Coming Home escrita por belli123


Capítulo 3
Capítulo III - A Guarda Avançada




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Bem garoto, creio que você acabou de conhecer seu tio Henry. Devo te pedir desculpas em nome dele, nunca foi uma pessoa muito discreta a criança


     Moody mal havia acabado de se pronunciar quando Harry sentiu sua respiração parar. Ele deveria ter entendido tudo aquilo mal, é claro, por que não havia nenhuma chance que Olho tonto Moody havia acabado de dizer que ele tinha um tio e que, de alguma forma, ambos haviam ido parar em baixo do mesmo teto na rua dos Alfeneiros. Era simplesmente impossível, quero dizer: por Merlin, eles ainda tinham quase a mesma idade!
     — Mas como? – Harry perguntou, depois de quase um minuto inteiro deatordoamento – quero dizer, eu tenho um tio? Como eu nunca soube dele? Onde ele estava? Por que...
     Olho tonto o interrompeu.
     — Ow, ow ow, tome um folego garoto – comandou. Seu olho de vidro finalmente parando de girar para mandar-lhe um olhar de reprovação. – Nada de se afobar muito e acabar inconsciente de novo. – lembrou, seu tom de voz lentamente se tornando divertido quanto mais se aproximava do final.
     Harry franziu a testa, suas feições se transformando em uma carranca enquanto novamente se afogava em frustrações. Primeiro ele era atacado por dementadores, depois de passar a maior parte de suas férias sem informações e agora as pessoas também iriam lhe negar respostas sobre, ao que tudo indicava, seu único parente vivo fora os Dursley?
     Tomado novamente pela fúria que o dominava mais cedo Harry abriu a boca, pronto para reclamar mas, antes que pudesse começar a pequena mulher no quarto, que Harry já se esquecera de estar presente ali, resolveu se pronunciar:
     — Olha gente, eu odeio interromper, mas, estamos em cima da hora – lembrou ela com um sorriso, seu cabelo rapidamente se tornando um ofuscante tom de laranja enquanto se aproximava de sua cama como se isso pudesse apaziguar as coisas.   

Os olhos de Harry se arregalaram em surpresa, sua atenção agora na cor laranja berrante enquanto tentava se lembrar de alguma vez já ter visto algo como isso em sua vida.

Aparentementeindiferente a sua reação, a mesma continuou, como se aquilo fosse normal

— as explicações podem ser feitas depois que terminarmos de arrumar as coisas e sairmos da casa. – concluiu.
A sua frente olho tonto pareceu considerar suas palavras, antes de assentir bruscamente com firmeza.

— Você está certa – concordou e seu olho rapidamente deu uma guinada brusca para a parte de trás de seu crânio. – temos que sair o mais rápido possível. Prepare o garoto enquanto eu vou avisar os outros. – terminou, caminhando sem um segundo pensamento para a porta de seu quarto.
Tonks franziu o cenho antes de se virar para si com um sorriso.

— Acho que ainda não nos conhecemos – apontou ela com um sorriso – meu nome é Tonks, sou uma das pessoas que se candidatou para ajudar a escoltar você para fora daqui. – se apresentou, estendendo sua mão amigavelmente.

Harrry sorriu fracamente, aceitando a mão oferecida de modo educado. Qualquer pessoa que se dispusesse a tirá-lo dali aquela altura já poderia ser considerada um amigo.

— Muito prazer, sou Harry. Harry Potter. – apresentou-se sentindo-se um pouco bobo ao pronunciar as palavras em voz alta.

Novamente, Tonks não pareceu incomodada.

— Então Harry Potter, que tal eu te ajudar a começar a embalar tudo? – sugeriu ela com animação e logo começou a juntar seus pertences com movimentos de sua varinha. Harry assentiu e, sem relutância, se ocupou em começar a recolher sua bagunça.

A maioria de seus pertences estava espalhada pelo chão, onde ele tentara se distrair com cada um deles e os jogara para o lado; a gaiola de Edwiges precisava ser limpa, e estava começando a feder; e seu malão estava aberto, deixando à mostra uma mistura confusa de roupas de trouxa e vestes de bruxo que haviam transbordado por todo o chão à volta.

