O Sol Negro E A Lua Branca escrita por Gabby


Capítulo 10
Vogais


Notas iniciais do capítulo

Olá! Quero agradecer á todas as lindjas que deixaram reviews no último capítulos. Vcs são demais. Eu não demorei nesse capítulo justamente por vocês (e porque deu criatividade. ALELUIA!), já que estavam super ansiosas para saberem o que tinha na floresta. Ninguém acertou. E também não vai ser revelado esse capítulo.
...
Buáháháhá! ~apanha~

Escolhi a foto do capítulo: Uma pintura medieval de incubus.
Capítulo narrado pelo Ichigo, o próximo vai ser pela nossa querida Rukia Kuchiki.



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Eu estou correndo. Correndo de algo. Algo não humano. Ouço os rosnados e o barulho dos passos. Se eu parar de correr, sinto que a coisa vai me alcançar e isso definitivamente não vai ser bom. Meus pulmões queimam e eu arfo.

A paisagem é de um lugar árido. O chão está cheio de rachaduras, a areia é de um laranja fraco, pútrido e nojento. O céu está amarelo e as nuvens são vermelhas. Há árvores mortas da cor de carvão.

Começa a chover. Não água, mas sangue. Ele me queima como ácido e eu grito. Ouço a coisa gargalhar atrás de mim.

Eu tropeço. Levanto-me arfando e olho para a coisa. Nada. Olho para os meus joelhos. A calça rasgou, e o meu joelho sangra. Ele arde e dói muito. Tento limpá-lo com a mão e daí sim ele dói muito. Está em carne viva.

Eu me jogo no chão, de costas, e urro de dor e frustração. Vejo as nuvens vermelhas e o líquido rubro que sai dele. Sinto o sangue cair em mim. Ele está quente e eu sinto vontade de vomitar. Lembro-me de quando eu era pequeno e uma carruagem com o símbolo real atropela um cachorro vira-lata. O sangue do pobre cachorro respingou em mim, junto com as tripas dele ainda quentes. Eu chorei e vomitei muito. Estava assustado, horrorizado. Agora, sinto-me exatamente assim. E a carruagem não parou.

Sinto o sol no rosto. Abro os olhos e vejo uma mão estendida para mim. Sigo o braço até o rosto da pessoa, que é o da minha mãe. Eu sorrio. Ela está linda como sempre. Os cabelos ondulados laranja claros, quase castanhos, os lábios rosados... Minha mãe sempre foi um sol. Ela está sorrindo, aquele lindo sorriso que ela dá.

–Ichigo. –ela me diz. Eu gosto da voz dela, é materna, reconfortante. Me faz sentir seguro.

De repente, o sorriso dela se curva em uma careta feia. Os dentes estão quebrados e seu nariz sangra. Minha mãe fica ensanguentada do nada. Ela cria asas, que estão quebradas e sujas de sangue. Eu vejo uma poça de sangue se criando de um ferimento na barriga. Desvio o olhar para a sua mão, por não ser capaz de ver isso. As unhas estão quebradas.

A camada de pele dela sai e o braço inteiro de minha mãe vira apenas osso. Eu olho para o seu rosto, assustado. Seus olhos estão ocos e sem-vida. Sua pela derrete como se fosse de cera.

–Monstro. –ela balbucia, mas não é sua voz. É uma voz metálica e forte. Mas, mesmo assim, essas palavras me doem, pelo simples fato de sair dos lábios de minha mãe. –Erro.

De repente, ela vira pó. O vento a espalha e boa parte das cinzas cai em meu rosto. Eu tusso, engasgado. Deito no chão novamente, com os olhos fechados.

Quando abro os olhos novamente, estou no meu quarto.

.

–Ichigo, está ansioso? –Rukia me pergunta, á caminho da biblioteca. Nós driblamos Nell novamente e agora vamos para a minha primeira aula de escrita.

–Sim, senhora! –eu falo, empolgado.

Rukia dá um risinho. Seu cabelo está solto hoje. Ela está usando um vestido simples, branco, com detalhes em dourado.

Nós entramos na biblioteca e sentamos em uma mesa qualquer. Em cima desta, tinha umas dez folhas de papel e um recipiente com tinta preta e uma pena.

–Vamos começar com as vogais, está bem? –ela me diz, pegando a pena e olhando para mim. Era uma pena chamativa demais, felpuda e vermelha.

–Tudo bem.

A Rukia molha a pena na tinta e escreve algo no papel. Sua letra é fina e bastante bonita.

