The Roommate escrita por Reet


Capítulo 12
Capítulo 11 Isso é um beijo


Notas iniciais do capítulo

Volta ao inferno: eu não quero ver essas pessoas, eu não quero ver esses professores, eu só quero dormir.
missathomicbomb (u/335644), Katharine (u/242031), Jessie leevin (u/252633), Suzannah (u/327432), Ann (u/346170), GarotaNyah (u/236397) e vihcristhine (u/232236) SUAS GATAS muito obrigada pelas recomendações!
Minhas tortinhas de limão, to agradecendo mais uma vez por todos os comentários, todo esse carinho, porque é algo que a cada vez eu mal espero receber.
O capítulo foi revisado e betado pela Amanda Marcatto (http://fanfiction.com.br/u/80862/) e assim, ela é maravilhosa. Ficou muito melhor com a ajuda dela! Acho que vocês deveriam conferir as histórias dela, essa ruiva linda ♥



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Pisquei meus olhos. Uma, duas, três vezes. Eu pensava que, sinceramente, alguém iria adentrar o apartamento, batendo palmas, que cairiam bexigas do teto junto a uma música brega e animada de fundo, para dizer que tudo não passava de uma brincadeira. Ou eu estava prestes a cair da cama depois de um pesadelo daqueles e me dar conta de que nunca existiu um personagem chamado Bradley Adams: eu só tinha dormido demais e estava atrasada para a aula de química. Mas ao terminar de piscar mais dez vezes e me dar conta de que eu não ia cair da cama, porque eu estava perfeitamente acordada e em pé, senti que meu estômago foi dar uma volta em uma montanha russa e precisei apoiar meus braços nas costas do sofá. Afundei meus joelhos, sem desviar meus olhos claros daquele breu enevoado e complexo, e me sentei.

Os fios negros de cabelo ainda cobriam o escuro indecente dos seus olhos, apesar de eu conseguir vislumbrá-los em poucas brechas. Eu via agora algo que nunca achei que pudesse estar ali. Eu poderia chamar de inocência, mas estamos falando de Bradley, aquele cara que usa camisas com dizeres do tipo “nascido para foder”, então repare que não é um adjetivo muito compatível... E adivinha? Fora ter admitido que era, de alguma forma, masoquista, ele havia acabado de dizer que estava tentando me “conseguir”. E que esse era mais um item da sua lista “não sei o que estou fazendo realmente”.

Eu deveria estar fazendo uma careta muito esquisita, pois ele tentou reproduzir e foi o que me fez voltar para a realidade como se saltasse em uma piscina de algum lugar muito alto.

– Você está bem? – Brad arqueou as sobrancelhas. – Parece que não respira há cinco minutos.

– Eu tenho quase certeza de que não respiro há cinco minutos – arfei.

– Eu vou pegar um copo de água...

Quando ameaçou se levantar, agarrei seus braços (e que braços!) mantendo-o ali; encarei seus olhos e pisquei lentamente. Não vou dizer que não era minha intenção umedecer os lábios, mas talvez não fosse algo totalmente consciente. E talvez eu não esperasse que o movimento fizesse sua atenção se voltar imediatamente para minha boca. Ou talvez eu esperasse. Era difícil ter certeza de qualquer coisa naquele momento.

– Eu não quero água – me apressei em dizer, e ele prontamente me interrompeu.

– Também não quer ficar perto de um disturbado masoquista! – Bradley pronunciou as últimas palavras desgosto eloquente.

– Pelo contrário. Só gostaria de saber por que não me contou antes.

– Só não gosto de expor meus problemas pessoais.

– Estamos sob o mesmo maldito teto! Acho que tenho o direito de perguntar e saber – rebati.

– Algumas perguntas jamais devem ser feitas, porque nem sempre a resposta é o que se espera – Brad me encarou deixando transparecer um pouco de sua raiva, mas eu não senti como se tivesse ido longe demais. Longe disso. Aliás, eu queria ir longe demais. Com quem eu estava morando? Essa era a questão.

