Não Olhe Para Trás escrita por Mnndys


Capítulo 6
Lágrimas perdidas




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- Mia... – Ele começa a dizer, mas eu o interrompo colocando a mão sobre sua boca. Não podia estragar tudo de novo.
- Não diz. Por favor. – Digo.
Ele fecha os olhos e respira fundo.
- Mia. – Diz de novo, mas dessa vez parece uma suplica.
O tom de voz dele me faz querer dar carinho a ele, mas antes que eu possa pensar em fazer se afasta de mim. Fica de costas, então começa a passar a mão pelo cabelo de um jeito que só Ethan faz, e só faz quando está irritado, desconfortável ou impaciente.
- Você não devia ficar assim. – Falo calmamente. – Foi só um beijo.
Ethan volta a ficar de frente para mim, dessa vez bem longe. Ele me olha e faz sinal negativo com a cabeça.
- Você não entende. – Ele diz.
Desencosto-me do carro e ando em sua direção.
- Não, eu não entendo. – Digo exasperada. – Será que é muito pedir uma explicação.
- É. – Diz. – Quem me dera nunca ter conhecido você. – Diz impassível.
As palavras me atingem instantaneamente, parece até que as gotas geladas de chuva caíram dentro de mim e congelaram o meu coração, mas não, quem fez isso foi Ethan. Sinto vontade de gritar, de dar um soco na cara dele, de chorar, tudo ao mesmo tempo.
- O que eu fiz de errado? – Pergunto. A voz falhando.
- Você é linda, divertida, inteligente. Mas isso é óbvio. – Diz apontando para mim, como se eu devesse me ver. – Mas acima de tudo você é companheira, atenciosa, teimosa, insistente e cheia de vida. – A boca dele se curva em um sorriso.
- O que é ruim nisso tudo?
- Tudo. – Fala. Agora está próximo de mim outra vez. Segura meu rosto entre suas mãos. – Você nem pode perceber como deixa os homens loucos. – Seus olhos parecem estar incendiando.
Eu deixar os homens loucos? Não acho que fosse verdade. Os únicos homens que eu deixava loucos são meu pai e meus irmãos, e eram loucos de raiva.
- Eu te deixo assim? – pergunto, ele move a cabeça em afirmação. Apesar da situação não consigo conter um sorriso. – Mas tem um problema. Qual é?
Solta meu rosto.
- O problema é que não quero ninguém. – Diz.
- Por quê? – Eu era só perguntas.
- Relacionamentos são uma droga Mia. – Diz com convicção. Depois se vira e anda até a Mercedes.
Como é? Eu deveria merecer um pouco mais do que apenas Relacionamentos são uma droga Mia.
- Onde está indo? – Me sinto uma idiota por perguntar.
- Para casa. – Olho para ele sem entender, buscando mais. – Eu disse que era melhor nunca ter te conhecido, sei que não posso mudar isso, mas ainda posso dar um jeito. – Ele me dá uma breve aceno ao qual não consigo retribuir.
Vejo o carro ir embora.
As lágrimas descem meu rosto, quentes. Era estranho, no meio da chuva fria nos últimos minutos eu havia tido duas sensações de calor, o beijo de Ethan e as lágrimas que ele me causou. Dois opostos.
Saio correndo em direção a casa, entro sem fazer barulho. Ao entrar no meu quarto penso em tomar um banho, não tenho forças e nem vontade, não quero nada. Deito na cama toda molhada e choro por muito tempo.