–Isso é um “A”. –ela me diz, olhando diretamente para mim. Seus olhos brilham. É muito bom saber como se escreve, mesmo que seja um mísero “A”. Pessoalmente, eu gostei da letra. Eu a achei bem elaborada, como um desenho.–Tente. –ela diz e oferece a pena.

Eu a pego e puxo o papel até mim, olhando para ela, esperando por uma permissão silenciosa. Ela apenas deixa que eu pegue. Tento imitar o melhor possível a letra da Rukia, mas tenho certa dificuldade. Faço alguns rabiscos e, no final, faço certo.

–Muito bem, Ichigo. –Rukia me parabeniza.

–Obrigada, Princesa Rukia. –eu falo, sorridente. É bom ouvir um elogio.

–Pode me chamar apenas de Rukia. –ela sorri para mim. Eu acho que corei. Mas que porcaria.

Rukia fica me olhando, alguns fios caem em seu rosto. Ela me parece mais natural assim. Os olhos violáceos brilham e seus lábios estão curvados em um pequeno sorriso.

–Tudo bem. –ela corta o nosso pequeno transe, olhando para o lado. –Agora vou te ensinar o “A” minúsculo.

Rukia então o fez e nós repetimos isso com o alfabeto inteiro. As minhas letras favoritas foram o A e o I. Quando terminamos, Rukia me deu as folhas de papel. Já havíamos gasto umas cinco, com os meus rabiscos e as lindas letras da Rukia.

–Leve para a casa. –ela falou, empurrando as folhas no meu ombro. –Treine.

Eu peguei as folhas e assenti.

–O.K.

Rukia soltou um suspiro e deitou a cabeça na mesa. Ela virou a cabeça e ficou vendo a biblioteca.

–Chame a Nell, por favor. –ela me pediu. –Preciso ler para ela.

.

Eu já estava andando há algum tempo. Eu não sabia onde estava Nell, não sabia nem aonde era a cozinha e provavelmente não conseguiria voltar á biblioteca, mas eu fiquei com vergonha de dizer. Comecei a andar aleatoriamente pelos corredores, em maioria em linha reta, para ser mais fácil de me achar depois, mas já estava achando que estava perdido.

Sem nenhum barulho, vejo uma mulher de pele morena, vestindo uma camisola branca (corta para as minhas bochechas vermelhas). Ela sorri para mim e só quando eu olho para os seus olhos dourados, percebo que é a Condessa Yoruichi.

–Ichigo. –ela diz, mas tenho uma leve impressão de que não está falando nem para mim. Fico surpreso por ela saber o meu nome, o nome de um simples empregado.

Eu me curvo desajeitamente para ela. Condessa Yoruichi não parece ser esse tipo de pessoa, mas se eu não me curvasse para uma pessoa poderosa assim em meu antigo reino, cabeças iriam rolar –principalmente a minha.

–Isso é bastante interessante. –ela diz, como se não quisesse nada. –Todos os fatos estão interligados.

– É, é. –eu digo, para não ser mal-educado. Porque, tipo, eu não tava entendendo nada do que essa senhora estava falando. –Estou procurando a Neliel, se a senhora a viu, por favor...

–Acredita em destino, Ichigo? –ela me pergunta, descartando o que eu estava falando anteriormente. Talvez ela só ouvisse o que julgasse interessante.

–Eu acredito em que nós fazemos nosso destino. –eu disse, convicto. Acho que estufei o peito...

–Não. –ela disse, fechando os olhos e sorrindo, como se eu tivesse falado algo engraçado. –Você pensa que faz seu destino, pensa que faz suas escolhas, mas tudo isso já está escrito. Eles sabem disso e o manipulam para fazer o que está escrito. –Eu olho para a camisola dela e me pergunto como uma dama pode andar assim em uma casa de estranhos, em plena luz do dia. –As cartas não mentem.

Há essa hora, eu não entendo mais nada, só que ela parecia estar falando com um ar de divertimento, então eu acho que era uma piada.

–Me desculpe, Condessa Yoruichi, mas eu...

–Eu vi Neliel. –ela me disse, finalmente, mordendo o lábio inferior. –Vá a direita. Ela está conversando com a Inoue.

Fiquei pensando... ela sabe o nome dos seus empregados. Deve ser uma boa pessoa.

–Obrigado. –eu falei, mas ela já estava indo embora.

Virei para á direita rumo á Nell, não mantendo contato visual com ela. Seus passos eram silenciosos e sorrateiros, como os de um gato.

