Minha estádia na clinica não era a mesma coisa sem Miguel, ele me fazia tanta falta mas não posso atrapalhar sua vida. Batidas na porta me tiraram do meu estado melancólico junto a janela.

Jorge apareceu na abertura da porta e disse:

- Anjo, Dr. Branco quer ve-la.

Apenas assenti com a cabeça e o acompanhei até o consultório, assim que adentrei a sala Dr. Branco disse:

- Boas noticias minha cara.

- Espero que não sejam boas apenas para você – falei me sentando

Ele não me respondeu apenas consultou alguns papéis e olhou para mim.

- Acho que dentro de um mês posso te liberar – falou abrindo um sorriso

- Me liberar? Tipo, sair daqui e nunca mais voltar? – perguntei arregalando os olhos

- Bom, voltar você vai. Posso te liberar com apenas uma condição, a de que você continue se consultando comigo toda semana.

- Já é um bom começo – falei enquanto andava de um lado para o outro

(...)

Naquela tarde conversei com minha mãe sobre eu poder sair da clinica, ela ficou super animada. Ela me contou que meu pai ainda estava envolvido com a “máfia”, por isso não vinha me visitar.

Felipe finalmente pediu Jéssica em casamento, fiquei muito feliz pelo os dois. Eles se casariam daqui alguns meses, e por sorte eu já estaria em casa. Passar um tempo com minha mãe foi maravilhoso, precisavamos fazer isso mais vezes.

Quando fui dormir naquela noite fiquei imaginando meu casamento com Miguel, era legal de imaginar aquilo mas ao mesmo tempo percebi que poderia estar criando muitas expectativas para uma coisa que poderia não ocorrer. Rapidamente tentei afastar aquele pensamento e focar somente no casamento do meu irmão.

(...)

1 mês depois

Maria me ajudava a arrumar uma pequena mala com meus pertences,que eram poucas coisas. Quando estava tudo pronto desci para o pátio mas como previsto meu irmão ainda não tinha chego, fiquei conversando com Maria. Uma mão envolveu minha cintura, olhei para Maria esperando que ela me contasse a quem pertencia aquele braço mas ela apenas sorria. Virei para trás e encontrei um par de olhos castanhos que pertencia ao garoto por quem eu havia me apaixonado.

- Miguel! – praticamente gritei

- Surpresa! – ele gritou de volta

Ele me abraçou forte, do jeitinho que eu gostava, e beijou o alto da minha cabeça. Ficamos ali por um bom tempo até Felipe nos interromper.

- Também quero abraçar minha irmã – fez uma carinha fofa e eu ri

Depois de todos os abraços e beijos finalmente falei:

- Acho que minha volta para casa não poderia ficar melhor

- Pode sim, querida irmãzinha – começou Felipe – Eu vim apenas buscar sua mala, quem realmente te levará para casa é o bonitão aqui – e apontou para Miguel

- Antes vamos sair, então só depois te levarei para casa – falou piscando o olho pra mim

- Gostei da idéia, porém me recuso a sair nessa situação – mostrei minhas roupas

Os meninos viraram os olhos e Felipe me entregou uma bolsa, contendo uma troca de roupa que Jessica tinha separado para mim. Fui até o banheiro para trocar de roupa, uma calça jeans, uma regata preta e meu velho all star. Prendi o cabelo em um coque e voltei ao pátio.

- Até nas roupas mais simples fica linda – falou Miguel

Apenas ri de seu comentário, me despedi de quase todos na clinica e então Miguel me guiou até seu carro. Na verdade o carro era da mãe dele, mas ela emprestou o carro junto com o motorista para ele me buscar.

- Onde vamos? – perguntei assim que o carro começou a andar

- Para minha casa, meus pais querem almoçar com minha namorada. – respondeu sorrindo

- Seus pai, ou seu pai? – arqueei a sombrancelha

- Bom, foi idéia do meu pai mas ele convenceu a minha mãe ser mais amigavel com você.

