Julie

Tenho dezenove anos, fui criada por minha tia quase a vida toda. Meu pai era um espião e só convivi com eles até os quatro anos de idade, não consigo mais lembrar seus rostos e também não tenho nenhum retrato deles... Sinto-me culpada por isso. Todo ano no dia de meu aniversário recebo um presente de meu pai, dinheiro, brinquedos ou cartas, as guardo com muito carinho. Minha tia era médica na cidade que vivíamos e me ensinou tudo o que sabia, sua casa ficava no topo da montanha rodeada por ervas e plantas raras que usávamos para criar medicamentos poderosos e vendíamos por um preço muito alto, era o nosso negócio. Quando tinha quinze anos minha mente mudou, eu já tinha cansado daquela vida no topo da montanha só com minha tia e seus coelhos lindos. Então em um dia calmo como todos os outros três homens bateram na porta de nossa casa, eram bem vestidos e armados, me levaram para longe dali, diziam que eu corria perigo. Ai conheci um novo mundo, eles eram de um clã rico chamado Brant e meu pai fazia parte deste também. Diziam que eu estava pronta para começar o treinamento, e foram três anos pesados e cansativos mas aprendi o necessário para sobreviver. Mesmo não sendo muito boa no combate corpo-a-corpo me tornei uma arqueira exemplar, me apaixonei pelo arco e flecha e desde então treino sempre que posso. Sou a mais nova assassina do clã e ando junto a um pequeno grupo fazendo operações em nome dos Brant. Somos uma equipe de assassinato em massa, recebemos o corvo e junto a ele um bilhete dizendo qual nosso próximo objetivo, nunca temos tempo para descansar.

Capitulo 1

Dia 28 de Novembro- Inverno.

Local: Fronteiras, perto de Boston.

As fronteiras são locais cheios de arvores, rochas, riachos, acampamentos, fazendas, cavernas, montanhas e animais perigoso. As planícies são cheias de vida e a terra forma ondas de subidas e descidas imensas, campos vastos de flores que somente crescem no inverno enfeitam quase toda selva. É muito perigoso andar por ai sem um cavalo, armas ou guardas. Mas em uma área não tão distante da cidade de Boston caminha Julie, uma jovem de cabelos lisos e compridos castanhos escuros quase até a cintura, seus olhos são azuis com tons de cinza, estatura mediana e seios bem avantajados com os vincos a mostra dentre o espartilho que usa por baixo do casaco de couro azul escuro. Ela veste além disto uma calça justa realçando suas coxas e partes dianteiras, ela tem um corpo de dar inveja até a mulheres da alta burguesia. Jovem e linda e mortal, Julie também carrega seu tão consagrado arco nas costas, ele é longo e logo ao lado sua aljava com várias flechas que ela mesmo produz. Além do arco ela também está armada com uma alfanje curta presa na cintura em uma bainha marrom. Carrega também uma pequena bolsa com bombas de gás e explosivos.

Seu grupo é formado por ela e mais três pessoas, dentre estes estão Cooper, Roman e Makayla, eles são uma das equipes de assassinos de nomes do clã Brant, não é um dos trabalhos mais desejados mas é o que conseguiram, tudo em nome da honra e riqueza.

Eles estão em uma missão que acabaram de receber do corvo mensageiro. Assassinar Kobold e roubar um livro que ele carrega, este homem é membro do clã Delawere, não se sabe o motivo para roubar seu livro, isto não fora explicado para o grupo de assassinos.

Roman é um ótimo rastreador, é sua melhor habilidade e até mesmo na selva ele consegue rastrear passos e descobrir pistas sobre o paradeiro de quem está caçando. Ele é um homem bem alto e forte, carrega um machado de cabo de aço e lamina manchada com sangue seco dos inimigos que devasta, ele tem quarenta e três anos, careca, é o mais experiente do grupo.

Todos o seguem pela floresta, Julie está logo no meio de todos já empunhando seu arco com uma flecha pronta para atirar.

– Estamos chegando. – Diz Roman abaixado examinando algumas pegadas na neve.

A cerca de dez minutos eles encontraram o tal Kobold, é um velho com mantos usados e mais antigos que ele mesmo, usa um chapéu pontudo e por incrível que pareça corre muito, mesmo com os quatros atrás dele o senhor de idade escapou e fugiu para a direção do riacho, Julie desconfia que pode ser uma armadilha mas ninguém dá ouvidos a ela por ser a mais nova da equipe e menos experiente. Então eles continuam a fazer o caminho que Roman aponta.

Depois de alguns minutos rastreando e seguindo Roman a equipe chega no riacho que está congelado. Do outro lado ficam algumas montanhas e entre estas montanhas uma pequena caverna iluminada por tochas presas nas paredes.

Cooper é o médico da equipe, ele não bem um assassino, só os acompanha caso alguém se machuque ou fique doente então geralmente não se adentra de lutas ou qualquer tipo de conflito que envolva agressão física ou esforços. Já Makayla é uma atiradora de facas excelente, seu arsenal de pequenas facas todas presas em sua cintura com um quadril enorme, seios avantajados como os de Julie só que maiores e mais chamativos, cabelos louros e pele morena, a garota é desejada por muitos mas só dá este prazer quando está bêbada, ela exagera muito e acaba fazendo coisas insanas, tem uma personalidade forte.

Roman retira de sua mochila de couro uma lamparina e entrega para Cooper.

– Vai na frente quatro olhos. – Cooper dá um sorriso amedrontado e segue caminhando pelas aguas congeladas com o resto do grupo logo atrás.

– Este tal Kobold ter entrado em uma caverna toda iluminada assim no meio do nada não é estranho para vocês? – Julie pergunta ainda empunhando seu arco e flecha, ela dá uma olhada para trás e nota alguns lobos os observando no matagal. Ela dá alguns passos acelerados.

