O Filho Do Olimpo E A Faca Da Noite escrita por Castebulos Snape


Capítulo 30
Descubro Do Que O Maquiavélico É Capaz


Notas iniciais do capítulo

Oh Deus! Nico, tão fofo ~ cof, cof ~ oi... ai está, quem ai já leu a Casa de Hades? Espero que curtam ~ Lê-se ignorem a doida e leiam, e comentem



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Uma luz ofuscou minha visão e quando percebi que estava no meio da minha sala de aula do quinto ano, a minha volta estavam meus colegas, amigos e Amanda. Quando eu digo no meio da sala, eu quero dizer no meio da sala literalmente. De vez em quando, quando estavam de bom humor e eu aliviava um pouco, os professores nos colocavam em “circulo” que basicamente era encostar as carteiras nas paredes nos colocando lado a lado.

Todos me pediram para ficar quieto naquela aula, pelo menos no começo, já que era uma aula dupla de matemática, e todos detestavam a professora, estão tentei fiquei quieto (tentei, eu não resisti à tentação de dar um alegre bom dia a ela, como se eu não soubesse que me ver já era uma tortura para ela).

A professora era conhecida como Sádica. Ela era sarcástica, cruel e injusta com todos não só comigo. Seus castigos iam alem de gritos e anotações ela te mandava para Martins e dava um jeito de você ser suspenso por uma semana, era divertido, mas não valia a pena, ficar em casa tanto tempo me fazia mal.

Quando eles faziam o tal circulo me mandavam colocar minha carteira no meio da sala com a desculpa que eu tinha dificuldade de me concentrar, mas na verdade era para que eu não tivesse muitas opções para conversa e também para me humilhar um pouco. Nada como uma diversão cruel para melhorar seus dias.

Não preciso dizer que não adiantava de nada. Naquele dia eu estava conversando com Amanda fazendo piadas sobre a professora que estava de costas escrevendo no quadro, mas eu não me importava em esconder do resto do pessoal, que caia na gargalhada.

De vez em quando ela virava, furiosa, para ver de onde vinha o motivo para tanta gargalhada. Respirava fundo algumas vezes e, é claro, me mandava um olhar venenoso de puro ódio. Eu fingia copiar com muito interesse, minha inocência inabalável que não convencia ninguém.

Eu resolvi mudar de assunto e comecei a falar sobre Martins e nosso novo plano para deixá-la irritada. O pessoal que ouvia minhas historias não ligavam para minha guerra com a diretora, mas se acabavam de rir quando entendiam os gestos e imaginavam o fim da brincadeira de mau gosto.

Não era fácil entender meus gestos, nem eu entendia de vez em quando, normalmente fazia automaticamente enquanto contava algo. Era preciso me ver contando uma historia porque eu falo e mexo com as mãos, então é só relacionar uma coisa com outra, o que não é tão simples quanto parece.

A dedo-duro da minha prima estava se esforçando ao máximo para entender e me delatar, mas era difícil. E sem um assunto ilícito a pena não seria muito dura. Eu sabia que ela logo desistiria e abriria a boca, então Martins me diria uma pá de idiotices... é a vida, e é bonita, e é bonita!

Pela quinta vez o professora se virou e eu voltei a copiar o que ela escrevia seriamente com um aluno competente e direito, coisa que eu nunca fui. Tudo estava ótimo, mas dessa vez Catarina apontou para mim, muito antes do esperado, e disse:

– É ele, professora! Esta fazendo sinais estranhos para se comunicar com o resto da sala e fazê-los rir deve ser algum plano ou historia...

Todos começaram a jogar coisas nela e mandá-la calar a boca.

– Parem! – gritou a professora com a voz esganiçada e diferente e o pessoal parou, mas continuou resmungando – Obrigado, Catarina. Leal, será que você nunca pára? Nunca tem disciplina? Que historia é essa de sinais estranhos?

– A historia de Hefesto, Ares e Afrodite, professora – respondi de imediato rindo por dentro, todos riram da mentira e porque se lembraram da historia. Isso era um verdadeiro tapa na cara da sociedade ~ lê-se sambando – É assim: Ares era irmão legitimo de Hefesto, o que é raro entre os filhos de Zeus – todos à minha volta concordaram com os sinais rindo da cara da professora que foi ficando vermelha – O senhor dos céus é meio revoltado com a vida e tal. E ele era caído em quatro patas, por que é um burro bípede e joelhos não funcionariam, por Afrodite que era casada com Hefesto então os dois começaram a ter um caso...

