O Filho Do Olimpo E A Faca Da Noite escrita por Castebulos Snape


Capítulo 17
Começo Meu Curto Treinamento


Notas iniciais do capítulo

comentem!



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No resto do dia observei Marcus treinando e estava certo sobre ele: era um guerreiro esperto, elegante e habilidoso. No final do dia percebemos que nossos horários de aula eram iguais, aparentemente Pinha tinha errado na impressão, mas como ninguém reclamou decidimos ficar assim mesmo.

Sei que ele tentou esconder isso, mas perecia quase impossível, nunca vi ninguém tão feliz. E eu fiquei feliz por vê-lo feliz. Era o melhor irmão que eu já tivera.

Não jantei, estava sem fome.

Depois das dez horas, eu já estava ficando com um pouco de sono, então me despedi do pessoal de Apolo que estava me contando as coisas engraçadas que aconteciam por ali e, acredite, eram engraçadas mesmo. Certas coisas banais ficam muito engraçadas quando envolvem satiros, um centauro e um gigante de cem olhos.

E falando no gigante de cem olhos, eles me contaram as teorias sobre Argos que são bem estranhas (ou criativas, você decide): ou Hera tinha esquecido a língua quando o criou, ou simplesmente estava de mal-humor e não queria ouvir a voz de ninguém ou que ele tem um olho no meio da língua o que é vergonhoso. E nojento.

O meu dormitório, percebi, não tinha luz elétrica. Por acompanhar as mudanças no céu ele era iluminado, de dia, pelo Sol e, de noite, pela Lua e as estrelas. Passei horas olhando as constelações até que finalmente dormi.

Foi naquela noite que meus sonhos começaram a ser malignos.

No sonho senti um punho frio de fechar em torno do meu corpo, dificultando minha respiração.

Ela o escolheu, sussurrou suavemente a mesma voz grossa de antes, a arma mais poderosa de todos os tempos escolheu uma criança mortal fraca, estúpida, medrosa, vulnerável e sem nenhum poder especial. Essa parte eu até entendo, não concordo de jeito nenhum, mas entendo. O que eu não entendo é por que. Por que, Jack? Por que você? E por que Nix permitiu?

“Já vasculhei sua mente varias vezes e não consegui ver nada que fizesse de você especial. Será que é por que você é impossível? O Filho De Três Impossibilidades! Titulo bacana. Melhor do que o que Zeus escolheu: Filho do Olimpo. Como se você fosse filho do Olimpo inteiro. Seu amado papai, Hades, não é um olimpiano, todos deixam isso bem claro. É odiado por todos do Olimpo, todos desprezam ele. Será que foi por isso que Zeus te deu esse nome; para excluir o irmão? Não duvido.

“Acho que vou poder usar isso a meu favor. Alguém com tanta mágoa e rancor... mas não importa agora. Não agora.

“Irmãos deviam ser unidos, Jack. Eu e meu irmão somos muito unidos. E você, Jack? Vejo que esta gostando de ter outros meio-irmãos, mas você esta se esquecendo dos outros, os mortais, você devia ter respeitado o que tinha. Sei que não gosta muito deles. Também não fizeram por onde, não é? Você tem seus motivos eles os deles. Compreendo. Mas posso dizer com toda certeza que unidos vocês seriam melhores.

“Sua mente não é tão inútil assim. Infantil, claro. Tenho certeza que os heróis do passado eram muito melhores, mais adultos. Mas é mais capacitada do que o resto dos humanos da sua idade. Ela me ajudou a me ajustar a linguagem atual, eu estou antiquado. Também: dormi seis mil anos! Não é pouco.

“Ah, e obrigado por me informar sobre o que aconteceu nos anos em que dormi. Nem sabia que Cronos tinha sido derrotado. E pobre Atlas. Nem eu me ofereceria para segurar Urano. E como assim os humanos evoluírem? Serio, Prometeu mereceu sua punição. Idiota.”

Ele suspirou como se pensasse no que dizer mais, o cara era maluco, impressionantemente eu ouvi minhas batidas cardíacas.

Nunca tive um sonho tão realista, pensei esperando que Vox concordasse.

 Por que não é um sonho, mortal, respondeu a outra voz mais suave que nunca, Eu vou provar como posso ser realista.

