demoraria muito para que meus olhos começassem a se encher de lágrimas, eu não queria que ele me visse chorando e ainda assim sustentei seu olhar inexpressivo.

— O que você acha? — Gray voltou a perguntar me olhando com aparente tranquilidade.

— Bem, eu... — hesitei, e forcei as palavras que eu realmente queria dizer garganta abaixo enquanto tentava respirar normalmente — Acho que seria bom pra você, se é o que você realmente quer — respondi segurando as lágrimas com sucesso — Afinal, você sempre sonhou em ser médico. E o que pode ser melhor do que ir pra melhor faculdade de medicina do mundo? — acrescentei com um sorriso.

— Eu realmente queria sua opinião. Mas não sei se vou dar conta — ele voltou a dizer com a voz mais baixa me fitando intensamente. Encarei-o sem entender.

— Dar conta de entrar? Não seja bobo, é claro que você vai conseguir. Afinal, você é muito inteligente.

Encorajei-o enquanto meu subconsciente gritava “burra, burra”.

— Não é disso que estou falando Juvia. Ainda mais que não basta ser apenas inteligente para entrar...

— Então é sobre o quê? — retruquei de volta sem realmente entender.

— Estou falando sobre não saber se darei conta de ficar longe de você.

Não pude conter um sorriso, dessa vez, de verdade. Uma lágrima quase escapou. Quase.

— Claro que vai Gray — o meu namorado me olhou de forma inquisitória, ele estava duvidando das minhas palavras. E para reforçar, continuei: — Esse é o seu sonho, é claro que você vai conseguir. Não deve ficar preso a mim.

Por mais que eu queira que você fique”, pensei, mas eu seria incapaz de pedir algo assim a ele.

— De qualquer forma, tenho que esperar a seleção. Se eu tiver sorte, com certeza me escolherão!

E lá estava ele, sorrindo novamente ao seu jeito, não pude deixar de sorrir em vê-lo tão feliz com a expectativa de ir fazer faculdade fora.

Iniciamos uma longa conversa sobre o assunto. Gray falava sobre praticamente tudo que ele já sabia sobre a faculdade enquanto eu ouvia atentamente, eu estava prestando atenção, mas meus pensamentos iam por um caminho muito mais doloroso. Teve um instante que divaguei por tempo demais e ele percebeu.

— Está tudo bem? — perguntou parecendo preocupado.

— Claro, porquê não estaria? — rebati, disfarçando meu desconforto.

Gray ficou em silêncio por um instante antes de voltar a falar.

— Vem comigo — pediu, segurando uma de minhas mãos e colocando em seu rosto macio e masculino, apreciei a textura de sua pele e acariciei levemente fazendo círculos com meu polegar em suas bochechas.

— É um sonho alto demais para mim — limitei-me a dizer com a mão ainda em seu rosto, continuei a falar assim que vi que ele iria dizer algo para tentar me convencer: — E minha mãe não quer me deixar ir fazer faculdade em outra cidade, imagina em outro país.

Ele riu um pouco e pareceu desistir. Voltamos a conversar normalmente como se nada tivesse acontecido. Percebi que aos poucos, o café em que estávamos começava a encher cada vez mais, olhei para o céu através da janela perto de onde eu e Gray estávamos sentados. Estava anoitecendo, eu precisava ir para casa.

— Tenho que ir para casa — murmurei quando ele parou para respirar no meio de seu falatório. — Está ficando tarde.

— Ah, claro — concordou com um aceno de cabeça e se levantou da cadeira. — Eu te levo.

— Obrigada — agradeci e logo pagamos a conta para ir embora.

O café ficava muito perto da minha casa, por isso a caminhada foi rápida e silenciosa. Andamos até minha casa de mãos dadas apenas curtindo o ar fresco da noite. Assim que chegamos à porta da minha casa, Gray se despediu de mim com um abraço apertado e um leve beijo nos lábios, para depois partir caminhando tranquilamente entre as vielas iluminadas.