Quando Harry finalmente começou a recolher suas roupas e atirá-los apressadamente no malão descuidadamente. Tonks parou diante do armário para olhar criticamente a própria imagem no espelho do lado interno da porta.

— Sabe, acho que laranja não é bem a minha cor — comentou pensativa, puxando uma mecha dos cabelos espetados. — Você não acha que me dá um ar meio louco?

— Hum — começou Harry, espiando a bruxa por cima do seu livro Os times de quadribol da Grã-Bretanha e da Irlanda.

— É, dá — concluiu definitivamente Tonks. Ela apertou os olhos em uma expressão preocupada, como se estivesse tentando se lembrar de alguma coisa.
Um segundo depois, seus cabelos tinham mudado para rosa-chiclete.

— Como é que você faz isso? — perguntou Harry, boquiaberto, quando ela reabriu os olhos.

— Sou metamorfomaga — respondeu ela, voltando a olhar para o espelho e virando a cabeça para poder ver o cabelo de todos os lados. — O que significa que posso mudar minha aparência à vontade — acrescentou ao ver a expressão intrigada de Harry no espelho às suas costas. — Seu tio Henry também é assim, você não reparou que ele não tem todas aquelas rugas que as pessoas da idade dele provavelmente deveriam ter? – questionou, mandando-lhe um sorriso divertido pelo vidro do espelho. - metamorfomago!

Harry arregalou seus olhos, imediatamente largando seu livro em seu malão quando o mesmo passava a dar total atenção às palavras de Tonks. Desde o momento que Moody havia lhes deixado sozinhos no quarto ele havia sido atingido com um imenso desejo de enchê-la com perguntas sobre Henry e sua existência desconhecida por ele, mas, não tinha certeza se a mesma o conhecia.
Isso era uma novidade.

— Henry é um Metamorfomago? –

perguntou Harry, impressionado.

— Ah sim, não completo como eu é claro – confirmou, de modo distraído – ele pode avançar e regredir a idade e as características dele, mas não muda-las para outras diferentes. Ouvi falar que ele recebia as melhores notas em Esconderijos e Disfarces durante o treinamento dele para auror, muito inteligente.

— Espera, ele também é um auror? – Perguntou Harry novamente, não escondendo a surpresa em sua voz. Ser caçador de bruxos das trevas era a única carreira em que ele pensara seguir quando terminasse Hogwarts.

— Bem, ele era, antes da cadeia e tudo. - explicou ela e olhou pensativamente para seu quarto, como se estivesse confusa com algo. - seu quarto é um pouco limpo para um adolescente, não é?
Harry assentiu, realmente não prestando atenção as palavras de Tonks. Ele encontrou algo para perguntar na altura em que Tonks terminara de guardar as coisas de sua mesa e começara a mexer em seu baú, distraída.

— Espera o que você quis dizer com cadeia? - perguntou ele, sua testa enrugada em um semblante confuso enquanto finalmente os novos fatos começavam a se organizar em sua cabeça. Ele na verdade até tinha algumas teorias sobre o que aquelas palavras de Tonks poderiam significar, mas, queria ter certeza caso pudesse ter se enganado.

— Bem, - iniciou ela depois de alguns segundos de hesitação. Era óbvio que a mesma parecia debater consigo mesmo a prudência de lhe fornecer informações no momento mas continuou a falar de qualquer jeito -, eu não sei se posso falar disso ou não, Moody me disse que eu não deveria falar nada até estarmos em segurança e, sinceramente, não acho que você queira ouvir isso de mim quando daqui a pouco tempo pode ouvir isso em primeira mão. - comentou, arqueando uma de suas sobrancelhas em dúvida.
Harry assentiu, provavelmente mais decepcionado do que seria educado se mostrar, mas, a perspectiva de finalmente encontrar um membro de sua família vivo e que, aparentemente, havia vindo por ele estava começando a pesar e ele já não poderia conter seu nervosismo sobre isso.

— Ótimo. Vamos terminar isso certo? Fazer malas! — exclamou a bruxa, agitando a varinha com um movimento longo e amplo que abarcou o chão.
Livros, roupas, telescópio e balança, tudo levantou vôo e se precipitou rápida e desordenadamente para dentro do malão.

