Meu coração estava disparado e eu repetia dentro da minha mente que estava entendendo aquilo errado. Não tinha a menor possibilidade de Laxus querer usar meu corpo naquele momento. “Usar o corpo” é uma palavra rude, mas é assim que Laxus se refere a sua relação com qualquer mulher. Ele descarrega toda sua virilidade nelas, depois as ignora e risca da sua possibilidade de fazer aquilo mais uma vez.

Laxus me lançou um olhar irritado, demonstrando sua clara irritação de quando eu demorava a acatar a uma ordem. Engoli e seco e consegui me mover, jogando o corpo pra frente. O nível de repetições na minha cabeça chegou a ultrapassar um limite, de forma que existia apenas palavras desconexas.

- Use sua magia para acabar com meu enjôo.

. .. ...

Foi como jogar água na fogueira. Aquelas palavras serviram como um tapa na minha cara, me tirando daquele surto que me fez gelar até a espinha. Confesso que imaginei que Laxus ordenaria que me entregasse á ele, mas para meu alívio .... NÃO, era apenas minha imaginação.

Respirei fundo e abaixei a cabeça. Minhas mãos estavam trêmulas e meus dentes batiam um contra o outro pelos segundos de pânico e confusão que minha mente travou. Laxus me olhava de volta, esperando que eu fizesse alguma coisa e exatamente para evitar discussões com ele, resolvi acatar a ordem. Sentia meu rosto ainda quente pela vergonha, enquanto pegava um pedaço de papel e caneta dentro da minha bolsa.

- Seja rápido. – ele bravejou e eu assenti, antes de levantar um pouco o rosto e ver que ele estava prestes a vomitar. Coloquei o pulso sobre o papel e quando a ponta da caneta encostou-se àquele material senti o sangue subir quente para a as bochechas novamente.

Me lembrei de uma coisa nada conveniente.

Há alguns dias atrás eu estava em uma biblioteca especial de magia. Depois de muita insistência e enviar cartas para a administração solicitando minha entrada, pude ter acesso a um arsenal completo de magia antiga, baseado obviamente, em runas. Neste dia, tive acesso a vários livros e aprendi muitos feitiços poderosos e outros mais complexos. Entretanto, em meio a tantos livros, um me chamou a atenção em especial.

Todos os livros daquela biblioteca tinham a capa cinza, truque utilizado para não atrair a atenção de curiosos quaisquer. Porém naquela biblioteca havia um livro com a capa vermelha. Tomado pela curiosidade, resolvi pegar o livro e checar seu conteúdo, mas bastou que meus olhos percorressem o título da primeira página para minhas bochechas corarem. Posições sexuais, poções do amor, técnicas e talismãs de sedução. Havia várias e várias escrituras ali sobre o assunto. Lembro que cheguei a olhar para os lados, afinal não queria que nenhum bibliotecário dali me visse com aquilo em mãos. Folheei o livro rapidamente apenas para satisfazer a curiosidade, chegando ao ponto de sentir a cara arder de vergonha ao ler coisas que não me atrevo a citar aqui. Resumindo, havia vários temas sexuais ali, mas tive a atenção totalmente tomada para uma página cujo título era “Escritura do desejo”. Pelo que fora explicado na descrição, a pessoa que escrevesse aquele encantamento conseguiria infligir um desejo sexual extremamente forte em si próprio ou até mesmo em outra pessoa. Não me perguntem por que, mas acabei lendo os encantamentos e ao encostar a caneta no papel para escrever o que Laxus havia me pedido lembrei de cada palavra.

Levantei a cabeça e meus olhos se encontraram com os dele. Me repreendi mentalmente por pensar aquele tipo de coisa e comecei a escrever o encantamento que ele pedira, não o que minha mente gritava para escrever. Foram poucas palavras que rapidamente surtiram efeito e depois que uma parede de runas o envolveu, Laxus esticou o corpo e sorriu, antes de começar a estalar os dedos da mão. Achei que ele no máximo iria agradecer, mas acabou por esticar a mão e me puxar pela gravata, quase me fazendo cair de cara sobre o colo dele.

