Anatomia do Amor escrita por whatsername, whatsernamebeta


Capítulo 4
Night smiling


Notas iniciais do capítulo

Hey ( : Como estão?
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Só voltei correndo porque simplesmente amei a participação de vocês no último capítulo, obrigada por cada comentário. Ah, claro, ainda temos as recomendações cheias de fofura feitas pela JoMasen e pela Sweet Tha. Amei muito as palavras de vocês.
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Por se tratar de uma shortfic, as coisas aqui acontecem bem rapidinho, sim? Não se assustem com o envolvimento entre o Edward e a Bella. Penso que vocês vão gostar!
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Boa leitura.



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POV Edward

Um barulho mínimo tirou minha atenção. Desviei meus olhos da página do livro e migrei-os para a porta. Grace ainda não estava vestida com o tradicional pijama, ela sorria e me olhava, sem dar qualquer passo.

“Oi, filha!” Falei-lhe com energia, sentando-me. “Já está tarde, sem sono essa noite?”

Grace, para variar, gesticulou. Minha filha sorriu e caminhou para a cama, parando perto de mim. “Vim conversar com meu pai lindo, não posso?” Ela falou enquanto se sentava perto de mim.

Foi impossível não sorrir. Eu passei meu braço pelos ombros dela, deitando o rosto delicado em meu ombro. “Sim, você pode. Só me pergunto de onde você tirou o pai lindo.”

A risada arrastada de Grace chegou aos meus ouvidos e eu a acompanhei. “Pai, não seja modesto, por favor.” Ela pediu, ainda sorrindo. “Você costuma se olhar no espelho, certo?” Grace não poupou os sorrisos, os olhos verdes brilharam e eu estranhei a piscadela tímida. “Bella me ligou, Kim realmente está esperando filhotinhos!”

Eu nunca entenderia a relação que Grace firmara com Bella. Em um ato curioso, eu conferira os contatos de Grace e, de fato, o nome de Bella estava na lista. Confesso, quase anotei a sequência de números, mas eu ainda não era tão descarado para fazê-lo.

“Temos que avisar a Shady, ele terá certas responsabilidades agora.” Grace continuou, sendo absolutamente efusiva. “Eu posso ter um filhote, pai? Deve nascer uns quatro, não é?”

Preferi não dizer que a probabilidade de eles nascerem mortos era enorme. Shady era um cão grande e Kim era pequena demais. O parto seria dramático, no mínimo. Preferi fazer a felicidade de Grace. “Se você pedir um panda, eu faria de tudo para te dar.”

Grace ajeitou-se em meu abraço, os cabelos estavam presos, mas era fácil ver os nós. Ela procurou meus olhos, existia certa dúvida no olhar meio sonolento. “Posso saber o motivo para você ter ido ao meu colégio todos os dias dessas últimas semanas? Se eu disser que você só foi lá para ver Bella, estarei certa?”

A pergunta fora feita em voz séria, Grace queria uma boa resposta e eu não a tinha. Era uma verdade; sem saber a motivação, eu, nos últimos dias, tinha ido com certa frequência ao colégio e eu realmente agradecia quando Bella atravessava meu caminho. Ela sempre estava desatenta e sorria quando me via, nós trocávamos poucas palavras e ela fez questão de me mostrar que fizera do ossinho dado por mim, um chaveiro também.

O sorrisinho de Grace tirou-me de meus devaneios, ela me deu um tapinha no braço. “Não é feio você dizer que está gostando de minha professora.” Grace usou uma voz divertida, ela abriu mais um sorriso daqueles completamente felizes. “Não pense que eu não vi o jeito com o qual vocês se olham; só vocês não perceberam.”

Minha filha era louca, já era uma certeza. “Grace, a vida seria muito mais fácil se tudo fosse tão descomplicado.” Falei em um tom hesitante. “Você sabe, Bella é bonita, agradável e ela te adora, mas não é tão simples.”

“É sim, pai!” Grace refutou com rapidez, encarando-me. “Vocês são adultos e solteiros, o que está te impedindo de investir nisto?” Ela me perguntou com certa incisão, denunciando uma pitada de impaciência. “Eu ficaria bem contente se Bella fosse sua namorada, seria tão bom para você.”

Deixei meus olhos nos dela. O silêncio fora breve, porém cheio de palavras. Grace penteou meus cabelos, sorrindo meio infantilmente. “Não estou dizendo que você a ame de todo o coração, mas, confesse, você está interessado, não está?”

“Um pouco?!” Devolvi-lhe em voz vacilante, senti certo calor viajando para meu rosto, o que fez Grace sorrir. “Eu gosto de morenas.” Confidencie baixinho, perguntando o que tinha dado em mim para discutir aquilo com minha filha.

“Deus!” Grace exclamou, com rosto também vermelho. “Vou fingir que não ouvi nada disto!” A voz continuou sendo quente e contagiante. “Penso que Bella ficará feliz em saber. Uh, posso marcar um encontro para vocês?”

Meu susto não foi maior que a risada dela. Eu deveria examinar minha filha, pois não fazia sentido Grace estar tão fora de si, falando tantas besteiras. “Grace, isso será de meu jeito, certo? Nada de ficar nos intermediando. Será constrangedor para nós três se você o fizer.”

Grace apenas sorriu para mim, deixando-me confuso. “Pai, você vai implorar para eu te ajudar. O que você sabe sobre encontros?”

“E você, Grace, o que sabe?” Devolvi-lhe, soando um tanto prepotente. “Até onde sei; você só tem treze anos e beijou uns idiotas por aí.” Minha voz saiu alterada e meio risonha. “Estamos empatados nessa história e eu digo que não preciso de conselhos.”

“A questão é que você tem trinta e um anos, deveria ser bem sabido sobre encontros.” Grace falou entre sorrisos. “Tudo bem, eu entendo, passaram anos desde o último. Qual era mesmo o nome dela? Sarah? Vanessa? Não me lembro.”

Levei minha mente para uma noite qualquer, em que tudo deu errado. Vanessa só era uma boa amiga, tentar beijá-la fora completamente ridículo e, no fim, ela ficou um pouco assustada e decidiu me ignorar. E ela fazia aquilo até hoje, nas esporádicas vezes em que nos encontrávamos.