Ele riu.

Uma luz surgiu em cima de mim. Aqueceu o lugar onde eu estava e meu corpo, quando olhei para mim mesmo, quase grito ao perceber que estava nu. Olhei para cima tentando identificar de onde vinha a luz, mas não consegui olhar, era como o sol de meio-dia só que não tão quente, mas tão brilhante quanto.

Olhei em volta; tudo escuro. Eu estava no único ponto iluminado. Era fresco, arejado e o mais estranho: podia ouvir a respiração de seja lá quem fosse perto de mim.  

Que sonho estranho!,pensei, Isso que dá descobrir que é filho de deuses, conhecer um centauro e não comer no jantar tudo no mesmo dia. 

Já disse que não é um sonho.  

A luz se tornou mais intensa e quente. Ainda não estava ruim, eu sou de uma cidade perto da linha do equador estou acostumado com calor. Mas o calor foi aumentando com o tempo e começou a ficar incomodo. Depois de alguns minutos parecia fazer 50º no lugar onde eu estava. Eu já estava completamente molhado de suor.

Pensei em sair da luz, não estava nem um pouco a fim de morrer assado. Quando tentei sair bati em uma parede de energia fria. Me sentei no espaço mínimo me encostando na parede só para sentir o frio.

Minha garganta estava seca o que dificultava minha respiração, o ar fazia minha traquéia doer; eu daria minha vida por um gole d’água.

Eu comecei a ficar exausto demais para de olhos abertos, me senti fraco, era como se eu fosse um carro sem combustível; tudo estava começando a falhar. Desmaiei.

Não sei se é possível de desmaiar em um sonho, mas foi uma sensação ótima, e só durou alguns segundos.  Minhas costas começaram a arder, e isso foi aumentando voltei a abrir os olhos e, com um surto de adrenalina, me pus de pé em um salto.

Quando olhei gemi; minhas costas estavam em carne viva. A queimadura se estendia por toda a pele e a temperatura da luz foi aumentando. Toquei a parede, mas logo tirei os dedos; estava fervendo. Eu estava fraco demais para ficar de pé sem me escorar em alguma coisa e se tocasse nas paredes sofreria mais ainda. Aparentemente o único lugar frio era o chão, mas não por muito tempo. Logo o chão também começou a ficar quente.

– Não – gemi.

Ele começou a rir e logo gargalhava.

– Pare! – gritei sentindo aquilo ecoar em meus ouvidos – Quem é você? Não sei do que esta falando. Quem me escolheu?  O que está fazendo?

  As paredes de energia começaram a se fechar a minha volta. Eu conseguia sentir o calor que elas emitiam. Com o tempo elas tocaram minha pele e o chão ficou insuportavelmente quente. Percebi que implorar não adiantaria com aquele cara e fiz a única coisa que podia: gritei.

Depois do que pareceram horas acordei sobressaltado, ainda conseguia sentir meu corpo e o ar a minha volta quente. Levantei com muita dificuldade, meu mundo girou algumas vezes, e cambaleei até o banheiro.

Enfiei-me de baixo do chuveiro com roupa e tudo e deixei com que a água fria caísse na minha cabeça. Para meu espanto, parte da água virou vapor a entrar em contato com minha pele. Fiquei ali por pelo menos uma hora tentando relaxar e só me dei por satisfeito quando comecei a tremer de frio.   

Sai do chuveiro joguei minhas roupas numa lata que dizia: roupa suja, me sequei, vesti outras roupas mais quentes, torcendo para não ficar com hipotermia, e me sentei em uma das camas respirando fundo.

Quem era aquele cara? Ele ficou dizendo que não era um sonho. Mas tinha que ser. Eu não podia ter uma voz maligna em minha mente já me bastava Vox. Tinha sido só um pesadelo. Só isso. Falando em Vox, ele não falou nada sobre aquilo. O que era estranho porque ele sempre falava alguma coisa.

Cara, tudo bem?,pensei.

Não, gemeu de volta.

O que aconteceu com você?

Não sei exatamente. Estou pensando.

– O que esta sentindo? – senti um tom ridículo de preocupação na minha voz.

Como se tivessem sugado minha energia. Como se... Ah, eu sei lá. É horrível. Seja lá o que aquele cara era, ele era muito poderoso e mal, muitomal.