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- Mia acorde! – É a voz da mamãe.
Não quero me levantar, eu nem dormi direito.
- Mia! – Ela insiste. – Elliot ligou, disse que você não o atende.
Tiro o edredom de cima do rosto e abro os olhos. Esfrego os olhos que estão irritados com a claridade.
- Oi. – Digo. – Que horas são? – Pergunto.
- Onze e meia. – Ela diz calmamente, no melhor estilo Dra. Grace de ser.
- Ana vai me matar. – Antes isso teria feito me levantar correndo e sair toda alegre tentando vencer o atraso, mas estava desanimada. – Vou me arrumar.
Me descubro totalmente e Grace me vê usando a roupa da noite anterior, e o pior é que ainda estava molhada.
- O seu desanimo não é normal, mas estava deixando passar, mas isso Mia. – Ela me repreende. – Tem algo errado aqui, a não ser que você esteja querendo ficar doente.
Faço beicinho. Ela está me olhando disposta a me ouvir e de braços apertos, me jogo nela, colo de mãe seria ótimo. Ficamos ali alguns minutos até que eu decido começar a falar.
- Eu acho que estou apaixonada. – Pauso esperando alguma reação dela, mas não tem. – Pelo Ethan. - Completo.
- Você acha? – Diz, antes de soltar um risinho.
- O que? – Pergunto erguendo o olhar para ela.
- Nada. Só é estranho você achar que está apaixonada quando todos já têm certeza disso.
Minha boca se abre em forma de O. Eu deveria imaginar que todos tinham reparado, ser discreta não era uma das minhas qualidades.
Conto para mamãe tudo que aconteceu.
- Bom para mim está claro que ele gosta de você. – Ela conclui.
- Claro? Aonde? – Digo exasperada. – Estranho jeito de gostar esse.
- Nem todo mundo tem facilidade em se envolver com alguém Mia. – Ela diz. – Ainda mais com você filha, você é sempre tão intensa. – Fala e eu não sei se aquilo é uma critica.
- Para mim Ethan está mais para um conquistador que tem medo de se apaixonar. – Reclamo.
- Talvez você não esteja totalmente errada. Ele talvez tenha medo de se apaixonar, mas com alguma razão. – Ela parece tão sábia.
- Isso quer dizer que? – Pergunto.
- Que ele teve experiências negativas. Ele já namorou antes? – Ela me pergunta.
- Não sei.
- Olha só Mia, vocês mal se conhecem, sabem tão pouco um do outro. Dê tempo a ele e a você. – Ela diz e me lembro de Kate e Ana falarem o mesmo.
- É tem razão. – Digo animada. – Preciso ir me arrumar.
Grace sai e me deixa sozinha.
Não ia deixar ninguém me abalar daquela maneira, eu mal conhecia Ethan, e estava colocando-o em um lugar importante demais na minha vida. Isso era absurdo.
Estabeleci para mim mesma que a partir daquele dia tentaria me tornar imune a ele.
As uma chego ao Escala.
- Quando foi que deixou de ser pontual? – Diz Christian mal-humorado.
- Boa tarde pra você também. – Digo.
Entro na sala e Elliot está lá.
- Olha só quem resolveu nos dar a honra da sua presença. - Diz ele ironicamente.
- Vocês dois tiraram o dia para me atormentar? – Pergunto. – Eu me atrasei, não é o fim do mundo.
- A Kate foi pra cozinha com a Ana, e digamos que ela não é boa na cozinha. – Fala Elliot.
- Eu não tenho esse problema. – Diz Christian orgulhoso. Era lindo o modo como ele falava da noiva.
Será que Christian tinha medo de se apaixonar antes de conhecer Ana? Afinal demorou tanto tempo para ter um relacionamento.
- Por que demorou? – Elliot pergunta me levando para fora dos pensamentos.
- Cheguei tarde em casa. – Conto. – Aliás seria bom deixar seu celular ligado, tive um problema na volta para casa.
- O que aconteceu? – Pergunta Christian, enquanto se ajeita na poltrona.
- O pneu furou. – Respondo, já esperando a bronca.
- E como se virou? – Elliot pergunta.
- Um grupo de bêbados malucos passou de carro e me ajudaram. – Falo.
- O que?! – Os dois falam ao mesmo tempo.
Tenho uma crise de riso. Eles tinham mesmo acreditado, com certeza deviam pensar que eu era estúpida a esse ponto.
- Deixem de ser bobos. Ethan me ajudou. – Esclareço.
- Ethan? – Elliot parece surpreso.
- Era minha única alternativa.
- Poderia ter me ligado. Você não precisa ligar para o Ethan quando tem um problema. – Christian diz soando controlador.
Pobre Ana, deveria sofrer com o jeito possessivo dele.
- Ela gosta de ser socorrida por ele. – Elliot diz.
- Cala a boca. – Digo. – Vou para a cozinha.
Ana e Kate estão conversando animadamente, falando algo sobre o casamento.
- Desculpe o atraso. – Digo quando me aproximo delas.
- O que aconteceu? – Kate pergunta. – Está com olheiras, tem algo errado? – É óbvio que nada escapava a ela.
- Mia pode me ajudar aqui. – Diz Ana. Ela me dá um olhar de cumplicidade. E eu gesticulo com os lábios um Obrigado.
Elas voltam ao assunto do casamento, eu me animo e dou meus palpites e opiniões. Ana e Christian querem algo discreto, eu preferia uma grande festa, mas infelizmente a ultima palavra são eles quem dão. A cerimônia será no nosso jardim, fico imaginando quão lindo ficará.
- Achei que Ethan viesse. – Diz propositalmente Elliot olhando para mim quando nos sentamos a mesa.
Ignoro-o.
- Ethan estava indisposto, acho que está ficando gripado. – Kate explica.
Provavelmente por causa da chuva que havíamos tomado. Fico com pena, afinal era minha culpa. Me pergunto se devo ligar para ele mais tarde.
Após o almoço Elliot e Christian sentam-se para ver beisebol e conversar alguma coisa sobre prédios e arquitetura. Estou junto as garotas, Kate fala empolgada sobre o emprego no Seattle Times.
- Não é um grande cargo, mas é um ótimo começo. – Diz ela.
Ana a olha orgulhosa. É claro que Kate era uma ótima jornalista, ninguém poderia duvidar que com o tempo e as oportunidades escreveria uma carreira de sucesso.
Começo a me sentir mal. Meus olhos ardem, a cabeça dói e meu corpo também. Estava ficando gripada também.
Acabo me despedindo mais cedo de todos.


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