– Eu não me importo – sussurrei, me aproximando do seu corpo. Não queria que tivesse soado tão invasivo, mas foi impossível não me perder nas linhas daquelas feições e daqueles ossos. Ele era tão belo que algo se revirava dentro de mim e o queria imediatamente. E eu não me importava com seus problemas! Talvez eu fosse louca, afinal. Ou talvez fosse ele que me deixava assim. Seja como for, não faz diferença. Não muita, pelo menos.

– Tem certeza? – retrucou no mesmo tom. Não deve ser tão ruim.

Assim que balancei a cabeça, os olhos de Bradley se direcionaram às minhas mãos que permaneciam agarradas a seus braços. Afastei-me imediatamente e juntei minhas pernas ao meu corpo, agarrando-as. Brad pegou o controle da televisão e ligou o aparelho, abaixando o volume a ponto de só ouvirmos um plano de fundo quase imperceptível.

– O que você quer saber?

Não precisei pensar antes que minhas perguntas voassem da minha boca e espancassem a cara de Brad. Ou pelo menos foi essa a sensação que tive ao me deparar com suas caretas de dor mental.

– Por que seu quarto é todo trancado, sem luz e cheio de ursos? Por que você usa antidepressivo e abusa de alucinógenos? Por que raios você foge do assunto em relação a sua família, ou pelo menos, parte dela? O que deu na sua cabeça para ter uma Ducati quando você tem que pagar a faculdade e um apartamento? Tem mais alguma coisa que você está se esquecendo de me contar? – terminei minha lista de perguntas quase histérica. – Comece pelo início!

Brad havia me ouvido imóvel, como uma estátua. E permaneceu assim pelo o que me pareceu uma eternidade. Mas talvez houvesse passado pouquíssimo tempo quando ele finalmente se moveu. Agarrou os joelhos e olhou para o chão de madeira da sala. Chão interessante, madeira sofisticada.

– Quando eu nasci, minha mãe já estava casada com outro cara – começou lentamente, trocando rápidos olhares comigo para se certificar de que eu estava atenta. Eu não imaginava que a história começasse há tanto tempo. – O nome dele é Duncan Adams. Eu ganhei seu sobrenome porque conveio naquela situação. Afinal, eu não veria meu pai e minha vida seria traçada por aquele homem; o cara que casou com a minha mãe.

“Pouco tempo depois, Jason nasceu. O filho legítimo. Estava explícito que, desde então, eles tinham o filho preferido, por assim dizer. Até porque ele tinha o sangue de Duncan e carregava o sobrenome Adams por direito. Como eu queria que ele nunca tivesse nascido... Não é saudável pra ninguém crescer com um sentimento de rejeição. Eu era apenas uma criança, quase da mesma idade que ele. E eles nunca fizeram questão de esconder a preferência que tinham por Jason. Era sempre ele quem ganhava mais presentes, mais oportunidades, mais amigos, mais carinho da família. Às vezes eles nem se lembravam de que tinham outro filho. Eu nunca me senti tão... desprezado.”

Suspirei, sentindo uma força misteriosa espremer meu coração. Só de olhar nos olhos vazios de Brad eu sentia vontade de chorar por ele. Acho que ele nunca teve a chance de chorar por isso. E, de alguma forma, eu entendi seu sentimento. Engatinhei no sofá e me aproximei, puxando seus braços para encaixar meu corpo ali no meio. Enfiei minha cabeça no espaço entre seu tronco e seu pescoço e minhas mãos foram até seu peito. Demorou um instante até que Brad relaxasse e se acostumasse com minha invasão. Até que ele recostou sua cabeça na minha e continuou a história.

– Obviamente, eu não fiz esforços para tentar impressionar ninguém. Ficava no quarto, esperando, sei lá, alguma interferência. Eu aprendi a tocar piano com o piano que Jason nunca deu importância. Ele é um babaca!