Nunca tinha visto Vox falar daquele jeito. Normalmente era como um adolescente rebelde e extrovertido, mas agora era como se ele fosse mais velho, mais maduro, responsável. Ele não devia ser assim, ele devia ser chato e extrovertido e...

– Você acha que vai ficar bem?

Vou só preciso ficar um pouco quieto. Mas vai passar logo não fique preocupado, Jackie.

Eu consegui rir; não era irrecuperável.

– E aquele sonho? Acha que vai acontecer de novo?    

Não sei bem sobre nenhum das duas perguntas. A única coisa que tenho certeza é que não era um sonho, cara.

– Tinha que ser. Aquele cara não pode ser real. É impossível. O que alguém tão poderoso ia querer comigo? Sou só um mortal.

Bem, foi o que ele disse, não? Seja lá o que for. Não foi ele que escolheu. Lembra o que falou? “A arma mais poderosa de todos os tempos.” E você não é só um mortal. É o Filho do Olimpo, o semideus mais poderoso da era, o Filho de Três Impossibilidades. Agora...

A voz falhou e logo se calou. Decidi deixá-lo descansar, mas isso não me impedia de ficar preocupado. Que deus era aquele? O que ele quis dizer? O que Nix, a deusa da noite, tinha a ver com isso tudo? E como assim Filho de Três Impossibilidades? Eu podia numerar bem mais de três impossibilidades

Gemi, estava começando a ficar com dor de cabeça. Voltei a me levantar. O quarto estava começado a clarear, ficando meio arroxeado. Devia ser cinco horas da manhã, já estava amanhecendo. Olhei para o que tinha vestido, nem prestara atenção quando coloquei. Era meu suéter verde limão, nem me lembrava de ter levado ele, mas fiquei feliz, e minha velha calça jeans.

Respirei fundo e passei os dedos pelos cabelos molhados. Pensei no que fazer para esquecer o... sei lá quem.

– Dormir?... – perguntei a mim mesmo – Hoje não. Prometi para o papai que ia escrever sempre. Talvez isso ocupe meu tempo.

Arranquei uma folha do meu caderno de escola e comecei:

Nova York City, NY, EUA, Colégio Caminho ao Elísio, dois de janeiro de 1983.    

Oi, gente!

Pra começar: também tive saudades. Amo vocês e tal.

Antes que vocês perguntem: eu tô legal. Na medida do possível. Sabe; olimpianos, centauro, filhos de Ares, pesadelos estranhos, vozes assustadoras que não são Vox... E a vida continua.

Bem, eu sei que estou aqui há um dia e não tenho lá muita coisa para falar não, mas eu meio que estou sem fazer nada e resolvi matar logo a saudade de vocês e minha. Depois não digam que sou um mau filho.

São exatamente seis e meia da manhã aqui em NY e eu só estou acordado por causa de um pesadelo estranho, muito estranho. Mais estranho que eu!

Era um cara falando sobre Nix; a deusa da noite; uma arma poderosa que me escolheu (não me pergunte como uma arma pode me escolher); eu ser apenas um mero mortal; de ter vasculhado minha mente; sobre irmãos; ter dormido por três mil anos; estar mal informado; eu ser o Filho de Três Impossibilidades; e Hades ser um completo excluído (grande novidade!).

Estranho eu sei. Eu sou filho de bem mais que três impossibilidades. 

Vox diz que não foi um simples pesadelo, e que não era uma simples voz, mas eu tenho medo até de imaginar o que era de verdade então era um sonho e ponto. É melhor deixar para mais tarde. Se for um deus logo vai se cansar de mim, se for meu subconsciente para logo.

 Mesmo assim ainda fiquei com a pulga atrás de orelha. Era uma voz estranha e assustadora. Depois de ele falar um monte de coisas sem sentido e quase me fritou de verdade (vou passar um bom tempo sem comer frango frito) acordei em completo desespero e tomei um banho frio, melhorou um pouco, mas não faz milagre. Agora estou com dor de cabeça e Vox esta dormindo (nem sabia que isso era possível), está exausto, parece que, seja lá quem for, sugou parte da energia dele. É melhor deixá-lo quieto. Fiquei um pouco preocupado e isso só fez a saudade aumentar.

