II

Regra do assassino número um:

Esconda-se na escuridão... Segure sua respiração... Procure um caminho até o seu alvo.

Podia vê-la de costas, em pé junto ao quadro de missões, concentrou-se, faria seu caminho até ela silenciosamente.

Regra do assassino número dois:

Conheça o seu alvo. Seja capaz de adivinhar os seus pensamentos, seus movimentos...

Ela procurava as missões claramente do lado esquerdo para o direito, seria pelo esquerdo. Queria ficar nas suas costas.

Regra do assassino número três:

Derrote o seu alvo antes que ele perceba a sua existência...

Já se encontrava as suas costas, rapidamente levantou a mão ate a altura de sua cabeça. Em alguns milésimos de segundos ela perceberia...

—Que droga! — gritava o garoto assustando a garota de longos cabelos negros.

— BlackStar? — dizia sorrindo Tsubaki. — O que foi?

—Nada. — reclamava — Já escolheu a missão?

Só mais alguns centímetros... Era só isso que faltava.

Ow!!KissxKiss more LOVE”

—Ouvi dizer que a Maka-chan e o Soul-kun estão juntos. — Tsubaki dizia rindo enquanto entravam numa lanchonete.

—Juntos?

— Sim!É o que dizem os boatos...

—Hoje mesmo de manhã vi aqueles dois discutindo! — BlackStar parecia irritado

—Vai ver... É o jeito deles combinarem. — o garoto olhou-a nos olhos, algo que a assustou e por um segundo esperou, a determinação de BlackStar parecia ser feita de fogo,  ele endireitou a coluna, com o rosto sério.

—Tsubaki!Fique parada!

—AH!O que?

—Apenas fique!

—Ah... C-claro! — Tsubaki observou BlackStar ficar em pé a sua frente, embora ele sequer imaginasse, ela sabia muito bem o que ele ia fazer. Ainda hoje, apesar dos anos e dos inúmeros assassinatos que haviam praticado em nome da Shibusen, era ridiculamente fácil para ela sentir a sua presença, principalmente quando ficava nervoso. Ele provavelmente ia medir suas alturas novamente, mas essa, notava a garota, era a primeira vez que ele não tentava fazer isso escondido. Sentiu-se tentada a dobrar um pouco os joelhos, seu corpo os parou antes da sua mente. Não!Isso seria um desrespeito ao próprio BlackStar! — Hum... E então?

—Yuhuuuu!!Consegui!!

Conseguiu?

—O que? — perguntava, sentindo-se meio confusa.

—Vamos Tsubaki!!

—Ah!... S-sim!

***

—Miauu... Blair não fez nada de mal... Só contou as boas noticias para o peixeiro...

—Ah, claro... — dizia Maka com fingida calma — E o peixeiro contou para a mulher, que contou para a manicure que por acaso contou para todas as suas clientes, que saíram espalhando pela cidade inteira, até chegar naquele cara!

—Que frieza, Maka. — reclamava Soul — Aquele cara é o seu pai... E de qualquer forma ele ia ficar sabendo mesmo.

—Soul, você é muito tranquilo!!

—O que fazer?A gente não ta junto mesmo?

—Não é isso!É só que...

—YOOO!!SOUL!!! MAKA!!— gritava um garoto de cabelo azul espetado ao longe, fazendo com que todos ao redor o observassem — É VERDADE QUE VOCÊS ESTÃO JUNTOS?!!

—BlackStar, creio que não seja a forma certa de... — tentava Tsubaki.

—Soul... Transforme-se numa foice...

—Hã?Pra que? — dizia o garoto desconfiado.

—Nada em especial, quero só cortar uma certa cabeça azul...

***

— No final eu não entendi por que a Maka ficou tão brava...

