Diários escrita por Tai Bluerose


Capítulo 9
Diários de Ciel 8: A Inocência do Começo


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, desculpe pelo atraso. O que eu falei sobre imprevistos malditos? >.



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Diários de Ciel 8: A Inocência do Começo

27 de Maio de 1889

Vou tentar lembrar de tudo o que aconteceu nesta tarde. Sinto que preciso registrar isso, porque não quero esquecer.

Quando entrei na sala, eu tremia um pouco. Confesso que não sabia direito o que estava fazendo ou o que tinha que fazer, sabia apenas que eu precisava seguir em frente. Precisava confrontar o Sebastian e descobrir o que ele sentia, o que eu sentia.

Sebastian estava sentado em uma cadeira com um livro na mão. Ele me entregou alguns papéis e apontou outra cadeira a sua frente. Os papéis estavam cheios de cálculos algébricos.

— Se alguém nos encontrar aqui, diremos que estamos estudando. — Ele me explicou antes que eu pudesse perguntar. No momento, eu não fazia ideia de como ele estava sendo cuidadoso. Agora eu sei. ― Ciel, você é meu amigo e não vejo razão para continuar a mentir para você. Você deu a entendeu que sabe o que eu sinto por você e que me corresponde. Mas eu preciso perguntar: Como acreditas que é meu amor por você?

Eu fui sincero. Apesar de, naquele momento, ter tido uma pontada de medo de ter entendido tudo errado.

— Acredito que me amas como amigo, como irmão e... como amante. Vejo a forma como olha pra mim quando pensa que ninguém está prestando atenção, quando pensa que eu não estou prestando atenção, e eu gosto disso. Sei que você acha que sou ainda muito ingênuo, mas não sobre o que eu sinto. Eu pensei bastante. Sobre nós. Há algum tempo notei que minha amizade com você era diferente da minha amizade com outros meninos do Instituto. O que eu sinto por você é diferente do que eu sinto ou já senti por qualquer pessoa que já conheci. Eu não sabia como interpretar isso ou que nome dar a isso até conversar com Alois...

― Ah, Alois... — Sebastian fez uma expressão confusa de quem não estava surpreso e de aborrecimento ao mesmo tempo.

—Sim, Alois. Ele me fez perceber que dois meninos podem se amar tanto quanto um menino e uma menina. Foi quando comecei a prestar mais atenção em você e em como eu me sentia quando estava com você. Mas tudo ficou mais claro quando você se distanciou de mim, e eu senti a sua falta. Muita. Por que você não me disse nada antes? Por que tentou esconder seu amor e se afastar de mim?

Sebastian me olhou com carinho e tristeza.

 ― Ciel... Eu o amo mais do que tudo, nunca duvide disso. Mas você deve saber que o nosso sentimento é proibido. Se alguém da escola soubesse... Não sei o que fariam conosco; Eu não podia te arrastar para isso, não queria lhe causar problemas. Além disso, eu tive medo que você me rejeitasse ou até mesmo me repudiasse se soubesse que sou esse tipo de garoto. Ser seu amigo era suficiente, mas depois não era mais. Pensei que me afastar fosse a resposta, mas eu só pensava em você o tempo todo.

― Eu também penso em você o tempo todo.

—Tenho medo de nos pôr em problema.

― Isso não vai acontecer, seremos cuidadosos. Alois e Claude são namorados, ninguém nunca os descobriu.

— Alois e Claude... hum...

Sebastian ficou sombrio e pensativo. Ele parecia estar remoendo toda a situação. Tive uma sensação ruim, senti como se meu coração afundasse.

— Sebastian... Você não quer ser meu namorado?

Sebastian olhou para mim com os olhos arregalados. Seus olhos castanhos se desviaram dos meus, e Sebastian pareceu se fechar dentro de si mesmo. Eu sabia que Sebastian estava em conflito interno, algo que eu ainda não entendo bem e não posso explicar; eu estava apenas ansioso. Mas eu não queria forçá-lo a nada. Ocorreu-me que gostar de mim, não significava que ele fosse querer se envolver romanticamente comigo. Senti-me egoísta e caprichoso. Estava começando a me arrepender de trazer tudo aquilo à tona, quando Sebastian se pronunciou novamente.

