A Menina Dos Olhos escrita por Escarlate


Capítulo 16
Dia de cão


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora galera, mas agora já to na ativa de novo
Boa leitura



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Esmeralda corre para não se atrasar. A pesar do consultório não ser tão longe da escola, era uma boa caminha e acompanhada de uma bolsa pesada, cheia de livros, cadernos e tudo o que uma estudante do último ano da escola tinha direito, tornava a caminhada mais cansativa e longa pode-se assim dizer.

Chegou no consultório dentro do horário, não estava atrasada mas a conversa na porta da escola fez com que chegasse alguns minutos depois do horário que normalmente chegava, porém ainda assim, tinha tempo para vestir seu uniforme e comer um lanche rápido.

Assim, ela entra no consultório preparando-se para sua rotina diária quando a voz do doutor Carlos a desconcentra.

–Depois de tanto tempo trabalhando conosco você vai começar a chegar atrasada? Achei que já estaria acostumada com seus horários. Ele fala de forma ríspida.

–Senhor, eu não estou atrasada, já estou colocando meu uniforme e ligando o computador. Quando a primeira paciente chegar, estarei apresentável como sempre.

–Você nunca chega esse horário, esta perdendo tempo jogando conversa fora com seus amigos da escola e deixando suas obrigações de lado.

–Senhor eu só tenho a hora da saída para conversar com meus amigos e ainda assim, não fico muito tempo com eles. Cheguei 6 minutos depois do horário que costumo chegar, mas ainda assim não estou atrasada, não há motivo para o senhor me chamar a atenção.

–Só estou me certificando de que minha secretária não vai fazer nenhuma cagada por que esta com a cabeça nos amiguinhos da escola. Aqui é uma clinica séria e famosa. Não admitimos erros. Apenas mantenha o foco e faça o serviço corretamente.

–Sempre fiz meu serviço corretamente senhor, do dia em que cheguei aqui, e vou continuar fazendo, não se preocupe.
Ele franze um pouco os olhos, fazendo algumas linhas de expressão na testa surgirem. A encara por alguns segundo e se retira sem dizer nada.
Quando ele entra em sua sala, Esmeralda desaba na cadeira.

–Ufa....foi por pouco. E continua a se trocar. Quando terminou de vestir seu uniforme, ela prende o cabelo num coque e liga o computador. Enquanto o sistema inicia ela vai até a copa e come seu lanche que na verdade era seu almoço, ela sempre levava um sanduiche para comer no consultório, já que não tinha dinheiro para comer em um restaurante e tão pouco tinha tempo para cozinhar.

Terminado seu almoço, ela deixa a copa limpa e vai a sala de recepção se sentar na frente do computador e esperar que os paciente apareçam ou que o telefone comece a tocar.

O dia segue normal. A clinica do doutor Carlos e sua esposa sempre fora muito conhecida e graças a sua reputação, seus consultório estava sempre cheio.

Clientes vinham de todos os lados da cidade para se consultar com eles.
Apesar do fluxo diário de pacientes que entravam e saiam do consultório,

Esmeralda não se intimidava e tão pouco se atrapalhava com toda essa movimentação. Fazia atendimento corretamente e sempre ganhava elogios das pessoas que passavam por ali. Exceto de seus chefes, mas ela já tinha desistido deles.

Os pacientes respeitavam ela o que já a deixava contente. No seu aniversário os pacientes antigo sempre lembravam de cumprimentá-la e alguns traziam até lembranças, tanto de aniversário como em datas festivas.
Trabalhar ali não era de tudo um fardo. Tinha seu lado bom, e era isso que a motivava.

O ano estava acabando e Esmeralda precisava planejar o seu futuro. Trabalhar em período integral na clínica do doutor Carlos e da doutora Lucia definitivamente estava fora de cogitação. Sempre que o movimento de pacientes dava uma amenizada na clinica Esmeralda entrava em sites para estudar para o vestibular.
Fazia isso com todo o cuidado pois sabia que os donos da clínica certamente, não iriam gostar nem um pouco de saber disso, uma vez que na concepção deles, pessoas pobres não tinham capacidade de cursar uma faculdade e nem deveriam tentar. Faculdade era algo voltado para os ricos. O dever de um pobre era trabalhar e não estudar.

Eu ainda esfrego meu diploma na cara deles

Pensava Esmeralda entre risos pelo pensamento maluco que mais era uma promessa.

–Esta estudando minha menina? Pergunta uma senhora que apesar da idade apresentava uma juventude espiritual contagiosa. As joias indicavam que ela pertencia a alta sociedade mas sua conversa soava humilde e divertida.