“Duncan era sócio do clube de motociclistas... Acho que foi a única vez em que me senti melhor que Jason, porque ele gostava mais de carros e Duncan acabou por me presentear com uma moto, achando que assim iria conseguir fazer ciúmes no Jason.

“Apesar de, claramente, sempre ter separado Jason de mim, Duncan era quase um padrasto legal. Ele me deu uma moto, um apartamento e paga minha faculdade. Então eu arrumei minhas coisas e fui embora. Estou nesse apartamento desde então. Eles me sustentam. Como se eu me importasse ou como se eles se importassem... – senti seu peito se mover num suspiro pesado, carregado daquela mágoa contida – Manter um desconhecido vivo não faz diferença alguma para eles, e eu decidi apagá-los da minha memória. Procurar algo para suprir minha falta de amor... em outro lugar.”

Coincidentemente, ao dizer aquilo, seu peito subiu e desceu mais rápido, sustentando meu peso. Ouvi seu coração acelerar e quis sorrir com aquilo. Veja bem o que ele estava falando.

– Mesmo após ir embora, ficar longe deles não era... suficiente para eu me sentir confortável. Eu continuava sozinho, mas agora de verdade. Não havia presença, convivência. Era apenas eu comigo mesmo. Então comecei a me fechar dentro do meu quarto, até não querer mais ver a luz.

– Você tem uma lanterna – eu o lembrei.

– Eventualmente eu precisei da lanterna, Alexis – Brad respondeu no mesmo tom sem parecer irritado pela minha interrupção – Então eu conheci o Hans, que me levou a conhecer os outros caras. Eles tentaram me ajudar com a sugestão de alguns alucinógenos, e quando isso cansou, eu decidi me viciar em antidepressivos. Mas nem isso era suficiente, o efeito parecia passar voando.

“E, como se não bastasse descobrir que dor me deixava entretido, passei a comprar ursos de pelúcia para sentir como se eu recebesse um pouco de atenção. Uma atenção artificial, mas ainda sim, atenção. Com o tempo, percebi que eu mesmo não estava conseguindo me controlar. Emocionalmente alterado, não me dava conta dos sentimentos adversos e não sabia mais o que fazer. Perdia facilmente a noção de perigo. Hans sempre vinha conferir se eu deixava o gás ligado, se o chuveiro não iria me eletrocutar, essas coisas. Mas não dava certo. Ele tem o Peter para tomar conta. E cá entre nós, Peter já é um grande problema. Eu estava no fundo do poço, foi quando eu tive a brilhante ideia...”

– E é aí onde eu entro – deduzi. Ele soltou ar como se estivesse prendendo por muito tempo, confirmando minha dedução.

Ficamos em silêncio por um longo tempo. Tempo suficiente para caminhar meus dedos sobre todo seu peito, ler e reler sua grande tatuagem “segure-se a qualquer coisa”, respirar fundo muitas e silenciosas vezes. Até que fazia sentido: Brad estava afogando em depressão, daquelas muito pesadas. E agora eu tinha certeza do meu propósito. Até a sensação de que meu toque o acalmava estava tão clara agora. Era isso mesmo. Ergui o rosto e encarei seus olhos: cinquenta por cento segurando as pontas, cinquenta por cento caindo aos pedaços.

– Você não queria um colega de apartamento para dividir as despesas – murmurei.

– Não.

– Você queria alguém por perto – concluí. – Por isso, não se importava se eu fosse pagar o apartamento ou não. Era uma fachada.

– Sim – ele sussurrou.

– Para cuidar de você – soou como uma pergunta, mas era só uma confirmação, que ele afirmou com outro “sim” silencioso. – Você não esperava que eu fosse uma mulher. E se eu fosse mesmo um cara?

– Apenas me ocorreu você – deu de ombros e percebi que ele não havia parado para pensar naquilo –, unindo o útil ao agradável.

– Quer dizer que eu sou agradável?