—BlackStar... — dizia Tsubaki descrente, para alguém como BlackStar, descrição não era algo reconhecível... Se bem que, a disciplina dele havia melhorado consideravelmente durante esses anos, agora ambos eram reconhecidos pela Shibusen como a melhor dupla para missões secretas, chamados somente para as missões mais sigilosas. Chegava a quase se esquecer do antigo BlackStar, que não conseguia juntar uma alma sequer. Não somente isso, como também ele havia ficado bem mais alto e forte, concluía a garota, se achando cada vez mais velha, o tempo havia passado tão rapidamente que se sentia parada, como se não tivesse mudado nada durante todos esses anos.

—Tsubaki... Assim que terminar essa missão, eu deixarei de lado a minha grandiosidade divina para te dizer algo importante! — dizia, embora a garota só pudesse ver as suas costas — Por isso... Espere um pouco... Isso é uma promessa! E o grande BlackStar não volta atrás de suas promessas!

—Sim, eu sei. — dizia sorrindo curiosa— Mas por enquanto nós temos de nos concentrar em matar o Barão Gilles de Rais e capturar a sua alma.

—Ha!Tsubaki!Não precisa falar duas vezes!Com minha velocidade o Barão sequer vai sentir o que o atingiu!

—O castelo fica logo mais a frente. — dizia Tsubaki se orientando pela a lua risonha acima de suas cabeças, com os dentes manchados de sangue, em forma de um arrepio sentiu um mau pressentimento tomar conta de sua mente, enquanto sorridente Black   Star lhe estendia a mão.

—Certo. — disse por fim o garoto, determinado a terminar o mais rápido possível com o serviço, certo que havia algo mais importante a fazer, com a voz firme soltou a ordem — Se transforme, Tsubaki.

O castelo do Barão Gilles de Rais era grande, embora há muito tempo os moradores tivessem percebido que crianças desapareciam ao redor do castelo, por conta do prestígio do Barão nenhuma acusação fora feita e uma grossa cortina de ferro foi colocada sob o caso. BlackStar conhecia muito bem a história, seria o salvador daquela vila, mas eles nunca iriam saber da sua existência, tão silenciosamente quanto havia chegado iria voltar de onde veio, sem nunca ter a fama que o clã estrela tinha e mesmo assim com superior dignidade. Em meio a estes pensamentos sentiu o cheiro de sangue vindo do interior do castelo. O Barão!

Subiu facilmente a fortaleza que rodeava o palácio de pedra, a principal defesa contra humanos comuns, segundo seus informantes o Barão comia as almas de suas vitimas no porão de seu castelo. Foi tão fácil de achar que isso o entediava.

—Por que a Shibusen designaria uma missão de uma estrela para nós?Devem estar me zoando... — reclamava BlackStar, descendo as escadas que davam até a toca do Barão.

—Não é verdade, BlackStar... Me parece que todos os estudantes mandados pela Shibusen foram mortos pelo Barão... É um caso muito sério, ele já é um ovo de Kishin muito desenvolvido.

—Então nós iremos liquidá-lo. — concluiu convicto, empurrando a porta grossa que escondia o porão, trancada. — Tsubaki, katana.

***

Ouvia o choro vindo até os seus ouvidos e isso o excitava. A criança a sua frente chorava e gritava a procura da mãe, não sabia há quanto tempo fazia isso, nem quando tudo começou. Agora só se lembrava da sua vontade de devorar a alma daquela criança, cessar o seu choro de vez. Como um bom homem, imaginava o Barão.

—Não chore, minha criança... Há muito tempo ouvi falar de pessoas que saboreavam a alma humana e se tornavam mais fortes, ela as teria adorado se ainda estivesse viva, sabe. É uma pena você não poder experimentá-las também, criança... Já que sua vida acaba aqui!

Com os dedos quase a tocando mal pode perceber a espada passar pelo o seu corpo. Seria um ferimento fatal, não fossem os seus conhecimentos de guerra.

—Barão Gilles Rais, eu vim pegar a sua alma.