— Não ficou muito arrumado — disse Tonks, se aproximando do malão e espiando a confusão ali dentro. — Minha mãe tem um jeito para fazer as coisas entrarem arrumadinhas — e até consegue que as meias se enrolem sozinhas... mas nunca aprendi como é que ela faz... é uma espécie de sacudida rápida com a varinha.— Ela experimentou esperançosa.

Uma das meias de Harry começou a se ondular lentamente, mas tornou a se achatar em cima da montoeira existente.

— Ah, deixa pra lá — disse Tonks, fechando a tampa do malão —, pelo menos está tudo dentro. Isso aí está pedindo uma limpezinha, também. — Ela apontou para a gaiola de Edwiges. — Limpar. — Penas e titicas desapareceram.

— Bom, agora está um pouquinho melhor — nunca peguei o jeito desses feitiços domésticos. Certo... está tudo aí? Caldeirão? Vassoura? Uau! Uma Firebolt?
Os olhos da bruxa se arregalaram ao pousar sobre a vassoura na mão direita de Harry. Era o orgulho e a alegria do garoto, um presente de Sirius, uma vassoura de categoria internacional.

— E eu ainda vôo numa Comet 260 — comentou Tonks, com inveja. — Ah, deixa pra lá... a varinha continua no bolso da jeans? O.k., vamos. Locomotor malão.

O malão de Harry ergueu-se alguns centímetros do chão. Segurando a varinha como se fosse a batuta de um maestro, Tonks fez o objeto atravessar o quarto e sair pela porta à frente deles, a gaiola de Edwiges na mão esquerda. Harry desceu a escada atrás da bruxa levando sua vassoura. Suas mãos tremiam e quase no meio da escada ele teve que conter seu nervosismo para impedir-se de descer de dois em dois degraus.

Eles estavam perto, podia até ouvir as vozes dos outros presentes na cozinha.
Remus Lupin era quem estava mais próximo de Harry. Embora ainda jovem, Lupin parecia cansado e bem doente; tinha mais cabelos brancos do que quando o garoto se despedira dele, e suas vestes estavam mais remendadas e gastas que nunca. Ainda assim, ele olhava para Harry com um grande sorriso, que o garoto tentou retribuir apesar do seu estado de sua ansiedade.

— É, vejo o que quis dizer, Remus — disse um bruxo negro e careca parado no círculo mais externo do grupo; tinha uma voz grave e lenta e usava um único brinco de ouro na orelha —, ele é definitivamente um Potter.

— Exceto pelos olhos — disse a voz asmática de um bruxo de cabelos prateados mais ao fundo. — São os olhos de Lílian.

Muito consciente de que todos continuavam de olhos fixos nele, Harry terminou de descer as escadas, guardando a varinha no bolso traseiro das jeans enquanto descia.

— Não guarde a varinha aí, garoto! — berrou Moody. — E se pegar fogo? Bruxos mais sabidos que você já perderam as nádegas, sabe!

— Quem é que você ouviu dizer que perdeu a nádega? — perguntou Tonks interessada.

— Não se preocupe com isso, e você guarde a varinha longe do bolso traseiro! — vociferou Olho-Tonto. — Medidas de segurança elementares para o uso da varinha, ninguém se preocupa mais com elas. — E saiu mancando da a cozinha. — E estou vendo você — disse, irritado, quando Tonks girou os olhos para o teto.

Lupin estendeu a mão e apertou a de Harry.

— Como é que você tem andado? — perguntou, examinando Harry atentamente.

— Ó-ótimo... – Responder Harry distraído e, sem permissão, seus olhos se moveram por conta própria pelo quarto, a procura de uma figura em particular.

E ele a encontrou depois de apenas alguns segundos, em um canto afastado da cozinha onde tia Petúnia costumava guardar seus itens de porcelana. Ele já estava olhando para Harry e não desviou o olhar mesmo quando seus olhos encontraram com os dele através das pessoas.

De repente Harry sentia-se muito consciente de que não penteava os cabelos havia quatro dias.

— Harry, esse é Quim Shacklebolt — apresentou Lupin, retirando-o de seus pensamentos e indicando o bruxo negro e alto que fez uma reverência a direita de Harry. — Elifas Doge. — Um bruxo de voz asmática fez um aceno com a cabeça. — Dédalo Diggle...