– Cale a boca, moleque – disse ela entre dentes – Parem de rir ou todos vão para a ocorrência!

Uma nota educativa: a ocorrência é basicamente um dos jeitos que Martins encontrou para nos controlar. É uma pasta, com os nomes de todos os alunos e lá os professores anotam os mal feitos de todos.

A anotação pedagógica, chamada de AP pelos professores e traduzido como A Perda (de tempo, de paciência, de calma, de alegria...) pelos alunos era feita quando nos esquecíamos algum livro ou não fazíamos a tarefa de casa. Seis dessas significava um dia de suspensão.

A AD que significa Anotação Disciplinar ou A Dolorosamente (comum, fácil de receber, chata, freqüente) era quando nós fazíamos algo de errado, ou seja, algo que ia contra o regulamento, não necessariamente errada, mas quem liga? Com quatro dessas um dia de folga.

(Bem não foi exatamente uma nota, mas foi educativo. Na verdade eu estou com preguiça de mudar o nome, acabei de acordar e eles ainda estão gritando com o primo)

Uma vez eu roubei a tal pasta. A própria professora de matemática tinha me mandado para á diretoria, lá Martins me deu um sermão, gritou comigo (ela estava na época: se nada funciona, grite. Também conhecida como O Desespero) e me deu uma das minhas raras anotações. Ela recebeu um telefonema no meio da gritaria e me mandou voltar mais tarde.

Eu não planejava voltar, mas fiquei ansioso para saber o que a tirara do seu passa-tempo preferido: me infernizar. Entrei na sala, ela estava vazia a pasta estava ali e ninguém por perto... Ah! Não resisti! Quando cheguei em casa liguei para Amanda e ela ligou para o resto do pessoal então todos foram contemplar meu grande feito, minha mãe me mandou queimá-la. Obedeci muito feliz.

Franzi a testa para a professora e todos ficaram em silencio e tensos, não foi assim que ela agiu no quinto ano. É. Ela me mandou calar a boca de modo gentil e ameaçou o pessoal, mas era diferente, o tom, o timbre da voz, tudo era igual, mas não era o mesmo.

Naquele dia eu tinha passado todos os horários seguindo Martins como punição para meu comportamento em sala. Foi durante essa punição que eu descobri que era divertido ser secretario. Estraguei tudo nas reuniões e nos outros compromissos dela.

A Sádica caminhou até mim com os olhos me perfurando. Normalmente seus olhos eram vedes lodo, mas ali estavam negros e vazios. Ela acenou com a mão e tudo a minha volta tremulou e desapareceu. Olhei em volta apavorado procurando meus amigos e um sorriso malicioso surgiu em seu rosto, ela me pegou pelo colarinho da camiseta com mais força que tinha normalmente, me puxando para cima e manteve seu rosto perto do meu.

– Você vai aprender a não se meter nas minhas coisas, moleque. A não se meter com minha Nix. Com minha vida – não era a voz dela era a voz de Erebus grave, espessa e fria, mas ao mesmo tempo suave quase que... agradável – Eu posso fazer o que quiser com seus amigos mortais, seus pais, seus irmãos, posso mandar monstros até eles, mas longe de meus domínios vocês estava protegidos – Serio? – agora, com você aqui, eu posso fazer de vocês o que eu quiser. Posso usar sua mente contra você. Assim.

Os rostos de quem eu amava rodarem a minha volta, contorcidos em dor, ódio, tristeza. Eu estava, definitivamente lascado. Nós, de repente, estávamos na sala dos professores e a nossa volta o corpo docente rindo ironicamente. Todos tinham os mesmos olhos negros e me encaravam do mesmo jeito estranho. Como se estivessem com fome e eu fosse uma bela coxa de galinha.

Lá estava eu de volta à maldita escola. Toda a minha vida ali, sendo tratado como um verme, como se fosse o errado, anos fingindo não me importar, vi minha melhor amiga morrer ali, e agora aquele lugar iria ser a minha última lembrança em vida? Aquilo era injusto demais, cruel demais.

