O Filho Do Olimpo E A Faca Da Noite escrita por Castebulos Snape


Capítulo 15
Descubro Alguns Irmãos Legais




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Quando as portas do elevador se abriram eu quase não consegui me agüentar de pé. O lugar, definitivamente, tinha sido ampliado com magia. A enorme sala branca era do tamanho do pátio da minha antiga escola, imensas prateleiras de mogno entupidas de livros se erguiam até o teto, as pessoas liam calmamente nas mesas que estavam entre as prateleiras, e uma musica fundo tocava bem devagar. Fiquei boquiaberto (também é legal).

– É o paraíso! – exclamei em tom baixo e cai de joelhos para fazer pinha rir e consegui. Pinha me segurou pela manga do casaco me guiou por entre as prateleiras. Ela parecia saber aonde ir, mas um barulho me fez parar. Era familiar. Um familiar não muito bom.

Puxei Kroboros e apressei o passo deixando a ninfa para trás reclamando.

Quando cheguei ao corredor de onde vinha o barulho tive todas as minhas suspeitas confirmadas. No chão a poucos metros de onde eu estava três garotos enormes estavam batendo em um bem menor. O menor dos três estava segurando a boca do menino. Um tremor percorreu meu corpo e quando percebi estava do lado de um dos garotos com a espada em sua garganta. Ele não percebeu de imediato e levantou o pé para mais um chute. Eu pressionei a espada em sua garganta.

– Se você chutá-lo mais uma vez – murmurei lentamente perto do seu ouvido –, vai ter que aprender a viver sem uma cabeça. Ou sem sangue, ainda não sei bem.

Os três congelaram e o menino parou de se contorcer me olhando esperançoso.

Afastei Kroboros, mas prendi o pescoço do cara com a mão com força enquanto os outros se levantavam devagar.

– O que pensam que estão fazendo? Com certeza são filhos de Ares, isso é obvio. Se este é quem eu imagino eu devia matá-los agora mesmo. É melhor saírem enquanto estou calmo. Vão! Saiam!

Os três saíram correndo e eu fiquei em duvida de como desativar Kroboros. Dei de ombros e ajudei o menininho a se levantar.

Ele era muito magro, baixo, não devia ter mais de dez anos, cabelos pretos e olhos castanhos, seu lábio inferior estava cortado e com pequenas mordidinhas em toda a extensão. Não parecia muito machucado, mas mesmo assim me preparei para segurá-lo se caísse.

– Você é o Marcus? – perguntei.

– Sou. Marcus Wrestle. O que quer de mim? – ele parecia ao mesmo tempo desconfiado e agradecido. Acho que meus músculos não passam uma boa impressão. Maldito seja Ares e sua maldita bênção.

– Basicamente você é meu guia.

Ele resmungou alguma coisa sobre não ser o melhor guia do mundo, limpou a sujeira das roupas, o sangue do lábio, se abaixou e pegou a espada, enfiou-a na bainha e me olhou por uns segundos. Voltei a tentar desativar minha espada sem muito sucesso apertei todos os números sem utilidade até que, com raiva apertei 1a espada se desfez e enfiei a calculadora no bolso.

Um silvo se indignação me fez virar. Pinha estava parada nos encarando como se fossemos suspeitos de um crime terrível.

– Marcus eu já disse que devia denunciar aqueles brutamontes. Vocês estão bem?

– É – respondeu ele – Estamos legais. Não vou denunciá-los já disse que Quíron não pode expulsar todo o dormitório de Ares. O cara da TV Hefesto me ajudou.

– Meu nome é Jack.

– É, eu sei.

Senti um meio sorriso aparecer no meu rosto. Uma afeição inexplicável pelo pirralho que eu tinha acabado de salvar de levar uns bons tabefes brotou em meu peito. Peguei o garoto pelo cangote sem colocar força e ele se limitou a rir. Aparentemente eu estava sendo delicado.

– Você não devia estar me guiando?

Os dois riram como se eu fosse ma atração de circo. Pinha se desfez em uma fumaça verde e Marcus me levou para fora do paraíso.