— Já nos encontramos antes — esganiçou-se o excitável Diggle, deixando cair a cartola roxa.

— Emelina Vance. — Uma bruxa de ar imponente acenou a cabeça coberta por um xale verde-água. — Estúrgio Podmore. — Um bruxo de queixo quadrado e chapéu cor de palha deu uma piscadela.

— Héstia Jones. — Perto da torradeira, uma bruxa, de faces coradas e cabelos negros, deu um adeusinho. – E... – Hesitou Lupin por um momento, seus olhos cansados adquirindo uma sombra indecifrável de emoção quando o mesmo finalmente se direcionou a figura de Henry do outro lado da cozinha.

Harry deu um passo inconsciente para frente, excitado e, ele viu Henry hesitantemente se aproximar de onde ele e Remus estavam parados. As pessoas sussuravam a seu redor, tentando e falhando em esconder seu assombro e, sendo foco de toda atencao, Henry parecia quase tímido, lentamente andando em direção ao aglomerado de pessoas como se não soubesse ao certo se essa era a decisão certa a se fazer.

Harry notou com espanto que o mesmo havia mudado sua aparência para uma idade agora semelhante a Lupin e, tinha absoluta certeza que, era assim que seu pai se pareceria se houvesse sobrevivido ao ataque anos atrás.

Ele prendeu a respiração, quando o mesmo parou um pouco antes de Lupin, bem ali, na sua frente.

— Harry, - iniciou Remus novamente, mas, sua voz parecia mais suave quando pronunciara seu nome, quase emocionada. Harry sentiu sua emoção crescer. -, esse é Henry Potter, irmão gêmeo de seu pai. – terminou, colocando uma de suas mãos no ombro do homem que sorria de modo tímido.

E em apenas alguns segundo a ansiedade de Harry foi tomada por excitação: era como se estivesse olhando para si mesmo, mas com erros intencionais. Os olhos de Henry eram castanho-esverdeados e pareciam muito mais sábios do que os de Harry, o que supunha ser normal para os homens de sua idade, seu nariz também era mais comprido do que o seu e não havia cicatriz em sua testa mas, ambos tinham o mesmo rosto magro, a mesma boca e as mesmas sobrancelhas; os cabelos de Henry levantavam atrás exatamente como os do sobrinho, suas mãos poderiam ser as dele e, com espanto Harry notou que tinham quase o mesmo sorriso.

— É um prazer ver você de novo Harry – ele cumprimentou as mãos enfiadas em seus bolsos de sua calça enquanto seus olhos olhavam para ele como se tentasse absorver todos os traços de seu rosto de uma só vez.

E Harry não podia falar!

Sua língua era como chumbo em sua boca e com um leve espanto ele sentiu uma mistura de todos os sentimentos represados a anos dentro de si virem a tona, o que, vergonhosamente, o fazia se transformar em uma estátua quando tudo o que queria era questionar o homem diante de si. E era era um sentimento estranho, por que estava emocionado por conhecer esse desconhecido que poderia se passar por seu pai se não soubesse quem ele era mas, também preocupado por não saber nada do mesmo e infinitamente aliviado por não ser apenas os Dursley que compartilhavam laços, mas o que faria? Como faria? Quem seria esse homem em sua vida daqui para frente?

Parecendo ler seus pensamentos Henry retirou lentamente suas mãos no bolso com a intenção de fazer algo com elas, lhe abraçar, segurar seus ombros ou até mesmo lhe dar alguns tapas reconfortantes em suas costas, mas, pareceu mudar de ideia, estendendo sua mão para um aperto no lugar.

Harry a aceitou, sem seu controle sentindo-se decepcionado pelo gesto mas, isso rapidamente mudou para uma sensação quente em seu peito quando o mesmo resolverá completar com um aperto reconfortante para tranquiliza-lo.

— J-Já nos vimos antes? – perguntou Harry curiosamente. Um olhar hesitante em seu rosto enquanto tentava desesperadamente se lembrar de algo, qualquer coisa, que pudesse estar remotamente ligada ao mesmo.

Henry sorriu em resposta, parecendo quase nostálgico pela pergunta.