– E útil – Brad piscou. Senti minhas bochechas esquentarem, talvez por estar tão perto e não saber como controlar minhas reações. Era uma boa hora para algum celular começar a tocar. Mas o meu estava lá no quarto e a única vez que vi o celular de Brad fora do bolso da calça foi quando desencadeei uma série de gritos e acontecimentos conturbados: ontem.

– E-eu – tropecei nas palavras ao tentar emendar um assunto – não me lembro de precisar te avisar para desligar o gás ou não queimar o chuveiro.

– Eu me lembro de te manter viva, porque é mais fácil cuidar de você do que de mim mesmo – Brad deveria estar de brincadeira com a minha cara! Ele queria ver minhas bochechas sendo ligeiramente coloridas de vermelho, só pode! Louco ou não, ele era tão desejável que chegava a ser irreal. E indecente. – O que me lembrou que você ainda não comeu nada. Eu preciso fazer sua comida. Se você sair de cima de mim, é claro.

Tudo bem, ele também sabia quebrar o clima com uma habilidade impressionante. Era um grande e indecente babaca e merecia umas porradas que eu até daria, se ele não fosse um masoquista.

Afastei-me do seu tronco e ele se levantou com a sombra de um sorriso em seu rosto, caminhando em direção à cozinha. Sorriso obsceno, andar idem.

– Ah, Brad, por que o Jason quer falar com você? – perguntei.

– Vai saber... – ele deu de ombros e se virou na minha direção para rir – Aulas de piano, talvez?

– E o seu pai? – me aproximei da bancada da cozinha e me sentei em um dos banquinhos altos para observá-lo fazer meu café da manhã. O primeiro ingrediente que ele pegou: corante artificial. Ele iria colorir minha comida cor de rosa.

– O que tem ele? – perguntou de volta sem interesse.

– Qual nome dele? Você não tem vontade de vê-lo?

Bradley pensou por um momento, sem se importar com a curiosidade que me corroía. Se seu sobrenome não era para ser Adams, qual seria? Finalmente eu podia sentir que sabia mais sobre Bradley do que apenas seu nome e a porta à esquerda da caverna que ele se escondia.

– Ele se chama Albert Judd. Eu o vi uma vez e não acho que tenho interesse em ver de novo.

– Mas ele é seu pai, por que não procurou ficar com ele?

– Ele não iria fazer diferença nenhuma, Alexis.

– Bradley Judd – disse para o nada, testando como ficaria se assim fosse o seu nome. Brad me olhou com censura e balançou a cabeça negativamente. – Eu prefiro Bradley Adams.

– Eu prefiro Brad.

Ele me encarou com uma postura desafiadora... Ou eu estava imaginando coisas. Estava elucidado que “me chame de Brad” havia se tornado sua frase principal. E naquele momento, com aquele olhar vesano, amarrando o avental de cozinha em sua cintura, eu desejava agarrá-lo. Céus! Melhor do que um cozinheiro particular disturbado, só um cozinheiro particular disturbado que teimava em se apelidar de nome de jogador acéfalo do time de futebol.

Enquanto ele fazia meu café da manhã, eu balançava os pés no ar em silêncio. Minha cabeça era bombardeada de pensamentos. Era tudo sobre Brad. Sua história se repassava como um filme, eu até podia imaginar uma criança pálida de cabelos negros sentada em uma sala vazia de frente para um piano, enquanto o resto da família se divertia de outra forma, lá fora. Eu queria abraçá-lo. E, de repente, eu não só queria, mas precisava. Tive que me levantar do banquinho e passar meus braços em volta do seu corpo esguio e magro.

Ele parou momentaneamente de fazer o que estava fazendo. Essa era sempre sua reação, como se não estivesse acostumado a receber carinho; e eu tinha certeza de que não estava. Olhei para suas costas e lentamente, encostei minha boca em sua camiseta. Ele arqueou as costas e deu uma risada quando eu soltei um estalo parecido com um beijo.