Sei lá acho que estou com saudade do chocolate quente da mamãe e de dormir entre vocês quando tinha um pesadelo. Cara faz tanto tempo! Eu não tenho mais nem tamanho para isso. Mas é serio estou morrendo de saudade. Queria estar aí com vocês, queria poder conversar com vocês, brigar com Catarina e com Thor, tomar banho de piscina, sair com Amanda. 

Como é que esta o pessoal ai? Viram meus amigos em algum lugar? E os pais de Amanda? O pai dela já saiu de casa? Como vão vocês?

O pessoal daqui é legal, menos os filhos de Ares. São iguais ao pai! Era de se esperar genética ruim sem aflora. Bem, acho que se quase tudo tem exceções; conheci dois filhos de Ares, Marcus Wrestle, ele gosta de ler, quer a paz mundial e odeia o pai. Foi amor a primeira vista! Acho que é criação ou qualquer coisa assim, mas ainda não tive como perguntar sobre a mãe dele. O problema é que é um excluído que eu vou ter que cuidar. É um bom guerreiro e tal, mas é pequeno e ninguém o ajuda. Podem deixar vou cuidar dele. E Zackary Crane ele é instrutor aqui, parece se um cara legal, mas também pareceu bastante triste. Ainda não sei por que, mas vou descobrir; eu sempre descubro.

Conheci também Iolanda Hall e Carla e Márcia Legman, filhas de Afrodite (elas não gostaram do meu cabelo! Me diz o que a de errado com meu cabelo? Já é a terceira pessoa que me fala isso nos últimos meses, não que eu me importe com o que Martins pense, mas gosto do meu cabelo.)(disseram que eu sou um rebelde e que elas amam domesticar rebeldes, assustador); Jane Élan filha de Apolo, bastante legal; o resto do dormitório de Apolo que também são legais; um filho de Dionísio que não gosta do pai, César Elfman (eu o entendo); Karl Shore, filho de Atena; Frísia uma ninfa psicótica que tentou me matar; Pinha, uma ninfa legal que gostou de mim; Argos Panoptes, o gigante de cem olhos criando por Hera para vigiar Io, ele não fala;  e o Quíron.

Tá o centauro (assustador ver um centauro de perto) ele é como um professor legal. É gentil, atencioso, esperto, e o fato de os heróis antigos serem uns babacas não é culpa dele. E isso é muito bom. Nós conversamos bastante. Ele me falou de um sonho que tinha. No básico é transformar o colégio em acampamento de verão. Pareceu-me uma boa idéia. Se tiver uma brecha vou dar um jeito de ele conseguir o que quer. Ele é um garanhão branco muito bem escovado da cintura para baixo se alguém ai estiver perguntando.

Vocês não fazem idéia de quanto esse lugar é grande. Sério tudo parece que foi aumentado com magia (alguns até foram), vocês tem que ver a biblioteca, a quadra, a arena de batalha, a enfermaria (coordenada por filho de Apolo, claro), mas o melhor de tudo é meu dormitório.

Fiquei no dormitório de Ártemis (é claro) ele é lindo divido o andar com o pessoal de Apolo e eles são muito legais. Bem, o andar inteiro acompanha as mudanças do céu, consigo ver todas as estrelas daqui, e a lua está linda. O sol daqui é um pouco apagado acho que é por que estamos mais perto do pólo, mas isso não é nem um pouco ruim.

Tudo aqui é tão surreal das ninfas aos semideuses, das armas aos monstros (tenho certeza que têm alguns na floresta). É tudo muito incrível. Mesmo assim estou com saudade de casa.

Acho que vou ter que parar de escrever agora. Como disse não tem muita coisa para contar (só um monte) e logo, logo Jane vai aparecer aqui para me chamar para o café da manhã. 

Amo muito vocês!

Já estou com saudade, do eterno,

Jack Tenório Leal.

PS1: Não se assustem. Vou enviar essa carta por meio de Hermes.

PS2: Respondam por ele também.

PS3: Já disse queamo vocês?

Dobrei a carta ao meio duas vezes e coloquei no bolso; ia enviar o mais rápido possível. Me sentia muito melhor, era como se estivesse conversando com eles de verdade. Respirei fundo e fui me aprontar. Coloquei cada arma e cada presente em seu lugar, meu casaco e os coturnos. Escovei os dentes com uma escova e um creme dental que apareceram em minha mochila e peguei um livro para ler.