― Está consciente de que teremos que manter isso em segredo? Que teremos de ser discretos? — eu confirmei veementemente, apesar de ter a impressão de que eu concordaria com qualquer coisa que ele me pedisse naquele momento. ―Muito bem, então. Não há nada que eu queira mais neste mundo do que ser seu namorado, Ciel. E talvez, te querer demais seja meu maior problema. Não me entenda mal, por favor, não quero insultá-lo ou magoá-lo, só me prometa uma coisa.

― O que seria?

— Se algum dia sentir que seu amor por mim não era bem o que pensava, se o amor diminuir, se descobrir que ama mais outra pessoa, apenas me diga. Eu o ouvirei, eu o entenderei e aceitarei. E que possamos continuar amigos como fomos ontem e como somos hoje.

Eu achei estranho o pedido dele, principalmente porque sentia que amor em meu peito era inesgotável. Coloquei-me de pé.

― Então façamos um pacto. Eu prometo cumprir todos os seus termos se você prometer cumpri-los também. Acima de tudo, haja o que houver, permaneceremos amigos. E sempre estaremos juntos.

Estendi a mão para ele. Ele ficou me olhando com surpresa.

Sebastian se levantou pondo o livro de lado. Tomou minha mão, a beijou e me puxou para um abraço. Escutei-o repetir “ Eu prometo!” em meu ouvido três vezes, o arrepio foi inevitável. Ficamos imóveis por um momento, sem saber exatamente o que fazer a seguir. Apesar de ser agradável estarmos juntos e de estarmos felizes por isso, havia um certo constrangimento da nossa parte por toda a situação.

Por mais que quiséssemos ficar ali mais tempo, sabíamos que o mais prudente seria não ficar. Logo alguém viria atrás da gente. Saímos da sala em silêncio; juntos. Sebastian era todo sorriso, e eu me sentia muitíssimo corado.

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29 de Maio de 1889

Nem sei por onde começar. É tudo tão novo!

Os professores estão mais exigentes do que nunca com o fim do ano letivo se aproximando. Só faço estudar o tempo todo, o tempo que me sobra, passo com o Sebastian.

É noite agora. Não consigo dormir.

A luminosidade que entra pelas janelas é fraca, mas é o suficiente para que eu consiga escrever. Esses dias, eu tenho ficado acordado até muito depois que todos foram dormir. É mais tranquilo.

Aqui, no frio e na penumbra, com os diversos pulmões ressonando baixinho a minha volta, sinto como se eu residisse em outro mundo. Um mundo de sonho. Imagino a mim mesmo caminhando pelos corredores e encontrando Sebastian. Ele me abraça sem qualquer restrição. Um abraço longo e cálido. Ele me beija como nunca fez, e a noite se enche de cor, o frio se torna calor. E não há ninguém para nos impedir.

Penso muito nisso. Em como seria realmente beijá-lo.

Não podemos fazer isso durante o dia, há olhos em todos os lugares. E é arriscado sair dos dormitórios à noite, ainda mais depois da semana passada, quando três alunos saíram à surdina para esconder um rato na escrivaninha do professor Langdon. Foi uma confusão terrível.

Sebastian me contou que também pensa em mim a noite. Gostaria de poder escutar sua mente, de poder conversar com ele a essa distância. Como seria dormir em seus braços? Pegar no sono ao som dos batimentos do seu coração?

Como será estar com ele quando ninguém mais pode nos ver? Como será estar com ele sem temer que alguém nos veja?

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02 de Junho de 1889

As férias estão chegando e logo estaremos todos indo para as nossas casas. Mas não estou triste. Sebastian e eu já combinamos de tentar nos encontrar o máximo que pudermos. Estou ansioso para isso. Ver-nos fora dessas paredes.

A dinâmica entre nós não mudou tanto agora que somos namorados, mas nem poderia com tantas tarefas e pessoas a nossa volta o tempo todo. Exceto que cada olhar, cada toque é carregado de mais carinho, paixão e amor. Tem mais significado do que os outros podem supor. Mas nós sabemos. E isso já basta.

Sebastian tem sido muito carinhoso, até onde ele pode demonstrá-lo sem chamar atenção. Estamos sempre de mãos dadas, quando podemos estar. Ele sempre senta perto suficiente para que nossos braços se toquem. E quando mais ousado, ele coloca o braço ao redor da minha cintura enquanto lemos sob a faia do jardim. Ontem, o Spears quase nos pega assim. Passamos um susto imenso, e nos afastamos tão rapidamente e de modo tão cômico, que caímos na risada. Spears achou que estávamos rindo dele e se afastou com uma expressão de desgosto, nos julgando loucos.