–Até mais, garoto da profecia.

Eu me virei para ela, mas ela já havia sumido. O corredor ficou tão silencioso depois dela que dava para ouvir a minha respiração.

.

Encontrei Nell conversando com Inoue algum tempo depois, no mesmo lugar que ela havia me dito. Eu a chamei, disse que a Princesa Rukia (não a chamei de Rukia na frente dela. Não acho que eu tenho intimidade o bastante para fazê-lo) iria ler uma história para nós e ela veio correndo.

Andamos no corredor por algum tempo, eu sempre atrás de Nell por alguns centímetros, permitindo que ela me guie. Nossa conversa foi banal e senti que Nell só trocava palavras comigo por educação.

Quando chegamos, Neliel correu para os braços da Rukia, enquanto elas sorriam e brincavam. Rukia pegou um livro grande de uma mesa, verde e dourado. Nell sorriu escandalosamente. Rukia se sentou em uma cadeira, com o grande livro no colo, e Neliel se sentou logo a baixo dela, em uma bagunça de almofadas que tinha na biblioteca.

Eu me senti excluído. Era evidente que elas não me queriam mais aqui. Eu sei que não iam me expulsar, nem nada, mas é claro que elas queriam esse momento para si. Mas eu não podia deixar, porque era o guarda da Rukia. Então, fiquei o mais distante delas possível.

Era uma poltrona, na janela. Eu estava perto o suficiente para ver a Princesa Rukia, mas não o suficiente para escutá-la. Assim, eu não me sentia um completo intrometido. Fiz o meu melhor para não ficar olhando ela tão de cara, até peguei um livro para fingir que estava me distraindo. Tipo, é claro que eu não conseguia ler nada que estava escrito, mas pelo menos eu me ocupava.

Folheei-o um pouco, vendo algumas letras conhecidas, as tais vogais. O livro tinha figuras e era isso o que atraía minha atenção. Tinha uma linda moça, de cabelos escuros, passeando em um jardim, colhendo flores. A seguinte era da mesma mulher dormindo, com uma forma humanóide em cima de si, com chifres e cascos de bode. Um demônio. Eu já tinha visto cenas parecidas em estátuas da minha igreja, mas um anjo sempre estava com o pé em cima da cabeça do diabo. A figura seguinte era de um bebê, mas esse bebê era diferente. Os olhos eram completamente negros e ele tinha garras.

Eu não fazia ideia do que era aquilo, mas eu fiquei com medo. Meu coração acelerou. Isso seria... uma criança demônio?

Virei a página novamente, ela era velha e amarelada, como o resto do livro. Assoprei uma camada de pó da próxima figura: uma mulher amarrada em um tronco, com chamas lambendo seus pés. Uma bruxa. E dessa vez eu sabia que era, porque era o método tradicional de se matar uma.

No meu antigo reino, eles a queimavam em praça pública¹, para todos, inclusive crianças, verem. Eu nunca gostei de ver. Não é que eu não achasse certo eles queimarem bruxas, mas se divertir com isso, colocar para todos verem, como se fossem um espetáculo, isso não é certo.

É um sadismo, um genocídio. Os romanos fizeram parecido com milhares, colocaram pessoas á lutar até a morte e crucificaram por mera diversão². E eu, de jeito nenhum, queria ser como um romano. Eu acho sim que a morte de algumas pessoas malvadas seja necessária, mas não como um entretenimento. Morte é algo sério e horrível.

Ouvi o barulho da porta da biblioteca se abrindo e deixei de lado o livro que folheava, para ver quem entrava lá. Era Ulquiorra. Os olhos verdes sempre sérios, a pele branca como neve e o semblante sempre indiferente.

–Princesa Kuchiki, –ele disse. –Kuchiki-sama quer falar como você.

–Sobre o quê? –perguntou a Rukia, tirando sua atenção do livro e olhando diretamente para Ulquiorra.

–Ele não me disse, mas é importante.


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Notas finais do capítulo

1- Bruxas eram queimadas em praças públicas na época. As pessoas acreditavam que o fogo purificava a alma. Muitas nem eram bruxas, eram mulheres com conhecimento de ervas medicinais, mas a Igreja não investigava.
2- Os romanos é que crucificaram Jesus, por isso tanto repúdio. Eles, além da crucificassão,
colocavam prisioneiros para batalhar com leões, ou com outros prisioneiros. Era uma forma de
diversão familiar ;)
Bye Bye