Soltei um suspiro e entrei em casa. De repente, todas aquelas emoções e sensações voltaram de uma vez só. Corri para o quarto e me joguei na cama com as luzes ainda apagadas e enfiei o rosto no travesseiro deixando que as lágrimas — que eu tanto tinha lutado para segurar — se derramarem salgadas enquanto eu sentia meu coração apertar mais uma vez.

O rapaz que eu amava iria para outro país e ficaria fora por seis anos. Sim, não era o fim do mundo, mas ainda assim era muito doloroso. Por mais que digam que para o amor não existe fronteiras, um relacionamento à distância seria complicado e seis anos é simplesmente muito tempo. Além disso, há garotas muito belas para onde ele vai. E não conversamos como nós dois vamos ficar.

Pensar nisso era tão doloroso, tão devastador. E se ele terminasse comigo? Eu realmente não estava pronta para isso. Como estar pronta para deixar a pessoa que você ama ir?

J&G

Passou uma semana. Uma semana desde que Gray disse que iria fazer faculdade fora. E uma semana que ele não liga ou dá notícia alguma. Estou me sentindo horrível. Estou me sentindo abandonada, esquecida. Eu não consigo me lembrar quantas vezes eu já chorei essa semana.

Mas meu estômago lembra. Eu nunca comi tanto na minha vida.

E pior que isso, era esperar que cada ligação fosse dele, e quando eu atendesse, não era. Isso me deixava muito decepcionada. Eu admito que estava sendo orgulhosa, era eu a pessoa que sempre ligava, que parecia se importar, pelo menos por uma vez eu gostaria que ele ligasse, que Gray mostrasse que se importava com nós — se é que isso ainda existia—, que ligasse e me falasse de forma apaixonada que me amava, que não me deixaria, que não importava o que acontecesse, não importava a distância, que nada nos separaria.

Mas não ligou.

Durante uma semana inteira, não saberia dizer se ele estava vivo ou morto. E ele não parecia se importar sobre mim.

E eu deixei que as coisas ficassem assim. Sentia que passaria por cima de tudo que sou se eu simplesmente ligasse.

E não toquei no telefone para fazer uma ligação para Gray durante uma semana inteira.

J&G

Sofrer em silêncio é uma das piores coisas que pode existir.

Eu odeio ter que fingir que estou feliz, quando na verdade não estou. Todos os dias eu minto para mim mesma, dizendo que tudo irá ficar bem, que tudo dará certo, mas eu sei que nada disso vai acontecer. Eu ando esperando o pior.

Era uma típica segunda feira e estava aproveitando o frio da manhã tomando uma xícara de café enquanto assistia o canal de desenhos. Era um hobby adquirido desde a infância e que não tinha sido deixado para trás. Assistir desenhos me distraia o suficiente para que eu conseguisse sorrir.

De repente, o celular começou a tocar. Congelei no mesmo instante. Meu coração começou a bater descompassado — como todas as vezes que alguém ligava — e tremi levemente. Olhei para o celular em cima da mesa e só depois de alguns segundos, me movi para pegá-lo. Para minha surpresa, era Gray.

Atendi tentando ficar calma, tentando fazer com que meu coração parasse de martelar tão forte, que o sentia na garganta.

— Alô.

— Oi Juvia! Como você está?

Engoli em seco. Que filho da puta! Ele passa uma semana inteira sem ligar e quando liga age como se nada tivesse acontecido?! Tentei engolir toda a minha acidez antes de responder:

— Eu estou bem, e você? Quanto tempo, não é? — alfinetei, sem conseguir conter meu ressentimento.

— Eu estou bem. Er... Desculpe por não ter ligado, é que eu estava muito ocupado. Com uns problemas... — murmurou.