—Quem está ai?!! — não conseguia ver nada, com velocidade aproveitou-se do seu corpo desfigurado pelo o seu pecado, um corpo de um ovo de Kishin, cortou o ar as suas costas, como num lampejo se lembrou da criança, um provável escudo. Porém quando se virou e correu ao seu encontro ela não estava mais ali.

—Ainda por cima é um covarde, você deve pedir perdão por fazer um deus vir até aqui para se livrar da sua medíocre existência.

—Você... Seu...

—Há!Ha! Não se sente pequeno frente a mim?! O grande BlackStar?!!

O que o Barão sentiu em seguida não doeu, tinha a ideia vaga de uma arma transpassar o seu corpo, sem entender claramente que tipo de arma era ou de onde viera... Somente a certeza de que havia terminado, tudo havia acabado...

—Mesmo eu...?

Após proferidas estas palavras BlackStar se mostrou, com a criança chorando em seus braços.

—No fim das contas, foi só uma missão tediosa.

Shinigami-sama a missão foi concluída com sucesso! Voltaremos à cidade em algumas horas.

Tsubaki dizia para um pequeno espelho, sorrindo enquanto se despedia do Deus, com os olhos preocupados sentiu a pequena mudança de BlackStar, parado ao seu lado mantinha os olhos no chão, sem saber como agir, se aventurou numa pergunta:

—O que foi, BlackStar?

—Tsubaki... Eu disse que ia deixar de lado a minha divindade, mas eu sou o Black  Star, eu não sei como fazer isso ainda, mas... Mas... — dizia constrangido — Tsubaki eu... EU QUERO VOCÊ!

Tsubaki sentiu o chão tremer logo abaixo de seus pés, imóvel como se ainda procurasse entender o que o companheiro falava, sentiu sua própria respiração parar, tendo a certeza que a única parte que se movia de seu corpo eram os seus longos cabelos, empurrados pelo vento, como se quisessem empurrá-la, sem sucesso, até Black   Star.

— Black... Star... Eu...

—Você não quer ficar comigo?

Durante todos esses anos BlackStar teve essa única certeza. Tsubaki sempre estaria ao seu lado, não importa o que acontecesse. Ela provavelmente havia percebido as suas fracas tentativas para medir suas alturas, mesmo todo esse tempo tendo demonstrado confiança em tudo o que fazia, um dia se pegou a imaginar Tsubaki de outra forma, não como uma companheira, não como uma amiga, começou a desejar que pudesse tocá-la e tê-la para si. Foi então que sentiu algo que acreditava ser impossível para um Deus. Sentiu aquela insegurança subir por sua garganta, não soube o que fazer, o que dizer quanto a isso. Vergonha. Como sentia vergonha por esconder esses sentimentos, por medo. Fez uma promessa para si mesmo, ficaria mais alto que Tsubaki, se tornaria alguém que ela também quisesse... Ou...

—Eu... Não suporto a ideia de te ver com outro cara, só de pensar nisso... Na pessoa que você for se apaixonar... — surpreendeu-se ao vê-la se aproximar ao seu encontro, os olhos semicerrados, tampados pela longa franja, era clara agora a diferença entre as alturas e pela primeira vez, BlackStar a viu tão pequena, não resistiu a tocar o seu rosto, levantando-o singelamente.

—Seu idiota... BlackStar... — como poderia não perceber? Seu coração explodia! Como poderia saber que há tanto tempo esperava por essas palavras? Não havia percebido, sequer um segundo havia analisado os seus próprios sentimentos, sempre preocupada com BlackStar... Como não havia percebido?

O beijo que sentiu em seguida a surpreendeu ainda mais, entre seus sentimentos recém descobertos e aqueles que fluíam do próprio BlackStar podia sentir como se a coragem dele se juntasse a sua própria.

