Cartas Para Um Invisível escrita por Yoggi


Capítulo 4
Capítulo 4: Uma resposta vulgar?


Notas iniciais do capítulo

Oi gentee! Desculpe a demora, é que eu estava muito ocupada com trabalhos e provas e acabei não arranjando muito tempo, mas aqui está postado e prontinho para leitura. Muito obrigado pelos reviews passados e boa leitura.
—belle



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Miranda


O resto do dia resumiu em tentativas inúteis de resolver o problema matemático. Houve várias reclamações sobre como não é necessário sabermos o tanto que fulano correu em uma velocidade, e quanto correria se fosse em outra, ou quem chegaria primeiro se houvesse uma curva de tal medida no caminho.

–Qual é! Isso não é necessário. Argh! – Eu gritei. E num movimento brusco fechei meu caderno, deixando a última questão em branco.

Meu ataque de nervos é interrompido quando meu celular toca:

–Maya! E aí? Rola hoje? – Era uma das minhas amigas que conhecia do colégio. Era ela e mais duas, formando um grupo de quatro amigas. De alguma forma elas haviam inventado esse apelido para minha pessoa. Maya. Eu não sei de onde elas tiraram isso, mas eu acredito que fora no meu primeiro dia de aula quando cheguei ao colégio, ainda no ginásio, e pronunciei meu nome de uma forma bem esquisita devido ao meu nervosismo. Mas elas gostaram.

–Rola. Hum... O quê?

–Da festa na casa do Mycah. Aquela que havíamos combinado no último dia de aula. Aquela que é daqui uma hora. – Amelia disse esperançosa.

–Ah! Eu havia me esquecido. – E olhara para meus pés com os esmaltes descascando. – Bem... É o último dia de férias, não vai ter graça. A gente vai ter que voltar cedo e...

–Quem vai no primeiro dia? Qual é. – Ela disse me interrompendo. – Vai ter piscina, garotos, bebida e música.

–Nossa, que tentador. – Eu disse ironicamente.

–Maya eu sei que a gente não pode beber, mas ninguém vai saber. – Ela disse com seus dezesseis anos completos e eu ainda com quinze. Ela acha que como já pode dirigir pode ingerir álcool também. Apesar disso tudo, eu não pretendo beber nunca.

– Não, eu não...

–Por favor. Achei que você fosse pelo menos me acompanhar, valeu.

–Amelia.

–O quê?

– Eu vou, então.

–Então se arrume. Eu vou te buscar daqui uma hora. Beijos, tchau.

–Beijos, tchau.

E então ela desligou. Respirei fundo e caí na cama. Que saco, eu não estava com vontade de ir. Eu odeio quando elas fazem essa chantagem de amizade. Bem, eu gosto delas e são pessoas bem divertidas, mas eu não aguento esse tipo de situação. É engraçado saber que existe esse tipo de ”regra’’, de você fazer chantagem emocional com a amiga e há algo no espaço-tempo que a faça aceitar. Talvez eu seja a única que siga essa regra e talvez eu tenha que parar com isso.

Tomar banho, passar maquiagem, escolher a roupa certa, e o sapato também eram tarefas mais difíceis que imaginam. Não era o fato de eu não ter roupa, mas o fato de pensar que irei igual a todo mundo. No fim escolhi um vestido simples com comprimento até o joelho e combinando com um salto alto. Olhei para o espelho e sorri. Eu sempre tinha essa mania: de ficar fazendo várias posições e sorrindo para ver qual me sairia melhor. Depois eu fazia várias poses com diferentes emoções para ver qual eu deveria ficar atenta e não causar vergonha.

Amelia buzinava lá embaixo. Peguei uma bolsa, coloquei o celular dentro e desci as escadas. Quando cheguei, a cozinha relativamente escura, vi meus pais conversando, minha mãe fazia gestos bruscos e meu pai olhava para uma prancheta. Quando pisei com o salto que fizera um barulho abafado eles viraram para mim e pararam de conversar.

Houve aquele interrogatório sobre onde eu estou indo e quem me deixou ir. A verdade é que eu esquecera de perguntar a eles. Tive de explicar que era somente uma festa de despedida das férias e eles se entreolharam. Houve mais um teste de provação para ver se eu era responsável para voltar um horário que eu acordasse amanhã e fosse para a aula. No fim eles deixaram. Eles sempre permitiam. Às vezes era chato, porque eu queria que tivessem negado o pedido, e então Amelia não conseguiria subir a voz com meus pais, apesar de ter dúvidas sobre isso.

