PDV – Dean

Acordei de manhã sentindo-me melhor, meu corpo não estava tão dolorido quanto eu pensei que fosse ficar e meus machucados... Bem, depois do tratamento de Claire, eles pareciam insignificantes. Alias, foi tão bom ter sentido toda aquela preocupação dela...

Levantei-me da cama e, como de costume, tomei meu banho e vesti o mesmo estilo de roupa, mas com uma jaqueta de couro para complementar hoje. Peguei a mochila, desci as escadas e, ao chegar na garagem, havia um carro embaixo de uma capa com um bilhete pendurado escrito: “Filho, desculpe não poder estar ai para te entregar.” Puxei a capa rapidamente, ansioso para ver a beleza embaixo dela e meu queixo caiu ao ver aquilo... O carro era um clássico de 1969, preto reluzente.

Passei a mão em volta de sua lataria indo até seu porta-malas com o para-choque cromado e, em cima, letras prateadas escritas “Buick”. Era o carro que eu sempre quis... O Buick Skylark 1969. Em questão de segundos, eu já estava dentro dele girando a chave no contato e deixando o som ensurdecedor do motor tomar conta de toda a garagem junto do cheiro maravilhoso de combustível queimado.

Olhei ao redor, o banco era de couro preto e tinha um radio conectado. Liguei na minha estação favorita, abri o portão automático da minha garagem e dirigi até a escola. Eu morava perto, de fato, mas é claro que eu iria exibir meu carro.

Estava enlouquecendo dentro dele, quicando no banco de alegria, me sentindo completamente livre, como um pássaro quando começa a voar. Sentia como se nada pudesse me deter agora que eu podia viajar quilômetros com o veiculo dos meus sonhos.

No meio do caminho, encontrei Bryan, com sua moto Kawasaki Ninja, oferecendo carona para Claire. Reduzi a velocidade e encostei perto dela, ele olhou-me pelo retrovisor da moto fuzilando-me, buzinei para que Claire entrasse no carro e, pela primeira vez, ela não pensou duas vezes – quando se tratava de mim – e aceitou meu convite, tomando seu lugar no banco do passageiro.

– Só quero que saiba que foi para ele parar de me encher o saco – Resmungou de braços cruzados enquanto passava ao lado de Bryan cantando pneu – Alias, lindo Buick. – Elogiou e aumentou o som do rádio. – Adoro essa rádio. -

– Como sabe que é um Buick? – Indaguei chocado. É um carro conhecido, claro, entretanto, não tanto para que uma garota que, aparentemente não ligava para essas coisas, soubesse seu modelo. – Alias, você gosta de rock? - Perguntei ainda mais surpreso.

– Oras, não é porque sou uma garota que não sei nada sobre carros – Deu de ombros – É claro que gosto de rock, parece que não me conhece. – Completou.

– Você vai participar? – Queria logo a resposta dela e queria poder ter uma aliada com quem pudesse contar além de Peter.

– Sim, quero mais que a Megan vá para o inferno – Sorriu. Retribui seu sorriso, mas de uma maneira maléfica.

Em pouco tempo estávamos na escola. O som do motor chamou a atenção de todos no estacionamento, Bryan e seus amigos fuzilaram-me com o olhar, Megan ficou me encarando e outra galera olhou por cima, mas logo entraram na sala.

– Obrigada – Agradeceu assim que saiu.

– De nada. – Sai do carro e o tranquei acionando o alarme. Era um clássico, mas tinha que ter umas modificações a começar pela segurança... Claire acenou em despedida e entrou no prédio escolar.

– Andando com a estranha? – Alguém disse atrás de mim. Virei-me e vi Megan a centímetros do meu corpo.

– Ela não é estranha – Era muito estranha sua aproximação e eu não gostava nem um pouco daquilo.

– Hm... Você não faz esse tipo de garoto, o tipo que se importa. Você faz o tipo que quer ser popular – Ronronou. Seu polegar passeou pelo meu peito arranhando-me por cima da camisa com suas grandes unhas pintadas de vermelho. Revirei os olhos.

