Passo quase a sexta-feira ocupada com o jantar de sábado, a não ser depois do meio da tarde que fui para a casa de Lilly. Só chego em casa as 19:00h. Minha mãe está chorando na sala e papai está falando nervoso ao telefone com um tal de Taylor.

Taylor, o segurança de Christian? Penso.

Elliot me vê e uma expressão de medo está em seus olhos.

– O que houve? – Finalmente pergunto.

Ele demora alguns segundos para responder, parece que está tentando repassar algo na cabeça.

– Christian sumiu. – Ele diz.

Não consigo falar nada. Corro até o sofá onde mamãe está sentada e a abraço. Ninguém me explica nada e eu não pergunto.

Minutos depois papai sai do escritório.

– Vamos para o Escala. – É a única coisa que ele diz.

No carro o silêncio é total.

Ainda não sei direito o que houve, tenho medo do que possa ter sido. Elliot começa a me contar sem que eu peça, acho que precisava falar para se distrair. Conta que Christian havia ido de helicóptero a Portland, mas não pousou de volta, isso há horas atrás. Haviam perdido o contato com o helicóptero e não conseguiam falar com ele pelo celular.

Um frio atingiu todo meu corpo. E se Christian estivesse morto? Não. Christian era um bom piloto.

Todas minhas lembranças com ele desde a infância começam a fluir na minha mente. O Christian tímido, depois briguento. E depois o todo poderoso Grey que intimidava todo mundo. Ou quase todo mundo. O olhar inquisidor dele não afetava a mim, talvez porque eu sabia que ele me amava demais.

Me apeguei a esses momentos para não me deixar abalar.

– Ana! – Falei em um relance. – Já a avisaram?

Elliot se sobressalta, provavelmente havia se esquecido. Ele passa a mão pelo cabelo preocupado, em seguida tira o celular do bolso e começa a discar.

– Kate. – Fala com a voz mais mansa que de costume. – A Ana está com você, não é? Posso falar com ela. – Ele respira fundo antes de Ana pegue o telefone. – Ana. – A voz de Elliot é controlada e suave. – É Christian, ele não voltou de Portland. – Ele está ficando mais nervoso. – O helicóptero desapareceu.

Vejo Elliot fechar os olhos, como se estivesse tentando recuperar as forças. Até que volta a falar com Kate.

– Estamos chegando no Escala, traga Ana para cá também.

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Estou sentada no grande sofá na sala do apartamento de Christian, de mãos dadas com minha mãe e de frente para Ana. Não consigo tirar meus olhos dela, a dor e ansiedade que sinto parecem ainda maiores em seu delicado rosto, mas ela não chora. Ela pisca algumas vezes para nós querendo passar alguma força, mas não é fácil, tanto para ela quanto para nós.

Elliot, Ethan e José, amigo de Kate e Ana, estão ao redor do bar de café da manhã, sérios, conversando algo baixinho. Kate está na sala de TV acompanhando os noticiários, Christian estava em todos.

Papai e Taylor estão em contato com autoridades, mas não tem conseguido dar uma informação coerente. O desaparecimento de Christian já completa oito horas e a busca foi suspensa, a espera é agonizante.

De repente escuto um soluço de Ana. Quando olho ela está levando uma mão a boca, tentando se conter, com certeza estava se forçando a ser forte. Seu amigo José se senta ao seu lado, segurando uma de suas mãos. Nesse instante mamãe solta minha mão e se junta aos meninos no bar, resolvo me aproximar de Ana. Sento-me ao seu lado e seguro a mão que está livre.

– Ele vai voltar. – Digo. Estava confiante na primeira palavra, mas quando cheguei à ultima a frase perdeu força. Estava sem forças mentais e físicas, o sono chegava e meus olhos ardiam.

Ana ergue seus olhos em direção ao bar, sigo seu olhar e vejo Ethan olhando nós duas. Elliot abraça mamãe.

Sinto uma pressão em minha mão, vejo que é Ana que a segura com força. Ela tem os olhos fechados, acredito que esteja fazendo uma oração particular. Estou distraída com ela quando ouço mamãe gritar.

– Christian!

Ela se move rapidamente para o outro lado da sala, onde ele está parado, com expressão desanimada. Está segurando o paletó, sapatos e meias nas mãos, parece terrivelmente cansado. Joga suas coisas no chão, quando mamãe o abraça e beija.

– Mãe? – Ele diz sem parecer entender o que acontecia.

– Eu pensei que nunca iria vê-lo novamente. – Mamãe sussurra.

– Estou aqui. – Parece consternado.

Ela começa a dizer sussurros que não compreendo, e sem seguida se desata em lágrimas. Christian parece não ter reação. Demora alguns segundos para que ele a envolva em seus braços.

–Ele está vivo! Merda, você está aqui! – Papai grita enquanto sai da sala de Taylor. Ele fecha os olhos aliviados.

Levo alguns segundos para entender que Christian está ali mesmo. Grito alguma coisa absurda e depois saio correndo para me envolver em um abraço familiar.

– Desculpa. – Mamãe murmura depois que nos afastamos.