Primeiro ele me mostrou o segundo andar: enfermaria.

Basicamente era um salão longo com muitas camas e tudo era branco e brilhante como no Hospital Olimpiano. Filhos de Apolo com vinte e poucos anos cuidavam de semideuses com pernas e braços quebrados, envenenados, cortados, fatiados, queimados, arrastados, mutilados, acabados... Enfim: ados.

Aquele não era um lugar em que eu queria precisar estar.

– Basicamente – começou Marcus enquanto voltávamos para o elevador – filhos de deuses vêem ensinar aqui quando perdem o emprego por causa de monstros ou preferem continuar aqui treinando e ajudando.

“Temos um filho de Ares ajudando no treinamento com lanças, um filho de Apolo no artesanato, uma dríade na corrida, duas náides na canoagem, um filho de Hefesto coordenando as forjas... Bem, em tudo que fazemos temos supervisão.”

Me pareceu uma idéia deprimente, mas eu poderia me acostumar desde que me deixassem em paz.

O terceiro andar era uma cozinha gigantesca com harpias (e sim eu também sabia reconhecê-las) trabalhando e gritando umas com as outras, Marcus achou melhor irmos embora, quem era eu para discutir?

Quarto andar era uma quadra de exercícios para gigantes. Era como uma quadra poliesportiva normal, piso de madeira, arquibancadas, cesta de basquete e, uma coisa que, realmente, me impressionou, traves para futebol.

Tá, devo admitir que, talvez, eu seja péssimo no esporte símbolo do meu país, mas mesmo assim não deixava de me encantar com os dribles, passes e, a melhor parte, os gols.

Ele me levou a uma porta que dava a um gigantesco arsenal, por todo lado tinham armas de todos os tipos; de fogo, espadas, facas, tipos estranhos de lanças. Todas as armas que você conseguir imaginar estavam ali.

– Uau. Por que tudo aqui é tão grande? Vocês são tão pequenos – e olhei-o de cima a baixo.

– Isso não é nada. O do Olimpo é quatro vezes maior, é o sonho de todo filho de Ares visitar aquilo lá – percebi que ele não se incluiu no sonho –E vou ignorar o comentário sobre minha altura.

Sorri para ele sarcástico.

Marcus falou que quando esta chovendo tudo era feito ali. Quíron acionava um botão e tudo que era necessário para o treinamento. Se a chuva continuasse, outro botão e eles poderiam comer ali.

– Se não estiver chovendo aonde vocês comem? – perguntei no elevador.

– Lá fora – afirmou como se eu tivesse perguntado quanto é dois mais dois – Dã!

O quinto andar estava tomado pelos caos. As paredes estavam imundas, sapatos estavam espalhados pelo corredor e, no fim deste, duas portas uma para cada lado.

– Esse é o de Hermes – disse Marcus apontando para o da direita – O pessoal que não é reconhecido por nenhum deus vem para cá, Quíron é obrigado a aumentar de tempos em tempos o lugar com mágica. De vez em quando eu queria ficar aqui. O pessoal não se importa muito com quem é seu pai e apenas vivem.            

“O outro é Dionísio. César é o primeiro em anos, nós achamos que o Deus do Vinho respeita muito Ariadne, porque não tem muitas amantes mortais.”

– Que bom. Para Ariadne, pelo menos. Pobre Dionísio.

Um garoto saiu correndo da porta da direita, ele estava carregando um rolo de papel higiênico e jogou-o de volta rindo como um louco.

 Ele nos olhou e gritou:

– Guerra de papel higiênico!

Então voltou a entrar no dormitório gritando um grito de guerra que me pareceu “Amor ao papel!”.

– Isso definitivamente não é normal – afirmei boquiaberto – Estou me sentindo um adolescente comum. Isso é triste.

Marcus assentiu muito serio como se pensasse quando alguém ali foi normal, então simplesmente negou com a cabeça e voltamos para o elevador.

– O próximo é Atena e Hefesto – afirmou Marcus feliz – Por sorte, tenho vários amigos por lá.