Passaram-se os minutos e eu me perdi nas historias nórdicas. Cara, amo Loki, ele é hilário! O maior e melhor enganador de todos os tempos.

Será que, como os olimpianos, os moradores de Asgard também existem?,pensei.

Perdi-me em pensamentos e nem vi quando Marcus entrou no quarto:

– Bom dia!

– Ah! – dei um salto para trás e acabei batendo a cabeça na parede – Marcus? Meus bons deuses do Olimpo qual é o seu problema? Alem dos óbvios? Isso é jeito de entrar no quarto de alguém?

– Ei, desculpa, achei que estivesse dormindo por isso tentei não fazer barulho. Aparentemente você estava, né? Só que de olhos abertos.

Sorri com as mãos na cabeça.

– Bom dia, pra você também. O que vamos fazer hoje?

– Não sei você, mas eu tenho aula de historia grega daqui a quarenta minutos. Precisamos tomar café da manhã. E de onde foi que tirou o “meus bons deuses do Olimpo”?

Esfreguei as mãos nos olhos e me levantei ouvindo meu estomago roncar.

– Não sei – ele riu – Vamos lá, ignore minha loucura.

Tinha nevado então fomos para a quadra. Era impressionante o que um apertar de botões pode fazer! As arquibancadas e as traves tinham sumido e foram substituídas por varias mesas de madeira. Marcus me puxou para uma que ficava no canto da sala. Lá estava Zackary (sentado na cabeceira), César (ao seu lado esquerdo), Diogo (ao lado de Cesar), Karl e Jane, no outro banco, uma garota de Deméter com longos cabelos negros, um rapaz grande, moreno e assustador e Iolanda, Márcia e Carla.

– E ai, gente? – cumprimentou Marcus muito feliz, me sentou ao lado do cara assustador e da filha de Deméter e se sentou ao lado de Márcia que lhe sorriu – Acho que todos já conhecem o Jack, certo?

Todos exceto Diogo, a filha de Deméter que eu não lembrava o nome e o cara sentado do meu lado, murmuraram em concordância.

– Sou Diogo Kaminski, filho de Hermes– ele se inclinou para frente e apertei sua mão. Era um garoto pequeno, asiático, com cabelos arrepiados e muito pretos. Nem um pouco parecido com Hermes.

– AaronStride – disse o cara do meu lado com uma voz grossa apertando minha mão com força, não devia ter menos de vinte anos – Filho de Hefesto. Eu poderia ver sua espada?

– Claro – tirei Kroboros do bolso e dei para ele. Seus olhos azuis brilharam como o bronze e fui completamente ignorado.

A garota de Deméter sorriu para o amigo e também apertou minha mão.

– Andrea Druitt, sei que já fomos apresentados, mas eu queria ser mais formal. É um prazer.

Ela era bonita; olhos castanhos calorosos, dentes muito brancos, rosto fino.

– O prazer é meu. Vamos fingir que eu não fiquei cor-de-rosa... – todos riram – e vamos tentar me situar. Vocês sempre comem juntos?

– De vez em quando Iolanda, Márcia e Carla comem com outras meninas do dormitório, temos mais gente de Hermes, uns meninos de Apolo – respondeu Marcus – De vez em quando juntamos duas mesas para sentar mais gente. Te falei eu era popular.

Todos riram, inclusive Zackary (o que dava destaque para suas cicatrizes na bochecha e queixo), mas ele olhava os rostos da mesa como se faltasse alguém. Ele ergueu a cabeça para mim ainda sorrindo e perguntou:

– Como foi a primeira noite no Caminho ao Elíseos, Filho do Olimpo?

Eu fiz um careta quando ouvi o nome que Zeus me dera e dei um sorriso forçado.

– Com pesadelos – ele se inclinou para frente parecendo bem mais interessado – Mas estou tendo dês do Píton.

– Do Píton? – perguntou Iolanda rindo com uma maça verde na mão – Você fala como se ele fosse macho.

– E ele é. Aquilo conversou comigo – ele riram – É serio. Ele me chamou de idiota ignorante, disse que Apolo era estúpido e ficou em duvida sobre quem eram meus pais. E tenho absoluta certeza de que era macho.