Fiquei em silêncio por um instante, tentando segurar todo o meu rancor pelo fato dele ter me esquecido, como se eu não fosse importante, como se eu não fizesse mais parte da vida dele. Não pude evitar pensar no fato de que, se ele já faz isso ainda aqui, imagina quando for embora.

— Tão ocupado para não mandar ao menos uma mensagem? Apenas para dizer “estou vivo”? — perguntei retoricamente, falhando na tarefa de não mostrar o ressentimento.

Dessa vez foi Gray que ficou em silêncio. Nós dois ficamos em silêncio, tanto que eu podia ouvir o barulho do vento do outro lado da linha. O clima ficou tenso e nenhum de nós dizia uma palavra sequer.

— Olha Juvia... — começou, depois de um longo minuto em silêncio — Eu realmente sinto muito por isso. Prometo que não irá mais acontecer! — finalizou, parecendo sincero.

— Hum — murmurei de má vontade, ainda magoada. — Você quer me falar alguma coisa?

— Ah! É mesmo! — exclamou, parecendo se lembrar de algo. — O que você acha de darmos um passeio e fazer um piquenique?

— Parece bom.

— Posso passar pra te pegar daqui à uma hora?

— Claro, estarei esperando.

Okay, até daqui a pouco. Amo você.

— Também amo você.

Desligou.

Fiquei no mínimo uns dois minutos olhando para o celular antes de levantar para me arrumar.

Ainda estava profundamente magoada e ressentida com Gray. Claro que fiquei um pouco mais alegre quando ele pediu desculpas e prometeu que não iria acontecer mais. Só que eu sabia que iria acontecer novamente, algo me dizia isso. Intuição feminina? Provavelmente. Assim como eu sabia que ele iria ser aprovado no programa que leva jovens para fazer faculdade fora do país, e por isso, eu queria fazer com que nossos últimos meses juntos, fossem os melhores.

Tentei parar de pensar um pouco nisso e corri para o quarto para me arrumar.

J&G

Já estávamos dentro do metrô indo para o parque mais famoso de Magnólia. Gray adormecera segurando minha mão entre as suas e de tempos em tempos sua cabeça pendia sobre meu ombro enquanto uma quantia considerável de baba ameaçava cair de sua boca. Ri um pouco com isso.

Não pude deixar de admirá-lo. Gray era simplesmente lindo. Olhando-o naquele momento, eu conseguia me recordar de todos os motivos pelo qual eu me apaixonei perdidamente. Era um pouco estranho lembrar que foi ele que se apaixonou primeiro por mim, e não ao contrário. Porque hoje, eu o amava muito mais do que ele me amava.

Uma tristeza agridoce apoderou-se de mim. Eu tinha todos os motivos para pedir que ele não fosse, para pedir que Gray ficasse comigo. Eu não queria vê-lo partir.

Nunca.

Senti o aperto na minha mãe intensificar e vi que meu namorado tinha acordado. E de brinde, um belo sorriso.

E foi vendo aquele sorriso, que tive a certeza que eu não poderia viver sem ele. Sem meu Gray.

— O que foi? Você está ai me encarando... Tem algo no meu rosto? — perguntou, passando a mão livre no rosto.

— Só baba! — falei rindo e em seguida o ajudando a limpar. — Você dormiu praticamente o caminho inteiro, realmente parece cansado — comentei tentando parecer casual.

— Ah! Andei estudando até tarde — respondeu.

— Vamos! É a nossa parada! — chamei, segurando minha bolsa e correndo para a saída.

— Estou indo! — disse, pegando nossa cesta de piquenique.

Passar o dia com Gray me fez esquecer do quanto eu estava magoada. E mais do que isso, me fez sentir amada e especial. Ele pareceu fazer questão de mostrar, o quão eu era importante em sua vida. E isso me fez feliz. Muito feliz para dizer a verdade. O suficiente para esquecer que ele iria embora. O que não durou muito tempo.

