Ago(u)ra escrita por Lô
Notas iniciais do capítulo
É o eu poético, ok? Não sou mulher. E nem pretendo.
Lentamente,
Tenho meu rosto abaixado.
Por mim mesma.
Numa bacia d’água.
Capturaram-me.
A tristeza,
A depressão,
Essas me capturaram.
No entanto,
Percebo que não é água.
E engasgo espasmodicamente.
Afogando-me.
Numa bacia.
Trata-se de vodca.
Bebi uma ou duas vezes.
Quando vivia com meu pai.
Em seu caminhão.
Ele não vivia sem ela.
A água do meu pai.
Era horrível.
Sempre foi.
Arh!
Agora estava eu ali,
Morrendo naquilo.
Desistindo.
Jogando a toalha.
Chutando o balde.
E o fôlego...
Estava partindo.
Quando eu senti o toque da morte,
Fui levantada.
Alguém toca a minha nuca.
Estremeço.
O contato é quente.
Olho para trás.
Não vejo nada.
Ninguém.
Quem?
Quem raios tiraram-me dali?
E por quê?
Quem me quer viva?
Para continuar nesse inferno?
Mas há um brilho na janela.
Um... Pequeno brilho.
Sigo até ela,
E vejo crianças.
Aprendendo a andar de bicicleta.
Sorrindo.
E vejo que a vida não é isso.
Que o choro e as lamentações
Podem perdurar por uma noite.
Mas a alegria retorna ao amanhecer.
É nisso que minha mãe acreditava.
E que eu quero acreditar.
Não é a hora.
Vodca, jamais.
Não, não é.
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