Virei-me para Liam, que agora segurava um frasco com o líquido verde.  

-Tem mais?-perguntei, esperançosa.

-Não.-respondeu, e franzi a testa imediatamente.-Já procurei por toda a parte. Mas é o suficiente, não?-perguntou, empurrando meu ombro de leve.

-Claro que é. Não temos nenhum infectado por aqui, temos?-perguntei retoricamente.

Liam sorriu. Neste exato momento, um grito agudo e desesperado ecoou pelo corredor.

-Parece... a Blair!-Emily concluiu, correndo para a origem do barulho.

-Ah, meu Deus, deve ter acontecido alguma coisa com ela!-minha mãe disse, relutante.

-Fiquem aqui!-Liam ordenou, pegando minha mão e me puxando para a porta. Ao chegarmos no corredor, ele ergueu minha mão e abriu o punho que eu havia feito com o susto. Colocou o anti-vírus na palma.

-Aconteça o que acontecer, eu gosto muito de você.

-Quer dizer que me ama?

-Não, isso é muito clichê.-murmurou, com um sorriso triste.

Em seguida, largou minha mão e disparou pelo corredor. Fui atrás. As paredes voavam por nós a medida que chegávamos mais perto da porta branca a poucos metros de distância. Enfim, chegamos, e ouvimos outro grito.

Nesse momento, Liam abriu a porta. E eu vi a pior cena que já vi na minha vida.

-Blair...

Deitada no chão, ela reconheceu minha voz e abriu os olhos. Enquanto isso, o sangue jorrava na mordida em seu ombro. Agachei-me perto dela.

-Vai ficar tudo bem, nós temos a cura!-Liam sussurrou.

Blair apertou os olhos. A dor parecia ser forte demais para que ela suportasse por muito mais tempo. Mas ela não precisaria suportar. Levei minhas mãos trêmulas ao coldre onde o anti-vírus estava guardado e puxei a agulha de dentro. Neste exato momento, nesta exata fração de segundo, como se tivesse hora marcada, Wesker apareceu na porta oposta a qual entramos. Levantei-me.

Não tem como vencê-lo, o T-vírus ligado a ele o torna excepcionalmente forte. Desista, a voz de Melanie se pronunciou dentro da minha mente, tristemente.

Mas o que ela disse havia me dado uma ideia. Wesker era forte justamente por ter o T-vírus em seu corpo. E agora eu sabia o que fazer.

-Saiam daqui.-sussurrei, e Liam assentiu. Eu sabia que ele iria confiar em mim mesmo se eu dissesse para que ele se jogasse de um abismo. Eu sempre teria um plano.

Liam levantou e apoiou Blair em seu ombro. Sem hesitar, saiu da sala e me deixou sozinha encarando o chefe da Umbrella.

-Vamos ter que fazer isso do modo difícil, não é?-o mutante perguntou, fazendo uma falsa cara de relutância.

-Não. Vai ser mais fácil do que matar Alexa.

Wesker trincou os dentes e disparou na minha direção. Agora eu estava embaixo dele. Começou a me dar socos por todo o rosto. Em seguida, me pegou pelo pescoço e me jogou contra a parede. Tentei me levantar, mas ele me chutou e eu voltei ao chão. Como se não bastasse querer me matar, ele queria me ver sofrer também. Um ser sedento de sangue. Eu sentia minha minha pele repleta de hematomas, minha boca sangrando. E isso só me deu mais vontade de enfiar aquela seringa naquele mutante sádico.

Levantei-me lentamente, com um sorriso no rosto. Wesker assistia, zombeteiro. Ao chegar bem perto dele, dei um tapa em sua cara. Seu rosto não se moveu. 

-Forte demais, não é?-indaguei, rindo. Seu rosto transformou-se em uma máscara indignada.-Não mais.

Em um golpe rápido, cravei a agulha em seu pescoço. Ele segurou-a, tentando impedir que o anti-vírus invadisse seu corpo. Mas agora era tarde.

-Liam!-gritei o mais alto que pude, me afastando do homem em convulsões.-Me dê algo cortante!-continuei, desta vez um pouco sádica.

A porta se abriu lentamente, e vi Liam aparecer com uma de minhas picaretas.

-Onde está Blair?-perguntei, preocupada.

-Com a sua mãe.. o que..

-Eu explico depois.-disse, tomando a picareta de sua mão.

Andei até Wesker com uma leveza absurda. Ele pareceu não notar minha presença. Agachei-me e virei seu tronco para cima. Ele me encarou, incrédulo.

-Acabou.-sussurrei, cravei a picareta em seu coração.

Agora, Wesker era um ser inanimado esguichando sangue de seu peito.

-Michaella...-alguém sussurrou.

-Sim?-indaguei, sorrindo.

-Você usou todo o anti-vírus!

Arregalei os olhos. Senti minha pele ficar branca e meu pulmão se esvaziando. Levantei em um pulo e peguei o frasco de Liam.

-Não, não, não, não, não! Não acredito! Não foi minha intenção, eu não pensei, eu... eu...

Liam olhou para o chão, e depois para a porta.

Voltamos à sala, onde Blair estava deitada na mesa. Eu não sabia como dizer aquilo.

-Blair...eu... me desculpe, mas...-disse, entre lágrimas.

Blair me encarou, mas não vi nenhuma emoção de tristeza ou desprezo em seu rosto. 

-Você o que?-perguntou, a voz fraca.

-Eu usei o anti-vírus para matar Wesker...-soltei, e coloquei o rosto entre as mãos.

-Não preciso de anti-vírus nenhum.-sussurrou.-Me sinto cada vez mais forte.

Levantei o rosto e olhei para Liam. Ele uniu as sobrancelhas para Emily, que encarou confusa minha mãe. Ela estava sorrindo.

-Blair não foi mordida por um walker. Foi pelo Wesker!

Arregalei os olhos, e os mesmos quase saltaram das órbitas. As palavras escaparam da minha boca.

-Parece que não vai precisar mais de tanta proteção.-gaguejei em choque, e Blair sorriu.

Depois disso, eu soube que tinha acabado tudo bem.

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E que, de certa forma, eu era uma comandante pós-apocalíptica. Eu cuidava da minha família e cuidava do meu novo lar. A sede oficial da Umbrella. Os anos passaram, e eu praticamente não precisei de Liam para ir buscar comida. Blair agora era uma máquina mortal, mas não perdeu sua doçura. Depois de tudo o que passamos, ainda ajudamos os sobreviventes e buscamos por mais deles. Eu estava feliz e quase completa. E os zumbis começaram a se decompor em menos de duas décadas. Enfim, o mundo voltou a ser praticamente o mesmo. 

Bom trabalho, minha irmã parabenizou. Agora sim eu estava completa.

Fim