Criminal escrita por Maiara T


Capítulo 7
Allison




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Allison não conseguia decidir se ia ou não ao treino do time da escola. Sabia que Connor e Melissa não gostavam de Carter, e eles dois eram as únicas pessoas que conhecia por ali. Mesmo assim, pediu para eles se gostariam de acompanhá-la ao jogo. Não queria ir sozinha, pois sabia que se sentiria completamente perdida se fosse. Para sua surpresa, Melissa e Connor aceitaram ir com ela, depois de garantir-lhes que estava indo para conhecer o time, e não porque tinha se interessado em Carter.

Isso, aliás, nem mesmo ela poderia dizer se era verdade ou se estava fazendo a si mesma acreditar no contrário. Tinha de admitir, à primeira impressão ele parecera bonito e atencioso, escolhendo a novata para fazer o teste e convidando-a para vê-lo jogar. Mas Allison aprendera, principalmente a exemplo de seu pai, que nem sempre as pessoas são o que parecem. Não podia esquecer que, segundo Melissa, ele era metido a conquistador e cheio de si.

Decidiu que deveria tirar suas próprias conclusões depois de conhecê-lo melhor e tratou de dispensar sua mente daqueles pensamentos. Olhando para o relógio percebeu que estava na hora de sair se quisesse chegar no início do jogo.

Saiu de casa e encontrou Melissa e Connor na calçada. Olhando para Melissa, Allison sentiu-se ligeiramente envergonhada do modo como estava vestida. Enquanto a amiga parecia sempre chique e arrumada, mesmo que de forma simples, Allison usava uma camiseta cinza e velha de seu time favorito de futebol, uma jaqueta jeans surrada, calças jeans e tênis All Star. Melissa poderia ser uma modelo e, se alguém a julgasse sem conhecê-la, facilmente pensaria que era como as outras garotas, do tipo que só se importa com a própria aparência. Mas ela não era assim, Allison pensou e sorriu, feliz por ter feito amizade com ela.

Depois de trocarem alguns cumprimentos informais, começaram a caminhar em direção à escola, e Connor comentou:

- Allison, você vai ter uma grande decepção. O time da escola é terrível. – ele fez uma careta. – O único cara que jogava de um jeito decente era Dave, o quarterback. E agora ele nem está mais aqui.

Um silêncio tenso pairou sobre eles. Allison decidiu perguntar:

- Carter não é bom? Quer dizer, ele é o capitão, não é? Deveria ser o melhor do time.

Quando viu que eles não respondiam, ela continuou:

- Tudo bem, sei que vocês não gostam dele e realmente devem pensar que ele é péssimo no campo, e talvez seja mesmo, porque ainda não vi o time jogar. Mas uma coisa fica martelando na minha cabeça: o que foi que esse garoto fez para que vocês o detestem tanto?

Depois de um suspiro, Melissa falou:

- Costumávamos ser inseparáveis quando crianças. Quando começamos a escola, no jardim de infância, nos tornamos melhores amigos quase que instantaneamente, e foi assim por vários anos. Porém, quando tínhamos uns onze ou doze anos, ele começou a mostrar interesse por garotas e chamar algumas para sair. Tudo bem, isso é normal, mas eu sentia que ele estava deixando nossa amizade de lado. Um dia, na hora do almoço, fui sentar na mesa em que sempre almoçávamos e vi ele indo sentar longe, com a garota que estava saindo. Isso me deixou irritada, porque já fazia tempo que ele vinha me ignorando. Então fui até lá e falei para ele: “Se você vai ficar o tempo todo me trocando pelas garotas com quem você sai, então acho que você não precisa da minha amizade.” Eu esperava que ele fosse se desculpar, dizer que eu tinha razão e que ele não deveria esquecer os amigos por causa de garotas. Mas ele olhou pra mim com cara de desdém e falou: “E quem disse que eu preciso dela?”

Allison não sabia o que dizer. Estava começando a formar uma opinião sobre ele, e ela não era boa.

Melissa continuou:

- Depois daquele dia, eu me afastei. Ele me ligou uma noite, dizendo que tinha falado aquilo sem pensar, porque estava estressado e realmente queria impressionar a garota. Mas eu não consegui esquecer aquilo.

- Puxa... – Allison estava sem palavras. – Sinto muito.

- Mas se não fosse por isso – disse Connor, que estivera em silêncio o tempo todo – ela não teria tido a chance de conhecer a mim.

Melissa riu e abraçou Connor colocando o braço em volta do seu pescoço.

- Sim, você me deu a maior força. – disse ela. – Mas agora, que tal mudarmos de assunto? Vão pegar os lugares na arquibancada que eu compro refrigerantes para nós três.

