Cartas Para Um Invisível escrita por Yoggi


Capítulo 6
Capítulo 6: Uma Amiga Controladora


Notas iniciais do capítulo

Oii gente, mais um capítulo para vocês ^^
Boa leitura
—Belle



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Miranda

Pensar no trabalho em que as funcionárias e coordenadoras do colégio tiveram no primeiro dia de aula já é algo de costume para mim. O que quero dizer é que sempre, no dia seguinte, há vários tipos de cartazes e folhas com espaços para assinar para a formação dos novos grupos escolares, testes de seleção e aulas extras. É folhetos pela escola toda e digo que, pelo menos, 60% desses papéis acabam no lixo ou no chão. Ler as frases dos cartazes também virou uma distração, pois não são nada criativas e por isso eu rio.

Fui andando até meu armário, que fica no limite entre o cimento e o pátio da escola. No meio do gramado uma mesa de pedra redonda se instalava e já virou território meu, da Amelia, Grace e Gabriele. Eu não sei o porquê desse alvoroço de lugar próprio, mas parece que a escola inteira tem que ter a mesa de cada grupo.

-Onde você esteve? – Perguntou Amelia assim que me aproximei. Havia me lembrado de que sempre vou com ela para escola.

-Bom dia. – Respondi ironicamente.

- Bom dia. – Ela disse sem perder a pose. Nós demos um sorriso para confirmar que não estávamos realmente irritadas, mas ela perguntou novamente.

-Ah, eu... – Não havia pensando numa resposta. No correio? O que eu estaria fazendo lá. Não é do interesse delas. E do nada parei de responder, em transe.

-Sim? – Amelia forçou.

-Eu tive que resolver um negócio com meu pai antes da escola. Sabe... Na fábrica.

-Você foi até a fábrica do seu pai?

-Não... Olha, eu só fui ajudar ele a levar algumas coisas ao correio. Cartas, documentos... Só isso, nossa.

-Calma – Amelia disse rindo. – Com certeza.

-Com certeza. – E eu devolvi um sorriso forçado.

Eu não sei por que era tão importante saber onde eu estava o tempo inteiro. Eu fiquei frustrada com essa pressão que Amelia fazia. Ela é uma garota muito carente, eu acho. Portanto, tem medo de nos perder e fica fazendo isso. Não aguentaria... Eu acho.

Talvez eu devesse perguntar ao Edward. E então me peguei pensando nele. Como ele seria? Um garoto normal como eu. Sua idade? A mesma que a minha. Seria bonito e legal como é nas cartas? Talvez sim. E foi assim que o formulei na cabeça. Contudo, a possibilidade de ele ser um pedófilo que está atrás de uma garotinha me atormentava. E o medo de se corresponder com ele aumentava.

Lembro-me de seu endereço. A zona mais carente da cidade. Eu já pensei na possibilidade de ir até lá, mas não com meus pais ou Amelia. Eu preciso de um carro e uma habilitação. E se ele fosse um pedófilo, não deixaria seu endereço nas cartas. Ah! Eu queria gritar e saber quem é ele, como é ele, quantos anos ele tem.

Eu queria falar com Edward. Eu queria poder ser sua amiga, mas, como todos sabem, a regra número um é não falar com estranhos. E quando falamos com um psicólogo? Ele não é um estranho que sabe todos nossos segredos? Alguém que confiamos pelo simples fatos de nunca ter visto ele na vida e, portanto, não saberemos sua reação ou pensamentos em relação a nós.  Edward não poderia ser o meu confidente? Ele poderia me responder dúvidas que eu jamais poderei a perguntar a qualquer pessoa. Talvez seja por isso que tive a coragem de lhe enviar duas cartas, assim, do nada.

Um estalo de dedo veio em minha cara. Era Amelia. Estava com uma expressão de estranheza enquanto ainda ficava com a mão em meu rosto. Afastei-a e mexi a cabeça mostrando dúvida.

-Estou te chamando para irmos para a sala. Vem logo, distraída! – Ela disse sorrindo e pegando meu braço para levantar-me. Não, definitivamente não irei contar a ela sobre Edward.

Ela e Grace foram seguindo a frente de braços dados. Grace era um pouco acima do peso. Apesar de seus cabelos gloriosos, ela não era uma menina desejada por todos os meninos. De acordo com eles, Grace era feia. Eu não achava isso, simplesmente desejo que ela faça exercício e perca peso, mas, inacreditavelmente, ela não quer. Enquanto seguia com sua estatura baixa e aos tropeços com a Amelia magra, desenvolvida e moderna ao lado, Gabriele colocou a mão em meu ombro e seguimos atrás.