Entrei no carro onde todas as minhas amigas usavam vestidos e saltos alto. Não me surpreendi, e dessa vez não consegui ir diferente. Amelia dirigia e havia uma lata de cerveja no porta-copos. Ela me ofereceu, enquanto dirigia e conversava aos berros com todo mundo. Neguei e fiquei jogando conversa fora com as meninas e, ao mesmo tempo, tentando descobrir como conseguiram a lata de cerveja.

Amelia havia ficado em Nova York todo o tempo. Ela aproveitou para ir a muitas festas e conquistar muitos garotos e depois ela disse que havia feito um aborto, e todo o carro silenciou. Aí ela começou a gargalhar alto e disse que era brincadeira. E nós rimos alto. Gabrielle, uma linda garota de cabelos castanhos lisos que ia até a cintura, rosto fino e queixo pontudo com os olhos relativamente puxados com a mesma coloração do cabelo, viajou para a Europa e aprendeu a jogar golfe. E Grace foi para o interior do país, e odiou. Não havia nada, a não ser um grande milharal em frente a casa, além de não conhecer nenhum garoto interessante. Só seu primo que ela nunca via, ou sabia que existia. Ela colocou seu cabelo loiro, anelado e estonteantemente lindo atrás da orelha e tomou um gole da cerveja de Amelia.

Ela percebeu a careta que sempre faço quando vejo minhas amigas bebendo e riu:

– Já somos crescidinhas, não acha? – Ela falou ironicamente enquanto fazia um gesto obsceno.

Eu e gabrielle nos entreolhamos. Ela deu um sorriso e eu devolvi, mas percebi carregava uma preocupação. Ela olhava para mim de um jeito que quisesse me contar algo, mas só desviou a atenção e também cedeu à cerveja.



A festa estava bem movimentada mesmo com aula no dia seguinte. A casa estava com o quintal cheio de pessoas dançando. Lixo no chão, piscina suja e cheia de gente. O fundo da casa estava pior. Muita loucura e adolescentes se beijando e pegando-se. Não tive coragem de ir para os andares de cima. Minhas amigas ficaram dispersas pela casa e eu fiquei na cozinha observando dois meninos discutirem bêbados sobre quem iria melhor na cama com uma menina ruiva ao lado, que estava bem constrangida.

Já era uma hora da manhã e eu não havia feito nada de interessante além de procurar alguma bebida não alcoólica e mais discussões. Eu até iria falar com minhas amigas, mas elas estavam num jogo de verdade ou desafio no segundo andar. E eu não tinha coragem de subir. Na verdade eu não tinha coragem de sair da cozinha com medo de alguma coisa e eu comecei a me sentir frustrada. Tudo piorou quando chegou um garoto de cabelo bagunçado, sem camisa e as bermudas fora do padrão do senso humano. Ele segurava um copo vazio e me ofereceu o que quer que seja que havia lá. Eu neguei e ele começou a cheirar meu pescoço enquanto tentava pegar abaixo de minhas costas. A música tocava, as pessoas olhando e rindo, e minhas amigas no segundo andar. Então tudo estourou e eu gritei:

–Para com isso seu imbecil! Vai procurar outra, idiota.

E então eu saí de lá enquanto ele e todos me encaravam e riam mais forte. E eu segui caminho no meio da rua, deixando a música para trás, voltando a minha casa.

Rapidamente, andei para casa e não percebi o caminho. Cheguei com os pés sujos, pois tirei meus sapatos no meu caminho devido à dor nos calcanhares. Abri a porta enquanto respirava fundo e Marcie estava sentada na cadeira tomando chá ou algo do tipo.

–Olá, Miranda.

–Marcie. Boa noite.

–Você deveria estar dormindo.

– Eu sei. Desculpa chegar assim.

–Não fale isso. Está tudo bem. Sua mãe foi dormir, ela tentou esperar, mas não conseguiu. Mandou você tomar seu remédio da renite. – Então eu peguei o comprimido em cima da mesa e, enquanto eu tomava, ela desembaraçava meus cabelos cacheados e pretos, enquanto pronunciava ‘’Tão bonito’’. E, como se eu fosse uma criancinha, me guiou até o quarto onde eu adormeci com roupa e tudo.

O dia amanhecera lindo. Óbvio que eu estava muito cansada e mal pude levantar-me, mas com um esforço maior consegui. Era o primeiro dia de aula.

Não demorou muito para eu me arrumar, na verdade eu estava pouco me importando para a aparência hoje. Eu só queria voltar e dormir novamente.

Geralmente Amelia me dá uma carona para escola, mas provavelmente ela está desmaiada de ressaca na cama dela, assim espero. Portanto, fui pelo atraente carro do meu pai. Eu sempre falo esse adjetivo desde que vi meu pai beijando o para-brisa quando ele chegara da concessionária.