Podia sentir Vox lutando no meu subconsciente, a luta estava ficando cada vez mais violenta. Ele lutava contra a mesma escuridão que me fazia ver aquilo que eu estava vendo. Erebus estava na minha mente estava brincando com ela, me manipulando, usando o que eu era contra mim, isso era muito confuso.

O canto da sala brilhou e uma grade apareceu lá. Dentro estava eu, só que mais velho, mais musculoso, com cabelos e íris totalmente brancos. Ele lutava conta a grade tentando se libertar. Nossos olhos se encontraram e eu soube que estávamos perdidos de verdade.

Martins começou a andar até mim batendo com um cinto na mão. Dois dos professores me seguraram pelos braços, o Balança, Mas Não Cai, primeira vez que o vi sóbrio, e o Tapado, um idiota que estava mais acordado que o normal.

Eu tentei me soltar desesperadamente, mas eles pareciam estar dispostos a quebrar meus braços então parei olhando Martins com ódio. Ela tinha o mesmo olhar de prazer que tinha quando me humilhava e me causa dor. Eu odiava aquele olhar.

A diretora parou na minha frente e bateu com o cinto em meu peito com toda sua força. Eu gritei de dor e ela pareceu gostar de me ouvir gritar.

O professor de gramática chegou mais perto, rasgou minha camiseta ao meio, pegou o cinto da mão da colega e também me bateu, só que no ombro. A ardência desceu para minhas costas e voltou a subir para o ombro e para o peito, ligando-se a ardência do primeiro golpe.

Ela voltou a pegar o cinto e bateu com ele em meu rosto com raiva. Depois nas costas, pernas, barriga... Quando eles (ele) terminaram com o cinto eu já estava com dificuldade de respirar e tinha caído de joelhos. Os ferimentos pulsavam com meu coração, ardendo, latejando, e, a cada pulsação, mais pontos pretos surgiam na frente dos meus olhos.

Meu corpo inteiro doía, mas não era como se tivessem acabado de me espancar com um cinto de couro, era como se tivessem quebrado meus ossos com um cinto de couro do mal. Senti como se tivesse sido espancado por um time de futebol e eles tivessem quebrado todos os meus ossos. Eu mal conseguia respirar qualquer movimento fazia o corpo inteiro latejar. E meu pé parecia em carne viva e continuava ardendo. Tive uma imensa vontade de perder a consciência e me soltar na escuridão de mim mesmo, mas ele estava lá também, eu poderia já estar na minha escuridão, nunca poderia saber a diferença.

– Deixe-o em paz! – gritou Vox ainda tentando sair da gaiola, sacudiu as barras com força, mas não teve resultado, ele só estava ali de espectador.

A professora de inglês, a Inútil, me chutou no meio do peito e eles me soltaram no chão. O professor de latim, o Novato, ficou de joelhos em cima de mim e outros dois me seguraram no chão. Ele puxou uma faca de bronze celestial, encostou-a na ponta da minha sobrancelha e cortou meu rosto até o fim do maxilar rindo ironicamente.

– Agora você vai se lembrar de nós – disse com uma voz infantil o professor/Erebus – Você é um traidor da própria raça e um inimigo perigoso de mais para o que eu pretendo. Eu devia matá-lo agora mesmo.

Ele olhou para meu peito como se estivesse com fome, encostou a ponta da faca no lado esquerdo passando a língua nos lábios, mas negou com a cabeça e saiu de cima de mim. Mesmo assim uma dor subiu por meu tórax como se tivessem abrindo minha carne com ferro em brasa. Como se Erebus estivesse tentando arrancar meu coração para comê-lo. Então parou, o braseiro terminou, mas a dor não diminuiu.

Ele entregou a faca a Martins que começou a mutilar meu abdômen, eu tentei me soltar, mas isso só piorava minha situação. Por fim a faca desapareceu e minha barriga já estava sangrando muito, mas eu pude distinguir o padrão de cortes, eles formavam a letra E. Ótimo, ele assinou a obra, eu sou um cartão de visitas ou um Monet?