Almoço igual, aulas normais, professores começando uma matéria complicada para se desenvolver no ano e nos deixar loucamente perdidos. Porém, “tenha calma! A tendência é piorar”, dizia o nosso amável professor de matemática, que apesar de boas questões minhas erradas ou não resolvidas do trabalho de férias entregue, ele me deu o ponto extra e senti-me realizada. No fim, aquela última questão que deixei de fazer era bem simples!

Ao término da aula, Gabriele me chamou para ir checar quais grupos entraríamos esse ano. Nós fizemos um pacto em que sempre faríamos parte de algo na escola. Claro que Amelia discordou, mas ela não resistiu ter a chance de vestir um top e balançar pompons.

Amelia e Grace sempre tentavam entrar para a líder de torcida, pois elas podiam andar com aquele uniforme sempre, iam aos jogos dos meninos de graça e bem, tem aquele estereótipo de sempre namorarem os meninos musculosos do basquete ou futebol. Como disse, elas tentavam. Não conseguiam.

Grace era por sua forma. Só poderia entrar se emagrecesse e suas notas melhorassem. (Sim, as líderes de torcida tinham que ter um padrão de notas, e eu acho isso muito legal). Então, ela resolveu entrar para as garotas que conduzem a preparação de uniformes de esportes, eventos e mascotes. Ela sempre gostou disso, apesar de quase ser expulsa por faltas no ano passado.

 E Amelia tinha seios muito grandes. Sim, era irônico demais. Ela não conseguia pular direito e se cansava mais rápido que as outras, e foi aí que descobri que seios pesam mesmo. E as líderes tem uma rígida regra de abstinência de álcool, apesar de beberem escondidas. Contudo, ela resolveu tentar esse ano, e foi a academia as férias inteiras para treinar, pois recusa-se a fazer redução de seios.

Gabriele foi para artesanato. E era muito legal, ela era ótima para isso e era um trabalho que exigia concentração e mãos delicadas pacientes. E ela tinha tudo isso. Na verdade, sempre foi a mais séria de todas e a professora de todos nós. Eu realmente gostava dela, porém não se pronunciava muito e ultimamente está agindo de uma forma muito séria e isolada. Vou tentar falar com ela mais tarde.

Depois que todas se inscreveram para o que queria, eu não havia resolvido o que fazer.  Eu sempre me registro de última hora nos grupos que sobraram, pois não tenho a capacidade de decisão. Eu gosto de muitas coisas para escolher agora.

Depois fomos até o portão para a saída.

Amelia deu-nos carona e deixou uma a uma em suas respectivas casa. E quando estávamos sozinhas no carro em frente a minha casa ela disse:

-Maya?

-Sim.

-Você está namorando?

-O quê? Claro que não- Eu disse dando uma risada.

- Bem, você está meio distraída. Está tudo bem?

-Sim, por quê?

-Sei lá. E Gabriele?

- O que tem ela?

-Está estranha também.

-Eu sei, vou falar com ela mais tarde.

-Não, deixa para lá. Ela só está em uma fase difícil.

-Então devíamos ajudá-la.

-Não, só esquece. – Amelia terminou a conversa fazendo um gesto para eu sair do carro e deu um sorriso, e seus olhos fitavam-me como se tentasse descobrir o que eu estava pensando agora. Eu não a entendo. Ela fica toda preocupada e amável quando está sozinha comigo, mas de alguma maneira muda seu comportamento na frente de Gracie e Gabriele. No fim, retirei isso da cabeça e só desejei que tudo voltasse dessa estranheza.

Abri a porta de casa e vi minha mãe voando em cima de mim:

-Filha!

-Mãe! – Ela sorriu e estendeu-me comprimidos. Eu estava com um pouco de dor de cabeça e meio confusa com o dia, e voltei a pensar em Gabriele. Depois em Edward e nos exercícios de matemática.

-O que são esses?

-Você não tomou seus antialérgicos para sua renite. – É eu havia me esquecido. Minha mãe estava esbaforida empurrando os comprimidos para mim e oferecendo-me um copo d’água. – Toma filha, rápido.