— Sim, mas, acho que você era muito pequeno para se lembrar. – informo com um sorriso, lentamente soltando sua mão que só agora Harry percebera ainda estarem atadas -, sinto muito por demorar tanto para nos encontrarmos de novo. – se desculpou.

E um olhar sombrio nublou suas feições suaves.

Harry abriu sua boca, livre de suas inseguranças e pronto para perguntar tudo o que estivera em sua mente na última hora, mas, não teve tempo o suficiente.

— Não, não vamos falar nada aqui, é arriscado demais — interrompeu Moody entrando na cozinha, seu olho normal preso no garoto enquanto seu olho mágico estava focalizando o teto. — Pombas — acrescentou zangado, levando uma das mãos ao olho mágico. — Não para de prender desde que aquele desgraçado o usou.

— Como vamos chegar... a esse lugar a que a gente está indo? — perguntou Henry, se focando na situação.

— Vassouras — disse Lupin. — É o único jeito. Harry é jovem demais para aparatar, eles devem estar vigiando a rede de Flu e vai nos custar mais do que a nossa vida montar uma chave de portal sem autorização.

— Remus contou que você é um bom piloto — disse Quim Shacklebolt para Harry, sua voz ressonante.

— E excelente — confirmou Lupin, consultando o relógio. - Temos mais ou menos um minuto, acho. Talvez fosse bom irmos para o jardim e aguardarmos prontos. Harry, deixei uma carta avisando aos seus tios para não se preocuparem...

— Eles não vão se preocupar — respondeu Harry.

—... que você não corre perigo...

— Assim eles vão ficar deprimidos.

—... e que você os verá no próximo verão.

— Preciso?

Lupin sorriu, mas foi Harry sentiu os olhares de todos colados em sua cabeça. Henry era, particularmente, um  dos olhares mais dificeis de se ignorar, provavelmente pela proximidade de si.

Ele parecia pronto para dizer algo antes de Moody tomar sua frente.

— Eu já disse para deixarem de papo. venha aqui, garoto — disse Alastor com rispidez, acenando com a varinha para Harry se aproximar. — Preciso desiludir você.

— O senhor precisa o quê? — perguntou o garoto, nervoso. Hesitantemente se afastando de todos para ocupar uma posição frente a Moody.

— Feitiço da Desilusão — explicou Moody erguendo a varinha. — Lupin disse que você tem uma Capa da Invisibilidade, mas ela não vai cobri-lo o tempo todo que estiver voando; o feitiço vai disfarçar você melhor. Agora...

O bruxo deu uma pancada forte no cocuruto de Harry e ele teve a curiosa sensação de que Moody acabara de quebrar um ovo ali; um filete gelado pareceu escorrer pelo seu corpo a partir do ponto em que a varinha batera.

— Bem bom, Olho-Tonto — disse Tonks em tom de admiração, olhando para a cintura de Harry.

O garoto baixou os olhos para seu corpo, ou melhor, para o que fora seu corpo, porque não parecia mais o dele. Não estava invisível; mas simplesmente assumira a cor e a textura exatas do eletrodoméstico às suas costas. Ele parecia ter se transformado em um camaleão humano.

— Vamos — disse Moody, destrancando a porta dos fundos com a varinha. Todos saíram para o belo gramado do jardim de tio Válter, mas, Harry não se mexeu, esperando Remus e Henry se mudarem de seus lugares antes de se colocar seguir junto com eles.

Remus sorriu para si, parecendo entender sua necessidade de manter um olho em seu novo parente encontrado. Eles deixaram a casa em silêncio e Henry se certificou de fechar a porta atrás de si.

— Noite clara — resmungou Moody lá fora, seu olho mágico esquadrinhando o céu. — Teria sido melhor se houvesse umas nuvens. Certo, você... — falou o bruxo para Harry com rispidez —, vamos voar em formação cerrada. Tonks irá à sua frente, mantenha-se colado à cauda dela. Lupin e o Potter mais velho vão cobrir você por baixo. Eu vou atrás. O resto ficará circulando em volta. Não saiam da formação para nada, entenderam? Se um de nós for morto...

— E isso pode acontecer? — perguntou Harry apreensivo, seu olhar se deslocando rapidamente para Henry enquanto o mesmo tentava inutilmente não se afogar em ansiedade. Moody não lhe deu atenção.