— Para você! — Gray disse de repente, estendendo uma rosa para mim, que sabe de onde ele tirou.

— Oh! — exclamei, surpresa — Que lindo! Onde você arrumou isso? Sério! Eu não tinha visto, que horas você arrumou? — perguntei, sem esperar pelas respostas.

— Quantas perguntas! Você não pode apenas aceitar? — indagou, rindo um pouco da minha reação.

— Tudo bem! Dessa vez vou deixar passar! — murmurei.

Fiquei alguns minutos apreciando meu presente, uma linda rosa vermelha. Era linda! Aconcheguei-me mais no peito do meu namorado, sem soltar a flor. Senti-o apertar os braços em minha volta com um pouco mais de força, me deixei relaxar e fechei os olhos. Quando estava quase adormecendo, Gray me chamou.

— Juvia?

— Hum? — murmurei de volta, soando mais um ronronado.

— Eu preciso te dizer uma coisa.

Notei como o tom de sua voz expressava seriedade e fiquei tensa no mesmo instante. Engoli em seco.

Eu sabia o que era.

Desvencilhei-me de seu meio abraço e sentei de frente para Gray, encarei seus olhos negros e com toda minha coragem, pronunciei:

— O que é?

— Eu fui aceito no programa!

Não tinha notado que tinha prendido a respiração até aquele momento. Soltei de uma vez só e fiz um esforço brutal para não chorar. Ao invés disso, abri meu melhor sorriso e disse:

— Nós dois sabíamos que isso aconteceria. Eu disse que você ia ser aceito, você é um ótimo aluno!

— Obrigado por me apoiar. Por isso que amo você.

— Eu também amo você — murmurei de volta, quando Gray me puxou para um abraço apertado.

Nem preciso dizer que nessa mesma noite, eu chorei mais do que tinha chorado a semana inteira.

J&G

Há coisas na vida que não estão em nosso alcance. Coisas que não adianta lutarmos contra, porque irá acontecer do jeito que foi feito para acontecer. Não podia evitar de pensar, que talvez a minha relação com Gray fosse uma dessas coisas. Nós fomos felizes por três longos anos, mesmo com os altos e baixos e com a estupidez dele, seguimos em frente. E talvez, só talvez, esse era o sinal que não era nosso destino ficarmos juntos.

Dizem que o amor vencem todas as barreiras, inclusive a distância. Seria fácil se tudo fosse tão simples. Mas é tudo mais complicado do que isso. Amor precisa ser cuidado e cultivado todos os dias, precisa de carinho, de contato, e isso é uma coisa que a distância te impede de fazer.

Ainda tem a saudade. Um sentimento controverso. Gostoso e doloroso. Tudo ao mesmo tempo. Simplesmente eram coisas demais! Só que eu ainda gostaria de tentar, eu não poderia deixar Gray simplesmente ir. Ele é o amor da minha vida!

A campainha tocou, e em seguida ouvi os gritos de Meredy me mandando abrir “a maldita porta”. Sorri com isso e me apressei.

— Olá! — cumprimentei-a.

— Olá nada! O que está acontecendo com você? Olha pra sua cara! — sibilou, me empurrando para o quarto sem um pingo de delicadeza. — Me diz o que está acontecendo!

Joguei-me para cima de Meredy e comecei a chorar como se não houvesse o amanhã. Depois que consegui parar de chorar e limpei meu rosto que estava completamente encharcado, comecei a dizer o que tinha acontecido.

— Oh querida, eu sinto muito por você. Vocês já conversaram sobre... Vocês? — perguntou, hesitante.

— Ainda não, eu estou com tanto medo dessa conversa. Eu sei que as coisas não vão terminar como eu quero. Entendo que não é certo prendê-lo a mim, eu não quero que ele vá, mas não posso dizer isso! Seria tão egoísta da minha parte se eu pedisse para que ele desistisse do seu maior sonho!