Christian diz algumas palavras de conforto a ela, só depois disso se dá conta da lotação da sala.

– Por que o comitê de recepção? – Diz ele tentando brincar.

Em um segundo seus olhos encontram Ana, mas ele não vai até ela. Fica dando breves explicações a mamãe, enquanto ela dá bronca nele quase gritando. Isso era novidade.

Quando se solta de mamãe é para mim que ele volta seus braços, estou tão aliviada de tê-lo de volta que me permito ser eu novamente e lhe dou um tapa no peito. Ele não reclama.

– Você nos deixou tão preocupados – Falo, sem conseguir conter minhas lágrimas.

– Estou aqui agora, pelo amor de Deus. – Ele murmura.

Acho que Christian não fazia idéia do quanto era amado.

Em seguida é a vez de Elliot abraçá-lo, são breves e quase não demonstram emoção. Depois de ter falado com todos da família, Christian começa a se afastar.

– Eu vou dizer oi para minha menina agora. – Diz.

Todos consentiram com um sorriso e ele se move na direção de Anastásia. Ela se levanta e se joga em seus braços.

– Christian – Ela diz num soluço.

– Calma – Ele diz se aconchegando nos cabelos dela.

De repente eles começam a sussurrar algo um com o outro. As outras pessoas na sala inclusive eu, tentam se distrair e dar um momento aos dois. Aquilo conseguiu me deixar ainda mais emocionada.

Anastásia como boa namorada é a primeira que se lembra de que ele deve precisar comer algo.

– Você está com fome? Precisa de algo para beber? – Ela diz ainda abraçada com ele.

– Sim. – Ele responde.

Christian troca algumas palavras com José.

Enquanto a Sra. Jones busca uma cerveja e algo para comer que ele pede nos aproximamos. Kate que até então estava longe se encaixa nos braços de Elliot, então Ethan também se aproxima e segura uma de minhas mãos. Olho para ele e recebo um sorriso. Foi a primeira vez em horas que me senti bem.

Christian então começou a contar sua história. Ele estava voando com Ros, sua assistente para resolver negócios e fez um desvio para que ela visse o Mount St. Helens. Estavam voando baixo, e segundo ele essa foi a sorte. Houve um incêndio na cauda e ele teve que cortar os eletrônicos e fazer um pouso.

Papai então quebrou o monólogo.

– Um incêndio? Em ambos os motores? – Perguntou horrorizado.

Christian apenas assente com a cabeça.

– Como você apagou o fogo? – Perguntou Kate deixando seus instintos de jornalista a mostra.

– Extintores. Temos que levá-los por lei. – Disse calmamente e voltou a sua história.

Contou que estavam sem sinal de celular e depois estavam sem bateria, só chegaram a estrada porque o GPS ainda funcionava e por fim voltaram para Seatle com a ajuda de um caminhoneiro.

– Eu não pensei... – diz ao olhar para nossa família.

– Que me preocuparia? – Diz mamãe zombando. – Quase ficamos doidos!

– Você virou noticia Mano. – Disse Elliot.

– Sim percebi quando cheguei aqui. – Falou Christian em tom de desaprovação. – Eu deveria ter ligado, mas estava ansioso para voltar.

Quando ele disse isso tive vontade de gritar com ele. Como pode deixar todos preocupados só porque estava ansioso? Ansioso para que? Apesar de querer dar um soco nele fiquei quieta.

Todos ainda estavam tentando entender a situação quando Christian deu a deixa de que estava tarde, ou seja, hora de irmos embora.

– Acho que isso é uma dica Senhoras e Senhores, meu querido irmão precisa de seu sono de beleza. – Elliot zomba sugestivamente. Sabendo como sempre ser inconveniente. Christian faz uma careta para ele.

– Cary pode me levar para casa agora? – Mamãe pergunta.

– Claro, nós podemos dormir um pouco. – Diz ele, demonstrando pela primeira vez o esgotamento.

Nesse momento deixo de ouvir a conversa e vou na direção de Ethan.

– Obrigada por estar aqui, seja pela Ana, pelo Elliot. – Digo.

– E por você também Mia. – Ele diz carinhosamente.

Sorrio, e começo a me encaminhar para o hall de entrada e ele me segue.

– Quando eu disse que queria te ver logo não imaginei que seria essa a situação. – Fala ele, lembrando a despedida depois do almoço no dia anterior.

– Não vão faltar oportunidades. - Digo, demonstrando minhas expectativas. – Amanhã é aniversário do Christian, terá uma pequena festa em casa, você poderia ser meu acompanhante. – A minha voz parecia mais fraca.

Ethan me observa boquiaberto. Então balança a cabeça.

– Eu não sei bem se é uma boa idéia.

Pisquei algumas vezes, confusa. Meu dia havia sido cheio de conturbado demais, e quando acho que pode acontecer algo bom não acontece. Cruzo meus braços e giro sobre meus calcanhares.

– Mamãe, Papai, esperem por mim! – Chamo demonstrando através da minha voz o mau humor.

Estava frustrada, cansada e irritada.