O meu fogo não queima. Eu não entendo essa brasa que escorre pelo papel como a maré baixa, mas nada consome. Essas que pequeninas chamas que se soltam e sobem e, nunca satisfeitas com o estrago, procuram ávidas pela vida que nós carregamos, para enfim tê-la para fazer o que desejar. Todavia, não consome coisa alguma, o meu fogo. “Como ele foi parar aí?” perguntam a mim. Eu não faço ideia, eu não sabia que havia chances disso ocorrer. Sinto medo. Posso tocá-lo, beijá-lo, lambê-lo, deitar sobre ele, mas não o encontro. Sabia você que ele tem gosto de pimenta? É, pimenta. É bom, até. Porém, continua amedrontador, e ninguém escuta quando eu clamo, ninguém ouve a minha voz.

Eu espero um dia poder amar esse fogo sem que ele me aceite de bom grado. Essa flama que floresce do nada que ofusca nossos olhos e é capaz de nos destruir tão rápido. Eu adoraria isso na minha vida. Entretanto, o meu fogo é manso, e eu não sei se há algo capaz de dar mais vida do que essa maravilhosa, bela e quente labareda.

Eu pertenço ao fogo, e ele pertence a mim.