Oamri

27 de Novembro.

Local: Praça de Boston.

Ele voltou para a cidade, decidiu lutar pelo povo, mesmo sendo fiel ao clã, também deve ser fiel a seu país. Encontrou Philip e reuniu-se com doze homens que antes daquela noite eram ferreiros, camponeses, donos de vendas, pastores de gado e outras coisas. Mas são bravos e corajosos, se não fossem também não estariam ali lutando por seu povo.

Oamri está à frente do pequeno exército empunhando sua espada ao lado de Philip, um homem de quarenta anos, barba grisalha, cabelos até o pescoço negros com fios brancos. Ele segura um machado de lenhador em sua mão e diz algumas palavras para incentivar os lutadores.

Do outro lado chegam os ingleses, estão a pé, somente um montado a cavalo. É noite e os flocos de neve enfeitam toda praça, além da nevoa. Os casacos vermelhos estão armados com mosquetes, sabres e pistolas. São em torno de vinte e cinco. Oamri se impressionou com a quantidade, esperava mais.

– Aquele ali é Ned! O alvo principal! – Diz Philip apontando para Ned com seu indicador. – Vamos atacar!

Ao grito de Philip todos correm em direção aos ingleses, eles não esperavam um ataque tão repentino assim. Oamri também corre junto ao exército e ouve os disparos seguido de ossos quebrando, gargantas sendo cortadas, gritos de agonia e som das espadas se colidindo.

Oamri penetra a barriga do primeiro, rasga seu pulmão em dois. Puxa a espada com força e faz três cortes em outro, um no peito, outro no pescoço e o ultimo na testa. Os americanos estão derrotando os ingleses, até agora só perderam três e eles dez. O sangue ferve de raiva.

Não tem como usar armas de fogo, o espaço é pouco. Os dedos de um inglês voa, Oamri é sanguinário, quer ver seus inimigos sofrerem e chegar até Ned que fica parado ao lado de dois homens, cochichando em cima de seu cavalo branco. Então vai abrindo caminho como pode, desviando baionetas, aparando sabres e cortando tudo que o impede.

– Pegue o Ned! – Ele ouve o grito de Philip no meio da batalha. Ele acerta o machado no rosto de um inglês, destruindo toda sua face e expondo seu maxilar quebrado e a garganta esfolada. – Vai!

Então Ned dá algumas esporadas fortes em seu cavalo. O jovem Arkansan não perde tempo, corta o pescoço de um inglês que estava em seu caminho e empurra o outro. Corre até uma carroça parada perto de uma casa, sobe nela e escala a casa até chegar no telhado. Começa a persegui-lo pelos telhados de Boston, algumas pessoas estão acordadas observando o alvoroço, os americanos querem o bairro de volta e lutam bravamente. Oamri salta por cima de um beco e Ned passa neste mesmo beco montado no cavalo, ele já se recompõe do salto ao cair no telhado de outra casa e continua a correr o seguindo. Senta uma pontada no ombro do tiro que levou de Leon a alguns dias, ainda dói bastante.

Ned para em um beco e assovia, três homens estão escondidos atrás de um muro quebrado, como se fosse uma barricada. Esperando por Oamri. Mas este em vez de surgir pelo beco ofegante, surge de cima do telhado saltando encima de um soldado e cravando a espada em sua cabeça fazendo com que alcance sua espinha, o golpe perfurou a parte do crânio superior. Usando as mãos ele desfere vários socos no outro soldado e ao perceber que o outro puxara o gatilho, puxa o homem que espancava pelo colarinho e o usa como escudo humano. Ao receber o tiro o soldado que o disparou fica boquiaberto com a agilidade do homem e leva um chute muito forte que quebra seu nariz grande. Ned foge novamente em seu cavalo, e é perseguido novamente.

Agora ele foge para uma área menos movimentada de Boston, rumo ao riacho que cruza as partes dos campos.

Ned para seu cavalo encima das aguas rasas do riacho, ele desce e Oamri chega, está cansado de tanto correr, segura sua espada na mão direita. O capitão inglês também pega seu sabre.

– Eu esperava que Philip viesse e não você. – Oamri tenta recompor sua energia.

– Se enganou, agora vai morrer.

– Morrer? – Ele ri girando seu sabre pelo cabo. – Você acha mesmo que vou morrer para um assassino de merda? Já perdi as contas de quantos de vocês já matei.

– Você não sabe o que está falando, vou fazer engolir essas palavras.

– Eu sei muito bem do que falo. Arkansan, Brant e Delawere. São todos insolentes, ignorantes, fracos e sem motivações para as guerras que travam.

– Como conhece os clãs? Você é um Brant não é? Acha que me engana?! – Oamri começa a se irritar com os insultos de Ned.

– Eu não sou idiota para me juntar a esses clãs de merda. O que eles querem é o poder, mas se esquecem que o homem tem de ser livre, eles querem aprisionar todos vocês.

– Pare de falar asneiras! Nós Arksansan lutamos pela liberdade, pelo fim da guerra!

– Vocês querem paz e liberdade, mas para isso travam mais guerras e matam mais pessoas. Quantos não morreram por causa de suas metas? Homens, mulheres e crianças inocentes. Vejo isso todos os dias.