- Não quero mais saber de demoras para atender meus pedidos. Fui claro?

- Sim ... – respondi, mantendo os olhos voltados para o chão. Tenho de admitir que estava até mesmo acostumado a receber ordens daquela forma e minha mente estava ocupada demais imaginando que aquele puxão seria para um beijo. Laxus continuava a resmungar alguma coisa e minha cabeça viajava, de forma que eu apenas via a boca dele se mexer.

- VOCÊ ESTÁ OUVINDO O QUE EU ESTOU DIZENDO???

SEGUNDO ORGASMO MENTAL. Pai eterno da misericórdia. Ele está com a mão no meu rosto.

Perto demais. Perto demais. Era o que minha mente processava ou mal processava. Laxus percebeu que eu não estava ouvindo nada do que ele estava falando e puxou meu rosto pelo queixo, trazendo-o próximo á ele. Tenho noção de que isso é algo que ele faz apenas com pessoas que o irritam ao ponto de bater, mas o hálito dele batendo contra meu rosto é demais. É incrível a forma como ele me seduz, não sei se voluntariamente ou não.

- Eu estou ouvindo Laxus! – respondi com a voz engasgada e ele apenas empurrou meu rosto para longe, indicando que eu deveria voltar ao meu lugar e ficar quieto.

-x-

A viagem continuou extremamente silenciosa. Não me atrevi a puxar nenhum assunto e Laxus fez o mesmo. Só foram feitas trocas de palavras quando a carruagem parou em um hotel. A chuva caía extremamente forte e já estava praticamente impossível de se continuar a viagem.

Laxus desceu o mais rápido que pode da carruagem e antes que eu percebesse, ele já havia entrado no hotel. Suspirei aliviado quando percebi que estava sozinho, me repreendendo por dentro por pensar em impor algo tão fútil e vulgar como aquela Escritura do Desejo. Com a ajuda do cocheiro, peguei as malas e com dificuldade fui caminhando até a porta.

Digamos que Laxus não é de fazer favores a pessoas que não lhe dão algum “recompensa”, de forma que eu sempre tinha que fazer a parte idiota, mas essencial do trabalho. Já dentro do hotel, Evergreen me orientou qual quarto seria o meu e rapidamente subi para tomar um banho. Fiz todo aquele ritual do banho e me troquei, pensando nos últimos acontecimentos e até mesmo criando estratégias para minha confissão, antes de descer para o saguão do hotel em busca de algum alimento.

E EIS QUE EU ENCONTRO LAXUS DREYAR enfiando a língua na boca de uma desconhecida.

Normalmente ele demora cerca de três ou duas horas conversando com a mulher, antes de partir para qualquer coisa, mas pelo amor de Deus, fazia apenas quarenta minutos que estávamos ali. Ver aquilo me deixou com raiva. Raiva do fato de que eu não tinha a coragem de dizer de uma vez o que sentia, raiva de deixar tudo quanto é raça ruim de mocréia cair em cima do homem que devia ser meu, raiva dele ser tão imbecil e raiva de ver aquela que deveria me ajudar virando copos de cerveja na boca, enquanto dizia que Laxus não perdia tempo.

- “Aceita uma bebida senhor?” – tive a atenção voltada para uma moça tímida que me ofereceu uma enorme caneca de cerveja. Minha vontade era de separar os dois como se aquilo fosse uma briga, mas não tinha coragem suficiente pra fazer aquilo.

Pelo menos, não sóbrio.

Olhei diretamente para a bebida e voltei meus olhos para Laxus que continuava com seu beijo promíscuo com aquela sirigaita. Respirei fundo e peguei uma caneca da bandeja, ciente de que no dia seguinte estaria muito arrependido, porém criei disposição para dar um jeito de tirar aquela mocréia de cima de Laxus.

Fase 03 da missão: esqueça o plano e apenas defenda. Defenda com tudo o que tem aquilo que é importante!