Agora a dor vinha crescendo como se meus órgãos estivessem sendo espremidos para fora de mim. Meus ossos com toda a certeza estavam moídos aquela altura. Eu queria muito estar morto, se tivesse tido oportunidade teria cortado minha própria garganta, mas eu, lá no fundo, sabia que, se morresse ali, ficaria no Tártaro por toda a eternidade, com ele. Contorci-me querendo me afastar e me encolher em posição fetal como uma criança, ah, qual é eu era uma criança... (põem o polegar na boca e chupa, lembrando dos bons e velhos tempos...)

– Sabe? – disse ela ofegante quando se levantou com a mesma voz doce. Ajeitou o cabelo, como se estivesse usando um topete e sorriu amavelmente – Vou sair daqui, quando meu irmão despertar, vou destruir os olimpianos. Você poderia ficar do lado vencedor. Gosto de você. É esquisito e tem bons gritos. Você, seus amigos e sua família; seguros. Que me diz? Você pega o que é seu, eu pego o que é meu e todos saem perdendo menos nós dois e quem estiver do nosso lado. É perfeito! Duas mentes brilhantes como as nossas devem receber o que lhe é de direito. Eu vi sua mente Jack Johan St. James. Vi do que é capaz para proteger a quem ama, eu sou assim; quero proteger o que amo. Quero retomar ao posto que nunca devia ter deixado! E eu quero Nix para mim.

– Os olimpianos são minha família, meus pais – respondi mais ofegante que ele/ela – e meus amigos são seus filhos, por tanto meus irmãos, você não vai poupá-los. Aliás, sobre o que você falou no Solstício de Inverno: eles são mais que idiotas egoístas, você só precisa vê-los como se fossem humanos também, é bem simples. E, se tiver alguma duvida, estou recusando sua adorável oferta.

Martins arreganhou os dentes e me chutou nas pernas com se para arrumá-las e depois pisou nelas. Joguei-me para o lado abraçando meus joelhos. Até hoje não sei com elas não quebraram, talvez ele não achasse que isso doía o bastante.

– Erebus, ele é só uma criança – implorou Vox ajoelhado e com o rosto encostado nas grades como se quisesse passar por elas para me ajudar – Deixo-o, de destrua e ele não suportará a Faca. É apenas um mero filhote de deus.

– Uma criança perigosa demais, Marca de Poder – senti um arrepio quando percebi que Erebus falava com Vox como se fossem velhos conhecidos, amigos – Não posso destruí-lo, você sempre me divertiu muito

Eu prefiro meu nome, pensei, brincando, E ele tem razão, você é divertido.

– Eu também, Jack – Vox sorriu para mim – Você é meu melhor irmão. O melhor, em todos os sentidos, é poderoso o bastante.

O riso sarcástico fez seus olhos se voltarem para além de mim, cheios de ódio, com aquela maturidade que eu detestava.

A professora de matemática não deixara sua marca ainda. Eles voltaram a me levantar, então ela cravou as unhas no meu estômago, começou a apertar e a empurrar as unhas na minha pele girando a mão. Senti como se meus órgãos estivessem se rompendo sob seu aperto. Agora eu realmente queria que eles voltassem a me cortar.

Quanto mais eu gritava mais eles riam. Depois que ela parou, deixei meu corpo cair, mas eles me seguraram deixando apenas minhas pernas um pouco vergadas para eu ficasse menor que Martins. Quando eu achei que não era mais possível me fazer sofrer Martins pegou meu cabelo e o puxou para e eu olhasse para ela.

– Estúpido! – rugiu com uma voz áspera e triplicada deixando seus dentes horríveis a milímetros do meu rosto, tentei não demonstrar medo, mas não foi bem assim... Logo ele retomou o controle de si, encostou seu rosto no meu e começou a sussurrar em meu ouvido com a voz suave – Eu sei dos planos de Nix dês de que a Faca o escolheu. Um humano, um mero mortal sem nada de especial. Fiquei furioso: ela estava dando tudo o que nosso pai deixou para nós a você quando podia me libertar, quando podia ser o que sempre deveria ter sido: rainha.

