Ago(u)ra escrita por


Capítulo 74
Uma ilusão do litoral fluminense


Notas iniciais do capítulo

Cara, isso não aconteceu de verdade. É essa imaginação sem noção que tenho.



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Eu estava mais do que acordado. Eu via os pombais passando, as nuvens dançando, sentia o ar abafado me cercando por todos os ângulos, mas ainda assim meus devaneios foram capazes de superar tudo. Dava pra ouvir Sam e Frodo conversando alto na televisão, e ao invés de prestar atenção n’O Retorno do Rei eu sonhei acordado. Eu nunca havia sonhado acordado tão nitidamente antes. Foi como se eu pudesse sentir o que aquilo proporcionava. Minha imaginação ficou obsoleta. Minha tia diz que quem escreve fantasia vive de sonhos acordados, no entanto eu sinto que teve algo de singular.

Sentindo a areia das dunas me açoitando as pernas, eu admirava as ondas se levantando ao longe, como lençóis de cama, e caindo e batendo no limite de terras a vista para mim. Eu estava sozinho, e me sentia tão leve que não sabia como aquele vento não havia me levado consigo. Lá na frente, uma silhueta oscilante embaçada cada vez mais perto. Garota. O que era aquilo na mão dela? Só quando ela chegou perto o bastante pra eu ver o rosto eu descobri que era um par de fones de ouvido. Ela parecia estar olhando para mim, mas eu tinha a leve sensação de ela vagava por algo além de mim. Afinal de contas, eu nem devia estar ali.

A camisa era do Led Zeppelin, aquela letra estranha que eu nunca gostei. Aquela banda que eu sempre estranhei. Quando ela passou direto, eu senti o calor dela e vi cada gota do suor na testa da garota flamejando na luz do Sol. Decidi volver e vi os prédios. Sabia que tinha reconhecido aquelas dunas e aquele mar. Cabo Frio. Eu adorei aquele lugar, por mais que as coisas ruins tenham se sobressaído a cada dia que eu passara lá. Ela saiu andando pela calçada da praia, e eu a segui. Não sabia que uma aparição minha era capaz de andar muito, perambulando por aí sem parar. Mas pode.

Um bom tempo depois, meu eu espírito já suava de tão cansado. Como névoas suam? Eu também não sabia, mas então ela não parou de andar. E eu via os prédios, olhava para a praia; tanta coisa mais interessante pra observar, e eu seguindo uma garota. Ela finalmente parou, e eu senti uma sensação estranha: eu me senti sólido, mas não via o céu de pombas e não ouvia o filme. Eu senti o sorrir da garota em mim, e permiti que finalmente sonhasse de verdade. Perdi o controle do sonho, e foi nessa hora que percebi que tinha realmente dormido. Juro. Eu senti o beijo dela em mim. Oito vezes, com pausas poucas. Contei cada segundo de cada beijo como se fossem reais. O primeiro teve 27 segundos e meio. E quando fechei os meus olhos no tal sonhar, abri os meus e ouvi Sam gritando contra a aranha gigante.

Um sonho sem precedentes, nem continuação. Um sonho nada vago. Eu aposto contigo que se eu decidir seguir e encontrar o amor dessa moçoila, eu estrago. De cara.

Uma garota.

Sonho meu.


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Notas finais do capítulo

Olha do que eu fui me lembrar. Cabo Frio.
Meu Deus, que coisas estranhas.



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