– Alexis, o que você está fazendo? – ele perguntou entre risadas. Beijei mais uma vez e mais uma vez ele arqueou as costas – Isso dá arrepios.

– Isso é um beijo – murmurei contra sua camisa. Segui com a boca até a curva de suas costas, mais um estalo –, e isso também – continuei o caminho de beijos, murmurando a cada pausa – e isso.

De repente, Brad puxou minhas mãos que agarravam seu corpo e se afastou ligeiramente, me empurrando contra a bancada que ele estava de frente no segundo anterior. Quando me dei conta, eu era uma boneca de pano nas mãos enormes dele, que prenderam as minhas espalmadas no mármore com apenas uma das suas, e com a outra, segurou minha cintura e me inclinando. Eu me vi em uma posição extremamente... indecente.

Vi seu rosto desaparecer atrás de mim e, então, uma lufada de ar saiu ofegante da minha boca. Ao primeiro contato indireto de sua boca com as minhas costas senti ondas de arrepios eletrizarem todo meu corpo. Eu havia esquecido de mencionar que minhas costas eram não apenas um pouco, mas muito sensíveis. E o grande problema era que sua boca podia ser muito mais delicada do que eu podia imaginar, e descia traçando um caminho de beijos estalados lentos e quentes. Respirei fundo, várias vezes, mantendo o controle da minha garganta e lutando internamente, decidindo se eu o afastava ou continuava a aproveitar o carinho. Eu nem me preocupava mais com as batidas incansáveis na porta do apartamento. Eu mal notara que estavam batendo na porta.

Depois de descer e subir com a trilha de arrepios, os beijos cessaram lentamente e a respiração de Brad pode ser ouvida (e sentida) perto do meu pescoço. Olhei para seus dedos de lagartixa prendendo meus pulsos; eles se afrouxaram lentamente e então meus pulsos estavam livres. A cozinha estava silenciosa.

– Você gostou – afirmou convencido, merecendo um soco no meio da cara. Mas aquele avental de cozinheiro amolecia meu coraçãozinho. Afastei-me alguns passos e o encarei com censura, apontei o dedo em sua direção.

– Não fale nada! – rebati e depois soltei o ar, deixando o sangue atingir minhas bochechas. – Vou atender a porta.

Saí voando da cozinha, esfregando as mãos em meu rosto, rezando para não parecer que eu tinha acabado de sofrer arrepios fortes, causados por uma trilha de beijos daquele cara gostoso na minha cozinha – na cozinha dele, porque eu não sabia cozinhar. Bufei. Quem iria supor uma coisa dessas?

Era Hansel batendo à porta. Ele segurava uma sacola.

– Não me espanque! Eu só esqueci de entregar isso ao Brad – ergueu as mãos em sinal de rendição e me entregou a sacola. – Por que você está completamente corada? Brad te deu um trato?

O sangue subiu a cabeça e agora eu não estava só vermelha, eu deveria estar das sete cores do arco-íris. Minha pergunta estava respondida: Hans suporia uma coisa dessas!

– O que tem aqui dentro? – abri a sacola e tirei caixas de medicamento controlado. Franzi a testa, sentindo um frio subir pela minha espinha.

– São os antidepressivos dele... – Hans avisou – Avise para diminuir as doses diárias, ele está exagerando demais. E procure enfiar seu rosto em um pote de gelo, Algodão-Doce.

Bati a porta na cara de Hansel. Depois disso, eu não estava mais pensando antes de agir. Caminhei até o corredor em direção ao banheiro.

Quem era? – Brad gritou da cozinha, mas eu preferi ignorar sua pergunta.

Coloquei as caixas de remédio em cima da bancada da pia e tirei os vidros de dentro. Eram comprimidos coloridos. Abri a tampa do sanitário e comecei a jogar os comprimidos do primeiro remédio lá dentro. Eu não iria deixar que Bradley continuasse com aquilo. Ele iria melhorar, mas sem isso. Afinal, era por esse motivo que eu estava ali, certo? Eu seria seu antidepressivo. Eu iria ter os mesmos efeitos.