Imaginei Ares devia ter muito orgulho de Marcus. Amigos em Hefesto e Atena? Lindo! Só estava faltado ele me dizer que era a favor da paz mundial. E quer saber? Eu estava começando a gostar de verdade do garoto.

Aquele corredor era organizado, tinha até cheiro de hortelã e fumaça, ou seria fumaça que tinha cheiro de hortelã? Não importa e também nunca foi louco o bastante para tentar descobrir. A direita era Atena e à esquerda Hefesto.

O dormitório de Atena era o mais organizado dormitório de colégio interno que eu já havia visto. Só para constar eu já tinha estado em um colégio interno para visitar um amigo do meu pai que era professor de lá. Resumindo se você junta dezenas de crianças num mesmo lugar prepare-se para presenciar o Apocalipse. 

Voltando ao dormitório de Atena ele tinha uns doze beliches metade estava ocupada, no fim da sala tinha um banheiro pequeno e uma mesa de estudos dezenas de livros, mapas, armas e papeis.

– E aí, Marcus? – disse uma voz atrás de mim.

Eu me virei e dei de cara com um garoto alto, magro, loiro e com enormes olhos cinza.

Nossa!,pensei recuando um pouco, Deve ser muito fácil identificar os filhos de Atena.

É isso que pensa?,perguntou Vox com sua típica voz irônica, Eles já devem chegar aqui com o nome dela na identidade. 

– Eí, Karl! – exclamou Marcus e os dois trocaram um aperto de mão – Eu estou mostrando o dormitório para Jack. Este é Jack St. James, o Filho do Olimpo. Jack, esse é o Karl.

O garoto estendeu a mão e eu a apertei.

– Karl Shore, se não é obvio, filho de Atena.

– É um prazer.

Perguntei-lhe como Atena podia ter filhos se tinha jurado morrer virgem. Sim, eu penso nessas coisas! Ela é minha mãe, mas deve-se estimular a imaginação, não é? Não.

– Basicamente – respondeu – a genialidade dos pais faz com que o bebê nasça. Meu pai trabalha em construções. Ele faz os cálculos e projeta construções federais. Atena me deu a ele como uma bênção entende? Somos como uma remuneração e muito boa!

– É estranho – afirmei – Adorei.

Nós dois rimos e Marcus checou meu relógio.

– Jack, tenho uma hora para te mostrar o resto do prédio, depois tenho aula de esgrima. Tchau, Karl. Vem, criatura!

– Criatura?  Ele me chamou de criatura? Em menos de uma hora de convívio ele me chama de criatura?! O que vai ser depois de um ano?

O filho de Atena riu e me deu um tapinha no ombro antes que eu seguisse Marcus pelo corredor.

O sétimo andar era bem limpo, cheirava a menta, era enfeitado com dezenas de arranjos de flores e quase vazio porque aparentemente Poseidon não tinha filhos e Deméter só tinha um menino e quatro meninas.

Gostei do pessoal de lá, eram calmos e gentis (tive a impressão de que só foram assim porque eu fui gentil), mesmo que eu tenha saído de lá com os braços cheios de maças. Marcus dividiu a carga comigo no elevador.

– Por que Poseidon não tem filhos mortais? – perguntei dando uma mordida em uma das maças.

Marcus pareceu desconfortável, ele já mastigava sua maçã, mas deu de ombros e olhou para a porta.

– Depois da Segunda Guerra Mundial o Oráculo da época fez uma profecia que dizia que o próximo semideus filho de um dos Três Grandes, Zeus, Poseidon e Hades, que chegasse na idade de dezesseis anos poderia destruir ou salvar o Olimpo.

“Eles resolveram evitar isso. É compreensível. Nenhum dos deuses está disposto a perder seu poder por um mortal. Acho que estão indo bem, nenhum filho proibido chegou aqui. Quíron teria dado um jeito para protegê-lo, sabe, Quíron sempre dá um jeito de proteger a gente, mas eu não fiquei sabendo de nada.”