“Isso não quer dizer que eu não saiba tratar bem uma mulher.” Coloquei com despretensão, vendo os olhos de Grace se iluminar. “Bella não parece gostar de flores e chocolates no primeiro encontro.”

“Realmente.” Grace concordou e abriu um bocejo. “Não demore muito a convidá-la, toda a ala masculina daquele colégio está babando por ela. Seja mais rápido que eles.”

“Você precisa dormir, tem aula amanhã.” Avisei-lhe baixinho, colocando a franja dela para trás. “Coloque seu pijama e escove os dentes.”

Grace se aconchegou a mim, sorrindo com preguiça. “Prometa que vai tentar? Que vai sair com Bella? É só conversar mesmo, embora não pareça, vocês podem ter muita coisa em comum.”

“Eu penso que não temos nada em comum, mas diferenças são bem vindas.” Usei minha voz mais baixa, percebendo que Bella era completamente oposta a mim, o que não era ruim. “E você tem que prometer que não vai se intrometer nisto. Bella e eu somos bem grandinhos.”

“Grandinhos e inocentes.” Grace falou entre outro bocejo. “Vocês são bonitos juntos. Bella vai ter deixar louca, já percebeu que ela tem alguns parafusos a menos? E você é tão certinho!”

Minha risada arrastou-se, deixei um beijo na testa de Grace. “Vamos dar tempo ao tempo.” Falei antes de bocejar também. “Agora vá dormir, você vai morrer de sono amanhã.”

Ouvi um bufar. “Sim, senhor!” Grace fingiu irritação, mas ela ainda teve tempo para beijar minha bochecha. “Boa noite, sonhe com Bella.”

(...)

Em algum momento da tarde, Emmett tentou novamente arrancar uma palavra minha. Estava sendo um dia estranho, meu mau humor poderia ser cortado com uma faca, ou até mesmo, ser pego entre as mãos. Eu estava um tanto ranzinza e tudo me irritava.

Emmett não ousou dar um tapa camarada em minhas costas, ele apenas abriu um sorriso debochado. “Não me diga que homens também têm TPM? Que bicho te mordeu, Edward?”

“Não encha!” Ralhei-lhe, minha voz saiu alta e pouco polida, o que fez Emmett rir. “Deus! Pare de achar graça de tudo!”

Outra risada rompeu o silêncio da sala fria, não tinha nada para fazer. As pessoas estavam decididas a não morreram naquela quarta. “E você ainda diz que Rose é mal humorada, apesar de que mulher nenhuma fica irritada quando me tem...”

“Eu não quero saber o que você faz com minha irmã, muito menos ter quer ouvir suas gracinhas.” Falei mais alto ainda, assinando meu nome de qualquer jeito no rodapé de um laudo. “Estou indo almoçar, não demoro.”

“Não, não, Edward.” Emmett falou antes de sorrir. “Não precisa mentir, sei que está indo ao colégio de Grace, encontrar certa professora.”

Por um breve instante, cogitei quebrar todos os dentes de Emmett. Minha paciência rasa esvaiu-se por completo e eu ainda me perguntava o motivo para aquele comportamento atípico. “Certo, Emm. Eu estou estranho e se eu ficar aqui, você irá perder alguns dentes. Minha irmã ficará furiosa comigo e tudo o que eu não preciso é de mais uma mulher louca em minha vida.”

“Oras, já inclui Bella em sua vida?” Emmett me perguntou com diversão, andando de um lado para o outro. “Isso é bom, Edward!”

“Eu só estava falando de Grace. Sua afilhada é absurda, ela tem algum desvio, não há outra explicação.” Expliquei-lhe, sabendo que Grace só estava meio desajuizada, não a ponto de administrar-lhe remédios controlados.

Olhei para Emmett, que apenas carregava um sorriso de covinhas. Ele bateu em meu ombro, balançando a cabeça. “Sabe de uma coisa?”

“Não, Emm. Eu não sei!” Minha voz saiu ácida e eu sorri, fazendo Emmett sorrir também. Ele puxou uma cadeira, sentando logo em seguida. “Vai demorar a falar?” Soltei em misto de impaciência e curiosidade, mas a irritação já não era tão intensa.

“Isso, para mim, é falta de foder.” A naturalidade de Emmett me assustou, ele ajeitou as mangas do jaleco. “Um homem é mais feliz quando se tem uma mulher.” A fala continuou sendo despretensiosa, a ponto de eu realmente prestar a atenção nas palavras dele. “Sexo ajuda muito, por isso que você está tão insuportável. Vamos lá, Edward, há quanto tempo você não vê uma mulher nua, pedindo por você?”

Aquilo não era pergunta para se fazer, não mesmo. Encarei o rosto relaxado de Emmett, sem saber como me safar daquela situação, pois, além de ser humilhante, a resposta levaria Emmett às gargalhadas.

“Certo, eu já esperava isto.” Emmett apressou-se, sorrindo discretamente. “Se você ainda não percebeu, eu sou seu único amigo; deveria me dar mais crédito. Edward, sério, por que ficar sozinho?”

Eu também não tinha resposta para aquilo, mas decidi encerrar o tópico constrangedor. “Eu vou almoçar, talvez dê para Grace me acompanhar.”

Ganhei um aceno com a mão e um sorriso caloroso. Emmett não se importou com minha saída repentina, eu estava certo sobre almoçar com Grace e agradeci quando ela disse que tinha tempo para mim. O normal seria eu estacionar e esperá-la, mas, como eu também estava certo sobre ver Bella, saí do carro e subi a escadaria.

Aquele colégio estava quieto, coisa rotineira para o horário de almoço. Os corredores estavam vazios e eu sorri quando vi Bella caminhando, ela segurava uma pilha de livros. A bolsa caía pelo ombro dela, deixando-a indecisa sobre o que segurar.

“Quer ajuda?” Perguntei-lhe em minha melhor voz calma e agradeci por ela não ter gritado de susto, embora eu tenha ganhado um par de olhos cheios de surpresa. “Te assustei?”

“Oi, Edward!” Bella falou, menos surpresa e mais feliz. “O que faz aqui?”

“Vim buscar Grace para almoçar comigo.” Expliquei com o mesmo tom de voz, levando meus olhos para os dela. “Por que não nos acompanha?” A pergunta saiu sem qualquer permissão, deixando-me embaraçado. “Você sabe, Grace iria gostar disto.”