— Você tem razão. Você é tão boa Juvia-chan. Se ele realmente amar você, ele vai fazer o possível e o impossível para que tudo continue bem entre vocês. Mas você já sabe o que eu acho.

— Eu sei! Mas eu não sei mais no que devo acreditar! Quando ele diz que me ama, parece tão real, e sei que o amo de verdade, com o fundo do meu coração! E ao mesmo tempo, eu... Eu consigo ver que não é mais como antes. Que as coisas mudaram. O modo que ele me olha mudou tanto, ainda há paixão, mas não é mais como antes... E eu me sinto tão... Tão... — tentei continuar, o soluço preso na minha garganta.

— Não vamos mais falar sobre isso! — decretou com a expressão séria — Olha o que eu trouxe! — disse, mostrando os DVDs do meu shoujo preferido. — Maratona?

— Maratona! — gritei, quase esquecendo completamente a situação atual.

Meredy era minha melhor amiga, e sei que ela faria de tudo para me ver feliz. É nessas horas que agradeço por ter alguém como ela ao meu lado. Eu realmente a amo. E não sei o que faria, se não tivesse ela agora.

J&G

Faz uma semana que não vejo Gray, e estou morrendo de saudades. Apesar de nos falarmos todos os dias pelo telefone, ou até mesmo pelo computador. Só que depois que eu tive a certeza que ele realmente vai embora, isso não era mais o suficiente.

Eu queria estar por perto. Abraçá-lo, cheirá-lo, apertá-lo e beijá-lo, como se o tempo não precisasse passar. Eu já estou sofrendo tanto com o fato dele ter que partir, como vai ser quando ele realmente for? A dor vai ser pior do que essa que estou sentindo agora? Isso é possível?

Eu não sei.

Mas a dor agora já é tão grande. Eu não sei se poderia suportar mais do que isso.

Tudo que eu queria, era que os nossos últimos meses juntos valessem a pena. Queria aproveitar cada segundo, cada minuto e fazer com que todos nossos momentos durassem para sempre, ao menos na nossa memória.

O tempo parecia voar, e ficava cada vez mais difícil ver Gray. Ele estava tão ocupado arrumando as coisas para viajar, que mal tinha tempo para se divertir ou até mesmo para me ver. Nas poucas vezes que nos víamos, aproveitávamos todo tempo que podíamos. Os beijos pareciam mais sedentos, e quando fazíamos amor... Era maravilhoso.

Seria perfeito se não fosse triste.

Nós nunca falávamos sobre o que iria acontecer com nosso relacionamento. E por muito tempo eu preferi que fosse assim, mas não demorei a notar que isso não era a solução. Eu não conseguia ficar feliz quando ele estava longe. Porque a angustia me asfixiava. Toda vez que eu ficava muito tempo sem ao menos escutá-lo, eu chorava.

Estava afundado.

Sozinha.

Será que Gray estava sofrendo tanto quanto eu?

Eu achava que não.

Eu definitivamente não queria isso para minha vida. Eu queria continuar vivendo. E queria ser feliz. Por que parecia que toda a minha felicidade dependia de Gray? Isso não era certo.

Respirei fundo e tomei a melhor decisão no momento: Liguei para Gray e pedi que nos encontrássemos para conversar.

Iriamos nos ver no dia seguinte. O que me restava, era descansar minha mente e ter esperanças para que tudo desse certo.

J&G

Gray estava dez minutos atrasado. E dessa vez, o tempo parecia não passar. Já estava ficando nervosa. Minhas mãos não paravam de suar e minha garganta estava seca como o deserto do Saara.

Suspirei e respirei fundo tentando me acalmar.

— Juvia! — Gray gritou, ainda longe enquanto acenava para mim. Quando se aproximou o suficiente, continuou: — Desculpe pelo atraso, perdi o ônibus — avisou, coçando a cabeça enquanto um sorriso sem graça tomava seus lábios pálidos.