Na ponta dos pés levantou-se levemente de forma que sua boca alcançasse os ouvidos do garoto, Tsubaki se divertia, beijou delicadamente o seu pescoço, senti-o se arrepiar, o que pareceu o impulso para os seus braços, Tsubaki senti-o enlaçá-la com força, de tal forma que se viu cambaleando para trás, durante alguns segundos BlackStar ficou assim, segurando-a fortemente contra o peito, como se a protegesse, como se procurasse se unir a ela.

—BlackStar... —abraçou-o com força também, sentindo seus braços doerem com a intensidade, aquele que a segurava não era mais o mesmo BlackStar, havia abandonado toda aquela insegurança infantil, em meio ao turbilhão de pensamentos que percorreram sua mente sentiu o corpo mover-se fracamente, com o toque suave retirou a fita longa que amarrava o próprio cabelo.

BlackStar, soltou-a durante alguns segundos, o rosto próximo ao dela, pode vê-la soltando o cabelo, tão longo e liso... Poderia acariciá-lo agora, poderia tocá-lo, mesmo que não soubesse o que fazer, tinha a única certeza do desejo que invadia a superfície de seu ser, impregnava sua pele, não soube o que era... Deteve-se a observar os cabelos soltos de Tsubaki, escorrendo por suas costas, delineando ainda mais suas curvas tão atraentes. Como poderia não saber? Havia dito há tão pouco tempo. Queria. Queria Tsubaki ali, pra sempre ao seu lado, tanto que não sabia, tanto que sequer conseguia medir, tanto...

Num primeiro momento se considerou violento, sendo acalmado pela as caricias sinceras da garota. A queria sentir, sentir por completo, conhecer Tsubaki, apenas por ela...

—BlackStar... — dizia Tsubaki — Nós ainda estamos na vila?

—Sim, eu acho, pelo menos. — sentiu-a tocar o seu rosto, o olhar provocante.

Vamos para um lugar mais reservado?

Se soubesse que poderia sentir algo tão forte, que poderia sentir algo tão bom não teria perdido tanto tempo por algo tão idiota, isso definitivamente não combinava com o deus que era.

Talvez, quem sabe...

***

—Yo, Kid. — dizia o garoto de cabelo prateado em cima de uma moto, com uma garota loira o abraçando firme, as suas costas.

—Olá, Maka, Soul. — dizia, um garoto de cabelos negros com três faixas brancas na cabeça, visivelmente preocupado.

—O que foi?

—Nada exatamente, eu só me preocupo com aquele cara... — disse apontando para cima, numa das torres da cidade.

Maka e Soul olharam com atenção, distinguindo somente um ponto azul, carregando outro, de certa forma se preocuparam, o ponto azul era facilmente reconhecível.

—BlackStar...? E... Tsubaki?

Nada os havia preparado para o grito que ouviram em seguida.

—EU O GRANDE BLACKSTAR TENHO UM ANUNCIO A FAZER!!!

—HÃ?! —gritava a população aos seus pés.

—A TSUBAKI É MINHA NAMORADA!!MINHA!!HÁ, HÁ!PODEM MORRER DE INVEJA, POR QUE ELA É LINDA, NÃO É?

Maka e Soul se entreolharam, mal segurando o sorriso nos lábios.

—O importante é a alma não, é? — perguntava o garoto.

—Sim. — dizia a manipuladora alegre.

—Só não sei sobre a Tsubaki. Tudo bem essa atenção? — perguntava  Kid tampando os olhos do sol risonho quase se desequilibrando em meio as gargalhadas.

—Acho que sim — dizia Maka — Nunca vi uma alma tão feliz.

—ELA É ALGUÉM PROXIMA AO MEU SER, QUASE UMA DIVINDADE!!

—BlackStar! — exclamava Tsubaki entre risos, tentando buscar uma voz reprovadora, algo que não encontrava, não havia sequer imaginado isso quando subira pela torre com o Black   Star, sequer havia imaginado, mas ele a havia tomado nos braços e agora gritava a plenos pulmões pela cidade da morte.

—E... EU AMO A TSUBAKI!