– E como sabe disso tudo? E não aja como se fosse popular por que eu não vou acreditar.

– Eí! Eu sou popular, na maioria dos dormitórios. Um filho de Atena que dava aula aqui viu a tal profecia e me contou. Foi uma grande coisa na época. Zeus e Poseidon forçaram Hades a jurar com eles pelo rio Estige que não teriam mais filhos com mortais.

– Zeus?! – exclamei mais alto do que necessário – É um milagre que esteja funcionando. Vai ver por isso que Hera parece tão feliz.

Um trovão irritado estourou a cima de nós fazendo o prédio inteiro tremer. Era a mais pura verdade e ele não ia negar. Mas não pude evitar uma risadinha maldosa.

A porta abriu e eu me deparei com a fonte da expressão “caos”.

O corredor estreito parecia estar em guerra com sigo mesmo. No lado direito a parede era pintada de cor-de-rosa e no chão; roupas, maquiagens, espelhos e outros produtos de beleza que eu não sabia, nem queria saber o que eram. À esquerda a parede era pintada (muito mal pintada) de vermelho sangue bem escuro como sangue e o chão estava inundado de partes de armaduras, armas e roupas realmente sujas. O monte de lixo de cada lado parecia respeitar a área do outro porque estava dividido ao meio, literalmente.

Uma confusão organizada!,exclamou Vox pasmo, Isso é bizarro! Podemos ir embora agora?

– Me deixe adivinhar – murmurei tão pasmo quanto, apontando para cada lado – Ares e Afrodite.

Ele assentiu, infeliz.

– Lar doce lar. Vem; vamos ver o pessoal de Afrodite.

Ele entrou sem muita cerimônia no dormitório a direita (chutando tudo para fora de seu caminho, acho que só precisa-se de pratica), eu me atrapalhei para passar pelo mar de lixo espalhado pelo chão, mas depois de tropeçar e quase cair umas duas vezes consegui cambalear para dentro.

O lugar era impecável! Parecia que a própria Harmonia tinha organizado aquele lugar e, aparentemente, tinha jogado toda a bagunça para o corredor.

Varias crianças andavam de um lado para outro com roupas nos braços gritando e agindo como se o papa estivesse pronto para entrar no dormitório.

– Ai, Zeus! – exclamou Marcus olhando apavorado para a situação – Jack, você precisa me ajudar, é dia de inspeção.

– É... Hã?

Ele me agarrou pelo braço (não me pergunte como ele conseguiu equilibrar as maçãs em um único braço) e me arrastou para o dormitório de Ares.

Aquele não era definitivamente um lugar que eu queria entrar.

O dormitório cinza estava cheio de meninos e meninas mal-encarados e musculosos, bem parecidos com o pai, aliás. Eu sinceramente não imaginava um lugar tão limpo. Estava quase tão arrumado quanto o dormitório de Atena, o que era estranho, definitivamente.

A única cama que estava bagunçada era a mais distante da porta. Marcus colocou as maças de volta em meus braços, com a testa franzida e andou até ela devagar ignorando os risinhos dos irmãos.

Eu (meio curvado para trás por causa das maças) localizei os que tinham batido em Marcus e eles me olhavam com ódio. Por mim, problema nenhum. Tanta gente já me odiava mais três não faziam diferença nenhuma.

O garoto que parecia ser o mais velho do dormitório estava encostado no beliche de frente para o que Marcus estava andando. Ele, assim como os outros, estava com um sorrisinho sarcástico e olhava Marcus como se ele fosse uma espécie de premio.

Marcus parou de frente para a cama e curvou os ombros, derrotado.

– Parham, eu... Sinceramente, para que isso?    

O cara encostado no beliche se levantou, parou ao lado de Marcus e passou o braço por cima dos ombros do irmão, que tentou recuar como se ele estivesse sujo e provavelmente estava.

– Sabe, maninho – disse suavemente o garoto prendendo Marcus ali, ele aproximou o rosto do ouvido de Marcus, que voltou a tentar recuar com uma visível expressão de nojo, e disse em um sussurro bem audível – você não gosta de coisas inúteis como estudar e ler? Então, nós, seus amados irmãos, resolvemos, caridosamente, colocar mais lixo em sua vida. Não é ótimo?