—... os outros continuarão voando, não parem, não dispersem. Se nos eliminarem e você sobreviver, Harry, há uma guarda recuada de prontidão para assumir, continue a voar para oeste e ela irá se reunir a você.

— Pare de ser tão animador, Olho-Tonto, ele vai pensar que não estamos levando isto a sério — disse Tonks, enquanto prendia o malão de Harry e a gaiola de Edwiges aos arreios que trazia pendurados à vassoura.

— Estou só contando ao garoto qual é o plano — rosnou Moody. — Nossa missão é entregá-lo ileso na sede, e se morrermos na tentativa...

— Ninguém vai morrer — disse Quim Shacklebolt com sua voz grave e calmante.

— Montem as vassouras, esse é o primeiro sinal! — comandou Lupin, apontando para o céu.

No alto, a uma grande distância, uma chuva de faíscas vermelhas brilhara entre as estrelas. Harry identificou-as imediatamente como faíscas produzidas por uma varinha. Passou a perna direita por cima da Firebolt, segurou com firmeza a empunhadura e sentiu-a vibrar muito de leve, como se estivesse tão ansiosa quanto ele para ganhar novamente os ares. Ele notou com o canto de seus olhos Henry fazer o mesmo em uma vassoura que parecia tão nova quanto a sua, mas, Harry não poderia capturar mais detalhes pela distancia em que se encontravam um do outro.

Harry deu um forte impulso. O ar fresco da noite passava veloz por seus cabelos enquanto os jardins cuidados da rua dos Alfeneiros iam ficando para trás, reduzidos a uma colcha de retalhos verde-escuros e pretos, e todos os pensamentos sobre a audiência no Ministério desapareceram de sua mente como se uma lufada de vento os tivesse varrido dali. Ele teve a sensação de que seu coração ia explodir de prazer; estava voando outra vez, voando para longe da rua dos Alfeneiros, como passara imaginando o verão inteiro, estava voltando para casa... por uns poucos e gloriosos minutos, todos os seus problemas pareceram ir recuando até desaparecer, insignificantes no vasto céu estrelado.

— Tudo à esquerda, tudo à esquerda, tem um trouxa olhando para o céu! — gritou Moody às costas de Harry. Tonks deu uma guinada e o garoto a acompanhou, observando o malão balançar violentamente sob a vassoura da bruxa. — Precisamos ganhar mais altura... subam mais quatrocentos metros!

Com o frio e a velocidade da subida, os olhos de Harry se encheram de água; ele não conseguia ver nada no solo, exceto os minúsculos pontinhos de luz que eram os faróis dos carros e os lampiões. Duas luzinhas talvez pertencessem ao carro do tio Válter... neste momento, os Dursley estariam voltando para a casa vazia, enfurecidos por causa do concurso inexistente... e Harry soltou uma gargalhada só de pensar na cena, embora sua voz fosse abafada pela agitação das vestes dos bruxos, o rangido das correias que prendiam o malão e a gaiola, e o ruído do vento ao passar em grande velocidade por seus ouvidos. Ele não se sentia vivo assim fazia um mês, nem tão feliz.

— Rumar para o sul! — gritou Olho-Tonto. — Cidade à frente! Eles viraram para a direita a fim de evitar sobrevoar a cintilante teia de luzes lá embaixo.

— Rumar para sudeste e continuar subindo, há umas nuvens baixas à frente que podem nos esconder! — gritou Moody.

— Não vamos entrar em nuvens! — gritou Tonks zangada. — Vamos nos encharcar, Olho-Tonto!

Harry ficou aliviado de ouvi-la reclamar; suas mãos estavam ficando dormentes na empunhadura da vassoura. Desejou ter se lembrado de vestir um casaco; estava começando a tremer de frio.
Eles alteravam o curso a intervalos, segundo as instruções de Olho-Tonto. Harry conservava os olhos semicerrados para se proteger do vento gelado que começava a fazer suas orelhas arderem; só se lembrava de sentir tanto frio assim montando uma vassoura uma vez, na vida, durante uma partida de quadribol contra Lufa-Lufa, no terceiro ano de escola, que se realizara debaixo de um temporal. A guarda voava ao redor dele, continuamente, como gigantescas aves de rapina. Harry perdeu a noção de tempo. Ficou imaginando quantos minutos fazia que estavam voando, parecia no mínimo uma hora.