— Tudo bem, foram apenas dez minutos!

— Você parecia séria no telefone. Aconteceu alguma coisa?

— Bem... — hesitei. — É que precisamos conversar.

— Hum... Entendo. Que tal tomarmos um sorvete enquanto conversamos? — sugeriu, e saiu me puxando gentilmente pelo braço, sem ao menos eu responder.

— Tudo bem — respondi — Não é como se você tivesse me dado escolha! — emendei, rolando os olhos.

Gray apenas sorriu, como sempre fazia nessas situações. E tive que reunir toda a minha força, para não desistir daquela conversa doida naquele mesmo instante.

Para nossa sorte, tinha um carrinho de sorvete muito próximo de onde estávamos. Compramos o sorvete e voltamos a nos sentar no banco da praça. Fiquei um pouco tensa e resolvi começar a falar antes que eu desistisse.

— Como você está? — perguntei, tentando soar casual.

— Cansado, arrumar todos os documentos está sendo trabalhoso. E você?

— Bem... — murmurei.

— Sobre o que você queria falar? — indagou, me encarando de forma profunda.

— Sobre nós. Eu não quero mais mentir para mim mesma, está ficando insuportável para mim! Precisamos falar sobre isso! — falei exaltada.

Não chora, não chora!, fiquei repetindo mentalmente.

— Do que isso se trata, seja um pouco mais específica.

— Estou falando de como vamos ficar quando você for embora! É sobre isso que estou falando! Você já pensou nisso?

Percebi como Gray ficou tenso. Seus lábios se tornaram uma linha reta e ele franziu as sobrancelhas de uma forma assustadora, conseguia ouvir sua respiração rápida e notei quando ele cerrou um dos punhos com força.

Meu Deus! O que eu tinha feito?

— Uma hora teríamos que falar sobre isso. Eu só esperava que demorasse mais.

Fiquei em silêncio, não sabia o que dizer.

— Você sabe como relacionamentos a distância são complicados, não é? — perguntou e eu assenti — Acho que ia ser muito complicado se fizéssemos algo assim. Você iria sofrer, eu iria sofrer, acho que não aguentaria te ver sofrendo — deu uma pausa e já sentia as lágrimas querendo descer. — E eu não acho certo te prender durante seis anos. E eu... Bem...

— Você tem suas necessidades — completei, tentando segurar meu tom ácido. — Eu entendo isso. O que devemos fazer então?

Ficamos em silêncio enquanto nos encarávamos profundamente. Não sei por quanto tempo ficamos ali, mas pareceu tempo demais, tempo insuficiente. Meu coração queria sair pela boca enquanto eu tentava não chorar na frente de Gray. Já bastava as noites que tinha chorado com o rosto enfiado no travesseiro para que ninguém me ouvisse.

— Eu acho melhor terminarmos — disse, quebrando o silêncio.

Respirei fundo e quando achei que estava pronta para falar, disse:

— É isso que você realmente quer? — perguntei, esperando que ele dissesse “não”, que tudo fosse uma piada de péssimo gosto.

— Eu acho que é o melhor.

— Tudo bem então — murmurei em um fio de voz. — Eu devo ir agora! — anunciei, me pondo de pé.

— Espera! — pediu, quando eu já estava de costas para ele.

Virei em sua direção novamente e forcei o meu melhor sorriso antes de dizer:

— Eu desejo tudo de bom para você. Espero que tudo dê certo — desejei, com sinceridade sem conseguir conter as lágrimas que já desciam pelo meu rosto — E eu sei que você vai ser um ótimo médico, é o seu sonho afinal de contas — dei uma pausa, engolindo um soluço que ameaçava sair, prossegui: — Adeus, Gray.

E não consegui mais ficar ali. Corri para casa o mais rápido que consegui. E quando eu cheguei, chorei mais uma vez.

A dor.

