Criminal escrita por Maiara T


Capítulo 9
Allison




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/352527/chapter/9

Mesmo de longe, Allison podia perceber a expressão no rosto de seu pai enquanto ele caminhava até ela. Sem dizer uma palavra, ele colocou um braço em volta de seus ombros e os dois caminharam para casa, assim como as pessoas que formavam a multidão no parque agora se dispersavam, em pequenos grupos, indo para suas casas. Ninguém parecia ter coragem de andar sozinho à noite agora. Logo atrás de si, Allison percebeu a presença de Connor e Melissa, que pareciam querer andar próximos o bastante do detetive para se sentirem seguros, mas não tão perto a ponto de perturbá-lo. Normalmente, ela conversaria com eles. Mas desta vez, sabia que era seu pai quem mais precisava de suporte.

Assim que entraram em casa, August jogou-se no pequeno sofá ao lado da porta e suspirou, demonstrando cansaço.

- Quer que eu faça um chá, papai? – perguntou Allison.

- Não, obrigado. – respondeu ele. – Não se preocupe comigo. Só estou um pouco cansado.

Ela hesitou por um instante e por fim disse:

- Vou para o meu quarto. Se precisar de mim, é só chamar, está bem?

Ele assentiu e Allison subiu as escadas. Assim que entrou no quarto, fechou cautelosamente a porta, como se alguém estivesse dormindo e ela não quisesse acordá-lo. Quando enfim sentiu-se segura o suficiente para desabar, soltou o ar de forma desesperadora e jogou-se na cama.

Meu Deus, pensou.

Imagens e vozes percorriam rapidamente seus pensamentos. Cenas de crimes, conversas de policiais, pânico nos rostos. E a frase de Carter que não saía da sua cabeça:

“Eu sei o que você fez.” Dissera a garota, embaixo da arquibancada. “O que fez com Dave. Por quê, Carter? O que ele fez pra você?”

“Não acho que preciso explicar meus motivos à namorada estúpida do quarterback.” Ele respondeu rispidamente.

“Não, talvez não tenha. Mas vai ter que explicar para a polícia.”

“Você não ousaria contar. E eles não acreditariam em você sem provas.”

“Eles estão procurando loucamente um culpado. Não acha que iriam investigar? Não acha que cedo ou tarde iriam encontrar alguma coisa que levaria o caso todo a você?”

Houve um silêncio. Depois disso, Carter falou:

“Você vai ficar bem quieta. Ou terá o mesmo destino que o seu namoradinho. Matei os outros oito, não tenho problemas em colocar mais um na lista. Entendido?”

            Silêncio. Talvez a garota tenha assentido, por que em seguida Carter disse:

“É bom mesmo.”

Meia hora depois, Allison percebeu a movimentação na praça. E lá estava, mais um corpo, mais uma morte.

E agora, ela não sabia o que fazer.

O que aconteceria se contasse a seu pai e a equipe de polícia não encontrasse provas que incriminassem Carter? Ela não poderia esconder por muito tempo que era filha do detetive, e ele desconfiaria dela. Certamente, não queria acabar do mesmo jeito que a garota no campo de futebol.

Mas, ao mesmo tempo, sentia a angústia que seria omitir aquele fato até que a polícia descobrisse por si só. Queria ajudar. Afinal, pessoas estavam morrendo.

Correu a mão pela testa, lembrando de Carter sentando ao seu lado durante a prova e jogando charme para fazer com que fosse ao jogo, e sentiu uma repulsa instantânea por ele. De repente, sentiu vontade de nunca mais chegar nem a dez metros dele.

Allison levantou da cama e começou a andar de um lado para o outro dentro do quarto, tentando achar uma solução. Foi quando ouviu seu pai abrir a porta do escritório que teve uma idéia.

-Pai! – gritou enquanto saía do seu quarto, e corria para alcançá-lo entrando pela porta no fim do corredor.

- Seria contra a lei se você me deixasse olhar os arquivos das investigações?

Ela fez uma careta, como se esperasse um duro não como resposta, mas August apenas falou:

- Duas perguntas. Primeira: por que você quer olhar os arquivos? Segunda: isso tem alguma coisa a ver com seus colegas de escola? Não quero essas informações circulando entre um bando de adolescentes. São confidenciais.

- Não, papai. Ninguém me pediu para olhar. Eu quero ver apenas por que... quero tentar ajudar.

O detetive sorriu. Talvez estivesse pensando em como a filha estava interessada em seu trabalho e poderia, um dia, seguir seus passos na carreira policial. Os dois entraram no gabinete.

Os arquivos do caso estavam todos em cima da escrivaninha. August sentou-se em sua cadeira e Allison arrastou uma até o seu lado.

- O que descobriu até agora, pai?

- Nada que leve ao culpado. Só algumas semelhanças entre os ataques.