— Dobrar para sudeste! — berrou Moody. — Queremos evitar a estrada!
Harry agora estava tão congelado que pensou, saudoso, no aconchego seco do interior dos carros que passavam lá embaixo, depois, ainda mais saudoso, numa viagem de Flu; talvez fosse desconfortável ficar rodopiando por lareiras, mas pelo menos nas chamas era quentinho... Henry rodeou-o em um mergulho, os olhos brilhando de excitação e o branco de seus dentes reluzindo ao luar, ele parecia diferente e Harry notou que o mesmo provavelmente havia mudado para uma aparência mais jovem em algum momento mais cedo, eles quase poderiam se passar por irmãos agora e o mesmo soltou uma pequena risada ao ouvir ao ve-lo gritar animadamente mas, quando finalmente se sentirá confiante o suficiente para puxar uma conversa ele também mergulhou por cima dele e foi substituído por Estúrgio Podmore...

— Devíamos retroceder um pouco, para nos certificar de que não estamos sendo seguidos! — gritou Moody.

— VOCÊ FICOU DOIDO, OLHO-TONTO? — berrou Tonks à frente. — Estamos congelados nas vassouras! Se continuarmos a nos desviar da rota, só vamos chegar na semana que vem! Além do mais, já estamos quase chegando!

— Hora de iniciar a descida! — ouviu-se a voz de Lupin. — Siga Tonks, Harry!
O garoto seguiu a bruxa em um mergulho. Estavam rumando para a maior coleção de luzes que ele já vira, uma vasta massa irregular que se entrecruzava, onde brilhavam linhas e redes entremeadas por espaços muito negros.

Continuaram voando cada vez mais baixo, até Harry poder distinguir os faróis de cada carro, os lampiões, as chaminés e as antenas de televisão. Ele queria muito chegar ao chão, embora tivesse certeza de que alguém precisaria descongelá-lo da vassoura.

— Aqui vamos nós! — avisou Tonks, e alguns segundos depois ela pousou.
Harry tocou o solo logo em seguida e desmontou em um trecho de grama alta, no centro de uma pequena praça. Tonks já estava desafivelando o malão.

Tiritando de frio, o garoto olhou para os lados. Ao seu redor, as fachadas das casas cobertas de fuligem não pareciam convidativas; algumas tinham janelas quebradas que refletiam opacamente a luz dos lampiões, a pintura estava descascando em muitas das portas e havia montes de lixo na entrada das casas.

— Onde estamos? — perguntou Harry, mas Lupin disse baixinho:

— Em um instante.

Moody vasculhava sua capa, as mãos recurvadas insensíveis de frio.

— Achei — murmurou, erguendo bem no alto um objeto que parecia um isqueiro de prata e acionando-o.

A luz do lampião mais próximo apagou; ele não parou de acionar o isqueiro até todas as lâmpadas da praça estarem apagadas, restando apenas a luz de uma janela, protegida por cortinas, e a lua crescente no céu.

— Pedi-o emprestado a Dumbledore — grunhiu Moody, embolsando o desiluminador. — Isto cuidará de qualquer trouxa que esteja espiando pela janela, entende? Agora vamos logo.

Ele tomou Harry pelo braço e o conduziu para longe do gramado, atravessou a rua e subiu a calçada; Lupin, Henry e Tonks o seguiram, carregando o malão e a coruja do garoto, o restante da guarda, empunhava suas varinhas, flanqueando os quatro.

De uma janela do primeiro andar próxima, vinha um som abafado de música.
Um cheiro acre de lixo podre desprendia-se de uma pilha de sacas estufadas de lixo logo à entrada do portão quebrado.

— Tome — murmurou Moody, empurrando um pedaço de pergaminho em direção à mão desiludida de Harry, e aproximou sua varinha acesa para iluminar o que estava escrito.

— Leia depressa e decore.

Harry olhou para o pedaço de pergaminho. A caligrafia fina lhe era vagamente familiar. Ele leu:

A sede da Ordem da Fênix encontra-se no largo Grimmauld, número doze, Londres.


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