“Então você cresceu, e assisti de longe enquanto fazia inimigos, amigos, meios de eu te derrotar... Eu podia tê-lo matado com um único dedo” senti a unha de o seu indicador refazer a letra E em meu peito, “mas vi que podia fazer mais. Convoquei Píton da entranhas do Tártaro, mandei com que matasse a você e a quem tentasse proteger, é claro que Nix se intrometeu, te deu a Faca antes do momento certo, você enterrou Píton nas camadas mais profundas do Tártaro, mas perdeu algo” ele se afastou e sorriu de minha cara infeliz “Sim perdeu. Perdeu sua maior ligação com o mundo mortal.

“Agora, por favor, me diga só mais uma coisa: qual era mesmo o nome dela?”

Eu senti a raiva tomar conta de mim. Ele tinha a matado. Eu a perdi por culpa dele. Ele matou minha Amanda. E nem sequer sabia seu nome.

– Era Amanda – avancei, bem tentei, aproximando meu rosto um pouco mais do seu. – Seu desgraçado, era Amanda Soares.

– Ah, sim! – ela deu um sorrisinho sínico – Amanda. É um belo nome. Agora estou me lembrando. Você ficou... Ah... Isso mesmo! Gemendo. Parado lá enquanto ela morria sem fazer nada. Como o grande mortal inútil que você é.

Ela se afastou de mim e acenou com a mão. Amanda se materializou ali na minha frente, como no dia em que morreu: vestida com uma calça jeans azul, camiseta do colégio, linda com um ar angelical e puro como sempre.

– Não! – gritou Vox chutando as grades – Ela não! Erebus, tudo menos ela, isso é covardia! Isso não!

_ Fique calado, ou eu mato logo esse moleque!

– Amanda – murmurei ignorando o dois.

– Ah, Jack! – ela passou os braços por meu pescoço e ficou ali me olhando, ajoelhada por alguns segundos – Como pôde?

– Quê?

– Como pôde deixar com que eles me matassem? Como pôde não me salvar? Você me deixou morrer para poupar sua vidinha miserável. Você é quem devia ter morrido. Você quem merecia aquilo, seu... monstro.

– Cale a boca – rugiu Vox – Jack, ignore-a. Não é ela.

– Não! – gemi mal ouvindo-o. Sentindo os cacos do que ela disse se espalhando por meu corpo – Você não é a Amanda, ela nunca me diria isso, ela me disse que não era para eu me sentir culpado, ela não ia querer. Ela nunca diria isso! Pare de falar! Deixe-me em paz! Erebus, faça-a parar.

Ele riu e ergueu as sobrancelhas, como se disse: “Agora você pede socorro para mim? Mortais!”

– Isso, Jack – continuou ela com todo o desprezo do mundo na voz – Finja que não é sua culpa. Você era meu amigo, eu gostava de você, é claro que ia te dizer aquilo, afinal você já tinha me matando mesmo. Você criou um mundo a sua volta, se proclamou o rei ferido, fez aquele discurso estúpido para Atena “Então deixaria que ela me engolisse e a cortaria de dentro para fora. Morreria e deixaria Amanda viva.” Me engana que eu gosto, você nunca conseguiria, é egoísta demais, fraco demais, interesseiro, um herói!

– Não! – fechei os olhos tentando impedir que aqueles olhos acusadores encontrassem com os meus, aqueles olhos que pareciam ver minha alma – Eu faria, morrer não significa nada.

– Sim! – disse ela perto do meu ouvido como se para aumentar minha dor. Seu hálito frio parecia congelar meu celebro, meu peito doía cada vez mais – “Eu não suporto os heróis antigos”, mas eu sabia você era igual a eles, sempre foi. Sempre teve essa necessidade de se mostrar ao mundo, ser ouvido por todos, ser o centro das atenções. Egocêntrico. Sem nenhum talento. Um verme desprezível como qualquer outro!

“Você merecia ter morrido. Não merece o poder que possui, a atenção que recebe, você é fraco, Jack Tenório Leal! Não nasce para mudar a história, nem sequer devia ter nascido. Ninguém queria você, nem seus pais, nem o mundo, muito menos eu. Ninguém precisa de você. Todos te prefeririam morto. Era melhor assim, Zeus que o diga.