O rubor foi tímido, mas um tanto gracioso. Bella piscou e desviou o olhar, com um sorrisinho engraçado. “Eu já almocei, tenho que dar aula hoje e preciso ler tudo isto aqui.” Ela disse enquanto fazia uma careta para os livros. “Quem sabe outro dia? Seria ótimo.”

Eu sabia que aquilo não era uma rejeição, preferi aceitar que ela estava ocupada de fato. “Lendo sobre o quê?” Perguntei-lhe, tentando ver os títulos dos livros.

Bella me deu mais um risinho, ela aproveitou para soltar os cabelos e me olhar sob os cílios, meio divertida. “Medicina veterinária. Kim realmente terá filhotinhos, o veterinário disse que vai ser complicado, porque seu cachorro é muito grande. Então, preciso saber o que esperar disto tudo. Ah, claro, se minha Kim morrer, você será inteiramente culpado.”

“Eu posso te dar outra cachorra, é só um animalzinho.” Minha displicência fez Bella me olhar com certa irritação. Com certeza, Kim não era só um animalzinho para ela. “Certo, penso que você a estime muito. Nada vai acontecer com ela, mas os filhotes vão nascer bem vulneráveis.”

“Está dizendo que Kim terá um tanto de cachorrinhos natimortos?” Bella soltou com tristeza, com evidente pesar nos olhos. “Deus, ela ficará arrasada!”

Não faltavam só uns parafusos, Bella era uma particularidade, excêntrica demais. “Bella, me olhe.” Pedi baixinho, vendo-a corar. Os olhos subiram para os meus, fazendo-me sorrir. “Cães não têm intelecto para tanto, Kim é inteligente, mas não ficará arrasada por ver um filhotinho morto e, talvez, dê para salvar um.”

Quando Bella chorou, descobri que ela tinha problemas, problemas maiores que os de Grace. E eu descobri o porquê de elas se darem tão bem. Elas eram loucas, era isso. O choro foi tímido e eu estava sem ação, sem saber se devia consolá-la ou sair correndo.

Edward, isso é tão triste! Pense, ela vai nutrir e carregar um tanto de cachorrinhos para quê? Vê-los mortos?!” Bella disse enquanto secava as lágrimas gordas, peguei os livros das mãos dela, apenas para mostrar que eu ainda estava ali. “Eu preciso prepará-la psicologicamente para isso.”

“Faça isto.” Falei-lhe, pois refutar e dizer que aquilo seria perda de tempo, seria pior. “Não quer mesmo almoçar comigo?” Perguntei mais uma vez, dando-lhe a chance de mudar de ideia. “Vai ser comida gordurosa e com pouco valor nutricional.”

“Obrigada, mas preciso pensar um pouco. Tudo isso me deixou confusa.” Bella disse baixinho, encarando um ponto atrás de mim. “Grace está vindo, não comente sobre Kim com ela, não quero vê-la triste.”

“Eu posso ter seu número?” Perguntei antes de deixá-la abrir distância. Bella me olhou sugestivamente, meio corada. “Apenas para eu saber sobre Kim, Shady vai querer algumas informações sobre a gestação.” A desculpa era ridícula de tão esfarrapada, mas fez Bella acreditar em mim. Dei-lhe meu celular e ela correu os dedos sobre a tela, salvando o número.

“Eu preciso ir.” Bella falou fitando meus olhos. “Bom almoço.” Ela desejou no mesmo instante em que Grace tocou meu braço.

“Você vai ler tudo isto?” Ela perguntou a Bella, Grace estava surpresa com a pilha de livros que Bella carregava. “Estou indo almoçar com meu pai, nos acompanha?”

Bella abriu um sorriso bonito, ela me olhou de lado. “Seu pai já me convidou, mas estou sem tempo, deixemos para a próxima.”

“Que pena!” Grace exclamou e me deu a mochila, minha filha era extremamente folgada e sabia que eu carregaria a mochila pesada para ela. “Eu realmente vou cobrar, sim?”

Não escondi minha risada, Bella me acompanhou. “A gente se vê, Bella.” Despedi-me, estendendo minha mão para ela. “Fique bem.”

Ganhei outro sorriso bonito, o que me fez sorrir para ela. Grace soltou um barulhinho ao meu lado, ela balançou a cabeça, como se discordasse de qualquer coisa. Bella continuou caminhando pelo corredor, ela olhou para trás e corou, mas não hesitou em sorrir para nós.

“Bella decidiu ser óbvia, isso facilita muito.” Grace falou, mas eu ainda estava prestando atenção nos passos que Bella dava. Ela era uma boa equilibrista, pois o salto era alto demais. “Eu perdi a conta de quantas vezes ela sorriu para você.”

“Oi, filha?” Falei rápido demais, querendo que ela repetisse tudo, pois eu não me ative a nenhuma palavra dela. “O que disse?”

“Estou a fim de repetir não, apenas saiba que Bella está com todos os sintomas da paixão e já que você é um médico, cabe a você cuidar dela.” Grace falou com felicidade, pegando em minha mão e nos levando para fora do colégio. “Você é o remédio.”

Só consegui sorrir para as palavras. Grace piscou e bufou, meio divertida. “Você pensa que estou brincando, mas não estou. É sério, Bella está apaixonada por você.” Ela falou sem me olhar, procurando os fones de ouvido na mochila. “Restaurante ruim de sempre? Preciso de uns dois hambúrgueres hoje.”

Grace estava concentrada na música, mesmo com os fones, era muito fácil ouvir o que ela escutava. Uma boyband ruim qualquer, que, provavelmente, iria findar no próximo ano. Enquanto dirigia, rolei meus dedos sobre a tela do celular, apenas para ter certeza que Bella havia me dado o número. Vendo o olhar distraído de Grace, liguei para o número salvo. Que Bella era desatenta eu já sabia, mas perguntei-me se ela tinha problemas de audição, pois ela atendeu depois de não sei quantos toques.

“Oi?” Ela falou apressada, soltando uma respiração pesada.

Dei mais um olhar para Grace, os olhos dela estavam em qualquer ponto da rua movimentada. “Oi.” Falei baixo demais. “Só queria saber se você tinha me dado o número certo.”

Ouvi uma risadinha, meio cantada e arrastada. “Oi, Edward!” Bella falou com diversão. “É o meu número sim, não se preocupe.”