Devido à conversa que estavam tendo pelo caminho, Allison nem percebera que já estavam praticamente cruzando os portões do campo de futebol ao lado da escola. Ela e Connor subiram os degraus da arquibancada de metal e sentaram-se, guardando um lugar para Melissa com a jaqueta de Allison. Ela se arrependeu instantaneamente por não ter saído de casa mais cedo, porque o lugar estava cheio de alunos e foi difícil encontrar onde sentar, além de que o estádio não tinha capacidade para muitas pessoas. Um murmúrio geral fez-se ouvir por entre os espectadores e, olhando em direção ao campo, viu que o jogo estava prestes a começar.

O jogo, percebeu na hora em que os jogadores entraram em campo, era de titulares contra reservas. Lembrou-se, então, que Carter havia dito que seria só um jogo-treino.

Melissa apareceu minutos depois, trazendo os refrigerantes. Allison não fazia idéia de como ela os tinha localizado, mas não era algo importante para se perguntar. Passaram o jogo conversando e comendo alguns petiscos que compraram mais tarde. O time não jogava mal, observou Allison, mas também não tinha nenhuma grande estrela, alguém que fazia jogadas incríveis ou que se destacaria sob os olhos de um olheiro de futebol. Os titulares ganharam, mas ela já esperava isso, afinal, deveria haver um motivo para que os reservas estivessem no banco.

Quando o jogo acabou, estava quase escuro e a arquibancada esvaziou rapidamente. Allison, Connor e Melissa foram juntos para casa, e estavam quase chegando quando Allison parou de repente, exaltada:

- Ah, não! Esqueci minha jaqueta no campo!

Connor e Melissa olharam para ela, parecendo pela primeira vez durante o caminho de volta se dar conta de que ela estava só com a camiseta.

-Acho que dá tempo de ir buscar antes de escurecer totalmente. – disse Allison. – Se eu correr.

- Quer que a gente vá com você? – perguntou Connor.

- Não precisa. – ela respondeu. Por mais que lhe desse medo ir até lá sozinha com um assassino à solta, não queria pôr os amigos em risco. E além do mais, não passaria por dentro do parque, mesmo que demorasse um pouco mais para contorná-lo.

Saiu correndo sem dizer mais nem uma palavra para Connor e Melissa, que ficaram encarando-a com as testas franzidas, enquanto a observavam correr dali.

Não demorou muito para chegar novamente ao estádio. Enquanto subia os degraus em direção de onde havia sentado, bufando e ofegando devido ao cansaço da corrida, não pôde deixar de notar como aquilo estava vazio e assustadoramente sombrio. Avistou a jaqueta, apanhou-a, e já estava se preparando para descer as escadas quando ouviu um ruído de conversa vindo de debaixo dela. Abaixou-se, olhando por entre os degraus, e viu que Carter e uma garota conversavam, embaixo da arquibancada. Sem fazer barulho, deitou-se no degrau, de modo que seu corpo não pudesse ser visto, e prestou atenção no que eles conversavam.

À medida que ouvia, uma expressão de incredulidade se formava em seu rosto. Tinha de sair dali. Não podia deixar que soubessem que havia ouvido aquilo. Não podia deixar que a vissem.

Lentamente, ergueu o corpo e começou a dar passos cautelosos, semi-abaixada, cuidando para não fazer barulho. Por sorte, já estava escuro o suficiente para que seu contorno passasse facilmente despercebido aos olhos de qualquer pessoa distraída, absorta em uma conversa.

Ultrapassou os portões do estádio e olhou para trás – aparentemente, não havia ninguém atrás dela – e depois disso, começou a correr. Correu o mais rápido que pôde, vez ou outra lançando olhares por cima do ombro, para ter a certeza de que não estava sendo seguida. Quando chegou em casa, o céu já estava completamente escuro, e ela quase não conseguia respirar. Seu pai notou seu ar estupefato e perguntou:

- Meu Deus, o que houve para você estar desse jeito?

- Esqueci minha jaqueta na arquibancada. – respondeu ofegante, entrecortando as palavras com arquejos. – Fui e voltei correndo para pegá-la, pois queria chegar antes de escurecer.

O pai sorriu, feliz por Allison obedecer às suas ordens e estar consciente do perigo que a noite pode esconder.

- Está com fome? – ele perguntou. – O jantar fica pronto em meia hora.

- Vou tomar um banho primeiro. – disse Allison, e subiu as escadas.

Entrou em seu quarto para largar a jaqueta e pegar algumas roupas limpas. Quando passou em frente ao espelho, não pôde deixar de notar a sua expressão: não tinha apenas um ar cansado, ofegante por causa da corrida. Misturado à fadiga e à respiração acelerada, percebia o pânico estampado em seu rosto, enquanto as palavras de Carter ecoavam em sua mente.


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Notas finais do capítulo

Êêêê, até que enfim eu decidi deixar a preguiça de lado e acabar com meu bloqueio criativo!!! Depois de muita demora e da espera do meu pulso machucado melhorar, finalmente voltei a escrever (pelo menos nessa fic, que é a que tem mais gente acompanhando). Espero que gostem do capítulo. Bjs!



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