Fui jogada no chão com um pouco de delicadeza até. Me arrastei para ver o rosto do tal de Don.

- Lissa? - murmurou ele, sorrindo. Ele era bem alto, e tinha cabelos crespos e castanhos na altura dos ombros. Bonito, realmente - e musculoso também.

Apesar de ser um Ceifador.

- O que está fazendo aqui? - Lissa parecia incrédula. - Não sabe no que está se metendo!

- Ah, eu sei sim... - ele disse, se aproximando dela. Em seguida, me notou. - Sua amiga? - apontou. - Você sempre teve ótimas amizades.

- Está se referindo ao terrível fato de eu ter conhecido você um dia?

- Se não tivesse me conhecido, não teria conhecido ela. - ele me levantou. - Estou do seu lado; acredite. E posso ajudar vocês.

- Como? - indaguei.

Ele sorriu calorosamente para mim.

- Estive procurando o elixir durante anos. Foi o que me levou até Lissa. Infelizmente, descobri tarde demais que só havia uma única chance para uma única pessoa. - seu olhar se dirigiu indiretamente para Lissa.

- Não pense que se redimiu comigo. - ela lhe apontou o dedo em riste. - Foram apenas algumas noites de sexo pra você e nada mais. Você é um espião.

- Vocês sabem muito pouco ainda - garantiu Don. - Tudo o que está acontecendo é consequência do passado da Ordem.

- Explique melhor. - cruzei os braços.

- Don? - Zattara apareceu.

- Zattara... - ele fez muxoxo. - Quanto tempo, não? Acho que poderá me auxiliar...

- No quê?

- Sobre Clara. Está na hora.

- Clara apareceu pra mim - contei, aproveitando a brecha. - Me alertou sobre os perigos desse tal traidor.

- Qual é! - Zattara se dirigiu à Don. - Você sempre teve um pé atrás com ela. Isso não é motivo agora, Don. Você mal a conhecia também.

- Vai começar... - Lissa murmurou.

- Peraí...o que tem a Clara? - perguntei, aflita e agoniada. - O que não sabemos sobre ela?

Don fez um gesto para Zattara, indicando que ela falasse algo. Zattara engoliu em seco e suspirou.

- Clara e eu éramos muito amigas. Mas a chegada dela na Ordem sempre foi um mistério. Só eu sempre soube como foi.

Arquejei.

- Então nos conte!

Ela pigarreou.

- Tudo o que sei é que Clara era órfã. Naquela época, pensava-se que a Ordem era apenas um orfanato qualquer. Clara chegou de mansinho e logo ficamos amigas. Ela me contou que o pai tentou vendê-la para pagar dívidas, e ela fugiu, mas foi pega e estuprada. Largada no meio do nada pra morrer sozinha, ela foi encontrada por uma garota nômade, fugitiva também; que curou suas feridas. Allanah, era o seu nome. Uma garota negra, fugindo do preconceito. 

Nessa hora, engoli em seco. Essa garota - eu já a tinha visto. No cemitério. Nos meus sonhos.

- Allanah. - murmurei o nome roboticamente. - Eu já vi.

- O quê?! - Zattara grunhiu.

- Ela já apareceu pra mim! - repeti. - Me avisou de que eu tinha que ter cuidado com ela. - fiz uma careta. - Pensei que era você. Mas acho que outra pessoa.

- Então, agora já sabemos que é uma garota. - Don disse.

- Sim...mas quem? Kate só é um bode-expiatório.

Assim que Zattara terminou de falar, sentimos o chão ruir sob nossos pés.

- A Ordem está sendo atacada! - Marion gritou.

- São eles. - Lissa falou, olhando para Don.

Nos juntamos aos outros, que tentavam impedir que uma massa negra penetrasse a Ordem.

- Tem um enigma. - disse para Don. - Não sabemos o que significa.

Ele pensou assim que lhe disse o enigma.

- É a resposta que tanto precisamos. - foi tudo o que disse. - Só necessitamos decifrá-lo.

- Não entendo o que possa ser! - grunhi, nervosa.

- E não há tempo pra pensar agora.

E era verdade.

Caçadores invadiram a Ordem, imobilizando uma Zattara furiosa. Jason os liderava, ao lado de Rachel.

- Vocês vão se arrepender! - vociferou Zattara. - O que estão recebendo em troca, hã? Promessas mesquinhas?

- Luna, Luna... - Jason fez muxoxo. - Como luta em vão, não é? - ele riu, acompanhado de Rachel. - Será triste ter que ver você morrer...mas será necessário. Sabe, eu nunca imaginei que um dia teria que matá-la... - seus olhos marejaram. - Eu amei você.

- Não me venha falar de amor. - respondi.

-Você está certa. O amor é uma força muito poderosa...ela é capaz de nos destruir por inteiro.

A voz arranhada vinha atrás de Jason. Logo, a mesma figura encapuzada surgiu. Tensa, observei Lissa e Don.

- Não importa o que acontecer - advertiu ele. - Eu voltei por você, Lis. Saiba que já foi a melhor coisa que me aconteceu.

- Aw, que meigo...! - a voz zombou novamente. - Parece que o mundo virou mesmo de cabeça pra baixo.

- E você com isso! - Zattara esperniou, embora imobilizada.

- Zattara...nós nos conhecemos tão bem... - a figura encapuzada chegou perto dela, tirando o capuz na sua frente.

Tudo o que houve a seguir foi um arquejar intenso.

- Não! - o murmúrio de Zattara fez meus tímpanos reclamarem.

Assim que se virou, vi Josh - o grande amor de Zattara - sorrir abertamente.

- Você é o traidor?! - gritei.

- Não exatamente, querida - ele passeou tranquilamente. Todos estávamos imobilizados. - Há tantas coisas a serem reveladas...já disse o quanto gosto disso?

- Josh, não acredito... - lamentou Zattara. - Eu...eu te amava...mas você...

Ele se agachou na frente dela.

- Não se preocupe, meu bem. Nunca estive sozinho nisso.

-Hã...?

Enquanto isso, um fantasma apareceu pra mim. Pela silhueta, eu reconheci. Era Allanah.

- Você precisa desvendar o enigma, Luna - avisou ela. - Só assim terá forças e poder necessário para acabar com isso.

Um outro alguém parecia estar emergindo das sombras, mas não pude vê-lo por mais tempo - eu estava sendo arrastada.

- Não! - gritei, me debatendo. Sem forças, apenas mantive o olhar fixo com o de Leon.

Eu te amo, ele disse na minha mente enquanto eu desaparecia da sua vista.

Josh era o vilão - e de alguma forma, não estava sozinho.

Havia outro alguém. O verdadeiro vilão.

- Me solta! - gritei pra quem quer que fosse. Ele me arrastava com toda a força, sem se importar.

- Você vem comigo! - vociferou. 

Parei. Eu conhecia aquela voz.

Com um pouco de esforço, virei o rosto e vi.

- Harry?! 

Ele me olhou. Sua expressão estava mudada.

- Está na hora de conversarmos.

- Mas tem uma guerra acontecendo lá fora!

Ele me segurou com um pouco mais de brutalidade.

- Você escutou o que eu disse, garota?! - ele me balançou como uma boneca de trapos.

Ele estava diferente. Estranho.

- Você...está me assustando. - meus lábios tremeram.

Ele sorriu maliciosamente.

- Você não sabe quem eu realmente sou.