Folhando as páginas, Allison as encontrou. As semelhanças que ligavam os casos e demonstravam que todos os ataques haviam sido causados pela mesma pessoa.Todas as mortes haviam acontecido no parque. Todas à noite. As vítimas foram mortas com um corte de faca no pescoço, apenas a última havia levado uma pancada na cabeça. Todos eram estudantes e estavam no ensino médio. Realmente, aquilo não ajudava a levar ao criminoso.

- Papai, vocês já pensaram que talvez o assassino esteja na escola? Já que todas as vítimas são alunos?

- Já, mas como descobri-lo? Não dá para investigar todas as famílias da cidade.

- E se investigassem as famílias dos mortos? Para saber com quem eles tinham ligações?

- Também pensamos, querida, e até tentamos com a família da primeira vítima. Mas a mãe da garota estava muito abalada. Não obtivemos informação nenhuma que fosse útil.

Passaram-se minutos de silêncio até que, por fim, August disse à filha:

- Vá dormir, Allie. Deixe as preocupações para mim, ok?

- Ok. – concordou ela, dando um abraço no pai e desejando boa noite.

Depois, levantou-se da cadeira e foi em direção ao quarto onde, após deitar na cama, mergulhou em pensamentos frenéticos até que, exausta, caiu no sono.

                           * * *

Na manhã de segunda-feira, Allison não estava nem um pouco animada para ir à escola.

Passara todo o fim de semana com aquilo perturbando seus pensamentos. O que faria? Durante o caminho para a escola, quase não falou com Melissa e Connor, que estranharam seu silêncio. Tentava encontrar um meio de denunciar Carter sem contar diretamente à polícia. Precisava arranjar alguma prova contra ele.

Olhou para Melissa e lembrou-se de quando ela falou que ela e Carter eram amigos de infância. Se pelo menos ela soubesse alguma coisa sobre ele que ajudasse no caso, algum ponto fraco...

Porém, não sabia se deveria contar aos dois. Confiava neles, mas revelar o que ouvira os deixaria chocados. E, além do mais, lembrou-se do que seu pai sempre dizia: “Quando algo passa a ser conhecido por duas pessoas, não é mais um segredo, e é questão de tempo até que se multiplique.”

Não, pensou. Tenho que fazer isso por mim mesma. Colocá-los dentro disso é colocar a vida deles em risco.

Sentiu um calafrio ao pensar que estava colocando em risco a sua própria, e outro ao enxergar Carter no corredor, quando chegaram na escola.

Ele começou a andar em sua direção.

Não quero mais me aproximar desse cara, pensou.

Enquanto sua respiração acelerava, viu Carter sorrir e acenar para ela, dizendo “Ei, novata!”

Allison fechou os olhos e respirou fundo.

Ataques, semelhanças entre as mortes, corte por faca, segredo, ficar longe dele, ponto fraco, arrumar provas. Tudo isso percorria sua mente e fazia parecer que o corredor ao seu redor estava girando.

De repente, algo que Melissa dissera simplesmente lhe ocorreu e a fez enxergar uma possível solução para aquilo.

Allison tentava lembrar as palavras exatamente como Melissa havia dito, mas a lembrança da conversa parecia um pouco apagada. Apenas uma informação persistia: a de que Carter trocara a amizade de anos que tinha com Melissa quando começara a sair com garotas.

Aí estava, algo que pudesse usar contra ele. Um ponto fraco.

Quando Carter finalmente a alcançou, ela não fugiu, nem se afastou dele.

- E então, Allison... – disse ele. – O que achou do jogo de sexta?

- Achei muito bom. – ela respondeu. – E você joga bem.

Ele sorriu com um canto da boca, o tipo de sorriso que faria as outras garotas da escola se derreterem. Mas ela se mantinha firme, porque agora estava começando a desenvolver um plano.

- Bem... - disse ele. – Acho que você deve ter ficado sabendo que o xerife daqui colocou toque de recolher.

Allison teve de conter a irritação que o modo debochado com que ele falara “xerife” lhe causara.

- Sei. – disse ela. – Qual o problema?

- O problema é – Carter começou a explicar – que nessa cidade não há simplesmente nada para se fazer. E agora os tiras nos impedem de sair à noite.

Allison ficou em silêncio. Não sabia o que dizer em seguida, e estava tomando cuidado ao lidar com ele agora que sabia quem ele era. Tinha de escolher bem as palavras que usaria.

- Então, – Carter continuou – nós damos nosso jeito.

Ele chegou bem perto do ouvido dela, e ela pôde vê-lo sorrindo de um jeito quase maquiavélico. Sussurrando, como se ninguém devesse ouvi-lo e, Allison pensou mais tarde, como se o resto da escola já não soubesse disso, ele falou:

- Amanhã à noite, vai ter uma festa secreta. Dê um jeito de ir. Espero te ver lá, novata.

Ele colocou um papel na mão dela e saiu. Allison desdobrou o bilhete e viu que continha o endereço e o horário da festa.

Nos vemos lá, Carter, ela pensou. Eu serei o seu ponto fraco.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Criminal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.