“Certo então.” Falei, dando atenção a direção. “Obrigado por isso. Preciso dirigir.”

“Tchau, Edward.” A voz continuou meio cantada. “Beijo.”

Outro.” Devolvi-lhe, perguntei-me o motivo para eu estar sorrindo. “Tchau.”

Grace estava realmente com fome, pois ela não dispensou nada. Minha filha comera os hambúrgueres e as batatas. “Meu dia foi tão estressante! Tenho tanta coisa para estudar, mil trabalhos para fazer. Pai, você deveria ter escolhido uma escola menos rígida, não acha?”

Sorri enquanto comia. “Você fala como se lá fosse um inferno, estudar é bom e importante.”

“Bom com certeza não é.” Grace replicou, o copo de suco estava quase no fim. “Acho que quero ser arquiteta, estou indo realmente bem nas aulas de desenhos e projetos.”

Era bom quando Grace falava do futuro, do quê ela queria para ela. Fazia-me um pai orgulhoso até o limite. “Fico feliz, filha. Eu gosto de seus desenhos, quer comprar alguma coisa? Um escalímetro, uma régua T, uns esquadros, aquele tanto de lápis...”

Ela sorriu para mim, tomando o resto do suco. “Só preciso comprar sorvete!” Grace soltou com os olhos pedintes. “Vai querer também?”

Acenei com a cabeça, dando-lhe uma negativa. Grace, ao contrário de mim, não se importava com filas, ela sorria enquanto esperava a vez de comprar o sorvete de chocolate, com certeza.

Enquanto a esperava, olhei para meu celular sobre a mesa. Pensei em Bella também. Sem ponderar por um instante sequer, liguei novamente para ela. Estava comprovado, Bella tinha problemas auditivos.

“Oi, Edward!” Ela disse rapidamente, com a voz não tão arrastada. “Aconteceu alguma coisa? É a sua segunda ligação em menos de uma hora.”

Minha risada ecoou. “Aconteceu nada, só queria saber de uma coisa.” Falei com calma, como se fosse muito normal tudo aquilo. “Quer sair comigo na sexta?”

Silêncio. Um interminável silêncio, depois, um sorrisinho tímido. “Eu quero.”

POV Bella

Eu detestava ter escolha, pois sempre me decidia pelo pior lado. Encarei os dois vestidos sobre a cama, sem saber qual vestir. Perguntar à Kim não era uma boa opção e eu estava pesarosa sobre tudo que ainda aconteceria com ela. Um parto traumático e filhotinhos mortos, eu deveria deixá-la sem meus dilemas.

Não era nervosismo, algo bem perto da ansiedade. Eu tinha um encontro com Edward Cullen, o médico mais delicioso que conhecia. Minha obrigação era ficar linda, no mínimo. Ele dissera que me buscaria as nove, o relógio me dizia que já era oito e meia e eu ainda estava sem banho, sem qualquer noção do que vestir.

Meio frustrada, sentei-me na cama. Encarei mais uma vez os vestidos; a noite estava amena e eu precisaria de um casaco qualquer. Kim subiu em meu colo, afaguei-lhe as orelhas, o lacinho amarelo estava propositalmente torto. “Oi, mamãe!” Falei mais alto e sorrindo. “Como está se sentindo? Feliz?! O que vai ser de você quando sua barriga começar a varrer o chão?”

“Já ia me esquecendo, tenho um encontro com Edward hoje, sabia?” Expus a situação, sorrindo como nunca. “Não faço ideia do que vestir, do que falar com ele. É bem provável que não dê certo. O homem é todo bonito e inteligente e eu só sou louca mesmo. Acredita que chorei por você? E pior, Edward viu tudo!”

Kim latiu e voltou para o chão, caminhei pelo quarto e procurei mais opções de vestidos. Mesmo do segundo andar, consegui ouvir alguém batendo na porta. Praguejei, pois visitas só iriam fazer-me atrasar mais. Perguntei-me o porquê de eu ser tão lerda. Ninguém de Seattle me conhecia, logo, eu não teria visitas.

Desci a escada, tomando cuidado para não cair. Abri a porta com receio, com medo de quem estaria do outro lado. Ajeitei meus cabelos, tentando não parecer um espantalho e abri a porta por completo. Fiz meu corpo não cair, porque eu estava um pouco gelatinosa. Edward estava ali, bonito de um jeito que poderia incomodar. Ele ficava tão bonito com o jeans claro e camisa preta. O rosto estava ilegível, mas existia muita felicidade.

“Oi, Bella.” A voz de timbre bom soou baixa e calma. Edward pegou meus olhos e sorriu, mostrando-me os dentes claros. “Pronta para ir?”

Eu corei de corpo inteiro, sabendo que eu estava absurdamente atrasada e eu tinha plena consciência de que era feio fazê-lo esperar. “Desculpe-me, por favor.” Pedi, sem me mover. “Ainda não tomei banho, prometo me arrumar em um instante.”

Edward abriu um sorriso de lado, o que me fez sorrir também. “Não se preocupe.” Ele disse enquanto desviava o olhar. “Sabia que eu não deveria ser tão pontual.” Edward falou baixo, como se estivesse falando sozinho. “Eu te espero.”

Aquilo já começara de um jeito ruim e a culpa era só minha. Minhas bochechas estavam quentes e eu procurei uma maneira de fazer aquilo dar certo. “Entre.” Dei-lhe passagem e, na medida em que ele caminhava, um cheiro gostoso me deixava tonta. “Quer beber alguma coisa?” Perguntei-lhe, tentando nos deixar confortáveis. “Sei que gosta de cerveja, mas só tenho os sucos.”

Ele sorriu de novo, dessa vez Edward pegou minha mão, em uma tentativa de me parar. “Estou bem, não se preocupe. Demore o tempo que quiser, temos uma noite inteira ainda.”

Se o intuito era me fazer corar, Edward tinha o feito com maestria. Minha mão ainda estava entre as dele. “Fique à vontade, sente-se, ligue a televisão, coloque os pés em cima do sofá... Prometo não demorar. A propósito, você está bonito.” Falei com displicência, mas Edward merecia ouvir aquilo.

Ganhei mais um sorriso. Edward diminuiu a distância em existia entre nós, os olhos verdes foram intensos, sinceros e, talvez, cheios de charme? “Eu gosto de você assim, está bonita também. Muito. Penso que seja difícil ficar ainda melhor.”