–Olá boa tarde. Pois é, esse ano é meu último na escola e eu consegui me inscrever em todas as universidades publicas da cidade rsrsrs (risos). Estou desesperada, no próximo mês tenho prova quase todos os finais de semana, em alguma eu tenho que entrar rsrsrs (mais risos)

–Hahahaha minha filha, não se preocupe, a vida é dura mas Deus é justo. Seu lugar esta guardado, vai dar tudo certo. Vai prestar para quê?

–Jornalismo. Gosto de escrever e sou super curiosa rsrsrs (risos).

–Ah que bela profissão. Você vai se dar bem, estou torcendo por você.

–Obrigada. Esmeralda responde com um sorriso no rosto. Em seguida, puxa a ficha da cliente, entrega uma folha para ser assinada e convida a senhora a se sentar enquanto aguarda a doutora Lucia a chamar.

Pouco tempo depois a Senhora é chamada.

A consulta demora uns 40 minutos para terminar e ao finaliza, ainda dentro da sala, a senhora conversa com a doutora de forma inocente.

–Muito eficiente sua secretária, uma moça muito esperta.

A doutora a encara e meio a contra gosto, abre um sorriso amarelo e pergunta:

–Mesmo? Por que acha isso?

–Ela é muito esforçada, mas horas vagas ao invés de ficar em redes sociais, jogando conversa fora, como eu já vi muitas secretárias fazendo em outros lugares, ela fica estudando para o vestibular. Essa menina é esforçada.

–Ora senhora Vera, não acha que essa menina vai conseguir cursar uma universidade acha? Faculdade não é escola, é preciso muita dedicação. Não adianta só esforço físico, é preciso ter inteligência, capacidade e dinheiro. Não é qualquer um que cursa uma faculdade, a senhora me desculpe.

A senhora a olha horrorizada com a forma primitiva de pensar da doutora mas resolve não puxar uma discussão.

–Bom, se ela realmente for esforçada, ela tem um belo futuro pela frente. Boa tarde doutora Lucia

– A senhora sai da sala, desce as escadas e antes de sair se despede de Esmeralda e a deseja boa sorte, o que deixa Lucia contrariada.

–Esmeralda quando é minha próxima cliente? Ela pergunta ríspida.

–Daqui a 20 min doutora.

Visto que o consultório estava vazio ela a chama para sua sala.

–Venha comigo, quero falar com você

–Sim doutora. Ela engole em seco e vai.

Ambas entram na sala e enquanto a doutora se senta Esmeralda tranca porta.

–Sente-se.

Esmeralda relutante, se senta de frente para a médica.

–Esmeralda, já não conversamos sobre amizades com os pacientes? Que intimidade foi aquela com a senhora Vera?

–Doutora, não fiz amizade com ela, ela puxou conversa comigo e eu apenas respondi para ser educada. Não prolonguei o assunto e tão pouco levei a conversa adiante.

–Esmeralda, ela sabia de tudo sobre você. Que você está no último ano da escola, que vai prestar vestibular.....isso prova que você conversou com ela.

–Doutora como eu disse, ela me fez uma pergunta e eu educadamente respondi, se eu vou prestar um vestibular, é óbvio que estou no último ano, não contei isso a ela, ela deduziu.

–Bom de qualquer forma, você estava na internet no horário de trabalhão, isso também não é permitido.

–Sinto muito doutora, mas não havia nenhum cliente. Quando a senhora Vera chegou, eu rapidamente a atendi, não a deixei esperando. Preciso estudar doutora, no mês que vêm eu tenho muitos vestibulares e eu preciso passar, se não, não terei como pagar uma boa faculdade para mim.

–Esmeralda você esta aqui para trabalhar. Este consultório é meu e de meu marido e nós fazemos as regras. Não queremos que use a internet mesmo que seja para estudar, até porque, vamos ser realistas, as chances de você passar em uma faculdade pública são mínimas, então não perca tempo de serviço com algo que não esta ao seu alcance certo!

–A senhora esta me dizendo que não tenho capacidade de passar em uma faculdade pública?

–Sim estou, pois conheço a realidade. Olha Esmeralda, infelizmente, essas regalias como cursos, faculdades e etc, não são para o desfruto de qualquer pessoa. Você tem um bom emprego, contente-se com ele. Se você fizer tudo corretamente podemos pensar em continuar com você depois que se formar. Trabalhará em período integral, com isso, seu salário pode aumentar e você vai conseguir ter uma vida estável.

Esmeralda a olha com repulsa, sua vontade era de voar no pescoço daquela médica antipática mas preferiu ficar em silêncio. A opinião dos outros não importava mais, passou a vida inteira com pessoas dizendo que ela não seria nada com o pai que ela tinha, que mal conseguiria sobreviver da forma precária que o pai lhe proporcionava, mas no entanto, lá estava ela, crescida e responsável, chegou mais longe do que acreditavam, ela estava orgulhosa de si mesmo e ninguém a convenceria a desistir. Levantou a cabeça, e finalizou a conversa com respeito e orgulho.