Marcus ficou boquiaberto, bem ele e o resto da mesa.

– Você falou com uma cobra de dez metros?

– Vinte – corrigiu Jane baixinho – Eu assisti e aquilo não tem menos de vinte. 

– Ah, tá! – ele ofegou – Mas você...? Como?

– Ótima pergunta – resmunguei – Perfeita até. A questão é que não adianta perguntar para mim; eu não sei.

– Você ficou horas com os deuses naquela maldita montanha e não perguntou – disse indignado Zackary.

– O que esperava? – perguntei – “Ah, Zeus, Senhor do Olimpo, que tenho uma pergunta: por que pude conversar com a cobra de vinte metros que tentou me matar há pouco tempo?” Não, obrigado. Já foi vergonhoso o bastante falar com Hefesto sobre Vox.

Naquele momento parei; eles não sabiam sobre a voz da minha cabeça e eu não queira que soubessem.

– Quem é Vox? E que raio de nome é esse? – perguntou Aaron ainda examinando atentamente minha calculadora, pensei quando tempo levaria para ativar a espada. Fiquei até impressionado pelo fato de ele estar nos ouvindo.

Respirei fundo e contei, olhando a mesa, envergonhado, sobre Vox e o que Atena me falou.

– Legal – disse Karl com um sorriso bobo no rosto quando terminei. Todos o encararam, completamente pasmos, inclusive eu – Quê? É legal – neguei com a cabeça – Interessante – continue a negar. Então resolveu mudar de assunto, o que foi ótimo – Mas isso não apareceu na TV Hefesto.

– Que bom! Pelo menos isso – comentei – E..., é, seria até legal se ele não fosse um idiota chato.

Ei!,reclamou Vox, Já te disse isso. Me chame do que quiser: idiota, tonto,  ridículo, estúpido imbecil, canalha, qualquer coisa. Mas chato não. Chato nunca.

– Tudo bem, eu me corrijo; idiota sem noção.

– Ele não gosta de chato – adivinhou Diogo.

Neguei com a cabeça e todos riram.

Depois de tomarmos café da manhã eles foram para as salas de aula. Aparentemente eles estudavam tudo o que se estudava em uma escola mortal e sobre as historias dos deuses, que eu já sabia. Zackary não me deixou ir com eles e, quando ficamos sozinhos, sorriu meio cruel.

Ele caminhou para ter interruptores que tinha perto da porta e acionou um. O chão tremeu como se dezenas de engrenagens tivessem começado a funcionar sob nossos pés. Recuei para longe das mesas, as tabuas de madeira sob elas recuaram revelando o piso de metal então começou a abaixar levando as mesas com ele. As tabuas retornaram para o seu lugar de direito e foi a vez das paredes. O reboco falso também recuou mostrando uma parede de metal toda dividida, ela se desdobrou formando as arquibancadas que tinha visto com Marcus. Outro reboco falso completamente diferente daquele que recuara surgiu por entre as barras de sustentação de metal. No lugar aonde tinha desaparecido as mesas surgiram bonecos de treinamento feitos de metal, prateleiras altas com todos os tipos de armas e uma parede de escalada mais alta que um deus.

O chão parou de tremer muito diferente das minhas pernas.

– Como...? Isso... Mas... Uau!

– Vou poder aproveitar esse tempo livre para da uma adiantada nas suas lições com a espada – disse ele como se tudo aquilo fosse normal. E era, pelo menos, para ele – Pegue Kroboros.

Ordem meio idiota essa porque Aaron me devolvera a espada há menos de cinco minutos acionei um e ele puxou sua própria espada.

Ele parou na minha frente com a espada meio erguida e deu espaço para que eu erguesse a minha.

– Vamos chamar essa posição de “posição inicial”. Iremos começar devagar, sim? Erga a espada acima da cabeça na vertical – fiz o que mandou flexionando um pouco os joelhos – Ótimo – ele posicionou a espada também a cima da cabeça só que na horizontal e flexionou os joelhos – Dessa a espada. Devagar – desci a espada.