A fala longa e dita em voz pausada e viciante me fez tremer ligeiramente. Em um átimo, soltei nossas mãos. Subi os degraus, decidida a surpreender aquele homem. Os vestidos ainda estavam sobre a cama, mas corri para o banheiro. Deixei que a água lavasse o dia corrido e me preparasse para uma noite agradável. Não estava muito certa sobre os cremes, decidi ficar apenas com o hidratante e o perfume. Ainda de toalha, ponderei sobre o que vestir; eu não fazia ideia de como agradar aquele homem que, com certeza, estava se perguntando o motivo para ter marcado um encontro comigo.

Eu estava a um passo de me derramar em lágrimas, mas sabia que seria demais. Era só escolher uma roupa, não podia ser tão difícil. Sorri quando uma ideia me ocorreu, só existia uma pessoa que poderia me ajudar.

“Grace?” Falei com pressa, não dando chance para qualquer cumprimento. “Eu preciso de sua ajuda.”

Ela sorriu do outro lado da linha. “Você deveria estar saindo com meu pai, não me ligando.”

“É exatamente sobre isto.” Eu disse baixo, fazendo de tudo para que Edward não me ouvisse. “Seu pai veio me buscar, mas nem me arrumei ainda. Ele está me esperando e não faço ideia de como me vestir.” Soltei atropelado, sem parar para respirar. “Grace, por favor, me ajude!”

A risada dela foi alta, daquelas escandalosas. “Bella, não se preocupe.” Grace falou em voz quente. “Se te ajuda, meu pai também está meio louco com tudo isso, me perguntou umas mil vezes se a camisa ficaria melhor por fora ou por dentro da calça.”

Soltei um sorriso baixo. “Sério?”

Grace me deu um minuto de silêncio. “Nem sei se eu deveria estar dizendo isto, mas meu pai pode ser um pouco atrapalhado, certo? Tem tempo que ele não faz nada disto, mas juro que ele é legal.”

“Sim, ele é.” Ratifiquei para ela, sem entender o motivo para Edward não ter tido encontros. “Então posso vestir qualquer coisa?”

“Vista o que quiser, meu pai vai gostar. Apenas não cisme de ficar loira, continue morena.” Grace me respondeu entre risadinhas. “Sei lá, não sei o que meu pai gosta, mas acho que o cabelo solto é bom.”

“Obrigada, Grace.” Falei por fim, soltando meus cabelos. “Perdão por roubar seu pai esta noite, você vai ficar bem?”

“Não se preocupe, meu pai me deixou alimentada e trancada aqui em casa. Daqui a pouco vou dormir e, de qualquer modo, Shady está aqui também.” Ela falou calmamente, foi fácil imaginar o sorriso que ela carregava. “Boa noite para vocês.”

Antes de sair de meu quarto, respirei incontáveis vezes, buscando muito ar. A carteira estava em minha mão, assim como o celular. Eu estava devidamente vestida, de salto e cabelos arrumados. Olhei-me enquanto caminhava para a escada, o vestido preto parava no meio de minhas coxas, o decote só estava nas costas e eu deixei meus cabelos de lado. O salto alto e azul me deixava um pouquinho maior, dando-me uma aparência mais madura, não sei.

O barulho de meu salto chocando-se com o carpete fez Edward erguer o rosto. O semblante, que um minuto antes era calmo e relaxado, tornou-se indecifrável, bem perto da surpresa. Ele me mediu sem se importar com a indiscrição, o olhar de inspeção foi ininterrupto, a ponto de me fazer corar e piscar para ele, tentando fazê-lo parar.

“Acho que podemos ir agora.” Minha voz cortou em cada palavra, pois o olhar de Edward ainda estava em mim. “Eu realmente não queria te fazer esperar.”

Edward deu passos para mim, sorrindo. “Está tudo certo e você está linda.” Ele falou sem tirar os olhos dos meus, a mão pegou a minha, o contato foi repentino e eu sorri para o enlace. “Já disse que você é meio febril? Talvez seja eu que só coloque a mão em gente fria e dura.”

“É, talvez seja.” Falei-lhe enquanto nos guiava para a porta. Tranquei-a e Edward sorriu quando viu o chaveiro dado por ele. “Milagre Kim não tê-lo roído.”

Ele riu de um jeito gostoso, nosso enlace tornou-se intenso e eu percebi que Edward carregava um semblante meio misterioso. “Onde estamos indo esta noite?” Perguntei assim que ele abriu a porta do carona para mim. Até o carro dele tinha um cheiro bom.

“Pensei em um restaurante, mas podemos escolher outra coisa.” Ele me respondeu sem pressa, olhando-me de lado. “Além de tirar fotos, o que você gosta de fazer?”

Eu tinha uma lista bem intensa, mas não hesitei em externá-la. Edward me lançava sorrisos e olhares engraçados. Pelo menos, ele gostava de me ouvir, embora fossem hobbies completamente bobos. “Bem, eu também gosto de praia, mas o sol me deixa vermelha.”

Os lábios dele subiram em um sorriso grande. “Então eu tenho uma boa ideia para nós.”

Sorri instantaneamente, pois eu era muito inclinada a mudanças de planos, a fazer algo completamente diferente. Não me importei quando Edward concentrou-se dirigir; esporadicamente nossos olhares se cruzaram e tudo que fazíamos era sorrir discretamente.

“Você não está me levando para fora do estado, certo?” Perguntei-lhe, findando um silêncio longo. “Vamos chegar ao Canadá desse jeito.”

Edward tirou os olhos da pista, olhando e lançando-me um sorriso bonito, meio envergonhado. “Estou te levando à praia. Isso parece bom para você?”

Minha surpresa não foi mascarada, soltei um barulho engraçado, bem próximo de ser idiota. Eu gostava muito de ir à praia à noite. Muito mesmo. “É excelente! Como sabe que gosto disto?”

Recebi mais um sorriso verdadeiro, os olhos verdes pararam nos meus. “Eu simplesmente não sabia.” Edward falou prontamente, ainda com os olhos nos meus, a ponto de me deixar embaraçada. “Só estou tentando te agradar.”