– Não dou a mínima para a popularidade. - Dei as costas a ela e andei até meu amigo Peter.. Ouvi Megan resmungar algo como “Difícil, mas não impossível. Vou te ter, uma hora”.

As primeiras aulas foram as mais tediosas da minha vida com aquelas apresentações sobre a Pré-História, pela milionésima vez. Passei a maior parte do tempo incomodando as pessoas à minha volta. Claire tinha ficado extremamente nervosa comigo quando acertei uma bolinha de papel em sua cabeça, depois disso parei de brincar e deitei a cabeça sobre a mesa quase dormindo. Aguardando impacientemente pelo termino dela.

Segui para o pátio com Peter e sua amiga Clara, uma garota alta e morena de olhos verdes claros e meio bronzeada. Estávamos conversando sobre meu novo carro quando ouvimos gritos e vimos um circulo em volta de algumas pessoas. Andei até lá para ver o que estava acontecendo –adorava brigas – e vi que era Megan brigando com Claire. Megan tentou puxar o cabelo de Claire quando ela revidou com um soco em seu olho direito e um empurrão que a derrubou no chão.

Empurrei todos que estavam na minha frente e entrei no meio da briga sendo atingido por um arranhão no peito – não sabia quem havia feito aquilo, só senti arder – e um soco do qual me esquivei sem dificuldades.

– Chega! – Gritei tentando apartar a briga.

– Sai da frente! – Claire gritou avançando para cima dela.

– Eu vou acabar com aquela vadia – Megan gritou mais alto.

Fiquei no meio das duas, mas não bastou, afinal, em pouco tempo elas já estavam dando mais tapas uma na outra, então seguirei Claire pelo braço puxando-a para longe. Megan veio atrás, mas Peter a segurou. Em instantes, aquele grupo havia se desfeito e logo tudo estava em paz como se nada tivesse acontecido. Eu tinha levado Claire para o pátio nos fundos da escola onde quase ninguém ficava.

– O que foi aquilo? – Perguntei confuso.

– Ela que começou a me provocar e eu me defendi – Respondeu de bico sentada em um banco de pedra.

– Você está toda machucada! – Disse ao olhar seu rosto meio ensanguentado e ela deu de ombros apontando para o meu peito parcialmente cortado. Olhei para suas mãos e vi que suas unhas estavam pequenas, deduzi que Megan tivesse me cortado com aquelas garras de gavião.

Tirei minha camisa de baixo ficando apenas com a jaqueta de couro que estava vestindo. Depois de limpar o ferimento no peito, mais um para a coleção, fechei o zíper da jaqueta e fui limpar o rosto de Claire.

– Você é gay? – Perguntou de repente.

– Não, o que te faz pensar isso? – Franzi o cenho curioso para saber o porquê ela pensara isso.

– Quando você tem a chance de se exibir, você não faz nada e quando recebe entradas de um monte de garotas recusa... – Disse enquanto me observava limpar, agora, suas mãos.

– Hm... E se eu tivesse uma namorada fora daqui? Isso não explicaria as coisas? – Dei essa hipótese mantendo-a calada por um longo momento enquanto me olhava no fundo dos olhos. – Vamos... Temos que voltar para a sala e fingir que isso não aconteceu... – Disse me levantando indo em direção à próxima aula sendo seguido por ela.

As ultimas aulas foram umas apresentações, Claire disse sobre o país que tanto ama, Inglaterra, eu disse sobre minhas bandas favoritas e sobre o meu país favorito que também era a Inglaterra e Peter falou sobre a cultura dos Maias. Rendeu bastante, não que tenhamos decorado alguma coisa e que os alunos tenham prestado atenção, mas valeu a pena.

O sinal bateu e fomos até a saída, eu estava acompanhando meus amigos conversando e rindo das piadas bobas deles quando, de repente, fui jogado contra a parede.

Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, os lábios macios de alguém estavam tocando os meus de uma maneira selvagem enquanto sua língua tentava ganhar espaço em minha boca lutando para que eu retribuísse, algo que fiz por uma fração de segundo.