A escola parecia não havia nada de diferente das demais, ela era tão comum, vazia e fria, possuía vários grupos numerosos em determinados cantos específicos como se quisessem deixar bem claro seus gostos; Nerds em frente à biblioteca. Atletas em frente à quadra junto de algumas lideres de torcida, os góticos no canto mais afastado e escuro e os indiferentes espalhados por ai, assim como eu. Resumindo, nada era diferente, a não ser pela sua historia digna de ser explorada por um curioso e desocupado como eu.

Ao descer do carro com os irmãos, logo me tornei o alvo de todos os outros alunos que não tiraram os olhos de mim por muito tempo deixando-me meio constrangido diante daquilo. Odiava ser o desconhecido e o ‘brinquedinho’ para zoação. Odiava ser o deslocado da escola e não ter ninguém com quem conversar além de Derek e Ellie que logo se afastariam de mim e iriam atrás de seus respectivos pares.

– Bem vindo ao purgatório – Ellie debochou colocando seu braço ao redor do meu.

– Não deixe uma cidade pequena lhe enganar, aqui acontece de tudo... – Derek diminuiu gradativamente o tom de sua voz perdendo o olhar em uma garota morena e pálida que passava por ali.

– Derek, por favor, ela jamais iria gostar de você! – Ellie revirou os olhos. Pareceu ter lido a mente de seu irmão para falar aquilo, pois a maneira como ele a fuzilou em retorno foi hilária e sombria ao mesmo tempo. – Você não é atleta? Tudo bem, mas tem a atitude de um! - Eles se fitavam como se compartilhassem seus pensamentos enquanto me deixavam fora do assunto e confuso. – É sério, desiste. – Disse finalizando a conversa.

Fui puxado e arrastado pelo braço para um canto afastado da escola e cercado por muitas arvores de copa alta bloqueando a iluminação solar. Encontrei Sidney encostada em uma arvore, ao lado de outra garota parecida com ela, fumando um cigarro e dando risadas estridentes junto de mais uma garota mais calada e um garoto de cabelos grisalhos arrumados comportadamente em um penteado alinhado.

– Ell! – Sidney foi ao encontro da garota ao meu lado empurrando-me para longe e puxando-a para seus braços depositando um beijo sedento e erótico demais para àquela hora do dia.

– Quem é ele? – O garoto de cabelos grisalhos perguntou com certo interesse na voz.

– O garoto que Sid falou mais cedo, eu acho. – A que compartilhava do cigarro com Sidney pronunciou. Sua voz era grave demais e rouca, parecia estar um pouco gripada. Não me admiraria, já que nesse frio ela estava vestindo apenas uma regata larga e rasgada preta junto de um shorts branco, admito que combinavam perfeitamente com sua pele pálida e lábios avermelhados ressaltando uma beleza diferente.

Um fato sobre mim: Nunca fui atraído pelas lideres de torcida ou mimadinhas e sim por essas independentes e malucas.

– Desencana que ele não é do seu tipo – Ellie retirou as esperanças de seu amigo ao se separar dos lábios de Sidney e recuperar parcialmente seu fôlego. – A propósito. – Ela apontou para a garota encostada na arvore e disse: - Essa é Karla. Não brinque com ela e ela não te põe no inferno. – Abriu um meio sorriso ao dizer antes de prosseguir. – Essa é Charlotte e Daniel - Apontou para ruiva de pele morena e olhos mel e depois para o garoto de cabelos grisalhos e bem vestido com roupas de marca.

– Oi – Disse.

– Oi – Respondeu um de cada vez em sequencia. Estranhos.

– Eu poderia mudar o status dele... – Daniel disse sem retirar seus olhos do meu corpo por nenhum segundo.

– Daniel! – Ellie advertiu.

– Que foi? Ele é um bofe e...

– Não liga para esse atirado – Ellie o cortou imediatamente. – Dean, porque você não vai conhecer a escola com a Karla?

– Isso, vai dar uma volta – Karla soprou lentamente a fumaça do cigarro deixando um leve nevoeiro na frente dos seus olhos.

– Porque você não o leva? – Sidney sugeriu.

– Você sabe que eu estou atrás da moreninha, o que ela iria pensar se me visse com ele? – Indagou encarando a amiga. Elas se pareciam irmãs até em seu gênio teimoso e difícil.

– Ela não gosta disso e você, assim como o resto da escola, sabe muito bem disso – Revirou os olhos como se dissesse aquela frase pela milionésima vez.

– Eu posso fazê-la mudar – Respondeu com um sorriso perdido.

– Ah, me poupe.