– Talvez seja somente uma mina de carvão ou algo do tipo. – Responde Roman despreocupado. – Seja o que for ele está morto.

– Minas de carvão não são assim Roman. – Diz Cooper a frente com a lamparina.

Ao atravessar as aguas congeladas eles param em frente a caverna iluminada e se entreolham.

– Continue com esta lamparina acesa Cooper. – Ele assente mesmo sem entender o porquê de deixar a lamparina acesa com a caverna toda iluminada.

Todos entram na caverna, Julie fica posicionada logo atrás de todos, ela é a artilharia, é horrível no combate corpo-a-corpo. Já Roman retira seu machado das costas e caminha o segurando com uma só mão ao lado de Makayla empunhando duas facas parecidas com cutelos.

Eles caminham lentamente até chegar a uma área da caverna com uma abertura no teto permitindo que a luz do luar se adentre do local iluminando algumas poças d’água sobre o chão petrificado e sentado em uma rocha com o livro em mãos está Kobold, o velho fugão. Ele tem o rosto cheio de rugas e ao notar a presença dos assassinos abre um sorriso revelando seus dentes amarelados e a língua cheia de bolhas.

– Jesus Cristo! Você é muito feio! – Exclama Makayla tapando as narinas ao sentir o terrível odor vindo da boca do velho. Julie aponta o arco em sua direção caso ele tenta fazer algo.

Roman se aproxima do velho já levantando seu machado para executa-lo, talvez o senhor estivesse esperando por isto pois nem reagiu nem nada, apenas ficou sorrindo segurando seu livro estranho.

– Porque você não para de sorrir?! – Roman diz hesitando em mata-lo, ele olha para os outros três confuso e ao olhar novamente para o velho nota que logo atrás dele surgem vários homens. Estavam todos escondidos esperando por algum sinal secreto do velho, armados com facas, espadas e pistolas.

– Não se assustem! Estes são meus amigos mercenários que contratei! – O velho diz com sua voz aguda e penetrante se levantando e correndo para detrás da fila de oito homens que se forma.

– Velho desgraçado! – Grita Makayla já arremessando uma de suas facas acertando a cabeça de um mercenário, após o primeiro golpe uma batalha se inicia.

Cooper corre para a entrada da caverna, Roman dá um golpe forte acertando dois homens, o primeiro tem o braço decepado e parte do estomago destruído, o segundo fica com o machado fincado em seus pulmões, o golpe foi tão forte que quase o quebrou no meio.

Julie dispara a primeira flecha acertando o peito de um dos mercenários, ela já puxa a segunda e acerta sua cabeça, um tenta se aproximar para golpeá-la com uma espada mas a terceira flecha penetra seu olho direito e atravessa sua cabeça. Já preparando a quarta flecha é surpreendida por um homem saltando em sua direção com um machado pequeno, ela desvia saltando para o lado rolando seu corpo no chão e ao levantar duas facas atravessam sua cabeça, é Makayla.

O quinto dos mercenários tenta acertar Roman com sua espada mas este apara o golpe com o cabo de aço de seu machado e bate com o cabo em seu rosto o desnorteando. Em seguida Roman rapidamente finca seu enorme machado na cabeça do homem a partindo em duas partes deixando expostos os glóbulos oculares e miolos além de muito sangue.

Julie mata mais um com mais uma flechada certeira, o sexto cruza sua espada com uma faca de Makayla. Ela gira seu corpo e faz um corte em sua perna direita, o homem como reação faz um corte de lado em seu estomago na parte lateral fazendo o sangue escorrer e ela soltar um gemido de dor. Julie dá duas flechadas seguidas no homem que atingiu a companheira, depois dispara uma terceira em sua cabeça.

O penúltimo Roman golpeia sua perna direita e depois arranca sua cabeça com um golpe bruto. Agora só sobrará um que fica ao lado do velho segurando uma alfanje longa. O velho ainda permanece sorridente.

– Porque sorri diante de seus matadores? – Indaga Roman indignado com a astucia do velho.

– Porque a morte é o nascimento da verdadeira vida. – Ele diz sorrindo com os olhos arregalados com o livro em mãos, o mercenário o olha assustado.

– Por favor poupem minha vida! Eu sou só um pobre mercenário e.. – Uma faca de Makayla atravessa seu crânio antes de completar a frase. Foram suas últimas palavras.

O velho solta o livro de suas mãos e estende os braços fechando os olhos. Roman dá o sinal para que Julie o finalize, ela engole o seco e estende a flecha a disparando na testa do velho sorridente que mesmo morto continua com seu sorriso exagerado.

Roman pega seu livro e o examina, é parecido com uma bíblia só que toda bordada com peles de animais e fechada com um cadeado dourado. Ele pega no bolso da jaqueta do velho a chave e o entrega para Julie.

– Mantenha isto longe de mim. – Ela obedece e guarda o livro em sua mochila marrom. Depois recolhe as flechas das pessoas que assassinou. Mesmo sendo uma assassina Julie tem um bom coração e sente remorso ao ver o que causou por causa de um livro velho.

Eles deixam o local. Makayla está ferida então resolvem acampar não muito longe dali, Cooper faz um curativo em seu ferimento, eles acendem uma fogueira e se alimentam de algumas lebres que Julie caçou, logo após matar as pobres lebres ela se ajoelhou e derramou várias lágrimas, são seus animais preferidos, mas foram ordens de Roman.

Makayla logo adormece com febre fraca. Roman também, ficam acordados Julie e Cooper. Ela observa o livro por muito tempo imaginando o que tem ali naquelas páginas remendadas.