É noite de segunda-feira. Fazem nove dias que não vejo ou falo com Ethan, ele tem me evitado. Nos primeiros quatro dias liguei e mandei mensagens, mas ele não respondeu. Então desisti.

“Sei que não posso mudar isso, mas ainda posso dar um jeito.” As palavras dele ecoavam em minha cabeça, não dei importância no dia, mas agora fazia sentido. O jeito era ignorar, fazer de conta que eu não existo.

Estava fingindo não me importar, sai o fim de semana com algumas amigas. Sean estava por lá e Lily não perdeu a chance de tentar me empurrar para ele, o achava melhor partido do que Ethan.

Encontrei Kate no fim de seu expediente, fomos provar os vestidos para o casamento que será em menos de duas semanas, depois fomos ao shopping e agora estamos no apartamento dela. Ethan não está, saiu com os amigos, ou foi o que Kate achou melhor dizer. Já são quase nove da noite.

– É tão bom ter alguém para fazer compras. – Kate diz radiante. – Ana nunca foi uma shopaholic. – Ela ri. E então atende o celular que começa a tocar.

Saio de perto para não escutar a conversa, seja lá quem for. É a primeira vez que entro no apartamento. Não é nenhum cinco estrelas, mas é grande e confortável. Penso se eu seria capaz de morar sozinha.

– Preciso ir, surgiu uma matéria e não tem mais ninguém que possa fazer. – Ela diz animada, obviamente era uma grande oportunidade de mostrar seu talento. – Mas tem um problema. Ethan está sem a chave, eu deveria ficar em casa até ele chegar. Você não pode ficar e esperar por ele?

– Kate eu... – tento dizer.

– Por favor. – Ela pede. Em seguida faz beicinho e une as duas mãos em súplica. O que a fez se parecer um pouco comigo.

Não podia deixar ela na mão, e uma parte de mim queria desesperadamente ver Ethan.

– Tudo bem. – Digo.

Ela vai até o quarto e troca sua roupa, em menos de dez minutos está fora de casa.

Sento-me no sofá e começo ler o livro Razão e Sensibilidade, de Jane Austen que encontro na estante, deve ser de Ana, muitas coisas dela ainda estão no apartamento. Ao ler me identifico com uma das personagens, Marianne, descrita como sendo espontânea, franca, excessivamente sensível e romântica. Me empolgo com a leitura.

Está perto das onze quando escuto a porta se abrir.

Olho para lá. Ethan está de costas e uma mulher branca de longos cabelos negros está com os braços ao redor de seu pescoço e olhos fechados. Estão grudados em um beijo de ritmo frenético.

De repente não sei o que fazer. Eu já havia visto Ethan beijar outras, mas em baladas, não na casa dele, quando ele estava a um passo de ir para a cama com elas.

A mulher abre os olhos, me vê e interrompe o beijo.

– Sua irmã? – Ela pergunta baixinho, mas posso escutá-la.

– Kate... – Ethan se vira para falar com Kate, mas encontra a mim.

– Oi. – Falo. Solto o livro no sofá e me levanto. – A Kate teve um compromisso, pediu para te esperar e te dar a chave. – Não consigo olhar para ele, estou de cabeça baixa olhando para meus dedos.

– Ta. Eu cheguei. Pode ir. – Ele é ríspido.

O que?! Meu subconsciente grita. Eu não havia feito nada para ser tratada daquela maneira.

– Com todo prazer. – Digo ríspida também. – Podem continuar, acho que estavam indo para o quarto, não é? – Pergunto rindo. Não sei se de raiva, de nervosismo ou se estava sendo só irônica.

– Vai lá ao meu quarto baby. Segunda porta. – Ele diz docemente para aquela moça.

Ela o atende e vai. O que ele estava tentando fazer? Começo a sentir raiva e penso que talvez seja isso que ele queira.

– Aqui sua chave. – Digo. Ele abre a mão com a palma para cima, ao invés de colocar a chave jogo-a para o sofá.

Ele ergue a sobrancelha.

– Quanta educação. – Diz.

– Olha só quem fala. – Retruco. – A Kate me disse que você estava mal na outra semana, mandei mensagem, te liguei, queria saber se você estava melhor. Não mereço nem uma mensagem dizendo: Estou bem sua idiota!? – Digo com a voz mais alterada.

– Eu estava ocupado. – Fala.

– É eu estou vendo. Tão ocupado que precisa me ignorar. Você conseguiu não é? É como se nunca tivesse me conhecido.

– Estava conseguindo. – Ele diz. – Até você aparecer aqui. Na verdade você deveria parar de se importar.

– Acabei de parar Ethan. – Dou de ombros. – Eu não vou, não quero mais me importar. – Solto a respiração. – A única coisa que machuca é saber que para você tenho menos valor do que essas mulheres que você encontra por ai em qualquer boteco.

– Não é questão de valor, é conveniência. – Ele diz com ar cafajeste.

Aquilo é a gota d’água para mim, pego minhas sacolas e vou até a porta.

– Eu fui uma idiota de pensar que você poderia estar apaixonado por mim como eu estou por você. Sou uma romântica boba. Obrigada Ethan, porque pelo menos assim da próxima vez não vou amar ninguém assim. – As palavras saltam da minha boca sem que eu possa controlar.

Ethan está me olhando, não mais de forma estúpida, está pensativo. O que aconteceu? Penso. Mas estou com tanta raiva que só quero ir embora. Vou caminhando para descer, porém sou impedida por ele que segura meu braço.

– Mia. Me desculpa, eu só... – Ethan está atrás de mim.

– Você só o que? Quis parecer um idiota? Parabéns você conseguiu. – Digo com raiva.

– Achei que me afastar deixaria tudo mais fácil. Não achei que você estivesse apaixonada... você acabou de dizer que me ama, quer dizer não falou, mas deu a entender. E agora estou confuso. – Ethan diz tudo muito rápido.

– É eu disse. Mas quer saber Ethan esquece. Vai aproveitar a sua vida, é o que você faz de melhor.- Dou as costas para ele pronta para sair dali. – E eu vou viver a minha. – Digo dando uma ultima olhada para trás.

Ethan coloca a mão de novo em meu braço.

– Mia eu não queria te fazer sofrer ou nada do tipo. Eu tenho um pensamento diferente e... – Ele diz.

– Não importa mais. Foda-se você, foda-se suas complicações com relacionamentos, e foda-se essa droga de amor que eu estava sentindo por você. Agora me deixa descer.

Ele se afasta e eu saio dali o mais rápido que posso.