-Calma! – Eu os tomei e ela suspirou. Minha mãe é meio exagerada quando se trata desses negócios de comprimidos ou hospital. Dei um olá para Marcie que estava no canto da cozinha, e minha mãe fez uma expressão estranha. Respirei fundo, e nem perguntei onde meu pai estava: Na fábrica ou no escritório. Óbvio.

Quando deitei na cama de meu quarto por alguns segundos, adormeci e então se passaram algumas horas. Levantei desesperada, fui fazer as tarefas e no final joguei-as pelo ar para ir jantar. Rondei pela sala, subi as escadas, deitei novamente, procurei os canais de televisão que já não passavam algo interessante, e comi novamente. Olhei-me no espelho, fazendo pose. Encarando-me no espelho penso onde estaria Edward agora?

Em casa com os filhos? Numa escola? Numa taberna? Em casa com os pais. Eu espero. Eu realmente queria perguntar a ele sobre a carência de Amelia e sobre como eu demoro a decidir algo ou descobrir como ele é pessoalmente. Eu realmente estava ansiosa, pela primeira vez, para me abrir com alguém. Foi aí que reparei numa garrafa de vodca em cima da escrivaninha. Nomeada de Comeaux, me senti decepcionada. Havia um bilhete preso nela e era adornada com escrituras, faixas pretas e detalhes dourados.

         “Desculpa seu pai por não estar aí hoje. Tive problemas na fábrica. Espero que tenha tido um ótimo primeiro dia. Eu te amo. Papai’’ O Primeiro dia no qual foi ontem, mas tudo bem. Decepcionei pelo fato de ter me mandando uma vodca e não flores ou um bicho de pelúcia. Não é bonito mandar álcool para a filha, mas eu esqueci o fato e deixei o bilhete perecer ali e fui dormir cedo.

             Acordei com um trovão. Chuva! Que delícia. Marcie sempre dizia que meus cabelos pretos e meus olhos brilhantes combinavam com o nublado, apesar de ser bronzeada. Dei um sorriso e fui atrás da caixa de correio, cuidando para que não molhassem as cartas ou caísse um raio em mim. Deduzi que Edward havia me respondido. E realmente estava certa e fiquei muito feliz por isso. Estava ansiosa, emocionada, nervosa. Queria muito ver suas palavras e depois responder com as minhas e então continuarmos a nos corresponder. Decidi responder uma agora e irei passar no correio e depois para a escola. Seria uma rotina agora?

              Lendo a carta de Edward senti-me mal. Por que fui inventar de falar do que não gosto? Ele achou vulgar, tenho certeza... E bem, eu meio que o forcei a falar do pai dele e isso me deixou com remorso. Seria verdade essa história? E é por isso que sinto mais remorso: por duvidar dele, contudo com a possibilidade de ser verdade. E eu quis gritar de novo. Então liguei o computador e fui correndo digitar minha carta. Eu tinha meia hora para sair de casa e ir para a escola.

                 “Amigo Edward,

          Sinto-me mal ao ler o que você fala de seu pai. Queria muito ajudá-lo a resolver sua discussão, mas não sei como fazer. Sentir-se de mão atadas é algo horrível, então eu espero que você consiga se resolver. Bem, também não acho que tentar falar que você irá conseguir tudo e ele ficará bem são promessas vazias. E eu não farei promessas que não posso cumprir. Há pessoas que fazem isso constantemente, não é? Então, você deveria insistir com ele, pois a bebida insistiu em consolá-lo e se ela conseguiu, você também pode.

                   Desabafar não é algo terrível e eu achei bacana que você quis falar isso para mim. Aliás, eu não gosto de biologia, prefiro história.

                  Uma pergunta: Você acha que quando algumas pessoas que são muito amigos, porém um deles controla o outro, é uma forma de se sentir seguro e não perder esse amigo? Venho pensando nisso constantemente, sabe, nessa carência que as pessoas sentem, e deduzi que você seria a melhor pessoa a responder.

              P.S: Tudo bem, Edward.

                                                     Amanda’’

E assim deixei a carta no correio antes que o último carteiro saísse. Hesitei um pouco, mas acabei despachando-a. E percebi que gostava de suas cartas matinais.


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Notas finais do capítulo

E então? Se gostaram ou não, ou encontraram algum erro, mande uma review para nos motivarem e nos ajudar a consertar os erros. Muito obrigado por ler!
—Belle



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