Todos riram, menos, é claro, eu. Depois de anos sendo humilhado e diminuído eu não conseguia ver ninguém sofrer do mesmo jeito sem tomar as dores para mim. É estranho a escorria esta espalhada por todo o lugar.

Deixei as maças caírem, tirei Kroboros do bolso e, quando percebi, estava com ela encostada na garganta de Parham e ele na coluna de sustentação do beliche. Ele me olhou apavorado e engoliu seco.

– O que foi que disse a meu irmão? – sussurrei perto de seu ouvido, aparentemente ele também não gostou da sensação.

– Quem você pensa que é, calouro? – ele estava falando como um pato sendo estrangulado, em solavancos graves. Sim, sei que você deve estar se perguntando, eu já vi um pato ser estrangulado. Foi assustador. Não vou dar uma descrição mais profunda tem crianças lendo isso.

Só ai eu entendi o porque da expressão enojada de Marcus; o cara tinha um bafo de matar rato de esgoto.

– Eu sou o cara que esta com uma espada na sua garganta – sussurrei (respirando pela boca) suavemente em seu ouvido, ele tentou recuar, mas fiz com que parasse e aproximei mais ainda meu rosto do dele –, que não hesitaria em cortá-la e que te fez uma pergunta. O que acabou de dizer a meu irmão?

Eu senti uma lamina fria em me rosto.

– Solta ele.

Abri meu melhor sorriso de escárnio (ainda respirando pela boca) e pressionei Kroboros em sua veia que já estava saltada. Um rosnado ecoou no fundo do meu peito. Não me pergunte por que, mas depois da cobra minha vontade de fazer barulhos estranhos aumentou (nada contra. Acho super legal e ameaçador). Parham me olhou nos olhos e pareceu perceber que eu não estava brincado.

– Abaixa a espada, John – balbuciou Parham.

– É, John – murmurei rindo sarcasticamente –, abaixa a espada.

O tal do John, que eu reconheci como o cara que eu ameacei na biblioteca, recuou e abaixou a espada.

– Vocês fizeram isso? – perguntei indicando com a cabeça a cama de Marcus.

Parham me olhou com ódio, ou seja, sim. Ainda sem respirar segurei sua gola com mais força e o joguei em um giro em cima da cama. A montanha de lixo transbordou para todos os lados.

John aproveitou e tentou me acertar com a espada, eu não teria tempo para desviar o golpe, mas outra lamina apareceu e começamos a duelar com ele. Peguei o cara pela gola na primeira oportunidade que tive e chutei-o também na cama. Todos os outros recuaram e me olharam como se eu tivesse acabado de matar um dragão coisa que eu não quereria fazer.

– O que? – gritei. – Eu derrotei um dos maiores se não o maior guerreiro do Olimpo. Nosso pai. O que vocês têm? – me virei para Parham e John – Vocês dois e vocês – apontei para os outros dois que estavam na biblioteca – limpem isso. Agora!

É tá, foi meio pesado, chamar Ares de pai e imaginar aqueles idiotas como meus irmãos fizeram um nó aparecer em minha garganta, mas imaginei que Marcus estivesse sofrendo na mão deles por anos, tive as suspeitas confirmadas quando olhei para Marcus, ele estava com uma espada de bronze celestial na mão, respirava pesadamente e parecia maravilhado.

Eu tirei um tempo para respirar por que, meus deuses, que bafo de cão infernal!

Devo admitir que, sobre pressão, filhos de Ares trabalham com grande eficiência (como qualquer soldado). O dormitório e o corredor estavam limpos em minutos. Eles até recolheram minhas maças e colocaram em um saco de papel.

– Marcus – falei feliz ignorando os olhares furiosos dos filhos de Ares –, nós podemos continuar com a excursão?

Ele deu de ombros e me levou de volta para o dormitório de Afrodite rindo como um ganhador do Oscar. O outro lado corredor parecia ter sido limpo com magia porque brilhava e eu podia ver meu reflexo nele. Péssima visão. 