“Eu, pelo contrario, era amada por todos, inclusive os professores, eles me tratavam bem, nunca trataram qualquer outro de nossa “gangue” assim. Meus pais precisavam de mim, me queriam, seria alguém no mundo muito diferente de você que fingia que não ligava para nada, mas era o melhor da turma. Os seus... Eles te odeiam, queriam uma menina. Ares tirou a graça da situação. As Parcas deviam ter te matado, queriam, a decisão de matá-lo estava tomada, mas Nix as impediu, não viu que o que estava fazendo era ridículo.

“Eu morri por que você foi covarde demais para fazer algo a respeito. Nem sequer chamou a ambulância quando precisei. Eu que menti por você, ri de suas piadas idiotas, eu morri por uma barata como você.”

– Jack, não escute – gritou Vox – Não é nossa Amanda. Jack! Irmão, não à escute! Ela está mentindo. Jack, me escute, não é ela!

– Pare! Por favor, pare. – abri meus olhos e encarei Erebus – Não é ela. Não é Amanda. Eu imploro! Me mate se quiser, mas pare. Faça passar...

Amanda desapareceu e eu caí de joelhos. Os dois ainda me seguravam, mas deixam que eu me humilhasse. Senti as lágrimas quentes descerem por meu rosto, nunca me senti tão mal em toda a minha vida, tão sujo, tão... imprestável.

As gargalhadas de Erebus inundaram minha mente. Martins voltou a erguer meu rosto colocando as pontas dos dedos embaixo de meu queixo.

– Só esta começando, garoto. Você devia ter aceitado minha bondosa proposta. Maldita seja Hera por te dar aquela bênção idiota. Eu teria te poupado, por Nix, para quando eu e ela estivermos juntos de novo. Ela poderia querer uma mascote. Eu vou fazer você sofrer como quando eu fui jogado naquele lugar imundo que é o Estige.

Ela tirou a mão e deixei com que minha cabeça caísse. Ouvi um barulho de crepitar de chamas, aquilo não era bom, levantaram minha cabeça com muita dificuldade e eu a vi andar até mim com um ferro em brasa na forma do nome Nix.

– Lembre-a que é culpa dela, garoto. Você é um presente e essa minha dedicatória.

– Não!

Até hoje não sei quem gritou mais alto; eu ou Vox.

Quando ela encostou aquilo do meu peito esquerdo pensei que iria desmaiar de dor. Imagine que seu bronzeador na verdade era álcool e, sem saber disso, você tomou sol no deserto do Saara até meio-dia, de 12h para frente você foi no Vale de Diabo. Era assim que eu me sentia, não só meu peito queimava meu corpo inteiro estava em chamas ou como se o veneno de Píton estivesse correndo em minhas veias.

Tudo desapareceu e a escuridão me cobriu novamente. Como eu senti saudade do cinto.

Vamos embrulhar, disse ele parecendo entre dentes.

Senti como se meu corpo estivesse sendo esmagado e incendiado ao mesmo tempo. Ele gargalhou perante meus gritos e eu queria perder a consciência, mas ele também estava na minha consciência. Será que eu estava consciente ou já tinha desmaiado? Em que parte de mim ele estava?

Se ele estava procurando todas as dores que eu senti posso imaginar o que viu. A vez que quebrei o calcanhar na escola, quando meus primos me espancavam, a vez que eu sem querer soquei a parede... Ele misturou tudo. O pior sofrimento da minha vida intera.

Minha cabeça começou a zunir, como se uma abelha estivesse dentro do meu ouvido e estivesse dando uma festa com os amigos. Era insuportável tive muita vontade de bater com minha cabeça na parede ate que não pudesse sentir nada, mas eu não tinha uma parede à mão. A minha cabeça parecia prestes a explodir; minha pele e músculos doíam; meu sangue parecia larva correndo em minhas veias.

– Afaste-se dele – disse uma voz tão fria e espessa quanto à de Erebus, mas definitivamente feminina e muito irritada. Imaginei uma dona de casa com uma colher de pau na mão, braços cruzados e um marido particularmente envergonhado por ter sido pego assaltando a geladeira na hora errada, mas não era bem assim que a banda tocava.

– Não se meta – respondeu ele. Lá no fundo ele parecia até feliz, como se aquilo fosse realmente o que estava querendo – Isso não é assunto seu, meu amor.

– Não é minha culpa, irmão? Ele não é meu presente? Obrigada, Erebus, por me dar o que já era meu!