Como era de se esperar ele bloqueou meu “golpe”, então, devagar, moveu a espada para o lado e girou a lâmina tirando um pouco do meu equilíbrio e tentou me atacar. Instintivamente girei meu pulso e bati com minha espada na dele desviando o “golpe”. Voltamos para a posição inicial. Ele bateu devagar na minha espada e eu a afastei na mesma velocidade para poder erguê-la e afastar a dele. Ele ergueu sua espada, sorriu e começou a voltar para a velocidade normal. Seus joelhos se vergaram um pouco e ele tentou me acertar nas pernas. Saltei e afastei sua lamina.

– Muito bom! – elogiou se levantando e abaixando a espada – Era isso que eu queria. Esta entendendo o que estou fazendo, não está? Marcus disse que você era inteligente.

– Estou sim. E me lembre de agradecer Marcus – ele sorriu – Você esta fazendo com que eu desenvolva a defesa com tempo para pensar.

– Exato, mas não só a defesa. Qualquer semideus tem facilidade com a espada ou qualquer outra arma. Todos nós temos habilidades naturais em batalha. Você tem mais. Veja esse aprendizado com dez velocidades. Essa é a primeira. Quando você aprender ela sem errar, passamos para a segunda e assim por diante. No final desse ano você vai ser um perfeito espadachim. Enquanto isso não acontece... Aonde foi que paramos mesmo?

Passamos a manhã inteira praticando. Perto da hora do almoço ele parou no meio de um ataque me desarmou com muita facilidade na velocidade normal e se sentou nas arquibancadas, ofegante. Peguei minha espada do chão e me juntei a ele.

Zackary estava completamente suado, eu por outro lado estava só um pouco, estava fresco ali e eu era acostumado com o calor e fizemos muito pouco esforço.

– Você não sente calor, não? – perguntou ofegante – Não se cansa?

– Estou cansado, mas não tanto e eu moro em uma cidade que bate 37C°.

Ele ficou boquiaberto e eu ri.

– Onde você mora, em Mercúrio? Sahel? Deserto do Saara? A carruagem de Apolo?

Eu ri.

– Piauí. Em um dos estados mais quentes do Brasil. Fica bem perto da Linha do Equador. Tem uma época em Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro que é chamado B-R-O BRÓ é a época mais quente do ano.

– Mas é no outono e no inverno.

– Aqui. Não se esqueça que é diferente no Hemisfério Sul.

Ele assentiu e pareceu pensar nisso.

– Bem, um dia você me leva lá – ele colocou as mãos na cabeça e estralou as costas – Agora eu vou tomar um banho e você também, Senhor Hemisfério Sul.

Depois do almoço eu fui com Marcus para a aula de arco e flecha, não preciso dizer que sou exímio arqueiro (Obrigado, Apolo). Então tivemos aula de escalada, Marcus já era experiente nisso e eu vou ter que admitir que é mais difícil do que parece, lava, desmoronamentos, quase quedas... eu não gostei nem um pouco. Corrida com dríades que eu me dei muito bem. Arte da cura com os filhos de Apolo. Artesanato..., não tenho nem um pouco de talento. Montaria com pégasos que eu gostei, mas prefiro Loki.

No fim do dia só faltava ir ás forjas aprender a fazer armas. Me espremi com Marcus e um monte de gente no elevador e fomos para o subsolo. Não preciso dizer que era enorme, quente e... meus deuses, como era quente. Até para mim

Aaron dava as aulas e eu consegui fazer algumas coisas bem grosseiras. Muito diferente dele, que fez uma espada mágica linda e delicada “Só precisa de pratica”, disse ele. É mais difícil do que parece, acredite, mas acho que fui bem. Com essa coisa de controlar o fogo e não me queimar eu até que me dei bem, um cara do dormitório de Afrodite (que não queria estar ali, com certeza) queimou as mãos e foi levado ás pressas para a enfermaria. Assustador assistir, seu berros pareceram ecoar nas paredes de metal por toda a aula.

Antes de dormir dei à Pinha a carta para meus pais e ela prometeu que ia enviar imediatamente.

Para resumir duas semanas eu continuei na velocidade um, fiz mais amigos em todos os dormitórios, me aperfeiçoei na escalada, estava quase lá nas forjas, e desisti do artesanato. Não tive mais os pesadelos, bem não até a noite de sábado.


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Notas finais do capítulo

comentem por favor
próximo tem mais pesadelos.



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