Certo. Aquele homem tirara a noite para me deixar envergonhada e feliz. Fora quase tímido, mas meu coração acelerou e eu sorri, tentando mostrar que ele estava saindo perfeitamente bem em toda aquela coisa de me agradar.

Não soube precisar quanto tempo demoramos a chegar à orla da praia. Os restaurantes estavam lá, lotados como sempre. Edward fez uma cara engraçada, de quem estava em dúvida. “Seria bom comprar um vinho?”

Caminhei para perto dele, dando muita atenção ao mar revolto. Com certeza a maré estava subindo e eu, apenas por hábito, olhei para lua. O satélite que exercia gravidade demais sobre as águas.

“Você está dirigindo e eu não quero beber sozinha.” Falei-lhe, enquanto dávamos passos cadenciados. Minha mão esbarrava na de Edward e eu realmente fiquei surpresa quando Edward enlaçou-as. “O mar parece raivoso, mas estou um pouco louca para andar na areia.”

Edward apertou nosso enlace e, usando sutileza demais, ele colou nossas laterais. “Você me fará tirar os sapatos?” Ele perguntou com diversão, levando a mão para minha cintura e o toque levou arrepios para mim. “Se você conseguir andar na areia com esse salto, juro que faço qualquer coisa por você.”

“Esse é um acordo muito alto, não acha? Eu poderia te obrigar a fazer coisas constrangedoras.” Adverti-o, sorrindo e aceitando o carinho calmo que ele fazia em minha cintura. “A lua nem está tão bonita hoje.” Falei assim que vi que a lua estava escondida, mas, ainda assim, iluminando a noite.

Quando dei meu primeiro passo na areia, Edward me olhou. Ele segurava um semblante calmo, exalando despreocupação, o que me deixou aliviada. “Tinha tempo que eu não vinha aqui, Washington não é estado mais recomendado quando se fala em praias e sol.”

Lembrei-me da Flórida e o sol escaldante. “Eu morava perto da praia, sempre estava lá. Era bom, mas gosto do clima daqui também.”

“Você pretende ficar muito tempo aqui?” Edward me perguntou enquanto íamos distanciando da orla. O caminhar era calmo e os passos, incrivelmente, eram sincronizados. “Pergunto-me o que te fez trocar de cidade.”

“É um pouco complicado.” Falei quase inaudível, lembrando-me de Jacob e encarando meus pés. “Eu daria tudo para tirar essa marca de aliança de meu dedo.” Minha voz saiu meio indignada, o que fez Edward parar nossos passos. A mão em minha cintura tensionou* e eu o olhei, tentando entendê-lo. “O que foi?”

Edward me deu um olhar estranho, mas não feio. “Você fica triste quando fala sobre isto, eu posso sentir.”

“Não.” Apressei-me. “Não é tristeza, só não gosto de ser iludida.” Disse-lhe, encarando os olhos claros. “Não vai ser tão difícil superar isto.”

“Juro, não consigo imaginar que você esteve noiva, penso que você não seja o tipo de pessoa que queira casar tão jovem.” A fala longa não era tão pertinente, mas deixei que Edward terminasse-a.

Sorri para ele, percebendo que estávamos parados no meio de uma praia, tarde da noite. “Posso parecer meio louca, mas tenho os sonhos de qualquer mulher. Casar, filhos e tudo mais. Quando se namora por quase oito anos o próximo passo é o casamento. A única diferença é que meu noivo decidiu me fazer esperar no altar.”

O semblante de Edward era engraçado, todos faziam aquela cara. “Qual homem é louco de te abandonar vestida de noiva e no altar?”

Deixei mais um sorriso escapar, Edward segurou minha mão, acarinhando meu anelar. “Eu não sei o que dizer sobre isto, mas prefira acreditar que fora melhor assim, você é tão jovem e bonita. Tem muita coisa para viver ainda.”

“E você fala como se fosse um ancião.” Retruquei-lhe, tendo consciência de que eu estava sorrindo demais para Edward. “O fato de você ter uma filha não te faz ser um velho.”

Edward diminuiu a distância entre nós. Olhei para cima, pois só desse jeito consegui ler os olhos dele. Ele sorriu e piscou timidamente, deixando-me meio zonza. “Ainda me pergunto como consegui criá-la, bebês são complicados e Grace, apesar de ter sido a bebê mais bonita que existiu, só sabia chorar.”

“E a mãe dela?” Perguntei sem medo de soar intrometida, pois, se eu não estivesse louca, um bebê só era feito se existisse um homem e uma mulher.

“Foi coisa de adolescente.” Edward falou enquanto segurava meu olhar. “Nem paixão tinha, só aconteceu e Katharine decidiu que não queria ser mãe.” As palavras não eram tristes, tinham altas doses de indiferença. “Foi um pouco caótico, eu também não sabia o que fazer com aquilo tudo, mas Grace não tinha culpa de nada.” Ele continuou com a mesma voz, embora os olhos ficassem cada vez mais fixos nos meus. “Quando Grace nasceu, Katharine não fez questão de olhar para a coisinha mais loira do mundo.”

“Oh.” Soltei de qualquer jeito, perdida com tanta informação. Grace deveria agradecer demais pelo pai que tinha. “E hoje você é tudo para Grace.” Assegurei-lhe, voltando a andar. “Quais as chances dessa mulher aparecer e reclamar por Grace?”

“Acho que nunca vai acontecer, mas também não me preocupo. Grace sabe o que aconteceu, ela já grandinha o suficiente para saber quem quer na vida dela.” Edward falou em pausas, olhando para um ponto depois de mim. “Nós não deveríamos estar falando sobre nossos dramas, isso era para ser um encontro.”

“E é um encontro.” Devolvi com diversão, dando-lhe minha mão. “E eu estou gostando de tudo, foi bom saber sobre você.” Continuei, tentando manter o mesmo tom de voz. “Nós ainda temos uma noite inteira.”

Edward sorriu para mim, o olhar foi tímido e eu quis entrar na cabeça dele. “Grace sempre esteve certa, eu realmente preciso de conselhos sobre encontros.”

Deixei que minha risada preenchesse a noite silenciosa. Descobrir que Edward era completamente bobo me deixou melhor, afinal não éramos tão diferentes assim. “Posso ser muito intrometida?” Perguntei-lhe, sorrindo e, por mania, mordi meu lábio. “Quer dizer que você não é um homem de muitos encontros?”