–Obrigada pela oferta doutora, vou pensar a respeito, agora com licença, vou voltar ao trabalho. E assim ela se retirou da sala deixando a médica com incertezas a respeito de sua resposta.

No fim do dia, ela se prepara para ir embora. Desliga o computador, tira o uniforme e quando estava prestes a sair ela vê o carro de Felipe estacionando no consultório dos pais.

Ahh não acredito. Só pode ser zoeira.........

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O dia de Ikki

Ikki ficou na escola para treinar. Quando terminou de se trocar foi ao ginásio onde o professor tinha uma boa notícia para dar aos alunos

–Meninos, antes de iniciar o treino preciso dar uma notícia. Hoje teremos um olheiro. O dono do time Serra Alta esta selecionando jogadores. Apesar de ser um time pequeno e pouco conhecido, é uma boa oportunidade. Boa sorte a todos. Agora vamos lá, todo mundo aquecendo!

E assim o treino inicia. Ikki como sempre é o que mais se destaca, na verdade todos já esperavam por isso. Alguns alunos não gostam nem um pouco de ficar em segundo plano e durante o treino faziam de tudo para tentar derrubá-lo, mas Ikki nem ligava, a vida inteira passou por cima de todos os que o humilhavam e hoje era um homem forte. Já seus amigos não tinham inveja, sabiam do potencial de Ikki e da vida difícil que ele e seu irmão levavam, ele mais do que ninguém merece essa promoção e o apoiaram durante todo o treino.

Ao final do dia, o treino acabou e o treinador os mandou para o chuveiro.

–Ei treinador, o senhor tem uma resposta? Vimos o senhor conversando com o cara antes dele ir embora. Pergunta um dos alunos.

–Falarei com vocês na segunda. Agora todos para o chuveiro e venham segunda para a aula.

E assim todos de dirigiram ao vestiário para tomarem banho e se trocar. Ikki já estava com um semi sorriso no rosto. Ele tinha ido muito bem no treino e sempre fora o melhor da equipe e sabia disso. Aquela chance era dele e ninguém a tomaria.

Se vestiu, despediu-se dos amigos e caminhou de volta para casa. Mal podia esperar para contar a novidade para seu irmão e para Esmeralda. Apesar de não ter ouvido da boca do treinador, ele sabia que seria escolhido.

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O dia de Shun

O restante da tarde passou tranquilo para ele. Shun deu suas aulas de guitarra, ficava contente com a evolução de seus alunos afinal eram apenas crianças mas que já tinham um grande talento.

O filho do doutro Lucas era um garoto incrível, adorava quando o Shun ia em sua casa e se dedicava muito. O pai lhe comprara uma guitarra e ele não a largava por nada. Shun ria com a empolgação do garoto, se divertia com as crianças e admirava a persistência deles.

Na casa do segundo aluno era a mesma coisa, uma garotinha que não escondia as bochechas vermelhas toda vez que via Shun. Era normal que as meninas gostassem dele, nessa idade principalmente, afinal, ele era praticamente um herói para elas, um ídolo, alguém em se espelhar. Elas o admiravam de uma forma inocente e Shun não escondia a gratidão.

Ele era muito bem recebido na casa dos alunos. Faziam de tudo para ele se sentir a vontade.

Quando suas aulas acabaram, ele colocou sua guitarra na bolsa (bague) e a pendurou nas costas para voltar para casa. No caminho parou para ver o ensaio de uma banda e se imaginou tocando em uma banda de verdade.

Quem sabe alguém me descobre

E assim continuou seu caminho. Alguns alunos moravam mais afastados e Shun precisava pegar um ônibus para voltar para casa. Ficou no ponto por alguns minutos até que o ônibus que passava em sua rua chegou. Ele fez sinal para o ônibus parar e subiu, em pouco tempo ele chegaria. No meio do caminho ele sente se celular vibrar.

–Ei Shun onde você esta?

–Oi pra você também Ikki, estou no ônibus voltando para casa por quê?

–Hum nada vai deixa quieto, eu estou saindo agora da escola e vou me atrasar para buscar a Esmeralda achei que você poderia buscá-la.

–Ué, pra que isso agora?

–O Felipe ta causando na dela já esqueceu? È fóda ela voltar sozinha.

–Hum tem razão, quer que eu volte?

–Não deixa quieto, vai demorar mais, eu vou direto para o serviço dela, eu tinha pedido para ela não ir sozinha ela deve estar esperando em algum lugar.

Ikki desliga o celular e aperta o passo para chegar logo até o consultório onde Esmeralda trabalhava.

Porra estou atrasado

Quando Ikki chega no consultório vê o carro de Felipe estacionado na frente.

Merda............essa cara só pode estar me tirando...............


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Notas finais do capítulo

Brigada gente. Até mais ver! rsrs



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