-Vamos, mãe! Não quero me atrasar! -Falei, puxando a minha mãe pelo braço.

-Calma querida! A escola não vai sair do lugar. -Ela falou, entrando no carro e dando a partida.

Coloquei o cinto de segurança e passei um gloss. Queria estar no mínimo apresentável no primeiro dia de aula.

Isso de primeiro dia de aula é muito relativo, pois era o primeiro dia apenas para mim, já que estávamos quase no fim de fevereiro.

A minha mãe estacionou o carro na porta da escola e já ia descer do carro quando eu perguntei:

-Você não vai descer, vai?

-É claro que vou! Mas se você se preocupa tanto, vá na frente. Eu vou daqui a pouco para falar com a diretora.

Agradeci-a com vários beijos nas bochechas e desci do carro, ajeitando o cabelo com as mãos. No mesmo instante uma garota ruiva com sardas nas bochechas e no nariz veio na minha direção, sorrindo.

Ela me abraçou, visivelmente emocionada por me ver e falou:

-Mel! Ah, finalmente você voltou pra nós! Eu fui te visitar no hospital incontáveis vezes! Liguei para a sua casa ontem à noite, mas o seu pai disse que você já estava dormindo. Você provavelmente não se lembra de mim, não é? O seu pai falou que você estava com dificuldades para se lembrar das suas memórias. Provavelmente você também não se lembra do meu nome. Sou Alice Brandon, sua melhor amiga desde sempre e pra sempre! Mas não se preocupe, eu vou te ajudar, tá? -Ela falou tudo isso muito rápido, e eu ainda estava tentando processar suas palavras.

-É, é bom estar de volta. -Sorri.

Ela me abraçou mais uma vez e nós entramos na escola.

Pelo percurso não muito comprido, do portão da escola à sala de aula, todos os que estavam nos corredores pararam para me cumprimentar e me dar as boas-vindas. Alguns perguntavam se eu me lembrava deles, outros perguntavam como é entrar em coma, e outros só sorriam e acenavam. Caramba, eu não imaginava que seria assim.

Mas entre todas as pessoas, eu ainda não tinha avistado o Daniel. Daniel Smith. O garoto dos cabelos castanhos e olhos cor de mel. O garoto que me deu o meu primeiro beijo recordado.

Olhei para os lados e a Alice estalou os dedos na frente do meu rosto.

-Procurando alguém, Melissa Sugar? -Ela sorriu arqueando as sobrancelhas, como quem soubesse que havia algo errado.

-Pra ser sincera, sim. Daniel, Daniel Smith, sabe?

Ela engasgou, assim como eu havia engasgado na primeira vez em que o havia visto.

-Você tá louca? Vocês.. Vocês se.. -Ela começou a falar, mas Daniel apareceu atrás dela tapando sua boca com as mãos.

-Fica quieta, Alice. Estou consertando as coisas. -Ele lançou a ela um olhar cúmplice e ela balançou a cabeça de um lado para o outro, saindo da sala em seguida.

Ele então dirigiu seu olhar à mim, sorrindo.

-Olha só quem está de volta! É bom tê-la aqui, srta. Sugar.

-É bom estar de volta, sr. Smith. -Sorri de volta.

-Você é uma celebridade no colégio, sabia? Todos querem falar com Melissa Sugar.

-Eu percebi. E quer saber? Eu não gosto de ter tanta atenção assim... -Pisquei para ele com um dos olhos, me lembrando do nosso beijo. Tá, do nosso projeto de beijo.

Ele pareceu se lembrar também, abriu ainda mais o sorriso e falou, um pouco perto demais do meu ouvido:

-Não consigo tirar o seu "beijo" da cabeça. -Ele se afastou para me fitar.

Eu quase respondi "Nem eu", mas o meu rosto começou a queimar e eu olhei para os meus pés, calçados com sapatilhas pretas fofinhas.

O sinal tocou e ele piscou para mim com um dos olhos, rumando para o seu lugar, do outro lado da sala.

"Salva pelo gongo", pensei, indo para a minha carteira ao lado da Alice.

As aulas passaram depressa, e todos os professores ficaram, pelo visto, muito felizes com a minha volta, e ainda disseram que esperavam que eu continuasse uma boa aluna. No intervalo, eu e Alice nos sentamos em uma mesa no fundo da cantina, tomando coca-cola e comendo cookies de chocolate, enquanto Daniel olhava para mim de vez em quando, pelo canto do olho. Meu coração falhava uma batida quando ele fazia isso, mas logo voltava ao normal. Várias outras pessoas vieram falar comigo, as mesmas perguntas de sempre.

Depois da aula, eu fui até a secretaria e liguei para a minha mãe, avisando que voltaria a pé, já que não era tão longe. É claro que eu preferia ir de carro, mas essa era uma desculpa para me encontrar com um certo gatinho.

Fui para o portão da escola e olhei para os lados estrategicamente, como se estivesse procurando a minha mãe.

"Alguém" veio por trás de mim e tampou os meus olhos, me virando de frente para ele em seguida.

-Daniel! -Exclamei, rindo.

-Procurando alguém? -Ele sorriu de lado.

-A minha mãe. Acho que ela esqueceu de me buscar.

Seu sorriso se alargou e ele falou com um olhar sugestivo:

-Posso te acompanhar até sua casa?