Ainda não entendia porque Fernanda não gostava de mim, tentei esquecer isso, queria apenas aproveitar meu momento com Miguel. Fiquei encantada com sua casa, era muito bonita além de grande, fiquei pensando se era por isso que a mãe dele não gostava de mim, será que ela pensa que eu só quero saber das posses da família?

Se for por isso ela pode tirar essa idéia maluca da cabeça, quando conheci Miguel não fiz questão nenhuma de saber qual era sua classe social, e continuo não pensando nisso.

Roberto me recebeu de braços abertos, já Fernanda me comprimentou e voltou para a biblioteca.

- Filho mostre a casa para ela, o almoço ainda vai demorar um pouco para ficar pronto – falou Roberto

Os únicos comodos que não fomos foi a biblioteca e os quartos, estavamos no jardim quando um dos empregados anunciou que o almoço seria servido.

Estavamos todos postos a mesa, quando Fernanda falou:

- Miguel meu filho, me diga o que viu nesta garota?

- Fernanda! – Roberto a repreendeu

- Não Roberto – comecei – Diga Fernanda, diga de uma vez por todas o que você tem contra mim.

O silêncio tomou conta da sala por um momento então ela começou a falar novamente.

- Bom, não sabemos direito de onde ela veio, se é de boa família, ou quais são seus interesses com nosso filho...

- Responderei a todas sua perguntas – a interrompi – Minha família tem origem humilde, e os meus interesses com seu filho estão mais do que claros, eu o amo e só isso que importa para mim. Não estou namorando ele a procura de status e nem nada do tipo.

- Satisfeita Fernanda? – perguntou Roberto

- Não! Eu coloquei nosso filho em uma clinica para ele se recuperar e ele arruma uma namoradinha com problemas mentais, quem pode garantir que ela não dara o golpe em nossa família? – falou um pouco irritada

- Com todo o respeito Fernanda, mas essa conversa não tem nada a ver com o que você acha ou deixa de achar sobre mim. Essa conversa espelha o que acontece com você, a falta de carinho do seu marido te deixou assim. E Roberto, se você desse a devida atenção a sua esposa ela não seria tão amarga assim.

Quando terminei de falar o silêncio estalou pela sala de jantar, Fernanda saiu batendo os pés, Roberto olhou para mim com uma expressão que não consegui decifrar, e rapidamente foi atrás de sua esposa.

- Miguel, desculpa eu não... – comecei mas ele me interrompeu

- Relaxa, você apenas mostrou a verdade para eles – falou pegando minha mão – Vem, vou te mostrar meu quarto. O que nos resta é esperar a poeira baixar.

- Antes de subirmos, eu poderia dar uma olhada na biblioteca? – pedi baixinho

Ele apenas afirmou com a cabeça e me levou até o local. Fantástico! Aquilo era um local fantástico, repleto de livros de variados tipos, tanto antigos quanto os mais modernos. Passei de estante em estante escorregando os dedos sobre cada livro. Estava vendo os titulos dos livros quando um me chamou a atenção.

- Eu já li este – falei mostrando o livro a Miguel – Mas ainda não tive a oportunidade de ler a continuação.

- Pode levar se você quiser – ouvi a voz de Fernanda

Me virei rapidamente, e ela estava sorrindo. Sim! Ela estava sorrindo para mim.

- Pode levar – falou novamente – Desde que me devolva, sabe eu tenho um carinho enorme por meus livros. 

- Por que esta sendo gentil comigo agora? – perguntei

- Porque de certa forma, aquilo que você falou é a verdade. E o que você falou salvou meu casamento. Acho que todas as dúvidas que eu tinha sobre você já não fazem sentido.

Eu apenas assenti e ela me entregou o livro.

- Mas não esqueça, cuide bem do meu filho. Ele é o meu maior tesouro.

Ela fez o que eu menos esperava, me abraçou. Retribui o abraço na mesma intensidade. Naquele momento não tive dúvidas que minha relação com ela iria mudar.