Era uma escola comum, o chão liso, os armários nas paredes, os cartazes de boas-vindas. Os veteranos com suas roupas desleixadas e poucos cadernos, os novatos todos arrumados e centenas de livros em mãos, geralmente era assim. Fui direto a secretária pegar meu horário. Rapidamente imprimiram e eu fui até a sala 302.

Primeira aula era literatura. Enquanto esperávamos o professor, todos conversavam animados. Reconheci boa parte dos alunos. E era engraçado como eu me deslocava sem as minhas amigas. Todas deitadas de ressaca e eu ali observando os outros alunos conversarem. Foi só agora que percebi o quanto todos me conheciam (eu era relativamente popular por causa de minhas amigas, acredito), porém não falavam comigo com tanta intensidade. Também não posso negar que nessas férias fiquei um tempo sem entrar em contato com ninguém. Eu odiava não poder ter conversado com todo mundo.

Não houve nada demais no primeiro dia. Somente as apresentações dos nomes. Como boa parte da sala já se conhecia, fora um processo muito entediante. Mas alguns alunos novos ou repetentes também se pronunciavam e era legal saber quem era quem. Um garoto chamado Trevor chamou a atenção das garotas. Ele tinha corpo de surfista, bronzeado com o cabelo castanho bagunçado. Um sorriso lindo e para completar olhos verdes. Realmente ele era atraente e até um sorriso ele tirou de mim. Ele tinha um jeito simpatizante, apesar de não deixar de querer mostrar seus enormes bíceps.

A pior parte é a minha vez. Fui até lá e disse meu nome:

–Miranda Comeaux. – Todos arregalaram os olhos e davam risadinhas insuportáveis. Não era nada terrível, mas sim pelo simples fato de meu sobrenome ser bem conhecido. Meu pai era dono de uma conhecida, chique e cara fábrica de vodca. Adjetivos propostos por meu pai. E a marca era o meu sobrenome. Todos ficavam impressionados e eu não sei o porquê, e daí? Mas eu tinha que aturar as perguntas: “Seu pai que é o dono da marca? ’’” Nossa. Você é rica?’’ ‘’Você bebe vodca?’’ Sim, Talvez, não. São as respostas, respectivamente.

Depois dessa turbinada de perguntas e impressionismo supérfluo eu fui para casa, finalmente. E o dia, continuando, não fora especial. Cheguei, comi a comida maravilhosa da Carly e conversei com Marcie sobre dores de parto. Não, eu não sei como chegamos a esse assunto. E a noite caiu sem nenhum alarme, e as luzes da rua ligaram, e os carros chiques do bairro foram para a casa enquanto os alarmes ficavam atentos. E, então, eu percebi que eu teria que devolver aqueles exercícios de matemática amanhã na primeira aula. E de novo desisti daquela questão. Fui ficando exausta e no último segundo que eu ainda conseguia ficar acordada, recebi uma mensagem da Amelia, perguntando onde eu estava na última noite. E eu respondi que fiquei vendo meninos discutirem.


Na manhã seguinte, eu acordei com um barulho lá fora. O correio estava cheio de cartas. E então me lembrei do Edward e do meu pseudônimo de Amanda. Saí correndo peguei as cartas, deixei as contas no balcão e segurei meu único envelope.

Enquanto eu lia, um sorriso decorava meu rosto. Eu ainda estava de pijama, cabelos embaraçados, olhos com olheiras, com os pés ainda gelados quando pensei numa resposta para escrever antes de ir para aula.

”Amigo Edward,

Ainda bem que ficou feliz. Espero que realmente possamos ser amigos. Não posso dizer que não tenho amigos. Na verdade eu tenho um grupinho, mas eu acho que podemos formar uma dupla ainda melhor. Eu comecei a rir aqui. Bem, eu gosto de fazer muitas coisas, então vou começar pelo que não gosto: Eu não gosto de tentar resolver uma questão de matemática em minha tarefa. Espera... É tão ruim assim alguém falar do que não gosta em vez do que gosta? Pareço muito vulgar?

Amanda’’

Depois de digitá-la e usar a impressora rapidamente, não esperei pela Amelia sóbria e fui andando até os correios, seguindo caminho ao colégio. Ainda bem que hoje fui com um sapato confortável.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Odiou? Algum erro? Mande reviews! Assim, nos motiva a continuar escrevendo e a corrigir os erros que cometemos para que possamos melhorar. Muito obrigado por ler até aqui!
bjs



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