Quando já estava no terceiro vidrinho, ouvi sua voz no corredor.

– Alexis? – ele entrou no banheiro. As informações foram processadas em seu cérebro. – O que você está fazendo? – ele agarrou as caixas vazias e leu o nome dos remédios, arregalando os olhos. Tentou tomar o último vidro de mim, mas eu terminei de jogar dentro da água. – POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?

Não respondi, eu não tinha o que responder, a resposta estava clara.

– ALEXIS! – Brad gritou, se agarrando a bancada. – Eu não posso viver sem isso! Eu não vou aguentar! Preste atenção, eu preciso dos antidepressivos!

Apertei a descarga. Observei os olhos de Bradley marejarem. Ele se olhou no espelho por um momento e começou a chorar. Foi doloroso observar as lágrimas cortarem seu rosto com aquela expressão de incredulidade. Ele abria a boca, mas não conseguia fazer com que as palavras saíssem.

Fui ao seu encontro e agarrei seu corpo. Ele me abraçou com força e soluçou um pouco. Lentamente, seu corpo escorregou na parede do banheiro e chegou ao chão, sentando-se comigo em seu meio sem me soltar. Após longos minutos soluçando, seu corpo, enfim, relaxou. Ergui o rosto e o encarei. Sua expressão não era nada legal e seu rosto brilhava por causa das lágrimas secas. Passei os dedos para limpá-las, ele piscou lentamente.

– Eu não posso... controlar... minha oscilação de humor sem esses remédios – disse em um murmúrio.

É mais fácil cuidar de você do que de mim mesma – repeti e arqueei as sobrancelhas em desafio.

– Não brinque comigo, Alexis – Brad me empurrou e eu deslizei no chão do banheiro para longe enquanto ele se levantava com pressa.

Ao tentar fazer o mesmo, bati minha cabeça na bancada e quase desmaiei de dor. Tentei me apressar para parar Bradley antes que ele se trancasse em algum quarto, mas ele fechou a porta de madeira arranhada antes que eu pudesse impedi-lo. Bati com o punho contra a porta e ele não respondeu aos meus chamados.

– Tudo que você faz é se esconder aí dentro quando alguma coisa não te agrada!

Apenas o silêncio me respondia... Nada daquele tal de Bradley Adams. Grunhi ao me dar conta de que provocá-lo não adiantava nada, pois ele havia desaparecido na escuridão e não fazia mais nenhum barulho.

Ótimo. Eu tinha um animal dentro do apartamento e não conseguia nem adestrá-lo, quanto mais cuidá-lo. O problema dele era ser teimoso demais, inflexível demais. Brad demais.

Marchei até a cozinha quando meu estômago começou a rugir de fome, me alertando que eu morreria se não comesse alguma coisa. Felizmente, ele havia terminado de fazer meu café da manhã. Corri até a bancada e levei um susto ao me deparar com panquecas. Não apenas panquecas, mas panquecas cor de rosa, da cor do meu cabelo, e a calda de chocolate fresca ao lado – mas as panquecas já tinham chocolate em cima. Elas estavam organizadas de forma que eu notei que elas haviam sido escritas com calda de chocolate, formando uma frase.

“Isso é um beijo.”


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Notas finais do capítulo

Oi? Ei?! Fora o Vincent, o Pedro e o Higgor, tem algum leitor sem útero aí?
Então, na parte dos beijos indecentes, gostaria de dizer que eu me inspirei na música Kiss Me do Ed Sheeran "Kiss me like you wanna be loved/ This feels like falling in love/ Settle down with me/ And I'll be your safety" ♡

Vocabulário:
Elucidado: o que está explícito.
Vesano: louco, maníaco.

Créditos:
Sobrenome do pai do Brad, Judd: Ana Carolina (ask.fm/AnaCarolinaJeronimo635)
Frase "Sorriso obsceno, andar idem": Houlteen (u/338091)