Ele se sentou, sem medo de sujar a calça com a areia. “Se eu disser que foram pouquíssimos, você acredita?”

O tamanho do vestido não ajudava, mas fiz malabarismo e me sentei ao lado dele. Sorri quando vi os olhos verdes em minhas coxas, apenas para não constrangê-lo, fingi que não notei o jeito que ele corria os olhos por meu corpo e, de algum modo torto ou fútil, senti-me bonita e um tanto desejada.

“Eu penso sobre o que motivou tudo isto.” Falei enquanto o olhava de soslaio, vendo-o brincar com o bolso da calça. “Sou meio louca e você é tão inteligente e educado, estou por baixo nessa história toda.”

A risada baixíssima de Edward fez-me erguer o rosto para o dele. Não esperava encontrar um par de olhos felizes e divertidos. “Certo, vamos lá, você é inteligente, bonita, agradável e bonita de novo.” Edward falou em um misto de brincadeira e seriedade. “Não tinha ninguém melhor para estar aqui comigo.”

Minha reação beirou um sorriso espontâneo, fazendo Edward sorrir também. Nossos olhares estavam presos e eu me perguntei o que viria a seguir. Para me deixar confusa, ele pegou minha mão, ainda me olhando. O carinho foi lento, as pontas dos dedos traçavam um padrão desconhecido em minha palma.

“Por que você gosta tanto de minha mão?” Perguntei rapidamente, querendo uma resposta. “Meus dedos são meio tortos, gosto muito não.”

“É quente.” Edward respondeu simplesmente. “Espero que você não pense que sou um louco.”

Sorri baixinho e deitei meu rosto no ombro dele, inspirando um pouco do cheiro forte. Não era sono, mas aquela fora a única maneira de eu tocá-lo, dizer que a noite, apesar dos silêncios estranhos e olhares desviados, estava sendo ótima.

No momento em que dei atenção ao mar, Edward subiu a mão para meu braço. Um ligeiro tremor me aplacou e eu arrepiei, a ponto de ter todos meus pelos eriçados. O toque era recatado e minha resposta foi aconchegar ainda mais em Edward, tocando a ponta de meu nariz no pescoço dele.

Edward subiu o toque, indo para meu ombro coberto pela manga do vestido. Talvez ele não gostasse do empecilho, pois deixou a mão em minha cintura. Houve um leve apertar, me puxando para ele, fazendo-me enterrar meu nariz no pescoço sem barba.

Não estava dando certo aquela coisa de ficar arrepiada; meu corpo tremulou quando Edward subiu e desceu a mão, sem qualquer intenção de ser atrevido. Aquele homem era quietinho e romântico e, intimamente, eu estava gostando muito daquilo.

“Você está com frio.” A voz dele soou baixíssima, em algum lugar perto de meu ouvido. Os lábios quase tocaram a pele sensível de meu lóbulo. “Você está arrepiada.”

“Não é frio.” Devolvi-lhe, procurando os olhos dele. O semblante de Edward era ilegível, mas consegui ver certa dose de excitação e dúvida. “É culpa sua.”

Ele sorriu de um jeito muito bom, foi impossível não acompanhá-lo. Edward tirou meu rosto do próprio pescoço, olhando-me e transmitindo muita coisa que não pude entender. Deixei meus olhos nos dele, sabendo que, uma vez ou outra, eu levava meus olhos para os lábios dele. Eu queria muito beijá-lo. Muito mesmo.

Edward sorriu de novo, inclinando-se para mim e deixando bem claro que tínhamos pensamentos próximos. Recebi um carinho bom em minha bochecha, feito com as costas da mão. Lentamente, ele desceu para meu pescoço, acariciando-me com certa dose de mistério, e eu deduzi que aquilo era bom demais.

Por instinto, umedeci meus lábios e deixei que Edward fizesse o resto. Eu podia ver a vontade nos olhos dele. Minha mão, que estava sobre minha coxa, correu para o braço dele, em uma tentativa de tocá-lo também.

“Tem tempo que não faço isto.” Edward falou baixinho, segurando um sorriso envergonhado. Ele inclinou mais, tocando o nariz no meu. “Beijar uma mulher.”

Suprimi meu sorriso e fechei meus olhos, implorando para ele me beijar logo. “Não me importo.” Falei-lhe, apertando o braço que descobri ser forte na medida certa.

Pela primeira vez na noite, Edward decidiu não ser nenhum pouco inseguro, pois os lábios capturaram os meus com vontade, mas ainda existia o cuidado e a delicadeza. Ele tinha um hálito bom, fresco e convidativo. Mal senti a mão indo para minha cintura, segurando-me junto a ele. O beijo era de reconhecimento e tremi quando a língua dele passeou na junção de meus lábios, fazendo-me abri-los.

E eu arrepiei e sorri, pois nada fora mais gostoso que senti-lo sorrindo em minha boca. Edward levou a outra mão para minha nuca, sendo meio possessivo. Eu fiz o mesmo e aquele era o sinal para aprofundarmos o beijo de lábios.

Parti meus lábios e minha língua estava louca para encontrar-se com a dele. O contato não foi inocente, Edward me mordeu e sugou meu lábio. Perguntei-me como aquele homem ficara tanto tempo sem ninguém, o beijo dele era bom demais. Em algum momento, precisamos de ar; Edward brincou mais uma vez com minha língua e, depois, me deu uma sequência de beijos curtos e molhados.

Minha mão ainda estava no braço dele, o carinho em minha nuca intensificou-se e Edward manteve nossas bocas unidas, sorrindo discretamente. “Jura que tem tempo que não beijava ninguém?” Perguntei com diversão, roçando minha boca na dele. “Você me parece muito experiente.”

Edward sorriu e me olhou, o verde estava divertido e alegre. “Não menti para você, Bella.” Ele falou e, um segundo depois, já estávamos nos beijando novamente.

O beijo não era afoito, mas não deixava de ser excitante. Era meu e de Edward. Ele me puxou mais, colando nossos corpos e eu percebi que estávamos em uma posição estranha. Talvez Edward tenha percebido também, pois não demorei a estar sentada nas pernas dele, com uma mão forte em minha coxa.

“Deixou de ser quietinho?” Perguntei sobre os lábios úmidos dele, sentindo a mão traçar a barra de meu vestido. “Um beijo era tudo o que precisava para te deixar todo saidinho?”