Lá dentro uma garotinha inspecionava as camas e roupas, aparentemente parecia gostar do que estava vendo. Suas orelhas eram levemente pontiagudas e os olhos redondos e verdes.

Uma dríade faz inspeções, pensei, Porque não estou surpreso?

Você é tão normal quanto eles?,arriscou Vox ironicamente.

Pois é: eu tenho uma voz na minha cabeça.

Essa doeu.

– Parabéns, Iolanda – disse ela para uma menina alta, morena, com um sorriso de triunfo e roupas da moda –, como sempre esta quase impecável. 9.

– Obrigado! – exclamou a menina que aparentemente se chamava Iolanda pegando um pedaço de pergaminho, ela parecia que não queira dizer apenas obrigado.

A ninfa passou por nós olhando minhas roupas como se eu estivesse vestido como um palhaço.

– Aquela ninfa ridícula! – murmurou a menina fazendo o pergaminho em mil pedaços – Eu não esperava mesmo que uma árvore reconhecesse o esforço mutuo que tivemos para compor nossa obra de arte– ela parecia realmente furiosa até o momento em que nos viu: – Oi, Mac!

– Oi, Iolanda. Por que Mac? Onde estão... – ele mal tinha terminado a frase quando foi cumprimentado por duas gêmeas ruivas – Oi, Carla e Márcia! Eu queria apresentar o Jack para vocês. Jack estas são Iolanda Hall, Márcia e Carla Legman. Iolanda é líder do dormitório e a filha de Afrodite mais velha que temos.

– Ai – disse Iolanda com exagero – Nossa, Mac falando assim parece que eu tenho idade para ser sua avó. Achei que você precisava de um apelido. E “Mac” é fofinho como você, Mac.

Ela apertou a bochecha de Marcus, que corou furiosamente. As outras duas sorriram e olharam para Marcus como se ele fosse muito jovem e inocente. Ele tinha o olhar mais bobo e fascinado que eu já vi.

Eu suspirei; Será que existia gente realmente normal no mundo?  É, eu sei a resposta: Não. Será que todos os meninos são iguais? Sim. Eu também, mas eu posso falar

– É um prazer – falei estendendo a mão. Eu não espera que ela apertasse, normalmente as garotas como ela (patricinhas) me detestavam. Um bom exemplo: minha prima. Mas ela apertou minha mão e pareceu feliz ao fazê-lo.

– O garoto da TV Hefesto – lá vem isso de novo! Eu tenho um nome sabia? – É um prazer meu, posso perguntar por que seu cabelo está tão longo?

Automaticamente, eu levei minha mão para a nunca e toquei no cabelo liso, sorrindo um pouco.

– Gosto assim – respondi – Meus antigos professores odiavam isso. Era uma das cinquenta coisas que tinham contra mim. Fica depois de eu ser legal e antes de ser popular.

– Um rebelde – murmurou Márcia me olhando quase que com fome – Adoro domesticar rebeldes!

Marcus escondeu o rosto com uma das mãos e as outras duas garotas soltaram risadinhas da minha expressão de medo. Deixe-me explicar. Ótimo eu venci Ares, dois de seus filhos e uma cobra de vinte metros, mas nada se compara com uma filha de Afrodite ou com a própria deusa. Nunca, isso é uma lição para qualquer menino que estiver lendo isso, nunca machuque ou irrite uma mulher. Todas, sem exceção, merecem o melhor e não se contentam com menos, todas tem um q Afrodite e vão te fazer em pedaços se você não agir do modo certo. Uma mulher irritada é problema para a vida toda. E além disso elas são melhores que nós e todos dependemos delas.

Elas não são perfeitamente incríveis? Eu as amo.     

– Parabéns, Márcia – falou Marcus – Agora você assustou o pobre coitado!

Olhei para ele me perguntando se eu realmente parecia tão assustado assim e aqui cá entre nós; eu estava. Não saber o que elas estava planejando para mim era torturante.