Não sei como namoros devem ser, tudo o que conheço está nos livros, mas não consigo evitar essa sensação de frustração que a escola me passa. Tudo o que eu quero é estar com Sebastian, mas precisamos sempre ser cautelosos para que ninguém nos veja.

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07 de Junho de 1889

Hoje é meu último dia no Instituto antes das férias, papai chega amanhã para me buscar.

Sebastian e eu participamos de uma partida de Críquete com outros alunos. Todo mundo parece ficar mais legal e divertido com a aproximação das férias.

Depois do jogo, nós dois nos afastamos e deitamos no gramado. O céu estava nublado, o clima estava bom. Um excelente último dia.

— Sonhei com você na última noite, sabia? ― Sebastian falou depois de um tempo. Sua voz ainda estava descompassada por causa do exercício.

— Mesmo?! Conte-me como foi. ― Pedi esperançoso e curioso. Sebastian sorriu.

— Sonhei que eu estava em uma de suas histórias sobre a Índia e o Oriente. Eu era um tipo de sultão e muitas odaliscas foram trazidas a mim. Elas eram virgens e vinham de um reino vizinho, trazendo um presente para que eu me aliasse a seu reino e protegesse seu povo. O presente era você. O jovem com olhos de safira. Você entrou montado num tigre, estava vestido com uma calça folgada de tecido quase transparente, seu peito estava nu, usava apenas um pequeno colete. Sua cabeça estava adornada com joias. Você começou a dançar para mim. E nós estávamos sozinhos no momento seguinte. Você dançou para mim e eu não tirava os olhos de você.

― Eu não sei dançar. — Eu sorri para ele.

― Eu sei. Foi só um sonho, sonhos são absurdos.

— E depois? O que aconteceu depois?

Sebastian olhou para mim e posso jurar que ele estava vermelho.

― Ah... eu não lembro. Eu acordei, eu acho. Vamos entrar? O críquete me deixou com sede.

Não me imagino dançando, principalmente música indiana, muito menos diante dele. Seria ridículo. Ainda mais magrelo como sou. Longe de mim parecer risível diante dele.

O que será que ele sonhou?

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Bilhete de Sebastian Michaelis para Ciel Phantomhive.

Meu amado C.

Espero que faça uma boa viagem. Haverá uma ópera no final da primeira semana, eu estarei lá com minha família. Convença a sua a ir também, darei um jeito de encontrar-lhe.

Já estou com saudades.

Do seu S.

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10 de Junho de 1889

Alguns alunos viajaram mais cedo que outros. Meu pai veio me buscar antes, tive que partir e deixar Sebastian para trás. Antes que eu subisse na carruagem, Sebastian se despediu com um abraço e colocou um bilhete no meu casaco. Li o bilhete rapidamente, antes que papai se sentasse ao meu lado. “Do seu S.”

Do seu Sebastian

Meu Sebastian

A ideia me pareceu tão maravilhosa, que fiquei sorrindo a viagem inteira até Londres, repetindo aquelas palavras na minha mente. Papai achou que era apenas felicidade por estar de volta.

Sim, estou feliz por rever todos. Meu pai, mamãe, o senhor Tanaka e os outros, mas mais feliz por tudo o que poderei fazer nessas férias. Sebastian e eu teremos três meses para sermos livres, e ficarmos sozinhos. Meu beijo mora em algum lugar desse período, esperando para ser apreciado.

Oh, Sebastian! Você faz ideia de como meu coração palpita sempre que penso em você? De como meu corpo se aquece e sinto esse desejo inexplicável de ter você junto a mim?

Só nos separamos há um par de dias e mal suporto a vontade de vê-lo novamente.


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Notas finais do capítulo

Gostaria de fazer um pedido: Se você é ou será um professor, não seja um do tipo cretino capaz de passar trabalho para ser feito durante um feriado. Não seja essa tipo de pessoa. Sério.
Não postei no feriado, em parte por causa do trabalho já comentado acima, mas para minha alegria, o capítulo estava pronto. para minha tristeza, meu tablet se recusou a postar capítulos novos. Não sei que problema deu. Meu notebook ainda está pro conserto.
Estou aqui no fim do meu expediente, no trabalho, aproveitando que todo mundo se mandou para postar escondido.
Espero que tenham gostado.
Prometo compensar de alguma forma.
Até.
Beijos
Tai



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