Edward passou as pontas dos dedos sob a barra de meu vestido, fazendo minha pele queimar de um jeito bom. “A culpa é sua.” Ele falou antes de me beijar novamente. “Você está me atiçando com tanta pele.”

Certo. Edward era um amor! Deixei que ele me acarinhasse, eu sabia que ele não faria nada de mais. Beijei-o mais. Hora ou outra, minha boca corria pelo pescoço dele, o que fez Edward arrepiar os poucos pelos do braço.

“Está tarde.” Falei muito tempo depois, quando trocávamos beijinhos curtos e doces. “Grace está sozinha. É melhor voltarmos.”

“Ela está dormindo.” Edward falou entre sorrisos. “Já é de madrugada se você ainda não percebeu.”

A noite de fato havia esfriado, o mar estava mais calmo e a brisa rompia contra meu rosto. Levantei-me, sendo seguida por Edward. Ele enlaçou nossas mãos e me fez dar passos lentos, quase preguiçosos.

A volta para casa fora silenciosa, cheia de olhares menos estranhos. Edward manteve a mão em minha perna, fazendo círculos calmos. “Você trabalha logo mais?” Quebrei o silêncio bom com uma pergunta boba, desnecessária.

“Deveria ser minha folga, mas Emmett pediu para eu trabalhar para ele.” A reposta longa me fez olhá-lo. “Ele deve estar planejando alguma coisa com minha irmã.”

Não percebi quando Edward estacionou em frente à minha casa. Fora engraçado, pois não sabíamos como nos despedir. Dei-lhe um beijo rápido, mas ele quis mais e segurou minha cintura, beijando-me com vontade.

O beijo perdurou e eu já estava quase em cima de Edward, correndo minhas mãos pelos ombros dele. Meu sorriso foi fácil quando a boca de Edward caminhou para minha orelha. Fora quente e lento. “Cuidado para não engolir meus brincos.” Falei quando senti uma mordidinha, que me fez contorcer.

“Por que você me deixa assim?” A pergunta saiu sem minha permissão, mas eu precisava fazê-la. Edward soltou um sorriso, chupando meu lóbulo.

“Te deixo como?” A voz de timbre bom soou baixa e arrastada, ele não dispensou mais uma mordida.

Eu já não estava quase sobre ele; sem saber como, Edward me tinha nos braços e eu preferi não deixar meu quadril perto do dele. “Você me deixa com vontade.”

Minha resposta causou um silêncio engraçado, senti um par de mãos correndo minhas costas, parando perto de meu quadril. “Não dê alimento para minha imaginação, por favor.”

Fui obrigada a sorrir, distanciei-me dele e arrumei meu vestido. “Vai ser muito estranho se eu não te convidar para entrar?”

“Sem problemas.” Ele falou com rapidez, dando-me um beijo longo. “Boa noite.”

Subi meus lábios verdadeiramente, minhas mãos traçaram a mandíbula marcada dele. “Foi uma ótima noite, obrigada.”

Ganhei mais um beijo, Edward abriu a porta para mim. Nosso caminhar até a porta de minha casa fora absurdamente lento. “Só estou tentando ter mais tempo com você.”

Quando peguei meu chaveiro de osso, Edward sorriu. “Está entregue, Bella.”

Ele me abraçou e depositou um beijo em minha bochecha. Houve um afago em meus cabelos. “Eu preciso ir, saber se Grace está bem.”

“Mande beijos para ela.” Falei antes de selar nossos lábios. “A gente se vê, pode me ligar também.”

Edward coçou a cabeça e sorriu de lado. “Eu vou ligar.”

Estava sendo uma noite de sorrisos. Eu pisquei para ele e entrei em casa, sem tirar o sorriso do rosto, para variar.

POV Edward

Subi a escada sem fazer barulho, tentando não ser flagrado. Nem em minhas melhores hipóteses eu imaginara uma noite tão boa e produtiva. Bella, sem qualquer hesitação, estava me ganhando, seja pelos sorrisos ou pelos olhares.

“Pai?” A voz de Grace cantou, vinda do primeiro andar. Eu olhei para trás e a vi segurando um copo de leite. “Chegou tarde.”

Aquela fala caberia aos meus pais, não à minha filha. Eu sorri para Grace, esperando-a subir os degraus. “Controlando meus horários, filha?”

Grace sorriu e bebeu o resto do leite. “Estava te esperando. Confesso, estou louca para saber o que aconteceu.”

“Deu tudo certo.” Restringi-me às poucas palavras, sabendo que Grace pediria por mais. “Já é de madrugada, você precisa dormir.”

“Certo. Só me diga que você fez tudo certinho, que cumpriu sua obrigação.” Ela continuou falando, sem parar de sorrir.

Olhei-a em dúvida. “Qual era minha obrigação, Grace?”

“Oras, no mínimo, beijá-la.” A voz de Grace foi quente e meio óbvia. “Amanhã vou ligar para Bella, ela me dará mais detalhes.”

Foi impossível não beijar a bochecha de Grace. Minha filha era completamente sem discernimento. “Não se preocupe, Grace.” Assegurei-lhe, quase lhe apertando as bochechas. “Eu a beijei.” Falei também sorrindo. “Obrigação cumprida.” Falei por fim, sabendo que beijar Bella estava longe de ser um fardo.

__

*Embora tensionar ainda não esteja registrado no dicionário Aurélio, o Houassis a aceita e classifica. Segundo o Houaiss, TENSIONAR, com “s”, significa produzir ou estar sob tensão (‘ato de distender’), geralmente um músculo ou nervo. Já o verbo TENCIONAR pode ser transitivo direto, significando fazer tenção de ou ter como desígnio(algo); intentar, planejar, projetar.


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Notas finais do capítulo

Então, o que me dizem do encontro dos dois? Eles são meio atrapalhados, certo?!
—_
A notinha foi feita pela Arline. Agora temos mais uma palavra para nosso léxico, juro que não sabia desta diferença.
—_
Bem, não vou garantir mais um capítulo para essa semana. Muitas de vocês já sabem, não sumo e, muito menos, abandono fanfictions; só preciso priorizar minha vida. Meus capítulos costumam ser grandes e penso que postagens semanais são razoáveis.
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Vejo vocês nos comentários e nas recomendações. Conto com vocês, eim?
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Beijos, até