– Relaxa, eu vou sozinho. Até mais tarde – Sai de perto deles em passos largos desviando de alguns galhos secos de arvore que cobriam aquela trilha tornando impossível ver quem estava lá dentro ou lá fora. Era um bom esconderijo, mas não pertencia a mim, então deveria encontrar outro para cabular as aulas.

O sinal tocou ao fundo anunciando o inicio da primeira aula, eu estava perdido e não sabia para onde ir, ninguém havia me explicado onde ficavam as salas e eu apenas possuía uma mochila com um caderno e canetas e um guia de aulas, nada mais.

Os alunos logo entraram em suas respectivas salas, tentei conversar com alguém, mas ninguém parava, agiam como se não me vissem, ou faziam aquilo por diversão, afinal, imagine que hilário ver uma pessoa de outro estado em uma escola nova, perdido e sem amigos.

Comecei a correr pelos corredores, como de costume, lendo as placas em cima das salas. Artes, Biologia, Física, Filosofia... Pareciam todas estarem em ordens alfabéticas, deduzi, e não estava muito longe a sala de Química, se não fosse pelo fato de cada matéria possuir três salas.

Dobrei o corredor à esquerda desviando de um pequeno grupo de garotas conversando e passando maquiagem uma nas outras quando tropecei em meu cadarço desamarrado caindo de lado em um monte de armários. O barulho do meu corpo contra o ferro foi estridente e arrancou algumas risadas das garotas e fez alguns professores saírem de suas salas por alguns segundos para averiguar o estrondo.

– Mais uma briga... – Ouvi uma voz doce e feminina atrás de mim resmungar desanimada enquanto juntava seus cadernos do chão.

– Me desculpa... Eu tropecei... – Pedi recolhendo alguns livros em um monte e colocando na prateleira de cima do seu armário aberto. Senti um déjà vu forte.

– Fica tranquilo... – Suspirou profundamente e guardou seus cadernos logo abaixo batendo a porta azul de ferro atrás de si e olhando para mim pela primeira vez. Era aquela mesma garota que vi mais cedo com Derek. – Você é o aluno novo, não é?

– Sim... – Murmurei baixo.

– Prazer, pode me chamar de Becky – Ela estendeu sua mão para mim com um largo sorriso no rosto.

– Oi... – Apertei sua mão levemente, estranhando aquele tipo de cumprimento vindo de uma garota. Sua pele era muito macia e quente, mais do que imaginava, se é que imaginava alguma coisa – Dean. – Retribui seu sorriso.

– Qual é sua próxima aula?

– Química.

– A minha também, vou te acompanhar até lá. – Ela deu alguns passos saltitantes em minha frente guiando-me pelo corredor pelo qual eu vim correndo e virou para uma escada.

Segui logo atrás dela ouvindo-a cantarolar uma musica atual e balançando a cabeça de um lado para o outro em movimentos sutis. Por um momento poderia dizer tê-la visto subindo as escadas fazendo aquilo de olhos fechados, mas ela desviou rapidamente de um atleta que desceu as escadas correndo e quase esbarrou nela. Desviei em sequencia batendo as costas na parede e perdendo o equilíbrio sendo obrigado a agarrar o corrimão com minhas duas mãos.

– Cuidado – Disse tentando esconder uma risada.

– Esse idiota... – Resmunguei nervoso. Ele me lembrou Bryan e eu odiava com todas as minhas forças aquele cara. – Aposto que está correndo para pegar uma mina’ lá fora. – Revirei os olhos me pondo ao lado de Becky

– Ele é legal, só está com pressa para falar com o diretor sobre a prova interestadual na qual passou semana passada... – Explicou a situação do loiro deixando-me sem graça por ter feito um julgamento precipitado.

– Ah...

– Esqueça, estamos quase atrasados para a diversão – Puxou-me pela mão escada a cima.

– Diversão? – Perguntei com uma sobrancelha arqueada.

– Sim, a aula de química sempre é uma zona – Ela dobrou o corredor a direita levando-me para a ultima sala do corredor e a mais “detonada” perto das outras. Sua porta marrom estava totalmente pichada com alguns desenhos e uma frase ilegível.

Era possível ver alguns alunos, pelo vidro quebrado da sala, correndo de um lado para o outro com alguns potes azuis e verdes usando óculos de proteção e gritando enquanto algumas garotas corriam para o outro lado da sala aos berros e com as mãos cobrindo seus cabelos cacheados.

Talvez fosse a hora de dar a chance para aquela sala me mostrar não ser o protótipo de escola que vi logo lá embaixo. Talvez aqui eu fosse me divertir e esquecer um pouco dos meus problemas...