A dor era tão forte. Parecia que eu iria despedaçar a qualquer instante.

Eu estava quebrada.

Então essa é a sensação de perder alguém que você ama? É horrível. E pior que isso, é o fato de eu não poder fazer nada para impedir que isso acontecesse.

Todos aqueles sonhos desaparecendo como pó, os planos destruídos por um destino irrevogável.

Sem saída.

E tudo que eu podia fazer é deixar que fosse.

Que fosse tudo embora.

Não deixe que vá”, meu coração tolo continuava a ter esperança, sacudindo-se brutalmente dentro do meu peito.

“Eu não posso fazer nada. Eu não posso lutar contra isso!”, eu voltava a repetir em minha mente. “Não há nada que eu possa fazer.”

“Não deixe que vá.”

Os beijos, os abraços, cada toque, cada instante.

Sumindo.

Desaparecendo.

Seriam coisas que eu não deveria pensar, se eu realmente quisesse seguir em frente. Mas como não pensar? Como seguir em frente?

Eu não sabia.

Seria algo que eu descobriria com o tempo. Até que o tempo lavasse essa dor, lavasse minha alma. E eu deixaria que fosse.

J&G

Faz quatro meses que não vejo Gray.

Eu estou indo bem. Eu consigo sorrir verdadeiramente e tenho vontade de viver.

Às vezes ele invade minha mente sem que eu ao menos perceba. Quando eu escuto uma música, ou com coisas mais simples, como quando vou arrumar minha cama e vejo uma enorme mancha de chocolate no colchão, resultado de uma de nossas travessuras. São coisas que não consigo evitar.

Tento me distrair boa parte do tempo, é o único jeito dele não invadir meus pensamentos. É uma boa terapia. Eu tenho bons amigos que me ajudam com isso, que me fazem rir.

Finalmente voltei a viver.

E quero que continue assim.

Mas hoje, será o dia que darei um adeus definitivo. Eu sei que hoje é o dia que ele vai embora. Embora para sempre da minha vida. E isso é o certo.

Olhei no relógio e vi que já passava das cinco da tarde. Arrumei meu casaco azul e calcei meu melhor par de botas. Era um dia frio, muito frio.

Como Gray.

Andei calmamente até o ponto de ônibus. Meia hora depois, já estava no aeroporto.

Olhei no relógio. Eram exatamente seis horas.

Respirei fundo e entrei no aeroporto, tentando passar pelo amontoado de pessoas apressadas que iam de um lado para o outro. Cheguei ao saguão de embarque com a respiração pesada, a tempo de ver Gray passar pelo portão de embarque com seu pesado casaco cinza.

Minhas pernas tremeram enquanto eu o observava de longe.

De repente, ele parou. Prendi a respiração. Virou na minha direção e vi seus lábios tremerem quando me viu. Encostei minha mão no gélido vidro que me separava dele.

“Não deixe que vá, sua boba! Não deixe que tudo vá embora!”

“Adeus.”, murmurei baixinho e sabia que ele tinha lido meus lábios, um sorriso triste desenhou seus lábios. “Eu vou sempre te amar”, completei mentalmente.

E virei para ir embora.

Enquanto caminhava de volta para casa, pensei nas coisas da vida.

Tem coisas que não foram feitas para acontecer. Tudo possui um propósito, um destino. Não é certo que você prenda uma pessoa a você para sempre. Ainda mais quando ela tem um sonho.

Existem coisas que você não pode impedir que vá. Mas não deixe que vá as lembranças, as memórias, os sorrisos, eu percebi que isso é parte de mim, parte de quem eu fui.

Não deixe que vá, os sorrisos.

Não deixa que vá, a vida.



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, eu não costumo escrever coisas assim. Geralmente minha escrita é mais voltada para o romance e para a comédia. :)

Por isso, espero que deixem reviews, porque foi muito difícil terminar essa oneshot!

beijos, até depois! ♥