De repente outro tipo de energia me tirou dali, era diferente, delicada, e um pouquinho mais quente, mas Erebus não desistiu tão facilmente. Pude senti-lo entrar em mim inutilizar meu corpo repetindo sem parar: “Irmão?”. Eu só ouvi meu corpo ser colocado no chão e asas se aproximarem.

– Hummm – disse uma voz metálica – Ele sobreviveu ao Tártaro. Realmente merece tanta preocupação do mestre.

Dois pares de garras me agarram e nós levantamos vôo. Depois de alguns segundos eu fui colocado nos braços de alguém.

– Perséfone – disse Hades, o senti tocando minha testa –, chame todos aqui. Achamos ele. – ouvi passos se distanciando e Hades sussurrou em meu ouvido – Ah, Jack! Como você esta gelado. O que ele fez com você, filho? O que aquele infeliz fez?

Senti uma cama macia embaixo de mim e tentei relaxar um pouco, mas não sabia como, não tinha nada para relaxar.

Senti alguém tocando meu peito bem próximo ao ferimento em forma do nome da deusa da noite. Tentei imaginar a expressão de Hades quando viu aquilo, mas me senti um desgraçado por fazê-lo se sentir mal.

Eu vou destruí-los, disse Erebus em minha mente, vou jogá-los no Tártaro. Depois vou atrás dos mortais que são seus filhos.

Pude ver os olimpianos sendo arrastados para dentro do Tártaro, gritando, sendo espancados, escravizados, minha família sendo destruída aos poucos.

Minha mãe observando suas Caçadoras sendo mortas uma por uma e chorando desesperadamente. Quando eles arrastam Apolo na sua frente ela tentou se soltar e gritou para que parassem. Nunca vou esquecer aquilo, minha mãe implorando, chorando... Isso ainda me atormenta nos sonhos, mesmo na época em que ficamos distanciados.

O colégio queimando e nuvens escuras destruindo tudo e matando meus irmãos. Quíron sendo colocado num caminhão de transporte de gado com outros centauros com camisetas chamativas com os dizeres Pôneis de Festa.

O Olimpo estava em ruínas, o mundo estava um caos, os monstros corriam soltos pelas ruas, pessoas de três quatro metros se alimentando de corpos humanos, as guerras explodindo em todos os lugares e os humanos mais humanos que nunca. Prédios caiam um após o outro, o Central Park estava em chamas...

Mortais, zombou ele, Vou destroçá-los também. Bem devagar. Vou destruir o que chamam de avanço. Eles vão voltar a serem apenas animais. Menos que isso: vermes!

Não vai não, respondi, Não vou deixar.

Uma nova onda e mais uma poderosa onda de dor passou por minha mente, imaginei que meu corpo não tinha reagido de alguma forma.

Ouvi passos se aproximando de mim. Houve um silencio mortal, senti alguém tocar meu rosto. Então outro alguém colocou o anel no meu dedo.

– O que exatamente aconteceu com ele, filha? – perguntou Apolo a alguém.

– Nós estávamos indo ao Lete – respondeu a voz tremula de Lya – Depois de ultrapassar a barreira do sono e do esquecimento você encontra a noite. Isso significa Hipnos, não é? Foi o que Jack interpretou. Ele fica perto do Lete. Bom, nós estávamos passando por o que parecia uma fenda, tinha um caminho estreito e paredes dos dois lados.

– É claro que Jack desconfiou – interrompeu Marcus – Não tem nenhuma referencia a esses tipos de fendas no Submundo e é estranho ter uma assim por um caminho realmente extenso...

– Vai direto ao assunto, a parte relevante, garoto – disse Ares.

– Tá. Só estava mostrando o porquê de ele ficar para trás. Ele ficou tocando a parede da direita enquanto andava e de repente parou. Ele continuou apalpando aquele lugar e murmurava coisas... bem esquisito... Foi em uma questão de segundos, em um segundo ele estava lá no segundo seguinte foi sugado pela parede.

– Nós não tivemos reação – continuou Lya – Só depois de alguns minutos a parede desapareceu. Era um caminho até aquele buraco, Jack estava gritando e nós corremos para buscar a ajuda do senhor Hades.