– Nós travamos uma guerra direta, queremos acabar com tudo isso, não deixar que derramem mais o sangue de inocentes em vão!

– Você é tão ingênuo, não só você. Seu clã inteiro também. Deixar de derramar sangue para derramar mais sangue, desse jeito as guerras vão ser infinitas, vão durar décadas, séculos.

– Eu sei o que faço! Cale-se!

– Me calar? Não gosta de ouvir a verdade não é garoto? Ela faz seus ouvidos sangrarem.

– Eu disse para se calar! – Oamri se prepara para atacar Ned.

– Vocês lutam para obter mais poder, o tesouro, poder, só querem poder! O que farão depois de conseguir o poder? Vão querer mais, cada vez mais! Suas metas sempre vão se elevar, hoje querem atravessar o rio, amanhã querem o rio!

– Ahh! – Oamri parte para cima de Ned.

Tenta desferir um golpe em sua barriga me é aparado, ele levanta sua espada usando seu sabre e chuta as partes intimas de Oamri que se afastando gritando de dor.

– Você joga sujo! Seu desonrado! – Então recebe um corte perto de seu olho esquerdo, por pouco não ficou cego.

– Não existe honra quando tem que matar animais como vocês.

Ele se levanta, pega a espada e tenta acerta-lo de novo. Mais uma vez o golpe é bloqueado, Ned passa a lamina em sua garganta, mas ele se abaixa com muito agilidade, usa seu corpo e gira no chão, pega a espada e tenta um golpe pelas costas. Ned desvia com facilidade e desfere um corte na lateral do tórax de Oamri. Ele tenta novamente acerta-lo mas Ned é muito habilidoso, bloqueia cinco de seus golpes e lança sua espada para longe.

Agora desarmado, Oamri olha para suas mãos e percebe o ferimento na lateral do tórax, o sangue escorre em seu rosto do corte perto do olho. Ele ficara impressionado com as habilidades de Ned, esperava que ele seria fraco por ter fugido.

– Pegue sua espada. Não quero mata-lo de mãos vazias.

– Então quer dizer que ainda tem um pouco de honra. – Ele vai até onde sua espada está cravada, a puxa e segue até a posição de antes, frente a frente com Ned. – Você fala tanto que somos estupidos por travarmos guerras sem sentido, mas se esquecesse que veste o uniforme de um soldado e manda os homens para a guerra. Para travar suas guerras!

– Eu não sou um soldado inglês, Ned já morreu a muito tempo. Eu o matei quando colocou seus pés aqui. – Oamri coça seus cabelos espantado.

– Como Ned morreu se você é ele?

– Eu não sou Ned, sou o homem que o matou. Se ele estivesse vivo, você não estaria vivo, seus amigos não estariam vivos. Ele é um homem bruto, cruel e sádico, bem... Ele era. E sobre as guerras que travei, eu tinha que fazer isso, senão iam perceber que eu não era Ned. Tudo foi só uma demonstração.

– Eu não acredito em você! Está tentando me enrolar!

– Não. – Ele puxa de seu indicador um anel dourado com uma pedra verde, no momento que puxa tem sua aparência toda mudada. Os cabelos que eram castanhos ficaram louros, os olhos que eram verdes, ficaram castanhos, o rosto mudou totalmente, o queixo fino se tornou grosso, o corpo cresceu e se encheu de músculos. As roupas e armas continuam as mesmas. Oamri pasmado com a revelação acaba abaixando sua espada. – Eu lhe falei.

– E-Eu não posso acreditar!

– Pode sim, você viu.

– Você é o que? Como conseguiu essa relíquia?! – Ele volta a levantar sua espada atento.

– Sou um cavaleiro da luz, luto pela liberdade. Eu a roubei.

– Isso não é possível! Eu pensei que os cavaleiros da luz estivessem sido extintos!

– Não, só permanecemos quietos, adormecidos durante esses anos. Somos mais velhos que seus clãs de merda.

– Porque matou Ned e roubou sua forma? O que planeja com isso?

– Planejo matar Robert Sillas. O comandante das frotas de navio ingleses do sul.

– E porque quer mata-lo?

– Para impedir que destrua boa parte das cidades americanas. Roubei a forma de Ned para poder chegar até ele sem que seja morto antes.

– Você está lutando pelos Estados Unidos? – Ele indaga o homem misterioso, está comovido com os objetivos dele.

– Pelo povo americano, somos livres por direito. Os ingleses querem tirar isso de nós.

– Eu... Também luto pelo povo americano.

– Não, você luta por seu clã! Luta por guerras!

– Você se engana neste quesito. Eu estava a poucos instantes lutando contra ingleses, você que queria nos matar. Planejou matar Philip.

– Eu não ia mata-lo e sim recruta-lo.

– Então porque criou aquele ataque surpresa no beco?

– Para pará-lo, dei a ordem para que meus homens não atirassem, mas você apareceu e os matou. – Oamri perde a fala. – Ele seria de grande ajuda ainda, isso se não morreu.

– Eu...

– Você quer lutar mesmo por seu país? Então faça algo que preste, algo que irá realmente muda-lo. Se me ajudar a matar Robert Sillas eu pouparei sua vida.