Iolanda pousou a mão quente em meu braço, sorrindo.

– Ela só está brincado, relaxe. Quanto ao cabelo... Combina com você, seu estilo, mas... Bem, podemos resolver mais tarde.  

– Não entendi. Como assim... – comecei, mas Marcus começou a me puxar para a porta.

– A gente se vê mais tarde, rebelde! – gritou Carla atrás de mim.

No elevador Marcus ainda parecia decepcionado com elas. Eu, como um bom irmão, tentei aliviar sua consciência:

– Elas são legas. Um pouco bizarras, mas já encontrei gente muito pior.

Catarina, pensei, Martins... Eu.

Eu, completou Vox.

É a mesma coisa, idiota.

– Não é isso. Já me acostumei com as esquisitices daquele dormitório e dos outros e do meu e de tudo aqui. Estou pensando em como Macgold vai me bater quando me pegar sozinho.

– O que?! Ótimo, você espera que eles te batam de novo? Quem raio é Macgold? Que raio de nome é esse, meus deuses? As pessoas perderam a noção do ridículo.

Ele me olhou como se quisesse me dizer: Tudo bem já estou acostumado de ter ossos quebrados. Não se preocupe.

– O cara que você bateu; John Macgold.

– Aaaah! Sinceramente, acho que todos eles entenderam meu aviso: quem se mete a besta do meu irmãozinho leva um belo chute no lugar onde realmente dói – apertei a mesma bochecha que Iolanda apertara e ele me afastou aos tapas e voltou a massagear a bochecha.

Depois que eu parei de rir e ele de pensar no que eu tinha dito, Marcus olhou para mim como se nunca tivesse escutado algo mais estranho. Começou a ficar monótono; eu não era mais estranho do que o resto daquele lugar, estava no mesmo nível de estranheza.

– Nós nos conhecemos a menos de duas horas – acusou ele.

– E isso te faz menos meu irmão? Uma hora depois de conhecer meus meio-irmãos mortais eles já estavam implicando comigo. Não que eu esteja dizendo que é certo, nada disso, mas eu também sou filho de Ares e vou me divertir cuidando de você.

“Somos dois filhos de Ares. Mesmo que eu não goste de considerar esse fato, você não é tão estúpido quanto aqueles idiotas do dormitório. Vou ficar um ano aqui preciso de irmãos legais e você foi o primeiro que eu vi. E você merece muito mais do que eles estão de dando. E eu não estou falando dos tapas, você é superior mentalmente.”

Ele sorriu como se já sentisse a superioridade em seu cérebro. Não pude deixar de rir junto com ele. É bom ter irmãos parecidos comigo.  Completamente loucos e nerds.

– Sabe – murmurou ele –, eu também não gosto de ser filho de Ares. Ele é... Igual aos filhos.

– Já o conheceu?

– Já. Ele foi me buscar na casa da minha mãe quando eu tinha oito anos, disse que eu tinha que ir com ele e que ela não devia discutir, minha mãe me colocou no sidecar junto com minha mochila e fomos embora. Eu sou de Los Angeles, cruzamos o país em um dia. Ele ficou falando sobre guerra e como eu devia agir quando precisasse participar de uma. Não ouvi nem metade do que ele falou a viagem inteira. Eu sou a favor da paz mundial.  Sei que é estranho para um filho de Ares, mas não posso evitar, não vejo motivo em guerras.

Eu sabia, pensei.

– Eu também não, mas enquanto tiver alguém para fazer guerra vai ter alguém para revidar. É triste ver que continuamos bárbaros mesmo depois de tanto anos – ele assentiu lentamente – Por que nunca brigou com eles, nossos irmãos? Você é bom com a espada, muito bom mesmo.

– Posso ser bom, mas eles sempre estão em maior numero e não adiantaria nunca, vão me deixar em paz. Só lutei hoje porque você esta lá e me defendeu e... Valeu por se importar, por não simplesmente fechar os olhos.

– De nada. Se depender de mim ninguém mais vai ter coragem de se meter com você, Mac


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