– As Fúrias não nos deixaram entrar – continuou Marcus pude ver que aquela parte tinha muita importância para ele – Então resolvi ficar distraindo e Lya entrou. Álecto tentou me matar então eu meio que a matei. Hã... sinto muito Senhor Hades.

– Problema algum – disse Hades – Quando ela citou o Tártaro e a parede escura só pensei em Erebus ou o irmão Tártaros, mas se fosse ele o menino já seria pó flutuando por ai. Erebus arrastou o menino para lá. E fez isso com ele.

– Por quê? – perguntou Artemis – Que interesse Erebus poderia ter nele? É só uma criança.

– Não sei – respondeu Hades – Provavelmente achou que seria divertido torturá-lo. É cruel, mas comum, Cronos acharia divertidíssimo. Eu só não entendo por que não o matou logo. Espero que ele nos conte quando acordar.

Se ele acordar – disse Ares e ouvi um sibilar de indignação que reconheci com o de Marcus – Garoto, sabe quantos mortais caíram no Tártaro? – Pelo que eu sei nenhum – Já é uma sorte conseguirmos tira-lo de lá inteiro. Viver por outro lado... – era só impressão ou aquilo que eu estava ouvindo era pesar? – Ser como antes... Como o Jack que conhecíamos...

– Ele vai ficar bem – disse Apolo decidido – Mas não estou conseguindo acessar sua mente.

– Isso quer dizer que...? – perguntaram Dionísio e Hermes ao mesmo tempo.

– Quer dizer que o deus ainda esta ai dentro – respondeu Atena sem demonstrar muita emoção. A deusa da sabedoria não tinha muito talento para expressar sentimentos então imaginei que a falta deles fosse um pouco de pesar, ou eu realmente esperava que fosse isso – Se aproveitando da vulnerabilidade dele.

– Não por muito tempo – disse a voz que me salvou.

Todos ficaram em silencio e deram um passo para trás quando ela caminhou até mim. Pude sentir uma mudança no ar a mim volta, a temperatura caiu tanto que eu estremeceria se conseguisse, tinha mais poder, mais força nela.

Então uma coisa entrou na minha mente. Pude senti-la ajudar Vox a expulsar Erebus dali. Ele queimou meu corpo por dentro de novo então desapareceu como se nunca houvesse acontecido. Eu voltei a sentir meu corpo e ele doía muito.

Tomei ar, sentindo minhas costelas quebradas machucando os pulmões, e arregalei meus olhos para os deuses e vi um rosto pálido e bonito na minha frente. Soltei as pálpebras e o ar e, quando, voltei a abri-las o rosto tinha desaparecido.

Apolo caminhou até mim, checou minha pulsação, tocou minha testa e colocou a mão em meu rosto.

– Ele esta ótimo, em pré-requisitos mentais. Fisicamente, melhorando – então começou a falar devagar – Jack? Pode falar alguma coisa, filho?

Filho, pensei, Nessas horas eu sou filho.

– Dói – murmurei – Dói muito. Você não faz idéia o quando dói, Apolo! Faz parar.

Ele deu um sorrisinho cansado.

– Vai passar – garantiu, então olhou para os deuses a nossa volta, parecia mais satisfeito do que eu imaginei – Vamos deixá-lo descansar, agora.

Todos começaram a sair, Ártemis, que estava do meu lado me olhou por alguns segundos vacilou um pouco depois se virou pronta para sair. Reuni toda minha força e segurei de leve sua mão. Ela se virou e me encarou com um brilho estranho no olhar

– Pode ficar comigo, mamãe? – seus olhos brilharam – Eu não quero ficar sozinho. Estou... com medo do escuro. Patético, não é?

Ela me olhou como se não quisesse e precisasse ao mesmo tempo, então assentiu. Afastei minha cabeça, ela se sentou no canto da cama e eu coloquei minha cabeça no seu colo.

– Já esta mesmo na hora de eu agir como mãe – disse devagar e contraditoriamente.

– Você é uma ótima mãe – murmurei – E eu te amo.

Bem de leve, ela ajeitou meus cabelos rindo baixinho. Eu relaxei e deixei com que Hipnos me derrubasse, então me livrei da dor e dormi calmamente.


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Notas finais do capítulo

E a guerra se aproxima....



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